Pular para o conteúdo principal

Uso excessivo de conexão digital afeta sua saúde mental. Saiba como escapar dessa armadilha

Na economia digital, a atenção humana se tornou um recurso altamente cobiçado. Esse fenômeno tem consequências significativas para a regulação emocional, concentração e bem-estar psicológico, gerando uma dependência digital que traz novos desafios para a saúde mental


Teresa Bobes-Bascarán
professora associada de ciências da saúde e psicóloga clínica, Universidade de Oviedo, Espanha

The Conversationl
plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas

Estudos recentes mostraram um aumento na prevalência de sintomas depressivos e de ansiedade entre adolescentes, coincidindo com o uso generalizado das mídias sociais desde 2012.

A relação entre o uso excessivo de plataformas digitais e a saúde mental continua sendo um tópico de debate, mas pesquisas crescentes sugerem que as mídias sociais podem atuar como um fator de vulnerabilidade para os jovens, especialmente as mulheres, que parecem ser mais sensíveis aos efeitos negativos da comparação social e da validação digital.

Além disso, o uso prolongado da internet pode estar alterando nossos processos cognitivos. Pesquisas recentes sugerem que a conectividade constante e a multitarefa digital estão afetando a memória de trabalho e a atenção sustentada.

Mecanismos psicológicos da atenção digital

Um dos principais mecanismos que explicam esse vício é o reforço intermitente, um princípio de condicionamento operante descrito por BF Skinner na década de 1950 e amplamente utilizado por plataformas digitais.

Texto gerado do IA

[Imagine que você está ensinando um truque para um cachorro. Em vez de dar um petisco sempre que ele faz o truque corretamente (reforço contínuo), você decide dar o petisco apenas algumas vezes. Isso é o reforço intermitente.

Em termos mais formais, o reforço intermitente é um esquema de reforço onde uma resposta desejada é reforçada apenas ocasionalmente, e não todas as vezes que ocorre.

Existem diferentes maneiras de aplicar o reforço intermitente, como reforçar após um certo número de respostas (razão fixa ou variável) ou após um certo período de tempo (intervalo fixo ou variável).

O mais interessante sobre o reforço intermitente é que ele tende a gerar uma resposta mais resistente à extinção do que o reforço contínuo. Isso significa que, mesmo quando o reforço para de acontecer, o comportamento aprendido tende a persistir por mais tempo.]

Esse fenômeno explica por que é tão difícil largar o telefone. Além disso, a rolagem infinita, ao eliminar as pausas naturais no consumo de conteúdo, dificulta a autorregulação e distorce a percepção do tempo decorrido, promovendo a procrastinação digital.

O medo de perder alguma coisa também desempenha um papel fundamental nesse processo.


A necessidade de estar
sempre conectado gera
ansiedade e diminui a
satisfação com a vida.
As plataformas reforçam
essa dinâmica por meio
de conteúdo efêmero,
como histórias que
desaparecem em 24 horas,
incentivando o
comportamento de
revisão compulsiva

Outro elemento-chave do vício digital é a gamificação, que transforma a interação social em um sistema de recompensas imediatas. O acúmulo de curtidas, seguidores e comentários funciona como um marcador de status digital, promovendo a comparação social e a busca constante por validação externa.

Esse sistema gera um ciclo de feedback que fortalece a conexão digital enquanto enfraquece a interação no mundo real. Estamos hiperconectados, mas paradoxalmente mais desconectados em termos de relacionamentos face à face.

Além dos efeitos na atenção e no bem-estar emocional, há uma preocupação crescente na literatura científica sobre o impacto da tecnologia na dinâmica familiar. Tecnoferência parental refere-se à interferência do uso de dispositivos no relacionamento entre pais e filhos.

A falta de interação efetiva com menores devido ao uso excessivo de telas por adultos pode levar crianças e adolescentes a buscarem alívio emocional no mundo digital, fomentando hábitos problemáticos de uso de mídia.

Para combater essa tendência, é crucial estabelecer regras familiares claras, implementar zonas sem telas em horários determinados e incentivar interações de qualidade sem interrupções tecnológicas.

Estratégias para um relacionamento saudável com a tecnologia

Nos últimos anos, o conceito de desintoxicação digital surgiu como uma possível solução para reduzir a superexposição às telas e melhorar o bem-estar mental. Embora essa abordagem possa proporcionar benefícios a curto prazo, sua eficácia a longo prazo depende de fatores individuais e do contexto social.

