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Deus de Newton e Einstein não era o judaico-cristão, diz Gleiser

por Marcelo Gleiser
para Folha

Para o físico, a ideia do Deus
cristão não faz sentido
Talvez isso surpreenda muita gente, mas tanto Newton quanto Einstein, sem dúvida dois dos grandes gigantes da física, tinham uma relação bastante íntima com Deus.

É bem verdade que o que ambos chamavam de "Deus" não era compatível com a versão mais popular do Deus judaico-cristão.

Numa época em que existe tanta disputa sobre a compatibilidade da ciência com a religião, talvez seja uma boa ideia revisitar o pensamento desses dois grandes sábios.

No epílogo da edição de 1713 de sua obra prima "Princípios Matemáticos da Filosofia Natural" (1686), Newton escreve que o seu Deus (cristão, claro) era o senhor do Cosmo e que deveria ser adorado por estar em toda a parte, por ser o "Governante Universal". Essa visão de Deus pode ser considerada panteísta, se entendermos por panteísmo a doutrina que identifica Deus com o Universo ou que identifica o Universo como sendo uma manifestação de Deus.

A visão que Einstein tinha de Deus, devidamente destituída da conotação cristã, ecoava de certa forma a de Newton. Einstein desprezava tudo o que dizia respeito à religião organizada, em particular a sua rígida hierarquia e ortodoxia.

Para ele, um Deus que se preocupava com o destino individual dos homens não fazia sentido. Sua visão era bem mais abstrata, baseada nos ensinamentos do filósofo Baruch Spinoza, que viveu no século XVII.

Numa carta dirigida a Eduard Büsching, de 25 de outubro de 1929, Einstein diz: "Nós, que seguimos Spinoza, vemos a manifestação de Deus na maravilhosa ordem de tudo o que existe e na sua alma, que se revela nos homens e animais".

Em 1947, numa outra carta, Einstein escreveu: "Minha visão se aproxima da deSpinoza: admiração pela beleza do mundo e pela simplicidade lógica de sua ordem e harmonia, que podemos compreender".

Como essas posições podem ser usadas no debate sobre a compatibilidade da ciência com a religião?

De um lado, ateus radicais como Richard Dawkins, Christopher Hitchens e Sam Harris argumentam que não pode haver uma compatibilidade, que a religião é uma ilusão que precisa ser erradicada, que o sobrenatural é uma falácia.

De outro, existem vários cientistas que são pessoas religiosas e até mesmo ortodoxas, e que não veem qualquer problema em compatibilizar seu trabalho com a sua fé. O fato de existirem posições tão antagônicas reflete, antes de mais nada, a riqueza do pensamento humano. Nisso, vejo um ponto de partida para uma possível conciliação.

É verdade que o ateísmo radical está respondendo a grupos fundamentalistas que tentam evangelizar instituições públicas. "Guerra é guerra e devemos usar as mesmas armas", ouvi de amigos. Mas o pior que um fundamentalista pode fazer é transformar você nele.

Einstein e Newton encontraram Deus na Natureza e viam a ciência como uma ponte entre a mente humana e a mente divina.

Para eles, adorar a Natureza, estudá-la cientificamente, era uma atitude religiosa. Acho difícil ir contra essa posição, seja você ateu ou religioso. Religiões nascem, morrem e se transformam com o passar do tempo. Mas, enquanto existirmos como espécie, nossa íntima relação com o Cosmo permanecerá.





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Comentários

Wagner Martins disse…
a visão panteísta é pagã, é quando uma divindade é, e se manifesta em tudo e todos em todo o universo. e não "estando" em todo lugar. são então coisas diferentes ;)
BeFrost disse…
Cartas de Albert Einstein leiloadas atualmente deixam bem claras a sua posição de ateu, no fato de não acreditar em nenhuma divindade que seu PRÓPRIO Deus era o cosmo em si e não algo que o manifestava.
Já newton ... esse era louco, alquimista, astrólogo, viciado em profecias e só tomava a física como uma jogo para disputar com seus colegas intelectuais da época, foi só na base da birra que ele melhorou o seu esquema de gravitação universal, que se encontrava errado, até um de seus colegas o deixar irritado e dizer que estava errado .
Assim é a vida hehehe
Edmar Guedes disse…
Eu não sabia que Einstein compartilhava a mesma visão de Espinosa. Espinosa explica de forma clara os motivos pelos quais sua visão de Deus é completamente diferente da judaico-cristã. Não sei se Einstein chegou a ter contato com o pensamento de Nietzsche, mas este, embora de uma forma mais atual, fazia críticas semelhantes à de Espinosa, porém de uma forma mais aguda. De forma que lendo esses pensadores fica difícil aceitar um Deus bíblico. Aliás, com o avanço da ciência, esse Deus se torna insustentável. Por outro lado, isso não exclui a existência de uma força regendo o Universo, força essa que pode ser chamada de Deus.

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