Pular para o conteúdo principal

Talvez você esteja conectado demais ao celular. Não é bom sinal a rolagem zumbi de telas

O uso de dispositivos móveis facilita a comunicação, mas o excesso pode causar ansiedade, stress emocional e depressão 


José Luis Serrano
catedrático de Tecnologia Educacional, Universidade de Múrcia, Espanha

The Conversation
plataforma de informação e análise produzida por acadêmicos e jornalistas

Tecnologia sim ou tecnologia não? Essa é a grande questão.

No nosso dia a dia, e muitas vezes através dos próprios dispositivos móveis, recebemos uma enxurrada de mensagens que contribuem para uma visão polarizada da tecnologia. 

Alguns estudos alertam para os seus efeitos negativos como depressão, ansiedade, stress, exaustão emocional, sedentarismo ou pior qualidade do sono. 

Mas ao mesmo tempo há outros que reconhecem a sua importância para a comunicação, a formação de relacionamentos , a autoexpressão, a gestão da informação, o ensino ou a aprendizagem. Embora também reconheçam que, atualmente, se desconhece a real influência que os ecrãs têm na saúde ou na educação.

Modo zumbi: navegar
rapidamente por telas
sem se dar conta do
conteúdo delas
IMAGEM: CRIAÇÃO DE IA

Tanto a internet como as redes sociais podem ser saudáveis ​​ou não, dependendo do uso que lhes damos. Exemplos do segundo são a rolagem zumbi (deslizar pela tela sem mal perceber o que estamos vendo), a ciberpreguiça, a multitarefa e as interrupções constantes. 

Portanto, ao utilizarmos os dispositivos móveis é aconselhável fazer pausas frequentes, incorporar lanches de atividade física e controlar tempo que passamos em frente às telas.

Um conceito relativamente novo que surgiu em decorrência desses problemas é o detox digital, uma estratégia que nasceu com a promessa de fazer desaparecer os efeitos do uso excessivo.

O mito da ‘detox’ digital

A desintoxicação digital consiste em uma pausa voluntária no uso da tecnologia. Pode ser 24 horas ou uma semana, e tem como objetivo reduzir o tempo de conexão, e com ele o estresse, a ansiedade, a depressão, o vício ou a sobrecarga cognitiva que o uso continuado de celulares, tablets ou computador pode estar nos causando.

Um estudo recente com 850 participantes alemães (entre 18 e 65 anos) não concluiu que o uso mais contínuo ou intermitente do celular tivesse impacto no bem-estar mental. Em vez disso, variáveis ​​como o tipo de atividade, a hora do dia e traços de personalidade como extroversão ou introversão desempenham um papel mais significativo, segundo outras pesquisas.

Uma revisão sistemática concluiu que a desconexão ocasional não tem relação direta com o bem-estar, o autocontrole ou a saúde geral.

Afastar-se drasticamente da tecnologia com restrições e sem mudança de hábitos não causará mudanças efetivas. Podemos escapar temporariamente do mundo digital, mas os nossos hábitos continuarão a esperar por nós.

Fazer desconexões ocasionais, pelo contrário, pode servir para iniciar processos de reflexão e tomar consciência do uso que fazemos da tecnologia. Esta conclusão foi alcançada num dos primeiros estudos sobre desconexão digital publicado em 2012. Participaram 1.000 estudantes universitários de dez países diferentes e tentaram passar 24 horas sem meios tecnológicos.

Em 2017, replicamos o estudo anterior. Até à data, 539 estudantes da Universidade de Múrcia tentaram passar 24 horas desligados da TV, tablet, computador e celular. Apenas um terço conseguiu, mas o mais importante foi o autoconhecimento adquirido.

Os alunos tomaram consciência do uso abusivo que fazem muitas vezes das tecnologias. Também sobre a influência das mídias digitais no seu dia a dia. Eles perceberam a dependência da tecnologia, uma melhora na concentração e uma diminuição nas interrupções durante o tempo de desligamento.

No entanto, eles tiveram dificuldades em concluir tarefas acadêmicas ou em se comunicar com outras pessoas. Alguns alunos expressaram sentir-se isolados e ansiosos por falta de informação.

