Pular para o conteúdo principal

A violência online cresce enquanto a ciência brasileira assiste de longe

Uma investigação em 2022 revelou que cerca de 20% das crianças de diversos países já sofreram exploração ou abuso sexual em ambiente digital


Ana Ludmila Freire Costa
psicóloga e pesquisadora de pós-doutorado na University of New Hampshire, nos EUA.


Os dados sobre a ocorrência da violência sexual online contra crianças e adolescentes têm chamado a atenção de pesquisadores, governantes, profissionais que lidam com esse público, assim como de familiares e responsáveis.

Uma investigação conduzida em 2022 pelo projeto Disrupting Harm, formada por Unicef, Interpol e ECPAT (coalizão de organizações da sociedade civil) revelou que cerca de 20% das crianças de diversos países já sofreram exploração ou abuso sexual em ambiente digital.

As denúncias de imagens de violência sexual infantil feitas no Portal da SaferNet Brasil cresceram 77% em 2023, em relação ao ano anterior — e esse aumento não é um caso isolado.

No Brasil, a cada cinco crianças e adolescentes conectados, uma já vivenciou algum tipo de violência online, segundo o Comitê Gestor da Internet (CGI.br). 

O Fórum
Brasileiro de
Segurança
Pública
também
registrou
aumento
de 60% nas
denúncias
de crimes de
exploração
sexual infantil
com uso de
tecnologias
digitais entre
2019 e 2023


A maior parte dos agressores é composta por homens adultos conhecidos das vítimas — o que reforça que o risco não se restringe ao “estranho na internet”, mas inclui relações de confiança e proximidade.

Os impactos emocionais podem envolver prejuízos na relação com o próprio corpo, baixa autoestima, preocupações com a imagem social, sintomas depressivos e automutilação não suicida. 

Importa ressaltar que tais consequências tendem a ser duradouras, afetando as crianças e adolescentes mesmo vários anos após a experiência da violência.

Diante desse cenário, um aspecto tem sido ofuscado na construção de estratégias para seu enfrentamento: o investimento em pesquisa científica. Países como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Austrália vêm consolidando tradição em pesquisa sobre o tema, com laboratórios e instituições voltadas à proteção digital de crianças, como o National Center for Missing & Exploited Children (EUA) e o eSafety Commissioner (Austrália), que integram dados de segurança pública, saúde e tecnologia para orientar políticas nacionais.

O Brasil, porém, ainda depende de iniciativas isoladas de pesquisadores que enfrentam dificuldades no acúmulo de dados e reflexões — um aspecto fundamental para o avanço científico. Apesar de estratégias pontuais, as políticas públicas permanecem fragmentadas.

O governo federal tem incorporado o tema em campanhas de alfabetização midiática, mas as ações carecem de articulação com universidades e centros de pesquisa que possam avaliá-las e propor melhorias.

Essa lacuna científica se reflete nos recursos de enfrentamento disponíveis no país. Apenas em 2025 foi sancionada a Lei 15.211, que dispõe sobre a proteção de crianças e adolescentes em ambientes digitais, após o tema ganhar destaque nas redes por meio de influenciadores. Onde estão cientistas para apontar, explicar e reforçar a urgência da questão?

A responsabilidade também recai sobre as plataformas digitais, cujas políticas de moderação seguem opacas e insuficientes. As empresas de tecnologia têm acesso a volumes imensos de dados que poderiam subsidiar pesquisas e ações de prevenção, mas a cooperação com o setor público e com a comunidade científica ainda é limitada no Brasil.

Uma análise adequada desse cenário requer considerar múltiplos fatores. Torna-se difícil identificar o que está na raiz: o histórico baixo investimento em ciência, o pouco prestígio da comunidade científica perante a sociedade, o distanciamento histórico entre ciência e políticas públicas — ou tudo isso combinado.

Importa lembrar que o problema tem dimensão local e global. Assim como a internet, a violência sexual online não conhece fronteiras. É essencial que a comunidade científica internacional compartilhe terminologias, metodologias de mapeamento e estratégias de enfrentamento. Ao mesmo tempo, pesquisas regionais precisam ser estimuladas, levando em conta vulnerabilidades específicas, práticas familiares e os recursos locais disponíveis — como legislação, programas de prevenção e redes de acolhimento.

Espera-se que não tarde para que o investimento público no Brasil se torne efetivamente indutivo sobre o tema, com editais específicos, agendas de pesquisa e infraestrutura para popularização de dados. Só assim o país poderá participar de iniciativas internacionais com o status de proponente e coordenador, não apenas de espectador da ciência global.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

Vicente e Soraya falam do peso que é ter o nome Abdelmassih

Orkut tem viciados em profiles de gente morta

Uma das comunidades do Orkut que mais desperta interesse é a PGM ( Profile de Gente Morta). Neste momento em que escrevo, ela está com mais de 49 mil participantes e uma infinidade de tópicos. Cada tópico contém o endereço do profile (perfil) no Orkut de uma pessoa morta e, se possível, o motivo da morte. Apesar do elevado número de participantes, os mais ativos não passam de uma centena, como, aliás, ocorre com a maior parte das grandes comunidades do Orkut. Há uma turma que abastece a PGM de informações a partir de notícias do jornal. E há quem registre na comunidade a morte de parentes, amigos e conhecidos. Exemplo de um tópico: "[de] Giovanna † Moisés † Assassinato Ano passado fizemos faculdade juntos, e hoje ao ler o jornal descubri (sic) que ele foi assassinado pois tentou reagir ao assalto na loja em que era gerente. Tinha 22 anos...” Seguem os endereços do profile do Moisés e da namorada dele. Quando o tópico não tem o motivo da morte, há sempre alguém que ...

