Pular para o conteúdo principal

Testemunhas de Jeová removem vídeos em que filha rejeita mãe desassociada

A religião fundamentalista dá exemplo sobre como faz lavagem cerebral em seus seguidores


PAULO LOPES
jornalista

Em convenção regional em maio de 2023 nos Estados Unidos, as Testemunhas de Jeová apresentaram dois vídeos roteirizados mostrando uma filha solteira rejeitando a sua mãe, uma desassociada (expulsa da religião por não seguir dogmas).

Diante de críticas na rede social a essa manifestação de intolerância, a igreja removeu os vídeos de sua plataforma, mas eles já tinham sido copiados pela AvoidJW.org, uma organização que coleta documentos referentes aos ex-fiéis que são vítimas do ostracismo pregado por essa religião.

Os vídeos foram apresentados durante a palestra de Corey Wadlington sobre por que os fiéis têm de manter distância de renegados.

O palestrante foi cuidadoso com as palavras, pegou leve, e não falou a verdade: a religião teme que os "impuros" contaminem o rebanho, de modo a haver grande debandada, maior do que já ocorre. 

Mas a justificação da filha para não ter contato com a mãe chocou formadores de opinião, porque sempre se ouve que as religiões defendem a união da família, não se imaginando haver uma é que pelo desmantelamento em muitos casos.

Em um dos vídeos (abaixo), a mãe liga para Elsa e pede: "Por favor, atenda. Sinto muito a sua falta. Eu só quero ouvir a sua voz".

Diante da foto da mãe na tela do celular, Elsa não diz nada, desliga o aparelho e pensa: "É uma luta tão grande. Sinto falta dela. Ela me ensinou a verdade, me deu vida estável. Ela era minha amiga mais próxima. Qual é o mal em ligar às vezes conversar? Talvez eu possa até ajudá-la a voltar para Jeová".

Mas Elsa não liga para mãe sequer para dizer que "Jeová sempre estará de braços abertos para ela", coisas assim. O que, de certa fora, faz sentido, porque esse deus e suas testemunhas são implacáveis e vingativos. 

 

O outro vídeo (abaixo) mostra a filha se conformando com a rejeição à mãe.

Em um Salão do Reino, ela ouve um orador que fala sobre a paciência que Abel teve para esperar que Deus cumprisse suas promessas. Abel é apontado como "órfão espiritual" para forçar uma comparação com Elsa.

Na continuação do vídeo, a moça se pergunta em off: "O que Jeová me prometeu se eu tiver paciência [com a situação de rompimento com a mãe]?"

Ela olha em torno é vê outros fiéis irmãos "espirituais", irmãs e mães. E essa seria a resposta de Jeová para validar o descarte da mãe com saudades da filha. 

A mensagem que o vídeo passa é que Elsa não precisa da mãe biológica porque tem a igreja e Jeová, os quais a substituem. Macabro, isso.

Ao final do vídeo, a mãe telefona para Elsa, que, desta vez, nem sequer atende. A lavagem cerebral está feita.

 

A rejeição da filha a sua mãe é tão sofrida, para as duas, que as Testemunhas de Jeová produziram, afinal, dois vídeos cujo efeito, para a Igreja, é um tiro de canhão pela culatra. Dá para entender porque o fanatismo não se esmera pela sutileza, mas pela estupidez.

É óbvio que as Testemunhas de Jeová, como outros sistemas de crenças, se encontram em grande descompasso nestes tempos de aglutinação e inclusão, e tendem a minguar, sangrando aos poucos, perdendo fiéis, até desaparecer. 



Comentários

Robert Saint disse…
A realidade é que estamos sem futuro, por culpa das religiões que impediram a humanidade de agir enquanto ainda era tempo.
Não há como sair do planeta, nem há local pra onde ir, nem como lidar com as transformações necessárias pra torná-lo sustentável.
Com 8 bilhões de habitantes e 7 bilhões de tementes a deus, não há chance de acordo.
Estamos condenados à nossa ignorância.
Vamos destruir nosso ninho, nosso habitat, por pura superstição e intolerância.
Eu, particularmente, acho isso interessante. Pois demonstra quem somos: animais grupais e intolerantes que só querem levar vantagens contra outros sem se preocupar com o todo.
Então, que venha a destruição!
É curioso que o texto termina por dizer que as TJ "tendem a minguar, sangrando aos poucos, perdendo fiéis, até desaparecer." Obviamente, esse é o desejo do autor. No entanto, do ponto de vista sociológico, não é provável que tal aconteça.