Em vez de aplicar restrições extremas, pesquisas sugerem que é mais eficaz implementar pequenas mudanças que tenham um grande impacto em nosso relacionamento com a tecnologia. 

Uma estratégia fundamental é a autorregulação do tempo de tela e a limitação de notificações em dispositivos móveis. Aplicativos como Forest e Moment têm se mostrado úteis para melhorar o gerenciamento do tempo digital e reduzir o uso impulsivo de smartphones.

Além disso, o conceito de atenção plena digital foi proposto como um método para incentivar o uso consciente da tecnologia. Isso envolve reduzir o consumo passivo de conteúdo, refletir sobre o propósito de cada interação nas mídias sociais e priorizar a qualidade em vez da quantidade ao navegar digitalmente. 

Adotar essa perspectiva não apenas contribui para uma melhor regulação emocional, mas também reduz os níveis de estresse e ansiedade associados ao uso compulsivo de telas.

Por outro lado, é essencial desconectar para se reconectar, principalmente no ambiente familiar. Como observamos anteriormente, a tecnoferência parental, entendida como a interferência do uso da tecnologia nas interações entre pais e filhos, tornou-se um fenômeno amplamente estudado na literatura científica.

A superexposição de adultos a dispositivos eletrônicos afeta a qualidade do tempo gasto com crianças e adolescentes e influencia o desenvolvimento de hábitos problemáticos de mídia digital.

Rumo a um equilíbrio entre tecnologia e bem-estar

O design das plataformas digitais continuará a evoluir para capturar a atenção dos usuários, mas isso não significa que estamos fadados à distração constante. Entender os mecanismos psicológicos subjacentes ao vício digital nos permite desenvolver estratégias eficazes para retomar o controle sobre nosso tempo e promover um uso mais equilibrado da tecnologia.

Não se trata de demonizar o mundo digital, mas sim de aprender a integrá-lo de uma forma que beneficie nossas vidas em vez de dominá-las. 

A questão principal não é se a tecnologia continuará avançando, mas como queremos que ela impacte nossa saúde mental e como nos relacionamos com os outros.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Ateu usa coador de macarrão como chapéu 'religioso' em foto oficial

Fundamentalismo de Feliciano é ‘opinião pessoal’, diz jornalista

Sheherazade não disse quais seriam as 'opiniões não pessoais' do deputado Rachel Sheherazade (foto), apresentadora do telejornal SBT Brasil, destacou na quarta-feira (20) que as afirmações de Marco Feliciano tidas como homofóbicas e racistas são apenas “opiniões pessoais”, o que pareceu ser, da parte da jornalista,  uma tentativa de atenuar o fundamentalismo cristão do pastor e deputado. Ficou subentendido, no comentário, que Feliciano tem também “opiniões não pessoais”, e seriam essas, e não aquelas, que valem quando o deputado preside a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Se assim for, Sheherazade deveria ter citado algumas das opiniões “não pessoais” do pastor-deputado, porque ninguém as conhece e seria interessante saber o que esse “outro” Feliciano pensa, por exemplo, do casamento gay. Em referência às críticas que Feliciano vem recebendo, ela disse que “não se pode confundir o pastor com o parlamentar”. A jornalista deveria mandar esse recado...

PMs de Cristo combatem violência com oração e jejum

Violência se agrava em SP, e os PMs evangélicos oram Houve um recrudescimento da violência na Grande São Paulo. Os homicídios cresceram e em menos de 24 horas, de anteontem para ontem, ocorreram pelo menos 20 assassinatos (incluindo o de policiais), o triplo da média diária de seis mortes por violência. Um grupo de PMs acredita que pode ajudar a combater a violência pedindo a intercessão divina. A Associação dos Policiais Militares Evangélicos do Estado de São Paulo, que é mais conhecida como PMs de Cristo, iniciou no dia 25 de outubro uma campanha de “52 dias de oração e jejum pela polícia e pela paz na cidade”, conforme diz o site da entidade. “Essa é a nossa nobre e divina missão. Vamos avante!” Um representante do comando da corporação participou do lançamento da campanha. Com o objetivo de dar assistência espiritual aos policiais, a associação PMs de Cristo foi fundada em 1992 sob a inspiração de Neemias, o personagem bíblico que teria sido o responsável por uma mobili...

