Adriano agora vai ter de vencer o demônio do meio-dia

Adriano Correia Claro (foto), 27, é um jogador habilidoso e forte: em seus arranques rumo ao gol é capaz de arrastar dois os três adversários. Mas ele dobrou-se a uma crise de depressão – entrou em desespero e agora, como quem tenta escapar de um abismo apronfundado-o mais, recorreu ao álcool e talvez também a drogas ilícitas.

Não é a primeira vez que Adriano se vê diante da depressão.

Há cerca de um ano, cogitou-se na internação do jogador porque estava bebendo demais. Mas desta vez a crise é brava, a ponto de Adriano anunciar que não voltará ao Inter de Milão e que, mesmo no Brasil, deixará de jogar por uns tempos. Fãs temem que ele não volte a pisar em um gramado.

A depressão é o mais terrível dos adversários de Adriano e de muita gente, embora a sociedade não dê a devida atenção a essa enfermidade.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), 340 milhões de pessoas sofrem desse mal. No Brasil, a estimativa é de que haja pelo menos 13 milhões de depressivos.

A depressão tem várias causas e níveis de gravidade. Tanto pode durar semanas como a vida toda. Em casos extremos, leva o enfermo ao suicídio.

Quem nunca passou por uma depressão não consegue fazer ideia dos tormentos infligidos pelo esse mal que aparece no Salmo 90º (versão Clementina) como o demônio do meio-dia, aquele que produz desagrado onde se está, desgosto e apatia.

É por isso que tem havido perplexidade com o fato de o jogador ter desistido de um contrato milionário na Itália e ido se refugiar por alguns dias na favela onde viveu, a Cruzeiro do Sul, no Rio, embora tenha mansão na Barra da Tijuca.

O estudioso (e depressivo) Andrew Solomon escreveu um livro com o nome de “O Demônio do Meio-Dia” onde diz que os demônios (leia-se angústias) se alimentam das trevas, da noite, e são derrotados quando expostos à luz. Mas há uma exceção: é o demônio do meio-dia, que desafia a claridade do sol e não se intimida quando é reconhecido. É a depressão.

“Pode-se conhecer todos os seus porquês e mesmo assim sofrer tanto quando estando mergulhado na ignorância. Não há praticamente qualquer outro estado do qual se possa dizer o mesmo.”

Espera-se que a depressão de Adriano não seja tão grave. Mas se for, como parece que é, ele vai precisar de tratamento que já deveria ter começado.

> 22% dos paulistanos afirmam ter sintomas de depressão. (outubro de 2008)

ATUALIZAÇÃO em 7/5/2009

Nesta quinta-feira, Adriano foi recebido com festa no Flamengo, time para o qual passará a jogar. Aparentemente ele venceu a depressão, mas terá de passar por uma bateria de exames no clube. Ele está otimista. Disse que esperar voltar a jogar na Seleção Brasileira. "Nunca pensei em parar", disse. "Quis dar um tempo para estar do lado de minha família e de meus amigos.".