Apesar de serem uma minoria, as TJ são uma religião muito bem estruturada, composta por milhões de pessoas, e com uma taxa de crescimento positivo todos os anos. Uma das características mais marcantes da religião é o apego aos seus valores, independentemente das críticas da sociedade. E é exatamente isso que atrai muitos membros.

Além disso, as TJ têm uma enorme experiência coletiva em lidar com as calúnias de inimigos poderosos. Hitler, Salazar, Mussolini, Stalin e muitos outros perseguiram ferozmente os fiéis da religião, mas não tiveram sucesso. As campanhas de difamação nos órgãos de comunicação social apenas serviram para despertar a curiosidade das pessoas e, por conseguinte, contribuir para o aumento de fiéis da religião.

Há anos que se fala mal das TJ. As acusações são horríveis, tais como negar tratamento médico aos filhos. Afetou o crescimento das TJ? Não. Mais recentemente, surgiram acusações de encobrimento de pedofilia, de separação de famílias, etc. Afetou o crescimento das TJ? Não. As atividades religiosas do grupo continuam a ser realizadas de forma tranquila e constante, ao mesmo tempo que um número considerável de jovens batizam-se a cada ano.

É verdade que o mundo caminha para a secularização. Mas nenhuma religião com milhões de membros, devidamente estruturada, e com liderança forte, irá "sangrar aos poucos, perdendo fiéis, até desaparecer", como deseja o autor. Dizer isso é ignorar a natureza humana e a capacidade que as religiões têm de se reinventar.
Mas é muita cara de pau,estão vendo a Discriminação religiosa,e se enchem de pseudo argumentos.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Ateu usa coador de macarrão como chapéu 'religioso' em foto oficial

Fundamentalismo de Feliciano é ‘opinião pessoal’, diz jornalista

Sheherazade não disse quais seriam as 'opiniões não pessoais' do deputado Rachel Sheherazade (foto), apresentadora do telejornal SBT Brasil, destacou na quarta-feira (20) que as afirmações de Marco Feliciano tidas como homofóbicas e racistas são apenas “opiniões pessoais”, o que pareceu ser, da parte da jornalista,  uma tentativa de atenuar o fundamentalismo cristão do pastor e deputado. Ficou subentendido, no comentário, que Feliciano tem também “opiniões não pessoais”, e seriam essas, e não aquelas, que valem quando o deputado preside a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Se assim for, Sheherazade deveria ter citado algumas das opiniões “não pessoais” do pastor-deputado, porque ninguém as conhece e seria interessante saber o que esse “outro” Feliciano pensa, por exemplo, do casamento gay. Em referência às críticas que Feliciano vem recebendo, ela disse que “não se pode confundir o pastor com o parlamentar”. A jornalista deveria mandar esse recado...

PMs de Cristo combatem violência com oração e jejum

Violência se agrava em SP, e os PMs evangélicos oram Houve um recrudescimento da violência na Grande São Paulo. Os homicídios cresceram e em menos de 24 horas, de anteontem para ontem, ocorreram pelo menos 20 assassinatos (incluindo o de policiais), o triplo da média diária de seis mortes por violência. Um grupo de PMs acredita que pode ajudar a combater a violência pedindo a intercessão divina. A Associação dos Policiais Militares Evangélicos do Estado de São Paulo, que é mais conhecida como PMs de Cristo, iniciou no dia 25 de outubro uma campanha de “52 dias de oração e jejum pela polícia e pela paz na cidade”, conforme diz o site da entidade. “Essa é a nossa nobre e divina missão. Vamos avante!” Um representante do comando da corporação participou do lançamento da campanha. Com o objetivo de dar assistência espiritual aos policiais, a associação PMs de Cristo foi fundada em 1992 sob a inspiração de Neemias, o personagem bíblico que teria sido o responsável por uma mobili...

