Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Luiz Felipe Pondé

Todo mundo tem baixa autoestima por falta de grana, afeto e saúde

Título original: Vigília por Luiz Felipe Pondé para Folha Você tem baixa autoestima? Se sua resposta for "não", provavelmente se enganou. Por quê? Porque todo mundo tem baixa autoestima por razões óbvias: falta de grana, de afeto, de saúde. E corpo e alma são feitos de grana, afeto e saúde. Esse tripé é a chave para os aproveitadores do sobrenatural "acertarem" com frequência suas consultas sobre o destino de suas vítimas. Resumindo a dor humana, tudo cabe nesse tripé. Basta atirar numa dessas razões óbvias, seguindo alguns critérios de como o cliente se apresenta, que a chance de acertar é grande. Quase sempre o cliente é mulher, dizem os especialistas. Os homens seriam mais céticos. Por quê? Porque, dizem, "almas femininas" são mais dadas a crenças ingênuas. Eu cá tenho minhas dúvidas sobre isso porque conheço mulheres que deixam qualquer assaltante de banco assustado pela frieza com a vida. Se for jovem, menos chance de ser doença, a meno

Universidade boa é coisa cara e brasileiro não tem dinheiro

Título original: Casa Grande por Luiz Felipe Pondé para Folha Sou um acadêmico. Adoro dar aula, estudar, participar de seminários. O milagre de ver os olhos de um aluno transparecer a experiência do conhecimento é um prazer imenso. Todo dia agradeço a Deus pela coragem de ter trocado a medicina pela filosofia, ainda que, no fundo, continue vendo o mundo com os olhos do médico. A medicina impregna a alma com a percepção da fragilidade da fronteira entre fisiologia e patologia. Mas nem por isso deixo de ver que minha tribo padece de contradições específicas, e que, em nosso caso, podem ser bem dramáticas, uma vez que somos responsáveis pela produção de grande parte do conhecimento público. Uma dessas contradições é a relação entre universidade e elite. Para alguns, universidade é elite e pronto, e só assim realiza bem sua função. Sou um desses. Já na Idade Média, fosse Paris, Oxford ou Salamanca, era coisa de elite. O pensador conservador e historiador das ideias american

Traumas, obsessões e taras é que dão consistência a uma personalidade

Título original: Demônios no espelho por Luiz Felipe Pondé para   Folha Não, não acho que o homem seja em si mau. Não creio num "em si" do homem. Refiro-me a "homem" como espécie e não como gênero. Prefiro a palavra "sexo" porque ela tem cheiro de "peso" do corpo (e para mim, tem cheiro de corpo de mulher) e a palavra "gênero" tem cheiro de assembleias militantes cheias de gente chata, feia e autoritária. Assembleias manipulam todo mundo para votar no que elas querem. Sim, eu fiz parte do movimento estudantil e estava em 1979 no Centro de Convenções em Salvador no congresso de "reconstrução" da UNE. Baseado em experiências como essas é que sempre julgo infantil quem acredita em "decisões coletivas e democráticas". Risadas... Voltando ao que queria dizer, não acho que o homem seja mau em si. Acho que somos sim uma espécie atormentada, perdida num espaço minúsculo de sua alma insegura e incerta e num espaço g

Quem diz não gostar de dinheiro é geralmente falsa santidade

Título original: Patético por Luiz Felipe Pondé para Folha Quando não ter nada é fácil dizer que não dá valor a nada O que é mais importante na vida: ter ou ser? O que adianta ganhar o mundo e perder a alma? Para aqueles que não creem na alma, pode ser uma boa, não? Se a vida não tiver sentido, quero passá-la num hotel cinco estrelas com uma mulher bonita do lado. E elas são caras. Amaldiçoados somos todos nós, mas é melhor ser infeliz com grana. Sou do time de Nelson Rodrigues (em tudo): dinheiro só compra amor verdadeiro. Uma forma fácil de você fingir que é legal é passar por alguém "superior" ao dinheiro. Eu, que sou um miserável mortal, confesso: adoro dinheiro. E confio mais em quem confessa que faria (quase tudo) por dinheiro. Desconfio de quem diz não dar valor ao dinheiro. Normalmente se trata de uma falsa santidade. Os cínicos costumam dizer que perder a alma pode ser divertido se você tiver bastante grana. Outros afirmam que só quem pode compr

Quem diz amar a humanidade detesta seu semelhante

Título original: São Paulo à la carte por  Luiz Felipe Pondé  para a Folha Você sabe o que é a tradição política conhecida no mundo anglo-saxão como "conservative"? No Brasil é quase inexistente. Entre nós, o termo é comumente utilizado para designar (de modo retórico) "pessoas más contra a democracia". Mentira. Conservadores são pessoas desconfiadas que não gostam de fórmulas políticas de redenção. Por exemplo, eu desconfio de quem diz que ama a humanidade. Normalmente quem ama a humanidade detesta seu semelhante. Comumente pensa que seria melhor que seu semelhante deixasse de existir para, em seu lugar, "nascer" aquele tipo de gente que o amante da humanidade acha ideal. Prefiro pessoas que são indiferentes à humanidade, mas que pagam salários em dia. O crítico da revolução francesa, o britânico Edmund Burke (século 18) usa esta mesma frase: "Loves mankind, hates his kindred" ("ama a humanidade, detesta seu semelhante") pa

