Pular para o conteúdo principal

O que diferencia quem ama animais de quem não tem conexão?

O convívio com animais, especialmente pets, é associado com uma série de benefícios para a saúde física e mental. O tema dos animais de estimação parece estar em alta, e para algumas pessoas, o apego a eles é algo natural, quase uma extensão de quem são. Por outro lado, há quem não tenha o mesmo tipo de apego e ache até estranha essa ligação afetiva com os animais.


Renata Roma 
pós-doutorada, Centro de Ciências Comportamentais e Estudos de Justiça/Laboratório de Conexões Paciente, Universidade de Saskatchewan, Canadá

The Conversationl
plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas

Alguns dizem que ‘quem não gosta de bicho, bom sujeito não é’, e vê com um certo ar de desconfiança quem diz não entender o apego que muitos têm por eles. 

Mas afinal, o que realmente diferencia alguém que ama animais de quem não sente essa conexão? E por que essa afinidade varia dependendo o tipo de animal? A ciência pode nos ajudar a entender isso, e a resposta pode ser mais complexa do que imaginamos.

A paixão e a indiferença aos animais

Algumas pesquisas indicam que gênero e certos traços de personalidade estão ligados a uma maior capacidade de criar conexões emocionais com animais. Por exemplo, pessoas que se identificam com o gênero feminino tendem a ter uma atitude mais positiva aos direitos dos animais. Além disso, pessoas de personalidade sociável, dispostas a agradar os outros e trabalhar em grupo, podem ter uma maior inclinação a buscar interações com animais, enquanto pessoas de personalidade mais dominante tendem a ter visões mais hierárquicas sobre os animais.


Para alguns, ter um
animal pode facilitar
interações sociais
.
Essa percepção sobre o
vínculo com animais
aumenta a habilidade
de criar conexões
emocionais com eles


Para alguns ter um animal pode facilitar interações sociais. Essa percepção sobre o vínculo com animais aumenta a habilidade de criar conexões emocionais com eles. 

Por outro lado, pode-se argumentar que não há grandes vantagens em conviver com animais, pois isso envolve muitos custos e trabalho. Algumas pessoas tiveram experiências traumáticas, como mordidas ou ataques que podem ter gerado medo ou aversão a animais. Para outros, animais são associados a alergias ou odor e sujeira, e preferem manter distância deles. Tais percepções podem ter sido moldadas por vivencias na infância ou aspectos culturais.

Para aqueles com uma rotina de viagens, e longas jornadas de trabalho a ideia de ter um animal de companhia também é menos convidativa pois isso significaria mudanças na rotina que não são bem-vindas. Ao mesmo tempo, empatia também exerce uma influência significativa e algumas pessoas têm uma maior habilidade de compreender os estados mentais e habilidades de seres que são diferentes delas. Esse tipo de habilidade cria uma condição mais favorável para ter afinidade com animais.

É importante lembrar que algumas dessas características possuem aspectos inatos, incluindo a habilidade de compreender e responder às expressões emocionais de animais. Assim, algumas pessoas nascem com uma predisposição biológica que facilita o desenvolvimento dessas habilidades. Por outro lado, para aqueles que não têm essa predisposição, pode ser mais difícil desenvolver esse tipo de apego aos animais.

Por que não temos a mesma afinidade com todos os animais?

Vale destacar que nossa relação de amor aos animais tem contradições e embora alguns sejam tratados como membros da família, com outros muitas vezes temos uma relação utilitária ou até de medo.

Um dos fatores que influencia tais diferenças está ligado à nossa história evolutiva. Desenvolvemos uma maior empatia por animais que são parecidos conosco, pois isso teria favorecido a cooperação e, consequentemente, a sobrevivência. 

Como compartilhamos a estrutura social, comunicação e cuidados parentais com mamíferos nossa capacidade de nos identificar e formar laços com esses animais pode ser uma extensão dessa predisposição evolutiva. 

