Pular para o conteúdo principal

Contra o desperdício, União Europeia proíbe a destruição de roupas não vendidas

Há perspectiva de a medida valer também para outros produtos, como equipamentos eletrônicos e brinquedos


Clemence Lepla 
doutoranda em direito privado, Universidade de Lille, França  

The Conversationl
plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas

Em 2020, a França ganhou as manchetes ao anunciar a proibição da destruição de bens não vendidos, um movimento significativo na luta contra o desperdício. A União Europeia acaba de seguir o exemplo: anunciou ter adotado um regulamento sobre ecodesign. Vai regulamentar medidas para evitar a destruição de certos produtos de consumo não vendidos em território europeu.

Essa iniciativa, resultante do Pacto Ecológico Europeu, prevê regras específicas para as empresas relativamente à gestão dos seus bens não vendidos.

É um passo importante nos esforços da União Europeia para promover uma abordagem mais responsável e contribuir para a construção de uma economia mais sustentável e amiga do ambiente.

Visa também harmonizar as regras relativas à gestão de mercadorias não vendidas, a fim de evitar qualquer distorção do mercado.

Os produtores, distribuidores, retalhistas e outros operadores econômicos ficarão sujeitos ao mesmo texto e poderão beneficiar de incentivos semelhantes em todos os Estados-Membros.

Durante a última sessão plenária antes das eleições europeias, o Parlamento Europeu adotou em primeira leitura a proposta de regulamento sobre ecodesign iniciada pela Comissão Europeia em março de 2022.

Esse texto foi aprovado em 27 de maio pelo Conselho da União Europeia, um órgão que reúne os governos dos 27 estados-membros.


Na Europa, a taxa média
de devolução de roupas
compradas online
é estimada em 20%,
uma em cada cinco peças
é devolvida e, em média,
um terço de todas as
roupas devolvidas
compradas online
acaba destruído

A atual redação do texto prevê apenas a proibição de vestuário e calçado, uma vez que os têxteis não vendidos representam um problema ambiental particularmente preocupante em toda a União Europeia para os fabricantes, importadores, distribuidores e revendedores que o enfrentam.

A ascensão do comércio online agrava a situação devido ao aumento dos produtos devolvidos pelo consumidor no âmbito da sua garantia legal ou comercial.

A legislação francesa, que proíbe a destruição de todos os produtos não vendidos, sem distinção, esse regulamento europeu tem um âmbito de aplicação mais restrito.

A Comissão Europeia reserva-se, no entanto, a possibilidade de expandir posteriormente a lista de produtos, podendo incluir outras categorias de produtos, como equipamentos eletrônicos ou brinquedos, por exemplo.

De momento, a ênfase está numa das indústrias mais poluentes do planeta: a moda e em particular a fast-fashion, que se caracteriza por uma renovação cada vez mais rápida de coleções de artigos efêmeros e de longa duração de baixo preço.


No entanto, serão previstas exceções quando a destruição dos bens não vendidos parecer ser a operação mais adequada. Esse pode ser o caso, nomeadamente, por razões relacionadas com a saúde, a segurança ou a violação dos direitos de propriedade intelectual, se, por exemplo, se tratar de produtos com defeitos.

Reciclagem considerada “destruição”

Outro aspecto a ser observado é que o texto redefine a noção de “destruição”. Anteriormente associada a métodos de eliminação como a incineração ou a deposição em aterro, essa noção designa aqui "a deterioração intencional de um produto ou a sua eliminação como resíduo, com exceção da eliminação em sucata cujo único objetivo é entregar um produto para prepará-lo para reutilização ou refabricação operações.

Abrange, portanto, uma gama mais ampla de práticas e inclui, nomeadamente, a reciclagem. Concretamente, roupas e sapatos não vendidos não podem mais ser queimados, destruídos, enterrados ou reciclados.

A reciclagem desses novos itens constitui de fato uma operação poluente e complexa devido ao baixo índice de reciclabilidade desses produtos em perfeito estado, nunca usados, por vezes até ainda rotulados.

Os profissionais terão que recorrer a outras operações, mais respeitadoras do meio ambiente e reaproveitar ou reaproveitar seus produtos com doação, liquidação, aluguel, etc.

Rumo a mais transparência

Para além dessa proibição, a UE pretende estabelecer uma maior transparência, exigindo que as empresas relatem as suas práticas em termos de gestão de bens não vendidos.

Elas terão de fornecer anualmente informação detalhada sobre o volume e peso dos bens não vendidos descartados e comunicar a proporção dos bens reutilizados, recondicionados, reciclados, etc., explicando as razões que os levaram a optar por esta ou isso.

Essas informações devem ser facilmente acessíveis ao público em uma página do seu site. Também aqui as micro e pequenas empresas ficarão isentas desse requisito, enquanto as médias empresas terão seis anos para cumprir após a entrada em vigor da regulamentação.

Atualmente, é difícil quantificar os bens não vendidos gerados todos os anos. Poucas empresas comunicam o volume dos seus produtos não vendidos. Os números atuais carecem de transparência e baseiam-se em relatórios das empresas. Essa medição permitirá ter uma visão mais detalhada da quantidade de bens não vendidos gerados a cada ano.

A Comissão Europeia deve publicar informações consolidadas sobre a destruição de produtos de consumo não vendidos de três em três anos no seu website.

Além de apresentar estatísticas sobre o número de produtos destruídos, fornecerá também uma análise dos impactos ambientais comparativos dessa destruição, discriminados por grupo de produtos.

Essa avaliação comparativa permitirá compreender melhor as consequências da destruição de produtos não vendidos no ambiente e visar setores onde são necessárias medidas adicionais.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Evangélicos lançam camiseta para ex-gay, ex-fornicador, etc.

