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Mostrando postagens com o rótulo Luiz Felipe Pondé

Pondé escreve que o comunismo matou mais gente que o nazismo

Título original: A mulher, o bebê e o intelectual por Luiz Felipe Pondé para Folha Os comunistas mataram muito mais gente no século 20 do que o nazismo, o que é óbvio para qualquer pessoa minimamente alfabetizada em história contemporânea. Disse isso recentemente num programa de televisão. Alguns telespectadores indignados (hoje em dia ficar indignado facilmente é quase índice de mau-caratismo) se revoltaram contra o que eu disse. Claro, a maior parte dos intelectuais de esquerda mente sobre isso para continuar sua pregação evangélica (no mau sentido) e fazer a cabeça dos coitados dos alunos. Junto com eles, também estão os partidos políticos como os que se aproveitam, por exemplo, do caso Pinheirinho para "armar" a população. O desespero da esquerda no Brasil se dá pelo fato de que, depois da melhoria econômica do país, fica ainda mais claro que as pessoas não gostam de vagabundos, ladrões e drogados travestidos de revolucionários. Bandido bom é bandido preso.

Freud está perdoado porque nem o exu compreende as mulheres

Título original: "Seu Catatumba" por Luiz Felipe Pondé para Folha Conversava eu com um exu numa festa num terreiro de candomblé quando, de repente, ele começou a falar de mulher. Grande especialista. Para quem é "consumidor" do sexo frágil, exus são grandes mestres. Você já conversou com um exu? Recomendo conversar. Pura sabedoria popular, daquelas que marxistas menos obcecados chamariam de espírito menos alienado porque mais "orgânico". No caso, a palavra "espírito" tem duplo sentido, e um deles é espírito como "fantasma incorporado". Não, exus não são demônios, são mais uma espécie de orixá que media as relações entre nós e os deuses. Alguns os relacionam a Hermes (Grécia), Mercúrio (Roma) e Thot (Egito), todos os três deuses mensageiros entre os homens e os deuses. Como ele está em meio ao nosso mundo, é "melado" com ele, claro. Ocupa-se de nossas demandas e, por isso, são famosos por "trancarem ou abrire

Como tudo que é luxo, o 'não' é difícil de achar, de sustentar

Título original: A dor na face por Luiz Felipe Pondé para Folha Muitas vezes apenas gostaríamos de dizer "não". Coisa difícil dizer "não", porque o "sim" é civilizado na sua condição de hipocrisia necessária para a vida em grupo. Não dizer bom-dia, não dizer que gostou, não dizer que quer ir, não dizer que ama, dizer apenas "não". Na ordem capitalista em que vivemos, onde tudo circula na velocidade do vento que nos constitui como miserável mercadoria que somos, o "não" aparentemente vende mal. Mas não é verdade. O "não" é a alma do luxo. "Não quero" pode ser a diferença entre sua banalidade e sua sofisticação não afetada. Mas como tudo que é luxo, o "não" é difícil de achar, de cultivar, de sustentar. Vende-se muito livro de autoajuda por aí. O leitor que me acompanha sabe como detesto autoajuda. Uma indústria que cresce na mesma proporção em que tudo perde o valor. Mas com isso não quero d

A pior tragédia do adultério se dá quando o traído é inocente

Título original: Francesa por Luiz Felipe Pondé para Folha Lia eu o livro do marxista Terry Eagleton, "O Debate sobre Deus" (ed. Nova Fronteira, 232 págs., R$ 39,90), recém-publicado entre nós, quando topei com sua crítica ao cineasta Clint Eastwood. Eagleton é um bom pensador, mas ninguém é perfeito. Seu livro é muito bom e merece ser lido, mas o que ele diz sobre Eastwood é uma grande bobagem. Bobagem, aliás, comumente repetida por gente de bem, mas contaminada pelo que há de pior nos maus hábitos da esquerda: falar mal de algo que não conhece. Eastwood não é um cineasta machão (como supõem Eagleton e quase toda a esquerda, que nada entende de ser humano, porque pensa o tempo todo na bobagem de luta de classes e oprimido x opressor). Pelo contrário, talvez ele seja um dos artistas que melhor entendem o desespero humano (masculino ou feminino), assim como suas virtudes mais sagradas, como a coragem, o autossacrifício e a generosidade. Recentemente, revi seu ma