Assumir o controle

Se quisermos realmente desfrutar do mundo digital, uma desconexão oportuna nos ajudará a tomar consciência do uso que fazemos da tecnologia. Mas se queremos realmente ser eficazes, é pertinente estar atentos e agir criando uma rede de hábitos duradouros que modifiquem os nossos comportamentos em ambientes digitais.

Precisamos considerar como o nosso dia a dia, marcado pelo estresse, pelo isolamento social, pelo sedentarismo ou pela falta de sono, diminui a nossa capacidade de autocontrole. Isso faz com que fiquemos menos atentos e tomemos decisões piores.

Muitas vezes culpamos os algoritmos das redes sociais por chamarem a nossa atenção. No entanto, foi recentemente demonstrado que são as interrupções internas das pessoas que causam distrações.

Envolvimento do usuário

Segundo o neurocientista Nazaret Castellanos, “80% das distrações que nos sequestram surgem em casa, não fora”. Esse tipo de interrupção é geralmente motivado pela necessidade de busca por novas informações, reconhecimento social e medo de perder algo importante.

A própria tecnologia pode nos proteger dela mesma, se houver comprometimento do usuário. Por exemplo, com a adoção de aplicações digitais de bem-estar. Um estudo concluiu que o seu sucesso ocorre em pessoas com elevado nível de consciência do papel que o celular tem nas suas vidas.

Planeje jejuns digitais intermitentes

É pouco provável que a tecnologia digital nos embriague, sublinhando uma limitação do conceito de desintoxicação digital. Em vez disso, propomos a estratégia do jejum digital intermitente, em que planejamos períodos específicos de uso consciente da tecnologia.

Pesquisas recentes não estabelecem uma relação direta entre tempo de uso e bem-estar. Mas cada pessoa deve identificar onde está sua linha vermelha de carga mental. Você pode então limitar a duração do uso e escolher o momento mais apropriado para usar a mídia digital.

Um exemplo que ilustra a ideia anterior: 15 minutos de uso de uma tela antes de dormir podem prejudicar mais a saúde geral do que ficar conectado por uma hora à tarde. 

A luz azul emitida pelos LEDs suprime a produção do hormônio melatonina. Isto perturba a regulação dos ritmos circadianos, o estado de alerta e o desempenho cognitivo durante o dia, de acordo com esta revisão. 

Ou seja, aqueles 15 minutos antes de desligar a luz podem piorar o nosso descanso e isso tem consequências piores a médio prazo do que a hora de consumo digital à tarde.

Assuma o controle

Concluindo, a relação entre o uso da tecnologia e o bem-estar depende de muitas variáveis ​​e da interação entre elas. Fatores culturais ou traços de personalidade influenciarão quais estratégias são mais eficazes para cada pessoa.

O objetivo não é nos desintoxicarmos do digital, mas aprender a controlar seu uso para viver o melhor de cada mundo. O psicólogo Luis Muiño expressa assim: Saber que estamos fugindo temporariamente do mundo real e ter controle para voltar a ele é fundamental da nossa relação com o mundo das máquinas". 

• Internet deixa as pessoas menos religiosas, diz estudo

• Pastor afirma que internet deixa crianças vulneráveis aos ateus

• Está cada vez mais difícil ler texto longo. E isso faz mal a você 

• Zumbi é metáfora para o século 21: catástrofe ambiental, migração, lavagem cerebral...

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Cápsulas de papelão com sementes podem auxiliar na restauração ecológica do Cerrado

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

'Conhecimento é a única arma contra a ignorância. Deixem a fé para os avós'

por Otávio Barcellos a propósito de Conhecimento científico é incompatível com fé e religião Quando eu era jovem, acreditar em Deus já era démodé. Coisa exclusiva de famílias ortodoxas, que geralmente davam gordas contribuições à Igreja em troca de bençãos particulares. Nós estudávamos em colégios católicos porque eram os melhores na época. Contudo, entre meus colegas poucos eram tão alienados a ponto de crer na incoerência absoluta das estórias bíblicas. E quase todos sabíamos que isso não não poderia vingar para sempre, tamanha a discrepância entre Ciência (que só avançava) e religião (que só retrocedia). Hoje, aos 71 anos de idade, vejo com surpresa que há jovens aqui mais alienados do que na minha época. No meu tempo nós tínhamos que ler grossos e complexos livros para compreender o mundo, hoje vocês só precisam dar alguns cliques. O conhecimento é a única arma contra a ignorância. Deixem a fé para seus avós. Ciência vai ganhar da religião, afirma Stephen Hawking. j

