Pular para o conteúdo principal

Qual é a doença mais difícil de curar? Eis a resposta

Este artigo foi escrito em resposta a uma pergunta formulada por Helena, de 13 anos


Guillermo López Lluch 
professor na área de biologia celular e pesquisador do envelhecimento e sistemas imunológico e antioxidante, Universidade Pablo de Olavide, Espanha 

The Conversationl
plataforma de informação produzida por acadêmicos e jornalistas

Para aqueles que sofrem de uma doença longa, a sua será sempre a mais difícil de curar. Embora na realidade existam algumas doenças que são objetivamente incuráveis: só podemos tratar os seus sintomas para deixarem de causar sofrimento e progridam o mais lentamente possível.

Dentro deste catálogo, está o câncer ou algumas das chamadas doenças autoimunes — quando as células do sistema imunitário atacam erroneamente as células do nosso próprio corpo — como a esclerose múltipla, o lúpus ou a diabetes tipo 1.

No entanto, nos últimos anos, os cientistas aprenderam muito sobre as origens desses temíveis inimigos da nossa saúde e como eles estão relacionados com certos mecanismos biológicos. Há uma luz no fim do túnel!

Câncer: uma doença cada vez mais encurralada

Primeira boa notícia: durante as últimas décadas, muitos tipos de câncer deixaram de ser letais. Na verdade, quase todos eles poderiam ser curados se fossem detectados suficientemente cedo para podermos eliminar as células cancerígenas antes que se espalhassem e invadissem muitos órgãos.

Hoje, os tratamentos que permitem a cura de muitos pacientes desse grupo de doenças que conhecemos como câncer são:

Radioterapia direcionada. Consiste em lançar poderosos feixes de energia – geralmente raios X – sobre o tumor, tentando não causar danos às células saudáveis ​​que estão ao seu redor.

— Quimioterapia. O paciente recebe um coquetel de medicamentos que matam as células malignas. As combinações de medicamentos e seu uso para cada tipo de câncer foram bastante melhorados.

— Imunoterapia. São as técnicas que o sistema imunitário – o sistema defensivo do nosso corpo – utiliza para atacar as células cancerígenas.


Um grupo de linfócitos
“cerca” uma célula
cancerosa
IMAGEM: JUAN GAERTNER / SHUTTERSTOCK

De qualquer forma, a melhor terapia é a prevenção. Um avanço neste campo foi a criação de vacinas que colocam o papilomavírus, responsável por cânceres como o do colo do útero e outras mucosas. 

Também estão sendo desenvolvidas vacinas que permitem reconhecer proteínas muito específicas de células malignas e, como se fossem alvos, direcionar o ataque do sistema imunológico contra elas. Por exemplo, estão sendo feitas pesquisas sobre como sinalizar o Her-2, uma proteína altamente abundante nas células do câncer de mama, para que o sistema imunológico destrua as células que a contêm.

Mas a terapia mais promissora consiste em “recrutar” linfócitos T – um tipo de glóbulo branco – como soldados de elite na guerra contra as células tumorais.

Nesse caso, os pesquisadores extraem os linfócitos, selecionam os mais ativos, cultivam-nos em laboratório e reintroduzem-nos no paciente. Atualmente, eles estão testando essa técnica com um câncer chamado TIL (linfócitos infiltrantes de tumor).

Uma tática semelhante é modificar geneticamente esses linfócitos para detectarem especificamente as células cancerígenas e as ataquem de maneira devastadora. 

Esse é o “superpoder” das células CAR-T. Os cientistas já criaram cinco gerações de CAR-T, cada vez mais eficazes, que estão a dar resultados muito positivos contra leucemias e linfomas. Possivelmente em breve eles poderão ser usados ​​com sucesso contra outros tipos de câncer.

Quando nosso sistema defensivo nos ataca

Outro grupo de doenças muito difíceis de curar são as doenças autoimunes, que já mencionamos anteriormente. Principalmente aquelas cuja origem ainda é um mistério, como o lúpus eritematoso sistêmico ou a esclerose múltipla.

Essas doenças aparecem quando o sistema imunológico gera células defensivas que, em vez de nos proteger de vírus, bactérias e outros patógenos externos, acabam identificando nossas próprias células como perigosas.

Os cientistas estão desenvolvendo terapias que tentam restaurar a ordem ou pelo menos mitigar os danos. A utilização de anticorpos – as proteínas que reconhecem e neutralizam “intrusos” – ou de moléculas que regulam o funcionamento do sistema imunitário está dando alguns resultados, ainda poucos, mas promissores.