Kafka tinha razão: todo amante da burocracia tem cara de rato

Título original: Feliz Ano-Novo, Kafka por Luiz Felipe Pondé para Folha Acho o Réveillon uma festa chatíssima. Quando você estiver lendo esta coluna, estarei em Tel Aviv, e ainda bem que aqui não tem Réveillon. A cidade é patrimônio cultural universal porque tem o maior conjunto arquitetônico Bauhaus do mundo, o que dá a ela um tom entre o blasé (isto é, a soma do cinza e branco típico dos prédios Bauhaus de poucos andares com o desleixo chique característico da população local mediterrânea) e o moderno da primeira modernização, antes de a modernidade virar essa coisa brega de massa. Tel Aviv é descrita pelos israelenses como sendo "outro mundo", diferente do resto do país, justamente por seu caráter secular, arredio ao fanatismo religioso que cresce por aqui e aberto à convivência mundana. Diante desse cenário, sempre que estou nesta cidade, meu pessimismo (que tem sua origem provavelmente em alguma forma de disfunção fisiológica) cede. O desleixo e o ar mediter

Heroína não gostava do velho feio que berrava sobre 'espíritos'

Título original: Natal por Luiz Felipe Pondé para Folha Ela encolhia as pernas enquanto respirava mal. Ouvia ruídos do lado de fora. Correra por muito tempo. A barriga, que crescia a cada dia, pesava e náuseas tomavam conta de sua recém-nascida alma. Quase nua, tentava esconder sua barriga enorme com as mãos porque, de alguma forma, sabia que sua barriga e o odor que exalava dentre suas pernas atraiam ainda mais predadores. Cada dia era um dia que ela roubava das mãos do mundo. Nossa pequena grávida era uma infeliz, mas era sábia: sabia que todos os animais queriam comê-la. Lembrava que três homens a pegaram. Perdera-se do seu bando original e por isso caiu nas mãos de caçadores solitários. Não era tão feliz assim em seu bando, mas pelo menos tinha proteção em troca de abrir as pernas para alguns machos do bando de vez em quando. Após dias de solidão em busca de alimento, a possibilidade de ter prazer com essa pequena menina (não era uma mulher plena, mas tinha um corpo q

Cultura dominada pela ideia de felicidade é cultura de frouxos

Título original: Marketing do Desejo por Luiz Felipe Pondé para Folha 'Ser humano   tem  uma vida quase sempre  monótona e previsível' "Mais importante do que o sucesso é passar uma imagem de sucesso." Você pode ouvir uma frase como esta em qualquer palestra brega de motivação em recursos humanos. Já disse antes que acho palestras assim a coisa mais brega que existe. Mais brega do que isso só mesmo achar que o mundo melhorou porque existe o Facebook. A melhor forma de manter a dignidade na era do Facebook (se você não resistir a ter um) é não contar para ninguém que você tem um Facebook. Quase tudo é bobagem nas redes sociais porque o ser humano é banal e vive uma vida quase sempre monótona e previsível. E a monotonia é o traje cotidiano do vazio. E a rotina é o modo civilizado de enfrentar o caos, outra face do vazio. A ideia de que aprendemos a falar porque quisemos "conhecer" o mundo é falsa. Segundo os evolucionistas, é mais prováve

Achar a Europa o máximo é coisa de gente caipira

Quem conhece bem a Europa sabe que os europeus são arrogantes LUIZ FELIPE PONDÉ Folha O brasileiro tem complexo de vira-lata. Adora bancar o chique falando mal de si mesmo. Principalmente quando alguém chique (leia-se, europeu) fala mal do Brasil. Um modo específico de nosso complexo de vira-lata é achar a Europa o máximo. Quem conhece bem a Europa e ultrapassou a caipirice de achar tudo lindo por lá sabe que os europeus são (também) arrogantes, metidos, preconceituosos e exploradores e pensam, ainda hoje, que somos uns "índios" mal alimentados, ignorantes e mal-educados. Claro que há exceções, portanto, não se faz necessário que europeus me escrevam jurando que são legais, ou que seus avós são legais, ou que seus cachorros são criados com todos os direitos humanos, mesmo porque, apesar de que isso não é sabido, ninguém pode ajuizar sobre sua própria virtude. Lamento pela gente que se julga 'crítica e consciente', mas todo mundo que se acha legal por definição

Marques de Sade ficaria horrorizado com o que fizeram com sua filosofia

Título original: Sadômasô sustentável por Luiz Felipe Pondé para Folha O tédio é um dos maiores infernos humanos. Como diz a personagem mais legal do filme "Late Bloomers", com William Hurt e Isabella Rossellini, a bisavó pirada da família: "Se você é criança e não aprende a lidar com o tédio, quando cresce fica idiota". Uma das piores formas de tédio é a estrutura sexual perversa. Ou, como alguns dizem por aí, "sadômasô" (o que antigamente era chamado de "sadomasoquista", no tempo em que era feio ser sadomasoquista). Não vou entrar em debates intermináveis sobre o que a "perversão" é, vou dizer claramente o que quero dizer com esta palavra e por que a perversão sempre me parece entediante. Recentemente, na sua versão "sustentável", ela deixa ainda mais claro como é um cachorro desdentado. Você não sabe o que é um "sadômasô" sustentável? Perversos, "descendentes" do chato Marquês de Sade, super

