Pular para o conteúdo principal

Sottomaior contesta artigo que atribui assassinato à falta de fé



por Daniel Sottomaior
para A Gazeta, do Espírito Santo

Em todas as épocas da história, uma parcela significativa de homens e mulheres nutriu desprezo por outra parcela de homens e mulheres, atribuindo-lhes a causa dos males da sociedade. No Brasil, particularmente longo foi o sofrimento dos negros por conta desse ódio pelo diferente, que escreveu páginas da mais atroz maldade humana.

 'Ódio aos ateus
persiste em

 pleno século 21'
Mas já avançamos muito nessa área. Hoje, a afirmação de que o judaísmo “expõe a sociedade a uma crise de valores que banalizam a vida” dificilmente chegaria a um periódico importante porque a sociedade já evoluiu a ponto de perceber que se trata de preconceito e que, se houve alguma crise de valores, foi a das pessoas que demonizaram os judeus. O autor da frase possivelmente estaria na cadeia no mesmo dia.

O fato é que a frase foi publicada pela Gazeta no último dia 23 (“Quem ama definitivamente não mata”, Gabriel Tebaldi), e nada aconteceu porque ela não se dirigiu aos judeus, mas a um outro grupo. Isso nos mostra que a sociedade ainda não aprendeu que deve repelir o discurso de ódio em si, independentemente da vítima. E aponta que, em pleno século XXI, ainda existe um grupo de pessoas que é perfeitamente lícito odiar, em plena luz do dia: os ateus.

Ao comentar o assassinato cruel de Barbara Richardelle, Tebaldi classifica como “perfeito” o diagnóstico de que “falta Deus na juventude” e atribui a banalização da vida à ”falta de fé, seja ela qual for”. E só há um grupo sem deuses e sem fé: somos nós, os ateus. Sinto-me profundamente constrangido, mas não me resta alternativa senão vir ao jornal e dizer: não somos maus. Não somos assassinos. E não pedimos sequer respeito ao ateísmo. Só queremos respeito como cidadãos.

O preconceito contra ateus, como todos os outros, não se ancora nos fatos: não são os ateus que enchem as cadeias, não eram ateus os generais da ditadura e seus torturadores, não eram ateus os donos de escravos. E os países com mais ateus, como a França, têm os melhores índices sociais e a menor violência – ao contrário dos países com mais fé, como o Brasil.

Em menos de seis anos de existência, a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA) angariou mais de 12 mil membros em sua difícil luta contra o preconceito, que invariavelmente vem dos religiosos. Já conseguimos diversas vitórias expressivas, como condenações na justiça de pessoas preconceituosas, que enchem de esperança os ateus que foram discriminados pelos amigos, pelos colegas, ou até mesmo pelos pais.

Pesquisas particulares apontam que cerca de 2% dos brasileiros são ateus. Somos milhões, mas muitos de nós se escondem para não sofrer com o amor cristão. Nosso sonho é que um dia todos eles possam se exibir sem medo, em um país em que o preconceito não seja estampado, com orgulho, até nos jornais.




Atea recebe até 10 denúncias por mês de preconceito

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

'Psicóloga cristã' afirma ser vítima da militância ateísta

Lobo nega ter criado uma  anticiência, a 'psicologia cristã' Marisa Lobo (foto), evangélica que diz ser “psicóloga cristã”, afirmou em um vídeo que sofre perseguição da militância ateísta e política do CFP (Conselho Federal de Psicologia). “É um preconceito religioso porque eu ousei bater de frente com o conselho”, disse. “Eu questionei o kit gay e várias atitudes do conselho que são pura militância política e ateísta.” O CRP (Conselho Regional de Psicologia) do Paraná deu um prazo para que Lobo retirasse  de seus sites e blogs a associação entre psicologia e cristianismo, e ela se recusou com o argumento de que a Constituição lhe garante professar a sua fé. Reafirmou que não faz pregação religiosa dentro do seu consultório, tanto que não há nenhuma denúncia de paciente contra ela. No vídeo, postado em seu blog e reproduzido no site do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Lobo disse que tinha acabado de ser informada de que o ...

Divulgador científico Pirula recupera-se em casa de AVC

Dias sofre ameaça de morte por pedir retirada de Deus do real

"Religião também é usada para violar os direitos humanos" O procurador Jefferson Aparecido Dias (foto), da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal em São Paulo, vem sofrendo ameaças de morte desde que deu entrada a uma ação na Justiça pedindo a retirada da expressão “Deus seja louvado” das cédulas real. “Eu estou sendo ameaçado por causa dessa ação, por cristãos”, disse em entrevista a Talita Zaparolli, do portal Terra. “Recebi alguns emails com ameaças, em nome de Deus.” O procurador tem se destacado como defensor da laicidade do Estado brasileiro. Em 2009 ele ajuizou uma ação pedindo a retirada de símbolos religiosos das repartições públicas federais. Dias, que é católico, recorreu à Bíblia para defender a laicidade prevista na Constituição. “Em nenhum momento Jesus deu a entender, para quem é cristão, que o dinheiro deveria trazer o nome dele ou o nome de Deus”, disse. “Acho que é uma inversão de valores.” Na entrevista, ele...