Wyllys vai processar Feliciano por difamação em vídeo

Wyllys afirmou que pastor faz 'campanha nojenta' contra ele O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), na foto, vai dar entrada na Justiça a uma representação criminal contra o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) por causa de um vídeo com ataques aos defensores dos homossexuais.  O vídeo “Marco Feliciano Renuncia” de oito minutos (ver abaixo) foi postado na segunda-feira (18) por um assessor de Feliciano e rapidamente se espalhou pela rede social por dar a entender que o deputado tinha saído da presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Mas a “renúncia” do pastor, no caso, diz o vídeo em referência aos protestos contra o deputado, é à “privacidade” e às “noites de paz e sono tranquilo”, para cuidar dos direitos humanos. O vídeo termina com o pastor com cara de choro, colocando-se como vítima. Feliciano admitiu que o responsável pelo vídeo é um assessor seu, mas acrescentou que desconhecia o conteúdo. Wyllys afirmou que o vídeo faz parte de uma...

Embrião tem alma, dizem antiabortistas. Mas existe alma?

por Hélio Schwartsman para Folha  Se a alma existe, ela se instala  logo após a fecundação? Depois do festival de hipocrisia que foi a última campanha presidencial, com os principais candidatos se esforçando para posar de coroinhas, é quase um bálsamo ver uma autoridade pública assumindo claramente posição pró-aborto, como o fez a nova ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci. E, como ela própria defende que a questão seja debatida, dou hoje minha modesta contribuição. O argumento central dos antiabortistas é o de que a vida tem início na concepção e deve desde então ser protegida. Para essa posição tornar-se coerente, é necessário introduzir um dogma de fé: o homem é composto de corpo e alma. E a Igreja Católica inclina-se a afirmar que esta é instilada no novo ser no momento da concepção. Sem isso, a vida humana não seria diferente da de um animal e o instante da fusão dos gametas não teria nada de especial. O problema é que ninguém jamais demonstrou que ...

Defensores do Estado laico são ‘intolerantes’, diz apresentadora

Evangélico quebrou centro espírita para desafiar o diabo

"Peguei aquelas imagens e comei a quebrar" O evangélico Afonso Henrique Alves , 25, da Igreja Geração Jesus Cristo, postou vídeo [ver abaixo] no Youtube no qual diz que depredou um centro espírita em junho do ano passado para desafiar o diabo. “Eu peguei todas aquelas imagens e comecei a quebrar...” [foto acima] Na sexta (19), ele foi preso por intolerância religiosa e por apologia do ódio. “Ele é um criminoso que usa a internet para obter discípulos”, disse a delegada Helen Sardenberg, depois de prendê-lo ao término de um culto no Morro do Pinto, na Zona Portuária do Rio. Também foi preso o pastor Tupirani da Hora Lores, 43. Foi a primeira prisão no país por causa de intolerância religiosa, segundo a delegada. Como 'discípulo da verdade', Alves afirma no vídeo coisas como: centro espírito é lugar de invocação do diabo, todo pai de santo é homossexual, a imprensa e a polícia estão a serviço do demônio, na Rede Globo existe um monte de macumbeiros, etc. A...

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Apoio de âncora a Feliciano constrange jornalistas do SBT

Opiniões da jornalista são rejeitadas pelos seus colegas O apoio velado que a âncora Rachel Sheherazade (foto) manifestou ao pastor-deputado Marco Feliciano (PSC-SP)  deixou jornalistas e funcionários do "SBT Brasil" constrangidos. O clima na redação do telejornal é de “indignação”, segundo a Folha de S.Paulo. Na semana passada, Sheherazade minimizou a importância das afirmações tidas como homofóbicas e racistas de Feliciano, embora ele seja o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, dizendo tratar-se apenas de “opinião pessoal”. A Folha informou que os funcionários do telejornal estariam elaborando um abaixo assinado intitulado “Rachel não nos representa” para ser encaminhado à direção da emissora. Marcelo Parada, diretor de jornalismo do SBT, afirmou não saber nada sobre o abaixo assinado e acrescentou que os âncoras têm liberdade para manifestar sua opinião. Apesar da rejeição de seus colegas, Sheherazade se sente segura no cargo porque ela cont...