Pular para o conteúdo principal

Banco genômico de idosos permitirá aprimorar diagnóstico de doenças

'Projeto 80mais' analisa 1.171 genomas completos de brasileiros

ELTON ALISSON
Agência FAPESP

Um banco de dados genômicos de idosos de São Paulo, desenvolvido por pesquisadores do CEGH-CEL (Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco), do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, permitirá identificar mutações responsáveis por doenças genéticas na população brasileira ou que são determinantes para o envelhecimento saudável.

Os dados individuais já estão disponíveis para a comunidade científica, mediante a solicitação de download, e os agregados começaram a ser disponibilizados nos últimos anos no Arquivo Brasileiro On-line de Mutações (ABraOM).

Resultados obtidos por meio de análises feitas a partir do banco genômico foram descritos em artigo publicado na revista Nature Communications.

Descobertas preliminares foram publicadas em 2020 na plataforma bioRxiv, em artigo sem revisão por pares.

“Desde que os dados começaram a ser disponibilizados foram registrados diversos acessos de pesquisadores do Brasil e do exterior ao repositório. Isso demonstra a importância dessa iniciativa para a comunidade científica”, diz à Agência FAPESP Mayana Zatz, professora do IB-USP e coordenadora do CEGH-CEL — um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP.

O banco é resultado de um estudo pioneiro de sequenciamento de 1.171 genomas completos de idosos brasileiros, representando a maior coorte de genomas de idosos da América Latina.

A pesquisa, denominada inicialmente “Projeto 80mais”, foi iniciada em 2008 com o objetivo de caracterizar o genoma de idosos saudáveis dos pontos de vista físico e cognitivo, com o intuito de dar origem a um banco de referência genômica da população brasileira e contribuir para desvendar os fatores envolvidos com o envelhecimento saudável.

Estudo inclui idosos
de todos os níveis
socioeconômicos

Com média de idade de 71 anos e não aparentados, os idosos foram selecionados por pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP no âmbito do Projeto Saúde, Bem-estar e Envelhecimento (Sabe), apoiado pela FAPESP.

Iniciado em 2000 e coordenado pelas professoras Maria Lúcia Lebrão e Yeda Duarte, o Sabe tem o objetivo de traçar o perfil das condições de vida e saúde de idosos que residem na cidade de São Paulo e em outros centros urbanos da América Latina e do Caribe a partir de entrevistas domiciliares, avaliações e exames médicos.

“O estudo é representativo da população idosa de São Paulo porque é baseado no censo do município paulista e inclui pessoas de todos os níveis socioeconômicos”, avalia Zatz.

População miscigenada


Os idosos foram escolhidos como população-alvo para sequenciamento do genoma por já terem passado da idade de início de manifestação de uma série de doenças que surgem na velhice, como o Alzheimer e Parkinson, entre outras.

O fato de morarem em São Paulo, a maior metrópole do país, também permitiu que representem a diversidade genética da população brasileira, que é altamente miscigenada, afirma Zatz.

“São Paulo é a cidade mais miscigenada do Brasil, porque reúne descendentes de imigrantes de diferentes continentes, como Europa, Ásia e África, além de pessoas nascidas em vários outros Estados e países”, avalia a pesquisadora.

Essa alta diversidade genética dos idosos paulistas participantes do estudo permitirá preencher a lacuna da baixa representatividade de populações altamente miscigenadas nos bancos genômicos internacionais, baseados preponderantemente na população europeia, apontam os autores do estudo.

Os pesquisadores identificaram, por exemplo, cerca de 2 milhões de variantes genéticas nos idosos paulistas até então não descritas em bancos de dados genômicos internacionais.

“Isso está relacionado com o fato de os bancos genômicos internacionais retratarem mais o genoma de referência europeu. É possível que esse número de 2 milhões de novas variantes genéticas que encontramos diminua à medida que esses repositórios incluam populações pouco representadas, como a brasileira”, estima Michel Naslavsky, professor do IB-USP e primeiro autor do estudo.

O aumento da diversidade nos bancos genômicos internacionais também permitirá aprimorar a acurácia de testes genéticos para populações altamente miscigenadas, como a brasileira e de outros países da América Latina, em geral, avaliam os pesquisadores.