O que afinal a mulher quer do homem? A lésbica sabe

Título original: Duas Evas por  Luiz Felipe Pondé  para Folha Caro Leitor, quando você tem dúvidas de como fazer uma mulher feliz (desculpe-me a presunção de querer saber o que seja uma mulher feliz), como você faz? Conversa com amigos? O irmão mais velho? Usa o velho método de tentativa e erro (claro, sempre errando ao final, porque afinal trata-se da mulher e seu desejo insaciável)? Sinto lhe dizer, essas soluções já eram. Existem métodos mais modernos. Um amigo me disse que hoje há uma tendência absolutamente inovadora no mercado dos afetos. Qual é? Você não sabe? É duro ser ultrapassado, hein? Saiba que existem formas supermodernas para lidar com esta patologia (já descrita pela neurociência) como "lazy brain". Esta patologia consiste em cérebros que recusam novas sinapses e que se alojam em caixas cranianas (igualzinha à sua), que, por sua vez, são ligadas a ossinhos que, juntos, perfazem o que você singelamente chama de "meu pescoço". O trata

"Sem 'abusar' da comida e sexo, não vale a pena viver muito"

Título original: 100% por Luiz Felipe Pondé  para Folha Atenção, pecadores e viciados em sexo, comida, bebida, dinheiro e poder: vocês estão ultrapassados. Há uma nova ganância no ar: a mania de qualidade de vida e saúde total. Esta ganância é o que o jornal "Le Monde Diplomatique" já chamava de "la grande santé" ("a grande saúde") nos anos 90. A mania de ter a saúde como fim último da vida. Acho isso antes de tudo brega, mas há consequências mais sérias que um simples juízo estético para esta nova forma de ganância. Consequências morais, políticas e jurídicas: o controle científico da vida. Agora esses fanáticos estão a ponto de demonizar o açúcar, a gordura e o sódio. Querem fotos de gente morrendo de diabetes no saco de açúcar ou de ataque cardíaco nas churrascarias. O clero fascista da saúde não para de botar para fora sua alma azeda. Mas, como assim, ganância? Sim, esta ganância significa o seguinte: quero tirar do meu corpo o máximo qu

Existem pessoas que imaginam 'salvar' o mundo comendo alface

Título original: O cigarro de Sade por Luiz Felipe Pondé para Folha Sade é sem dúvida um autor famoso. Para alguns, ele é um gênio que grita pela liberdade em meio ao século das Luzes (um Voltaire maníaco por sexo), para outros, mero tarado sexual com dotes literários medíocres. Apesar de tê-lo lido com alguma atenção e entender um pouco o que os especialistas veem nele, suspeito que, antes de tudo, seu sucesso se deu porque ele era um nobre "em desgraça" que escrevia pornografia pesada (quem não gosta?). Se ele estiver certo, somos todos tarados sexuais. Mas levemos a sério sua "crítica" e vejamos aonde ela nos levaria hoje. Sade funda uma "tradição" que é ver no sexo algo além dele. Muitos o seguiram nessa suspeita de que sexo é mais do que sexo. O Sade político ou psicanalista é o mais famoso. Mas há um Sade "metafísico". Segundo sua metafísica, a Natureza é perversa e cruel e, portanto, a rigor, não há crime ou transgressão porque

Quem atesta a sanidade mental de uma professora de sexo?

por Luiz Felipe Pondé para Folha de S.Paulo Quem é a favor do ensino religioso? Mesmo quem concorda com o ensino religioso discorda do conteúdo: ensinar o quê? Deus, orixás, gnomos, homens-bomba? Outros são contra: religião não é assunto do Estado e da escola, é assunto da vida privada e familiar -guardem esse argumento na memória porque voltarei a ele. Não vou discutir o ensino religioso, mas sim outra questão que me chama a atenção: a educação sexual nas escolas. Digo logo: sou contra. E mais: acho que sexo é assunto da vida privada e familiar (usei o mesmo argumento dos "contra o ensino religioso", como havia prometido, lembram?) e nenhuma escola ou pedagoga maníaca por sexo deveria entrar nas cabeças das crianças com suas fantasias travestidas de teorias. Aliás, quem são os teóricos de confiança? Quem descobriu o sexo correto? Normalmente, o sexo correto é aquele que a pedagoga maníaca por sexo acha que seja correto, e nada mais. Tapinha pode? Claro, no futuro