Cada camiseta custa US$ 10 Quem disse que não existe ex-gay? O Passion for Christ Movement (Movimento da Paixão por Cristo), grupo evangélico com sede em Los Angeles, Califórnia (EUA), está vendendo pela internet camiseta não só para ex-homossexual como também para ex-fornicador, ex-masturbador, ex-prostituta, ex-ateu, ex-hipócrita etc. No site do movimento, há fotos de jovens que dão depoimento sobre como conseguiram escapar do mau caminho com a ajuda de Jesus. Não há informação sobre qual tem sido a camiseta a mais procurada. Há camiseta para todos tamanhos, desde a pequena  à extra-grande. Portanto, nenhum arrependido ficará sem o que vestir. Cada uma custa US$ 10 (um pouco mais de R$ 22, sem frete). O  endereço é http://p4cmtshirts.bigcartel.com/

Feliciano tenta se explicar, mas repete que África é amaldiçoada

Evangélicos adotam noivado sem sexo e beijo na boca

Rafael e Heloísa adotaram a castidade para conhecer o "verdadeiro amor" Rafael Almeida (foto), 22, estudante de engenharia civil, e Heloísa Lugato (foto), 24, formada em direito, estão apaixonados, namoram há mais de um ano e já marcaram a data do casamento, março de 2013. Até lá, eles não farão sexo e sequer darão beijo na boca, só vão se abraçar e pegar na mão. Eles adotaram noivado casto para conhecer o “verdadeiro amor”. São evangélicos da Cuiabá (MT), frequentam a Igreja Videira, do pastor Heitor Henrique Laranjo, 27, e fazem parte do movimento “Eu Escolhi Esperar”, que defende namoro sem relacionamento sexual. “Abdicamos do contato físico, do toque, para focar nosso relacionamento na amizade e em conhecer um ao outro”, disse Rafael. “Preferi me preservar.” Na expectativa dos jovens, a “pureza sexual” vai lhes garantir uma vida “emocionalmente saudável” e equilibrada. Heloísa afirmou que o seu noivado segue os princípios de santidade descritos na Bíbl...

Professora usa Folha Universal para ‘formar senso crítico’

Suplemento do jornal só sobre a igreja A professora de redação Mara Regina Aparecida Trindade dos Santos, da Escola Estadual Gonçalves Dias, da zona norte de São Paulo, usa o semanário “Folha Universal”, da Igreja Universal, como material de leitura dos seus alunos da quinta série. “[O semanário] serve para formar senso críticos dos alunos”, disse a professora. De acordo com orientação do MEC, os professores têm liberdade para escolher publicações como material de apoio. Mas, nesse caso, a Folha Universal é a única publicação que os alunos leem em classe. A coordenadora pedagógica Márcia Coltre Cordeiro afirmou que "o foco é na leitura dos textos, e não no seu conteúdo", como se fosse possível separar uma coisa da outra. A Folha Universal tem um suplemento, a Folha IURD, só com informações sobre a igreja. Na edição da semana passada, por exemplo, o suplemento informou que o blog do bispo Edir Macedo tem impressionado os acadêmicos por ter 100 mil ace...

Caso Roger Abdelmassih

Violência contra a mulher Liminar concede transferência a Abelmassih para hospital penitenciário 23 de novembro de 2021  Justiça determina que o ex-médico Roger Abdelmassih retorne ao presídio 29 de julho de 2021 Justiça concede prisão domiciliar ao ex-médico condenado por 49 estupros   5 de maio de 2021 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico Abdelmassih 26 de fevereiro de 2021 Corte de Direitos Humanos vai julgar Brasil por omissão no caso de Abdelmassih 6 de janeiro de 2021 Detento ataca ex-médico Roger Abdelmassih em hospital penitenciário 21 de outubro de 2020 Tribunal determina que Abdelmassih volte a cumprir pena em prisão fechada 29 de agosto de 2020 Abdelmassih obtém prisão domicililar por causa do coronavírus 14 de abril de 2020 Vicente Abdelmassih entra na Justiça para penhorar bens de seu pai 20 de dezembro de 2019 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico estuprador 19 de novembro de 2019 Justiça cancela prisão domi...

Cinco deuses filhos de virgens morreram e ressuscitam. E nenhum deles é Jesus

Chico Buarque: 'Sou ateu, faz parte do meu tipo sanguíneo'

O compositor e cantor Chico Buarque  disse em várias ocasiões ser ateu. Em 2005, por exemplo, ao jornal espanhol La Vanguardia , fez um resumo de sua biografia.

Guerra Israel-Irã trava-se também no plano religioso, em nome de Deus

Jovens acreditam mais na evolução do que em Gênesis

Pesquisa foi feita  com 2,3 mil alunos  do ensino médio A Bíblia, em Gênesis, afirma que Deus criou o homem, os animais e tudo mais, do jeito que existe hoje, mas a maioria dos jovens estudantes brasileiros, em torno de 15 anos, acredita na evolução biológica das espécies, conciliando, assim, religião com ciência. É o que sugere uma pesquisa do biólogo Nelio Bizzo, professor da Faculdade de Educação da USP. Suas conclusões estão baseadas nas respostas a um questionário de 23 perguntas submetido a 2,3 mil alunos do ensino médio de escolas públicas e privadas de todas as regiões do país. Do total dos alunos, mais de 70% afirmaram acreditar nas doutrinas de sua religião. Entre eles, o número de católicos representaram 52%, o de evangélicos, 29% e os sem religião, 7,5%. A maioria (64%) concordou com a afirmação de que “as espécies atuais de animais e plantas se originaram de outras espécies do passado”. Bizzo afirmou que tal resultado surpreende por...