Análises feitas nos genomas dos idosos que integram o banco genômico brasileiro revelaram que eles carregam, por exemplo, variantes genéticas classificadas nos bancos genômicos europeus como patogênicas, mas que eles não manifestam as doenças relacionadas a essas mutações.

“Uma das hipóteses que estamos levantando para isso é a de que variantes genéticas até então classificadas como patogênicas podem se expressar de modo diferente de acordo com o background genético do indivíduo, como o europeu ou o miscigenado”, diz Naslavsky.

Os pesquisadores também constataram que os idosos brasileiros são portadores de variantes associadas a doenças recessivas comuns tanto em europeus como em africanos, como a fibrose cística. A frequência de pessoas heterozigotas — portadoras de uma variante recessiva – permite estimar a incidência dessas doenças na população.

“No caso da população brasileira, estimamos que a incidência de fibrose cística é de um caso a cada 10 mil nascimentos. Essa informação é muito importante para programas públicos de aconselhamento genético a casais em idade reprodutiva em relação aos riscos de terem filhos com doenças genéticas graves”, avalia Zatz.

Por meio da análise dos dados genômicos dos idosos também foi possível identificar novas variantes de genes do sistema imunológico (HLA), que codificam proteínas importantes na resposta imune ao permitir o reconhecimento de patógenos.

De acordo com os pesquisadores, esses genes são conhecidos por serem os mais variáveis e diversos da espécie humana, o que os tornam difíceis de serem analisados.

Por meio da aplicação de uma técnica especializada para descrever esses genes foram encontradas mais de 140 combinações nunca descritas. Esses achados são importantes para estudos sobre suscetibilidade ou resistência a infecções por diversos patógenos, incluindo o SARS-CoV-2, sublinham.

> O artigo Whole-genome sequencing of 1,171 elderly admixed individuals from São Paulo, Brazil pode ser lido em: www.nature.com/articles/s41467-022-28648-3.


Medo de aranha se incorporou ao DNA humano, diz estudo


Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Malafaia divulga mensagem homofóbica em outdoors do Rio

Traficantes evangélicos proíbem no Rio cultos de matriz africana

Agência Brasil Comissão da Combate à Intolerância diz que bandidos atacam centros espíritas  O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e a CCIR (Comissão de Combate à Intolerância Religiosa) se reuniram na terça-feira para debater o pedido de instauração de inquérito de modo a investigar a denúncia de que traficantes que se declaram evangélicos de Vaz Lobo e Vicente de Carvalho, na zona norte do Rio, estão proibindo religiões de matriz africana de manterem cultos na região. Segundo a comissão, vários centros espíritas estão sendo invadidos por pessoas que dizem ser do tráfico, expulsando fiéis e ameaçando pessoas por usarem roupa branca. O presidente da CCIR, Ivanir dos Santos, relatou que a discriminação não é novidade e que vários religiosos de matriz africana passaram por situações parecidas diversas vezes. "Isso não começou hoje, vem desde 2008. Precisávamos conversar neste momento com o Ministério Público para conseguir uma atuação mais concreta. Vamos entre

MP pede prisão do 'irmão Aldo' da Apostólica sob acusação de estupro

Neymar paga por mês R$ 40 mil de dízimo à Igreja Batista

Dinheiro do jogador é administrado por seu pai O jogador Neymar da Silva Santos Júnior (foto), 18, paga por mês R$ 40 mil de dízimo, ou seja, 10% de R$ 400 mil. Essa quantia é a soma de seu salário de R$ 150 mil nos Santos com os patrocínios. O dinheiro do jogador é administrado pelo seu pai e empresário, que lhe dá R$ 5 mil por mês para gastos em geral. O pai do jogador, que também se chama Neymar, lembrou que o primeiro salário do filho foi de R$ 450. Desse total, R$ 45 foram para a Igreja Batista Peniel, de São Vicente, no litoral paulista, que a família frequenta há anos. Neymar, o pai, disse que não deixa muito dinheiro com o filho para impedi-lo de se tornar consumista. “Cinco mil ainda acho muito, porque o Juninho não precisa comprar nada. Ele tem contrato com a Nike, ganha roupas, tudo. Parece um polvo, tem mais de 50 pares de sapatos”, disse o pai a Debora Bergamasco, do Estadão. O pai contou que Neymar teve rápida ascensão salarial e que ele, o filho, nunca d