Conhecer os meandros do sistema imunológico pode nos permitir encontrar terapias para tratar e, quem sabe, eliminar definitivamente essas doenças. Embora descobrir o calcanhar de Aquiles exija mais pesquisas.

Doenças do sistema nervoso central: o maior desafio

Na minha opinião, as doenças mais difíceis de curar são aquelas que afetam o sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal). 

Vão desde doenças autoimunes, como a esclerose múltipla, até outras que podem ou não ter um componente autoimune, como a famosa esclerose lateral amiotrófica (ELA), passando por desequilíbrios que podem perturbar a personalidade e doenças neurodegenerativas. Estas últimas são as piores: quando descobrimos os seus sintomas, o estrago já está feito.

As doenças neurodegenerativas têm origem na perda de neurônios que desempenham determinadas funções. Estes são os mais importantes:

— Doenças mitocondriais. Elas aparecem quando as mitocôndrias – as “usinas de energia” das nossas células – estão defeituosas. Entre elas está a síndrome MERRF ou MELAS. Elas produzem ataxia, ou seja, falta de coordenação dos movimentos, entre outros problemas.

— Doença de Huntington. O paciente perde o controle dos movimentos, fica desajeitado e tem problemas de equilíbrio. E quando a doença progride, ele não consegue mais andar, falar ou engolir. Tanto esta doença como as doenças mitocondriais são genéticas e os seus efeitos são irreversíveis, uma vez que o problema está no genoma das células.

— Mal de Parkinson. Isso se deve à perda de neurônios em uma área muito específica do sistema nervoso: a substância negra, responsável por controlar nossos movimentos. Embora existam medicamentos que ajudam a recuperar esse controle e o movimento possa ser regulado com estímulos elétricos, esses remédios apenas ajudam a doença a seguir seu curso de forma mais ou menos rápida.

— Demência senil e Alzheimer. O sistema nervoso é um sistema muito complicado de conexões entre neurônios, que formam circuitos que não sabemos como funcionam. Por isso, não existe medicamento válido contra a perda natural de neurônios ao longo da vida ou devido a doenças como o Alzheimer, que apaga a memória de quem a sofre.

Hoje, as doenças neurodegenerativas não têm cura, mas conhecendo as causas e evitando os perigos podemos garantir que a deterioração dos neurônios ocorre muito tarde e progride lentamente.

Gradualmente estamos mais perto de compreender como se desencadeiam esse tipo de doenças e – confiemos na ciência – talvez de encontrar a arma definitiva para as derrotar.

> Esse artigo foi originalmente escrito em espanhol.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Professor obtém imunidade para criticar criacionismo nas aulas

A Corte de Apelação da Califórnia (EUA) decidiu que um professor de uma escola pública de Mission Viejo tem imunidade para depreciar o criacionismo, não podendo, portanto, ser punido por isso. A cidade fica no Condado de Orange e tem cerca de 94 mil habitantes. Durante uma aula, o professor de história James Corbett, da Capistrano Valley High School, afirmou que o criacionismo não pode ser provado cientificamente porque se trata de uma “bobagem supersticiosa”. Um aluno foi à Justiça alegando que Corbett ofendeu a sua religião, desrespeitando, assim, a liberdade de crença garantida pela Primeira Emenda da Constituição. Ele perdeu a causa em primeira instância e recorreu a um tribunal superior. Por unanimidade, os três juízes da Corte de Apelação sentenciaram que a Primeira Emenda não pode ser utilizada para cercear as atividades de um professor dentro da sala de aula, mesmo quando ele hostiliza crenças religiosas. Além disso, eles também argumentaram que o professor não ...

Caso Roger Abdelmassih

Violência contra a mulher Liminar concede transferência a Abelmassih para hospital penitenciário 23 de novembro de 2021  Justiça determina que o ex-médico Roger Abdelmassih retorne ao presídio 29 de julho de 2021 Justiça concede prisão domiciliar ao ex-médico condenado por 49 estupros   5 de maio de 2021 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico Abdelmassih 26 de fevereiro de 2021 Corte de Direitos Humanos vai julgar Brasil por omissão no caso de Abdelmassih 6 de janeiro de 2021 Detento ataca ex-médico Roger Abdelmassih em hospital penitenciário 21 de outubro de 2020 Tribunal determina que Abdelmassih volte a cumprir pena em prisão fechada 29 de agosto de 2020 Abdelmassih obtém prisão domicililar por causa do coronavírus 14 de abril de 2020 Vicente Abdelmassih entra na Justiça para penhorar bens de seu pai 20 de dezembro de 2019 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico estuprador 19 de novembro de 2019 Justiça cancela prisão domi...