Feliciano manda prender rapaz que o chamou de racista

Marcelo Pereira  foi colocado para fora pela polícia legislativa Na sessão de hoje da Comissão de Direitos Humanos e Minoria, o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP), na foto, mandou a polícia legislativa prender um manifestante por tê-lo chamado de racista sob a alegação de ter havido calúnia. Feliciano apontou o dedo para um rapaz: “Aquele senhor de barba, chama a segurança. Ele me chamou de racista. Racismo é crime. Ele vai sair preso daqui”. Marcelo Régis Pereira, o manifestante, protestou: “Isso [a detenção] é porque sou negro. Eu sou negro”. Depois que Pereira foi retirado da sala, Feliciano disse aos manifestantes: “Podem espernear, fui eleito com o voto do povo”. O deputado não conseguiu dar prosseguimento à sessão por causa dos apitos e das palavras de ordem cos manifestantes, como “Não, não me representa, não”; “Não respeita negros, não respeita homossexuais, não respeita mulheres, não vou te respeitar não”. Jovens evangélicos manifestaram apoio ao ...

Rabino da Congregação Israelita Paulista é acusado de abusar de mulheres

Feliciano na presidência da CDHM é 'inaceitável', diz Anistia

Feliciano disse que só sai da comissão se morrer A Anistia Internacional divulgou nota afirmando ser “inaceitável” a escolha do pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP), na foto, para a presidência da CDHM (Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara), por ter "posições claramente discriminatórias em relação à população negra, LGBT e mulheres". "É grave que ele tenha sido alçado ao posto a despeito de intensa mobilização da sociedade em repúdio a seu nome", diz. Embora esteja sendo pressionado para renunciar inclusive pelo seu próprio partido, Feliciano declarou no fim de semana que só morto deixará a presidência da comissão. O seu mandato no órgão é de dois anos. A Anistia manifestou a expectativa de que os deputados “reconheçam o grave equívoco cometido” e  “tomem imediatamente as medidas necessárias” para substituir o deputado. “[Os integrantes da comissão] devem ser pessoas comprometidas com os direitos humanos” que tenham “trajetórias públi...

'Pessoa sem fé se torna muito só', afirma Christiane Torloni

Atriz diz que segue  preceitos  do budismo Ao falar que é católica por formação e que segue os “preceitos” do budismo, a   atriz Christiane Torloni (foto) afirmou que “sem fé a pessoa se torna muito só”.  “Leio a palavra de Cristo e acredito que ele e o Buda são duas manifestações de muita luz para o ser humano”, disse à coluna de Sonia Racy, no Estadão. Torloni comparou a vida a uma gincana. “É como uma novela”, afirmou. “Os budistas têm um termo muito bom para isso: rigor de continuidade.” Aos 54 anos, a atriz disse que o envelhecimento “traz benefícios incríveis para a alma e a sabedoria”. Tweet ‘Energia espiritual’ tem ajudado Gianecchini, diz médium setembro de 2011

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Padre do Paraná se masturba diante de menina de 13 anos

A Polícia Rodoviária prendeu na quarta-feira (2) o padre Reginaldo Antonio Ghergolet (foto), 37, da Diocese de Jacarezinho (PR), por ter se masturbado diante de uma menina de 13 anos em Ribeirão do Pinhal.

Pastor da Frente Parlamentar quer ser presidente do Brasil

Feliciano sabe das 'estratégias do diabo' contra um presidente cristão O pastor Marco Feliciano (foto), 41, do Ministério Tempo de Avivamento, disse sonhar com um Brasil que tenha um presidente da República que abra o programa “Voz do Brasil” dizendo: “Eu cumprimento o povo brasileiro com a paz do Senhor”.  Esse presidente seria ele próprio, conforme desejo que revelou no começo deste ano. Feliciano também é deputado federal pelo PSC-SP e destacado membro da Frente Parlamentar Evangélica. Neste final de semana, após um encontro com José Serra (PSDB), candidato a prefeito de São Paulo, Feliciano falou durante um culto sobre “as estratégias do diabo” para dificultar o governo de um "presidente cristão":  "A militância dos gays, a militância do povo que luta pelo aborto, a militância dos que querem descriminalizar as drogas". Como parlamentar, Feliciano se comporta como se o Brasil fosse um imenso templo evangélico. Ele é autor, entre outros, do p...

A história da religião é uma história de crueldades e horror