Pastor Silas Malafaia chama jornalista de 'vagabunda'

O jornal colocou a palavra "tramp" (vagabunda) entre aspas  para deixar claro que foi dita pelo pastor Eliane escreveu sobre intolerância religiosa O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, chamou a jornalista e escritora Eliane Brum (foto) de “vagabunda” ao comentar o que artigo que ela escreveu para Época contando não ser fácil a vida de ateus em um Brasil cada vez mais marcado pela intolerância evangélica.  A afirmação foi feita em uma entrevista relatada pelo New York Times em uma reportagem sobre a liderança que Malafaia passou a exercer no Brasil, apesar dos destemperos verbais dele. Na entrevista, o pastor disse que “os ateus comunistas” da antiga União Soviética, do Camboja e Vietnã foram responsáveis por mais mortes do que todas as que ocorreram em consequência de “questões religiosas”. No Twitter, Eliane disse ter ficado “chocada” com a afirmação de Malafaia. O site de Malafaia comemorou a publicação da reportagem

Na última entrevista, Hitchens falou da relação Igreja-nazismo

Hitchens (direita) concedeu  a última entrevista de  sua vida a Dawkins da  New Statesman Em sua edição deste mês [dezembro de 2011], a revista britânica "New Statesman" traz a última entrevista do jornalista, escritor e crítico literário inglês Christopher Hitchens, morto no dia 15 [de dezembro de 2011] em decorrência de um câncer no esôfago.

Música gravada pelo papa Francisco tem acordes de rock progressivo. Ouça

Lenda do Caboclo D’Água deixa região de Mariana em pânico

Retrato falado do monstro Quando estava nadando nu em uma represa, o rapaz foi puxado para baixo por uma força misteriosa. Ao voltar à superfície, segundos depois, estava sem os testículos. Como ninguém  soube dizer que bicho tinha comido o escroto dele, a conclusão foi de que se tratou de mais um ataque do Caboclo D’Água. Histórias como essa têm deixado em pânico a população da região de Mariana, em Minas Gerais. Milton Brigolini Neme, 50, professor universitário, disse que o Caboclo D’Água é um velho conhecido de Mariana, mas nas histórias contadas pelos avós. Agora, o monstro faminto ronda os arredores da cidade, e pelo  menos 30 pessoas juram tê-lo visto. Ele seria o cruzamento de macaco, galinha e lagartixa. Dele, já foi feito um retrato falado, que corre de uma mão temerosa para outra. Até o professor universitário crê na possibilidade de que um bicho sobrenatural esteja  atacando pessoas e animais. Ele criou a Associação dos Caçadores de Assombração com o propós

Tecnofeudalismo: nos tornamos servos das grandes e tirânicas empresas de tecnologia

Textos bíblicos têm contradições, mas as teorias científicas também

por Demetrius dos Santos Silva , biblista, a propósito de Quem Deus criou primeiro, o homem ou os animais? A Bíblia se contradiz Por diversas vezes vejo pessoas afirmarem ideias sobre a Bíblia baseadas em seus preconceitos religiosos ou seculares. Todo preconceito é baseado em uma postura fanática onde o relativo é assumido como absoluto. Nesse sentido, qualquer ideia ou teoria deve-se enquadrar dentro da visão obtusa do fanático. É como uma pessoa que corta a paisagem para caber dentro de sua moldura. O quadro é assumido como se fosse a paisagem verdadeira e tudo o que está fora de seu quadro é desconsiderado. Quando o assunto é a Bíblia, muitas pessoas abandonam os critérios literários e assumem uma postura pseudocientífica que revela seus profundos preconceitos sobre as religiões e seus livros sagrados. A palavra Bíblia vem da língua grega “Biblos” e significa: livros. A Bíblia é uma biblioteca. Nela encontramos diversos gêneros literários: poesia, prosa, leis, oráculos pro