Reação de aluno ateu a bullying acaba com pai-nosso na escola

O estudante já vinha sendo intimidado O estudante Ciel Vieira (foto), 17, de Miraí (MG), não se conformava com a atitude da professora de geografia Lila Jane de Paula de iniciar a aula com um pai-nosso. Um dia, ele se manteve em silêncio, o que levou a professora a dizer: “Jovem que não tem Deus no coração nunca vai ser nada na vida”. Era um recado para ele. Na classe, todos sabem que ele é ateu. A escola se chama Santo  Antônio e é do ensino estadual de Minas. Miraí é uma cidade pequena. Tem cerca de 14 mil habitantes e fica a 300 km de Belo Horizonte. Quando houve outra aula, Ciel disse para a professora que ela estava desrespeitando a Constituição que determina a laicidade do Estado. Lila afirmou não existir nenhuma lei que a impeça de rezar, o que ela faz havia 25 anos e que não ia parar, mesmo se ele levasse um juiz à sala de aula. Na aula seguinte, Ciel chegou atrasado, quando a oração estava começando, e percebeu ele tinha sido incluído no pai-nosso. Aparentemen...

Seleção feminina de vôlei não sabe que Brasil é laico desde 1891

Título original: O Brasil é ouro em intolerância Jogadoras  se excederam com oração diante das câmeras por André Barcinski para Folha Já virou hábito: toda vez que um time ou uma seleção do Brasil ganha um título, os atletas interrompem a comemoração para abrir um círculo e rezar. Sempre diante das câmeras, claro. O mesmo aconteceu sábado passado, quando a seleção feminina de vôlei conquistou espetacularmente o bicampeonato olímpico em cima da seleção norte-americana, que era favorita. O Brasil é oficialmente laico desde 1891 e a Constituição prevê a liberdade de religião. Será mesmo? O que aconteceria se alguma jogadora da seleção de vôlei fosse budista? Ou mórmon? Ou umbandista? Ou agnóstica? Ou islâmica? Alguém perguntou a todas as atletas e aos membros da comissão técnica se gostariam de rezar o “Pai Nosso”? Ou será que alguns se sentiram compelidos a participar para não destoar da festa? Será que essas manifestações públicas e encenadas, em vez de prop...

Por que é absurdo considerar os homossexuais como criminosos

Existem distorções na etimologia que vem a antiguidade AURÉLIO DO AMARAL PEIXOTO GAROFA Sou professor de grego de seminários, também lecionei no seminário teológico da igreja evangélica e posso dizer que a homofobia católica e evangélica me surpreende por diferentes e inaceitáveis motivos. A traduções (traições), como o próprio provérbio italiano lembra ( traduttore, tradittore ) foram ao longo dos séculos discricionariamente destinadas a colocar no mesmo crime etimológico, categorias de criminosos sexuais que na Antiguidade distinguiam-se mais (sobretudo na cultura grega) por critérios totalmente opostos aos nossos. O que o pseudoepígrafo que se nomeia Paulo condenava eram os indivíduos de costumes torpes, infames, os quais se infiltravam em comunidades para perverter mocinhas e rapazinhos sob pretexto de "discipulado" e com fins de proveito sexual. Nada diferente de hoje, por isso vemos que a origem da efebofilia e pedofilia católica e evangélica é milenar. O fato...

Secretaria do Amazonas critica intolerância de evangélicos

Melo afirmou que escolas não são locais para mentes intolerantes Edson Melo (foto), diretor de Programa e Políticas Pedagógicas da Secretaria de Educação do Estado do Amazonas, criticou a atitude dos 14 alunos evangélicos que se recusaram a apresentar um trabalho sobre cultura africana para, segundo eles, não ter contato com as religiões dos afrodescendentes. “Não podemos passar uma borracha na história brasileira”, disse Melo. “E a cultura afro-brasileira está inclusa nela.” Além disso, afirmou, as escolas não são locais para “formar mentes intolerantes”. Os evangélicos teriam de apresentar em uma feira cultural da Escola Estadual Senador João Bosco de Ramos Lima, em Manaus, um trabalho dentro do tema "Conhecendo os paradigmas das representações dos negros e índios na literatura brasileira, sensibilizamos para o respeito à diversidade". Eles se negaram porque, entre outros pontos, teriam de estudar candomblé e reagiram montando uma tenda fora da escola para divu...

Cinco deuses filhos de virgens morreram e ressuscitam. E nenhum deles é Jesus

CRP dá 30 dias para que psicóloga deixe de fazer proselitismo religioso

Líder de igreja é acusado de abusar de dezenas de fiéis