Além disso, especialmente em áreas urbanas compartilhamos mais experiencias emocionais com alguns animais como cães e gatos enquanto outros não fazem parte da nossa realidade. O resultado é que tendemos a ter uma maior capacidade de compreender as necessidades emocionais de pets do que de outros animais como animais selvagens ou de fazenda.

Por exemplo, crianças tendem a atribuir maior capacidade de sentir e pensar a animais como cães e gatos em comparação a animais como anfíbios ou mesmo animais de fazenda. 

O tipo de dieta também tem um peso, e aqueles que crescem em famílias com dietas vegetarianas ou veganas tem uma abertura emocional maior para animais comparados àqueles que crescem em famílias que adotam uma dieta carnívora.

Alguns estudos indicam diferenças na personalidade de carnívoros, vegetarianos e veganos e sugerem que vegetarianos e veganos tendem a ter mais abertura a novas experiencias, assim como maior curiosidade intelectual e capacidade de considerar novas visões éticas e sociais o que pode ter um impacto na capacidade de reconhecer e valorizar os direitos de diferentes animais.
Desafiando estereótipos e ampliando o olhar

Compreender o que diferencia quem tem ou não afinidade com animais envolve analisar uma variedade de fatores, incluindo nossa história evolutiva, aspectos biológicos, psicológicos, culturais e outros. Além disso, existe uma distinção entre não ter afinidade e não respeitar. 

Nossa história evolutiva nos ensinou a nos conectar com aqueles com quem somos mais semelhantes, mas isso não quer dizer que não possamos ir além dessas inclinações naturais. Assim como fazemos nas nossas relações com pessoas que são diferentes de nós e tentamos evoluir nossas relações humanas, podemos fazer o mesmo nas nossas interações com os animais, tentando ampliar nossas limitações na capacidade de nos conectar a eles.

À medida que a ciência progride temos mais e mais evidências de que subestimamos as capacidades emocionais e cognitivas de animais como pássaros, anfíbios, e certos invertebrados, por exemplo. Portanto, a reflexão mais relevante é como podemos rever nossas crenças e expandir nossa empatia, aprendendo a respeitar e a valorizar todos os seres vivos, independentemente da afinidade natural que possamos ter com alguns deles.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Caso Roger Abdelmassih

Violência contra a mulher Liminar concede transferência a Abelmassih para hospital penitenciário 23 de novembro de 2021  Justiça determina que o ex-médico Roger Abdelmassih retorne ao presídio 29 de julho de 2021 Justiça concede prisão domiciliar ao ex-médico condenado por 49 estupros   5 de maio de 2021 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico Abdelmassih 26 de fevereiro de 2021 Corte de Direitos Humanos vai julgar Brasil por omissão no caso de Abdelmassih 6 de janeiro de 2021 Detento ataca ex-médico Roger Abdelmassih em hospital penitenciário 21 de outubro de 2020 Tribunal determina que Abdelmassih volte a cumprir pena em prisão fechada 29 de agosto de 2020 Abdelmassih obtém prisão domicililar por causa do coronavírus 14 de abril de 2020 Vicente Abdelmassih entra na Justiça para penhorar bens de seu pai 20 de dezembro de 2019 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico estuprador 19 de novembro de 2019 Justiça cancela prisão domi...

Professor obtém imunidade para criticar criacionismo nas aulas

A Corte de Apelação da Califórnia (EUA) decidiu que um professor de uma escola pública de Mission Viejo tem imunidade para depreciar o criacionismo, não podendo, portanto, ser punido por isso. A cidade fica no Condado de Orange e tem cerca de 94 mil habitantes. Durante uma aula, o professor de história James Corbett, da Capistrano Valley High School, afirmou que o criacionismo não pode ser provado cientificamente porque se trata de uma “bobagem supersticiosa”. Um aluno foi à Justiça alegando que Corbett ofendeu a sua religião, desrespeitando, assim, a liberdade de crença garantida pela Primeira Emenda da Constituição. Ele perdeu a causa em primeira instância e recorreu a um tribunal superior. Por unanimidade, os três juízes da Corte de Apelação sentenciaram que a Primeira Emenda não pode ser utilizada para cercear as atividades de um professor dentro da sala de aula, mesmo quando ele hostiliza crenças religiosas. Além disso, eles também argumentaram que o professor não ...