Ciências humanas e seus 'atores sociais' viajam na maionese

Título original: O erro de Foucault por Luiz Felipe Pondé para Folha Você sabia que o pensador da nova esquerda Michel Foucault foi um forte simpatizante da revolução fanática iraniana de 1979? Sim, foi sim, apesar de seu séquito na academia gostar de esconder esse "erro de Foucault" a sete chaves. Fico impressionado quando intelectuais defendem o Irã dizendo que o Estado xiita não é um horror. O guru Foucault ainda teve a desculpa de que, quando teve seu "orgasmo xiita", após suas visitas ao Irã por duas vezes em 1978, e ao aiatolá Khomeini exilado em Paris também em 1978, ainda não dava tempo para ver no que ia dar aquilo. Desculpa esfarrapada de qualquer jeito. Como o "gênio" contra os "aparelhos da repressão" não sentiu o cheiro de carne queimada no Irã de então? Acho que ele errou porque no fundo amava o "Eros xiita". Mas como bem disse meu colega J. P. Coutinho em sua coluna alguns dias atrás nesta Folha, citando po

Beleza artificial é batalha contra o vazio do corpo e alma

Título original: Ontologia leviana dos seios por Luiz Felipe Pondé para Folha Hoje acordei um tanto leviano. Em dias assim, falo a sério de filosofia. O niilista respira identificando em toda parte a morte da metafísica. Pra quem não sabe, a metafísica é a "ciência" segundo a qual existiria um mundo de formas eternas e plenas, invisível aos olhos, mas visível ao "espírito". Engraçado como muita gente combate a artificialização da beleza do corpo em nome de uma beleza "natural". O que essa gente não entende é que se a metafísica morreu, a existência de uma natureza "natural" também morreu, porque tudo neste mundo da matéria é impermanente, vago, impreciso, e, acima de tudo, dolorido. Com a morte de Deus (símbolo máximo da morte da metafísica), o corpo velho é apenas um corpo feio e decadente. Se Deus não existe, toda beleza artificial é permitida. Logo, viva o silicone. Mas não quero falar de Deus, quero falar de seios. A vida pode

E as alunas violentadas da USP? Devem pedir ajuda a Foucault?

Título original: Geração Capitão Planeta por Luiz Felipe Pondé para Folha Você se lembra do desenho "Capitão Planeta"? Nele um grupo de jovens de várias etnias (brancos, negros, amarelos, vermelhos, enfim, todas as "cores do arco-íris") defendia o planeta. Acho que "Capitão Planeta" deveria ser o patrono dos "novos jovens" que invadiram Wall Street , o Viaduto do Chá e a USP. Estes, então, são ridículos, se acham acima da lei e não querem polícia no campus. Como ficam as alunas violentadas? Devem pedir ajuda para o fantasma de Foucault ? Muito professor-cheerleader é culpado por isso quando fala de "jovens que lutam por um mundo melhor". Este "mundo melhor" é o que eles têm na cabeça e que implica sempre eliminar quem não concorda com eles (o movimento estudantil sempre foi extremamente autoritário). E não existe "o jovem", jovens são múltiplos e muitos não concordam com os baderneiros que invadiram a

Lugares sagrados de Jerusalém viram Disneylândia de Jesus

Título original: Disneylândia de Jesus por Luiz Felipe Pondé para Folha "Locais religiosos sempre atraíram todo tipo de heistéria" O mundo acabou. Não viaje. Assista a filmes em casa ou vá para cidades sem graça do interior. O mundo foi tomado por um tipo de praga que não tem solução: os gafanhotos do sucesso da indústria do turismo. O horror começa nos aeroportos, que, graças ao terrorismo fundamentalista islâmico, ficaram ainda piores com seus sistemas de segurança infernais. Esse mesmo terrorismo fundamentalista que faz as "cheerleaders" dos movimentos sociais sentirem "frisson" de prazer na espinha. Uma grande figura do mercado de análise de comportamento me disse recentemente que, em poucos anos, só os pobres (de espírito?) viajarão. Tenho mais certeza disso do que da aritmética de 2 + 2 = 4. Aeroportos serão o último lugar onde você vai querer ser visto. Gostar de viajar hoje pode ser um forte indício de que você não tem muita imaginaç