Wyllys vai processar Feliciano por difamação em vídeo

Wyllys afirmou que pastor faz 'campanha nojenta' contra ele O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), na foto, vai dar entrada na Justiça a uma representação criminal contra o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) por causa de um vídeo com ataques aos defensores dos homossexuais.  O vídeo “Marco Feliciano Renuncia” de oito minutos (ver abaixo) foi postado na segunda-feira (18) por um assessor de Feliciano e rapidamente se espalhou pela rede social por dar a entender que o deputado tinha saído da presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Mas a “renúncia” do pastor, no caso, diz o vídeo em referência aos protestos contra o deputado, é à “privacidade” e às “noites de paz e sono tranquilo”, para cuidar dos direitos humanos. O vídeo termina com o pastor com cara de choro, colocando-se como vítima. Feliciano admitiu que o responsável pelo vídeo é um assessor seu, mas acrescentou que desconhecia o conteúdo. Wyllys afirmou que o vídeo faz parte de uma...

Embrião tem alma, dizem antiabortistas. Mas existe alma?

por Hélio Schwartsman para Folha  Se a alma existe, ela se instala  logo após a fecundação? Depois do festival de hipocrisia que foi a última campanha presidencial, com os principais candidatos se esforçando para posar de coroinhas, é quase um bálsamo ver uma autoridade pública assumindo claramente posição pró-aborto, como o fez a nova ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci. E, como ela própria defende que a questão seja debatida, dou hoje minha modesta contribuição. O argumento central dos antiabortistas é o de que a vida tem início na concepção e deve desde então ser protegida. Para essa posição tornar-se coerente, é necessário introduzir um dogma de fé: o homem é composto de corpo e alma. E a Igreja Católica inclina-se a afirmar que esta é instilada no novo ser no momento da concepção. Sem isso, a vida humana não seria diferente da de um animal e o instante da fusão dos gametas não teria nada de especial. O problema é que ninguém jamais demonstrou que ...

Defensores do Estado laico são ‘intolerantes’, diz apresentadora

Evangélico quebrou centro espírita para desafiar o diabo

"Peguei aquelas imagens e comei a quebrar" O evangélico Afonso Henrique Alves , 25, da Igreja Geração Jesus Cristo, postou vídeo [ver abaixo] no Youtube no qual diz que depredou um centro espírita em junho do ano passado para desafiar o diabo. “Eu peguei todas aquelas imagens e comecei a quebrar...” [foto acima] Na sexta (19), ele foi preso por intolerância religiosa e por apologia do ódio. “Ele é um criminoso que usa a internet para obter discípulos”, disse a delegada Helen Sardenberg, depois de prendê-lo ao término de um culto no Morro do Pinto, na Zona Portuária do Rio. Também foi preso o pastor Tupirani da Hora Lores, 43. Foi a primeira prisão no país por causa de intolerância religiosa, segundo a delegada. Como 'discípulo da verdade', Alves afirma no vídeo coisas como: centro espírito é lugar de invocação do diabo, todo pai de santo é homossexual, a imprensa e a polícia estão a serviço do demônio, na Rede Globo existe um monte de macumbeiros, etc. A...

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Apoio de âncora a Feliciano constrange jornalistas do SBT

Opiniões da jornalista são rejeitadas pelos seus colegas O apoio velado que a âncora Rachel Sheherazade (foto) manifestou ao pastor-deputado Marco Feliciano (PSC-SP)  deixou jornalistas e funcionários do "SBT Brasil" constrangidos. O clima na redação do telejornal é de “indignação”, segundo a Folha de S.Paulo. Na semana passada, Sheherazade minimizou a importância das afirmações tidas como homofóbicas e racistas de Feliciano, embora ele seja o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, dizendo tratar-se apenas de “opinião pessoal”. A Folha informou que os funcionários do telejornal estariam elaborando um abaixo assinado intitulado “Rachel não nos representa” para ser encaminhado à direção da emissora. Marcelo Parada, diretor de jornalismo do SBT, afirmou não saber nada sobre o abaixo assinado e acrescentou que os âncoras têm liberdade para manifestar sua opinião. Apesar da rejeição de seus colegas, Sheherazade se sente segura no cargo porque ela cont...