Reação de aluno ateu a bullying acaba com pai-nosso na escola

O estudante já vinha sendo intimidado O estudante Ciel Vieira (foto), 17, de Miraí (MG), não se conformava com a atitude da professora de geografia Lila Jane de Paula de iniciar a aula com um pai-nosso. Um dia, ele se manteve em silêncio, o que levou a professora a dizer: “Jovem que não tem Deus no coração nunca vai ser nada na vida”. Era um recado para ele. Na classe, todos sabem que ele é ateu. A escola se chama Santo  Antônio e é do ensino estadual de Minas. Miraí é uma cidade pequena. Tem cerca de 14 mil habitantes e fica a 300 km de Belo Horizonte. Quando houve outra aula, Ciel disse para a professora que ela estava desrespeitando a Constituição que determina a laicidade do Estado. Lila afirmou não existir nenhuma lei que a impeça de rezar, o que ela faz havia 25 anos e que não ia parar, mesmo se ele levasse um juiz à sala de aula. Na aula seguinte, Ciel chegou atrasado, quando a oração estava começando, e percebeu ele tinha sido incluído no pai-nosso. Aparentemen...

Aluno com guarda-chuva se joga de prédio e vira piada na UERJ

"O campus é depressivo, sombrio, cinza, pesado" Por volta das 10h de ontem (31 de março de 2001), um jovem pulou do 11º andar do prédio de Letra da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e virou motivo de piadinhas de estudantes, no campus Maracanã e na internet, por ter cometido o suicídio com um guarda-chuva. Do Orkut, um exemplo: "Eu vi o presunto, e o mais engraçado é que ele está segurando um guarda-chuva! O que esse imbecil tentou fazer? Usar o guarda-chuva de paraquedas?" Uma estudante de primeiro ano na universidade relatou em seu blog que um colega lhe dissera na sala de aula ter ouvido o som do impacto da queda de alguma coisa. Contou que depois, de uma janela do 3º andar, viu o corpo. E escreveu o que ouviu de um estudante veterano: “Parabéns, você acaba de ver o seu primeiro suicídio na UERJ.” De fato, a morte do jovem é mais uma que ocorre naquele campus. Em um site que deu a notícia do suicido, uma estudante escreveu: “O campus é depressivo, s...

Seleção feminina de vôlei não sabe que Brasil é laico desde 1891

Título original: O Brasil é ouro em intolerância Jogadoras  se excederam com oração diante das câmeras por André Barcinski para Folha Já virou hábito: toda vez que um time ou uma seleção do Brasil ganha um título, os atletas interrompem a comemoração para abrir um círculo e rezar. Sempre diante das câmeras, claro. O mesmo aconteceu sábado passado, quando a seleção feminina de vôlei conquistou espetacularmente o bicampeonato olímpico em cima da seleção norte-americana, que era favorita. O Brasil é oficialmente laico desde 1891 e a Constituição prevê a liberdade de religião. Será mesmo? O que aconteceria se alguma jogadora da seleção de vôlei fosse budista? Ou mórmon? Ou umbandista? Ou agnóstica? Ou islâmica? Alguém perguntou a todas as atletas e aos membros da comissão técnica se gostariam de rezar o “Pai Nosso”? Ou será que alguns se sentiram compelidos a participar para não destoar da festa? Será que essas manifestações públicas e encenadas, em vez de prop...

Ateus são o grupo que menos apoia a pena de morte, apura Datafolha

No noticiário, casos de pastores pedófilos superam os de padres

Cinco deuses filhos de virgens morreram e ressuscitam. E nenhum deles é Jesus