Terroristas muçulmanos destruiriam Israel se pudessem

Título original: A questão judaica por Luiz Felipe Pondé para Folha Estou em Jerusalém. Sou a favor do Estado palestino, mas acho que uma das coisas mais inúteis entre nós é discutir o problema israelo-palestino. Falta informação. Quando um ministro israelense disse que Lula deveria estudar a história do conflito antes de se meter, não era piada. A mídia tem claro viés contra Israel. Fotos de palestinos em sangue após ataques de Israel abundam, mas fotos de israelenses em pedaços nos inúmeros ataques ou mísseis lançados contra o Estado judeu nos últimos anos raramente são vistas. Muita gente nada sabe da história do conflito, mas tem uma certeza pétrea contra Israel. De onde vem essa fúria? Da velha "questão judaica" (o habito de ver os judeus como "causa" dos problemas)? Nada sabe sobre o fato de que as fronteiras de Israel não são minimamente seguras e que a paz armada que aqui existe é devido ao gigantesco poder militar superior de Israel sobre os p

'Corretinho' é a mediocridade enturmada que anda em bando

Título original: A cosmética por Luiz Felipe Pondé para Folha Semana passada eu falava da "ética da beleza". Tema difícil. Defendi que mulheres bonitas devem usar, com moderação, a beleza como ferramenta na vida. E dizia que quem não usa é porque normalmente não tem. E que calcinhas fazem bem a vida cotidiana. Falava também que a beleza é um fator contingente (fruto da sorte). Muita gente se pergunta se a beleza não é cada vez mais fruto da grana. A sabedoria popular tem mesmo um ditado pra isso: "Não existe mulher feia, existe mulher pobre". Isso é apenas mais ou menos verdade. Tem rica por aí que assustaria qualquer um a noite e pobre que encanta, mesmo que apenas na juventude. A relação entre grana e beleza se estreita à medida que os anos passam. Assim como a relação entre saúde e grana. Sei que os "corretinhos" se irritaram com a ideia de que o mundo prefere as bonitas. Alguns desses "corretinhos" babam às escondidas em cima de

Crentes e ateus matam, mentem e roubam da mesma forma

Título original: Ler ou não ler, eis a questão por Luiz Felipe Pondé para Folha Dostoiévski Você gosta de Dostoiévski? Se a resposta for "não", o problema está em você, nunca nele. Uma coisa que qualquer pessoa culta deve saber é que Dostoiévski (e outros grandes como ele) nunca está errado, você sim. Se você o leu e não gostou, minta. Procure ajuda profissional. Nunca diga algo como "Dostoiévski não está com nada" porque queima seu filme. Costumo dizer isso para meus alunos de graduação. Eles riem. Aliás, um dos grandes momentos do meu dia é quando entro numa sala com uns 30 deles. Inquietos, barulhentos, desatentos, mas sempre prontos a ouvir alguém que tem prazer em estar com eles. Parte do pouco de otimismo que experimento na vida (coisa rara para um niilista... risadas) vem deles. Devido a essa experiência, costumo rir de muito blá-blá-blá que falam por aí sobre "as novas gerações". Um exemplo desse blá-blá-blá são os pais e professor

Essência do totalitarismo é querer fazer o 'bem para todos'

Título original: Tentação totalitária por Luiz Felipe Pondé para Folha Você se considera uma pessoa totalitária? Claro que não, imagino. Você deve ser uma pessoa legal, somos todos. Às vezes, me emociono e choro diante de minhas boas intenções e me pergunto: como pode existir o mal no mundo? Fossem todos iguais a mim, o mundo seria tão bom... (risadas). Totalitários são aqueles skinheads que batem em negros, nordestinos e gays. Mas a verdade é que ser totalitário é mais complexo do que ser uma caricatura ridícula de nazista na periferia de São Paulo. A essência do totalitarismo não é apenas governos fortes no estilo do fascismo e comunismo clássicos do século 20. Chama minha atenção um dado essencial do totalitarismo, quase sempre esquecido, e que também era presente nos totalitarismos do século 20. Você, amante profundo do bem, sabe qual é? Calma, chegaremos lá. Você se lembra de um filme chamado "Um Homem Bom", com Viggo Mortensen, no qual ele é um cara

Tortura do fundamentalismo religioso é muitas vezes silenciosa

Título original: Fetiche intelectual por Luiz Felipe Pondé  para Folha Há duas semanas ( A burca ), eu disse que era a favor da lei francesa contra a burca (que muita gente confunde com o véu, que não é proibido na França). Aliás, com aquele véu, a mulher muçulmana parece uma Afrodite em versão corânica. Uma deusa de sensualidade. Andam pelas ruas juntas, como um vento que varre nossos olhos com seus olhos. São a prova viva de que a invisibilidade da forma do corpo (ou a visibilidade apenas pressentida) é muito mais sensual do que a obscena explicitação da forma. Um mar de e-mails e protestos contra a minha "intolerância com o outro". Obrigado. Mas adianto: de todos os argumentos dos tranquilos defensores do "direito à burca" (acho a expressão engraçada por si só), um me parece o mais absurdo. Já vou dizer qual é. Digo àqueles que discursam a favor da burca desde seus apartamentos com TV a cabo, de seus cursos de história da arte, de seus direitos de i