Sociedade está endeusando os homossexuais, afirma Apolinario

por Carlos Apolinário para Folha Não é verdade que a criação do Dia do Orgulho Hétero incentiva a homofobia. Com a aprovação da lei, meu objetivo foi debater o que é direito e o que é privilégio. Muitos discordam do casamento gay e da adoção de crianças por homossexuais, mas lutar por isso é direito dos gays. Porém, ao manterem apenas a Parada Gay na avenida Paulista, estamos diante de um privilégio. Com privilégios desse tipo, a sociedade caminha para o endeusamento dos homossexuais. Parece exagero, mas é disso que se trata quando a militância gay tenta aprovar no Congresso o projeto de lei nº 122, que ameaça a liberdade de imprensa. Se essa lei for aprovada, caso um jornal entreviste alguém que fale contra o casamento gay, poderá ser processado. Os líderes do movimento gay querem colocar o homossexualismo acima do bem e do mal. E mais: se colocam como vítimas de tudo. Dá até a impressão de que, em todas as ruas do Brasil, tem alguém querendo matar um gay. Dizem que a cada

Ricardo Gondim seus colegas pastores que são 'vigaristas'

Título original: Por que parti por Ricardo Gondim  (foto), pastor Gondim: "Restou-me dizer  chega  por não aguentar mais" Depois dos enxovalhos, decepções e constrangimentos, resolvi partir. Fiz consciente. Redigi um texto em que me despedia do convívio do Movimento Evangélico. Eu já não suportava o arrocho que segmentos impunham sobre mim. Tudo o que eu disse por alguns anos ficou sob suspeita. Eu precisava respirar. Sabedor de que não conseguiria satisfazer as expectativas dos guardiões do templo, pedi licença. Depois de tantos escarros, renunciei. Notei que a instituição que me servia de referencial teológico vinha se transformando no sepulcro caiado descrito pelos Evangelhos. Restou-me dizer chega por não aguentar mais. Eu havia expressado minha exaustão antes. O sistema religioso que me abrigou se esboroava. Notei que ele me levava junto. Falei de fadiga como denúncia. Alguns interpretaram como fraqueza. Se era fraqueza, foi proveitosa, pois despertava

Estudante expulsa acusa escola adventista de homofobia

Arianne disse ter pedido outra com chance, mas a escola negou com atualização Arianne Pacheco Rodrigues (foto), 19, está acusando o Instituto Adventista Brasil Central — uma escola interna em Planalmira (GO) — de tê-la expulsada em novembro de 2010 por motivo homofóbico. Marilda Pacheco, a mãe da estudante, está processando a escola com o pedido de indenização de R$ 50 mil por danos morais. A primeira audiência na Justiça ocorreu na semana passada. A jovem contou que a punição foi decidida por uma comissão disciplinar que analisou a troca de cartas entre ela e outra garota, sua namorada na época. Na ata da reunião da comissão consta que a causa da expulsão das duas alunas foi “postura homossexual reincidente”. O pastor  Weslei Zukowski (na foto abaixo), diretor da escola, negou ter havido homofobia e disse que a expulsão ocorreu em consequência de “intimidade sexual” (contato físico), o que, disse, é expressamente proibido pelo regulamento do estabelecimento. Consel

Milagrento Valdemiro Santiago radicaliza na exploração da fé

'O que se pode plantar no meio de tanto veneno deste blog?'

de um leitor a propósito de Por que o todo poderoso Deus ficou cansado após seis dias de trabalho?   Bem, sou de Deus e fiquei pensativo se escrevia  algo aqui porque o que se nota é um desespero angustiado na alma de alguns cheios de certezas envenenadas, com muita ironia, muita ironia mesmo. Paulo foi o maior perseguidor do evangelho e se tornou o maior sofredor da causa cristã. Os judeus são o povo escolhido, mas Deus cegou seu entendimento para que a salvação se estendesse aos gentios. Isso mostra que quando Deus decide Se revelar a alguém, Ele o faz, seja ou não ateu. Todo esse rebuliço e vozes de revolta, insatisfação, desdém em que podem afetá-Lo? Quanto a esse blog, "o que se pode plantar no meio de tanto veneno?" Tudo aqui parece gerar mais discórdia. Se vocês não têm fé e não acreditam Nele, por que a ideia de Deus lhe perturbam tanto e alguns (não todos) passam a perseguir quem expressa uma fé, principalmente a cristã? Por que tanto desamor e