Malafaia desmente fim de acordo entre sua editora e Avon

com atualização em 22 de junho de 2012 Pastor diz que falsa notícia foi safadeza de gays Silas Malafaia (foto) desmentiu a informação divulgada pelo site "A Capa", do movimento gay, e reproduzida por este blog segundo a qual a Avon tirou do seu catálogo os livros da Editora Central Gospel. Para o pastor, trata-se de “mais uma mentira e safadeza de ativistas gays, o que é bem peculiar do caráter deles”. Na versão de "A Capa", no folheto “Moda e Casa” que a Avon divulgou no dia 13 de junho não tem nenhum livro da editora de Malafaia e que isso, segundo o site, é o desdobramento da campanha que ativistas gays moveram na internet contra a empresa de cosméticos. Malafaia informou que a Bíblia que consta no folheto é de sua editora e que é comum em algumas quinzenas a Avon não divulgar os livros da Central Gospel. A firmou que o acordo entre a editora e a Avon tem uma programação de distribuição de livros até o final do ano. O pastor criticou os sites...

Menina morta por jejum religioso deixou diário com relatos de maus-tratos

Glauciane foi morta por homem casado que conheceu no Orkut

Glauciane era divorciada e  tinha dois filhos pequenos Uma pessoa que se assina como Mih escreveu no dia 16 de novembro de 2009 na página do Orkut de Anne Isa Marcelo para que ela se afastasse de um homem. “Ele já provou que só te traz sofrimentos e, se está com aquela mulher, é porque é isso que realmente quer. Amor só é bom quando nos traz coisas boas.” Anne não conseguiu se afastar do homem casado que ela conheceu em 2007 no Orkut e na sexta-feira (4) à tarde foi assassinada a facadas no rosto, pescoço, tórax e braço por ele em Torres, no Rio Grande do Sul, defronte ao Hotel Bauer, onde ela estava hospedada. Uma testemunha disse que houve umas 20 facadas. Anne Isa Marcelo era o nome no Orkut da médica Glauciane Hara (foto), 39, de Pindamonhangaba (SP). Ela era divorciada e tinha dois filhos pequenos. Trabalhava na Santa Casa da cidade como pediatra e clínica geral. O homem é o marceneiro Rodrigo Fraga da Silva, 33, casado há 13 anos. Ele se apresen...

BC muda cédulas do real, mas mantém 'Deus seja Louvado'

Louvação fere o Estado laico determinado pela Constituição  O Banco Central alterou as cédulas de R$ 10 e R$ 20, “limpou” o visual e acrescentou elementos de segurança, mas manteve a expressão inconstitucional “Deus seja Louvado”.  As novas cédulas, que fazem parte da segunda família do real, começaram a entrar em circulação no dia 23. Desde 2011, o Ministério Público Federal em São Paulo está pedindo ao Banco Central a retirada da frase das cédulas, porque ela é inconstitucional. A laicidade determinada pela Constituição de 1988 impede que o Estado abone qualquer tipo de mensagem religiosa. No governo, quanto à responsabilidade pela manutenção da frase, há um empurra-empurra. O Banco Central afirma que a questão é da alçada do CMN (Conselho Monetário Nacional), e este, composto por um colegiado, não se manifesta. Em junho deste ano, o ministro Marco Aurélio, do STF (Supremo Tribunal Federal), disse que a referência a Deus no dinheiro é inconcebível em um Estado mode...

Arcebispo defende permanência de ‘Deus’ em notas do real

Dom Scherer diz que descrentes não deveriam se importar   Dom Odilo Scherer (foto), arcebispo metropolitano de São Paulo, criticou a ação que o MPF (Ministério Público Federal) enviou à Justiça Federal solicitando a determinação no sentido de que a expressão “Deus seja louvado” deixe de constar nas cédulas do real. Em nota, Scherer disse: "Questiono por que se deveria tirar a referência a Deus nas notas de real. Qual seria o problema se as notas continuassem com essa alusão a Deus?" Argumentou que, “para quem não crê em Deus, ter ou não ter essa referência não deveria fazer diferença. E, para quem crê em Deus, isso significa algo”. O promotor Jefferson Aparecido Dias, autor da ação, defendeu a supressão da expressão porque o Estado brasileiro é laico e, por isso, não pode ter envolvimento com nenhuma religião, mesmo as cristãs, que são professadas pela maioria da população. Scherer, em sua nota, não fez menção ao Estado laico, que está previsto na Constituição. E...