Pular para o conteúdo principal

Planícies alagadas da Amazônia podem virar savanas por causa da instabilidade do lençol freático

Estudo mostra que a variação de profundidade das águas subterrâneas influência o que vai prevalecer, se floresta ou a savana


AGÊNCIA BORI

Áreas da Amazônia com grandes períodos de inundações ao longo do ano, como as planícies de inundação do Alto Rio Negro, da região dos rios Purus e Madeira e do rio Amazonas, podem se transformar em savanas ao longo deste século por causa do aumento na instabilidade do seu lençol freático. 

É o que constata estudo publicado na segunda (7) na revista “PNAS”, feito por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em parceria com universidades do exterior, entre elas, a Rutgers University, dos Estados Unidos.

A pesquisa revela que a variação de profundidade das águas subterrâneas influencia se floresta ou savana será predominante em áreas da América do Sul com provável ocorrência desses tipos de vegetação. A vegetação de savana, por exemplo, é favorecida por um lençol freático mais instável, caracterizado pela alternância entre grandes períodos de secas e encharcamento ao longo do ano.

No estudo, os pesquisadores partiram de dados sobre chuva, topografia, tipo de solo e relevo para construir um modelo matemático que representa a profundidade mensal do lençol freático em áreas tropicais da América do Sul, como a Amazônia e o Pantanal brasileiro. Dados de 2004 a 2018 permitiram englobar períodos de grande variabilidade climática. Essas informações foram cruzadas com observações de satélite sobre a vegetação predominante em cada área.

Planícies de inundação sob 
duplo estresse podem sofrer
mudanças na vegetação
sob um clima com menos
chuva e mais sazonalidade

A literatura já reconhece os regimes de chuva como determinantes para a separação entre Cerrado e Amazônia, lembra Caio Mattos, autor da tese que deu origem ao artigo e atualmente pesquisador da Universidade de Princeton e do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), nos Estados Unidos. 

O novo estudo, por sua vez, aponta a contribuição da água armazenada pelo solo para a coexistência de savanas e florestas. “A partir de estudos locais, a gente sabia que o lençol freático afetava a distribuição da vegetação, mas isto nunca tinha sido verificado na escala de toda a América do Sul”, explica o cientista.

O lençol freático estável envolve maior previsibilidade. Ele mantém-se profundo ou raso e é regulado mais diretamente pelo relevo. “Já os lençóis instáveis são mais influenciados pela chuva e têm ampla variação de profundidade, podendo estar próximos à superfície na estação chuvosa descendo até dez metros na estação seca”, ressalta Mattos. 

“Encontramos muito raramente espécies de árvores que conseguem tolerar tanto o encharcamento como a seca, pois as estratégias para contornar ambos são quase incompatíveis e exigem muito gasto energético”, aponta o pesquisador. Já as gramíneas da savana conseguem armazenar seus nutrientes nas raízes até uma situação mais favorável para criar novas folhas, demandando menos energia para sobreviver.

O modelo formulado pelos pesquisadores mostra que planícies alagadas por grandes rios no interior da Amazônia podem ser expostas a um duplo estresse para o qual não estão preparadas, em projeções de aumento da estação seca e diminuição das chuvas na região entre os anos de 2090 e 2100. Mattos frisa que esses solos têm muita matéria orgânica e guardam grandes quantidades de carbono, ali mantidas enquanto há um alagamento permanente. “Uma vez em contato com o oxigênio da atmosfera, esse carbono pode reforçar os efeitos das mudanças climáticas”.

O pesquisador avalia que novos estudos devem ser feitos considerando cada tipo de floresta e levando em conta as características do lençol freático junto com a chuva. 

“Nenhum modelo hoje leva em conta a perda da porção oeste da Amazônia. Temos que prestar atenção e estudar mais os efeitos de um colapso da floresta nesta região que achávamos estar protegida – e talvez não esteja”, observa Mattos.


• Igreja Católica critica desmatamento da Amazônia, mas investe na mineração da região

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

'Sou a Teresa, fui pastora da Metodista e agora sou ateia'

Ateu, Dawkins aposta no cristianismo cultural contra avanço do Islã. É um equívoco

Historiador católico critica Dawkins por usar o 'cristianismo cultural' para deter o Islã

Música gravada pelo papa Francisco tem acordes de rock progressivo. Ouça

Pereio defende a implosão do Cristo Redentor

Repercute na internet a declaração do ator Paulo César Pereio à Veja desta semana de que a estátua do Cristo Redentor deveria ser implodida. Ele até estaria planejando uma campanha para obter adeptos à sua proposta. Ele isse à revista: “Aquela estátua é uma interferência indevida na paisagem. O morro onde ela está é lindo. O Cristo só atrapalha o visual do lugar.” Igreja quer indenização do filme que destroçou o Cristo Redentor. fevereiro de 2010 Ambientalistas do Peru criticam estátua rival do Cristo Redentor. junho de 2011

Comissão aprova projeto que torna a Bíblia patrimônio imaterial. Teocracia evangélica?

Misterioso cantor de trilha de novela é filho de Edir Macedo

Só metade dos americanos que dizem 'não acredito em Deus' seleciona 'ateu' em pesquisa