Pular para o conteúdo principal

Como alimentar 10 bilhões de pessoas em 2050 sem esgotar o limitado volume de água doce?

O problema é este: o volume de recursos hídricos potencialmente aproveitáveis tem um valor máximo que não pode ser ultrapassado


Pilar Montesinos
engenharia hidráulica, Universidade de Córdoba, Espanha

The Conversation
plataforma de informação e análise produzida por acadêmicos e jornalistas

Desde o século XIX, a população mundial tem experimentado uma taxa de crescimento exponencial como resultado dos avanços na medicina, na higiene e no desenvolvimento tecnológico. Se no início do milênio existiam mais de 6 bilhões de pessoas, em 2050 estima-se que a população mundial rondará os 10 bilhões.

O aumento da população leva a um aumento na demanda por alimentos. Se analisarmos a cadeia alimentar humana, é fácil compreender que, como onívoros, consumimos produtos vegetais e animais, cujo processo de produção começa com produtos vegetais como as gramíneas.

Assim, a agricultura, cuja finalidade é a obtenção de produtos vegetais para consumo humano ou animal, está condicionada pela disponibilidade de dois elementos fundamentais: terra e água.
Recursos hídricos limitados

A demanda global por alimentos aumentará com o crescimento populacional. Assim, para satisfazê-lo é necessário que, por um lado, aumente a área arável (incluindo pastagens). 

Deve-se considerar que a área cultivável está limitada à área máxima de terreno potencialmente apto para uso agrícola e pecuário no planeta. Da mesma forma, o volume de recursos hídricos potencialmente aproveitáveis ​​no planeta tem um valor máximo que não pode ser ultrapassado.

Não haverá com plantar
comida para todos se não
houve uso da água
controlado pela tecnologia

Atualmente, 70% dos recursos hídricos da Terra são utilizados para produzir alimentos. O cenário futuro de crescimento populacional nos obriga a obter mais alimentos sem aumentar a quantidade de água utilizada para sua produção. 

Para isso, além de garantir o cultivo da maior área possível de terra e buscar culturas mais produtivas, ou seja, mais toneladas por unidade de área, é fundamental administrar de forma otimizada os recursos hídricos disponíveis para obter a produção máxima possível por cada gota de água.

Para garantir que qualquer pessoa, onde quer que viva, o faça em condições dignas, é fundamental que tenha alimentação garantida, o que está diretamente relacionado com o bom uso e gestão da água. Isto reflete-se nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela Organização das Nações Unidas para o ano 2030.

Uso sustentável da água

Dada a estreita relação entre a produção agrícola e a água, o Grupo de Hidráulica e Irrigação do Departamento de Agronomia da Universidade de Córdoba concentra grande parte de suas pesquisas na aplicação de diversas metodologias para alcançar o uso sustentável dos recursos hídricos e energéticos no setor agrícola. Ambos os recursos estão intimamente relacionados.

A energia é necessária, independentemente da sua origem, para transportar a água das suas fontes até às culturas, que são os consumidores finais.

O objetivo dessa linha de trabalho é o desenvolvimento de sistemas inteligentes de gestão de água e energia na agricultura irrigada. Tais sistemas permitem que as culturas recebam a quantidade precisa de água de que necessitam no momento certo, evitando extrair das fontes mais água do que o necessário e minimizando o retorno de água contaminada.

O ajuste da quantidade de água de irrigação a aplicar leva a reduções no consumo de energia (por exemplo, redução no tempo de funcionamento da bomba) e, portanto, a uma redução nas emissões de gases com efeito de estufa. A instalação desses sistemas em explorações agrícolas reais permite melhorar a sustentabilidade dos seus processos produtivos.

Irrigação inteligente

Os sistemas inteligentes de gestão de irrigação baseiam-se na análise de informações registradas em tempo real por diferentes tipos de sensores através da Internet das Coisas e por sensores remotos, por exemplo, os instalados em satélites, que enviam informações de tempos em tempos.

A informação é processada utilizando modelos matemáticos, que podem incluir algoritmos de inteligência artificial, para determinar quando, quanto e como irrigar à escala do agricultor ou associação de agricultores. 

Nos casos em que a água de irrigação é água residual regenerada, os modelos determinam se é necessário ou não fertilizar para que seja aplicada apenas a quantidade de fertilizante que não é fornecida por este tipo de água.


Sendo a energia necessária para irrigar um fator chave na sustentabilidade da produção agrícola, que inclui a rentabilidade dos produtores, esses sistemas permitem a gestão de diferentes fontes de energia, tanto convencionais como renováveis. Um exemplo disso é o sistema inteligente de irrigação solar.

Da mesma forma, associando a melhoria da rentabilidade dos produtores à redução das emissões de CO₂, outra forma de otimizar o uso de energia é a recuperação do excesso de energia em grandes redes de irrigação por microturbinas. Essa energia poderá ser utilizada para o funcionamento de máquinas associadas à atividade agrícola, em substituição aos geradores a diesel.

Todas essas técnicas complexas são gerenciadas a partir de aplicativos web e dispositivos móveis. Desta forma, podem ser facilmente utilizados por irrigadores e técnicos de instalações hidráulicas.

A utilização desses desenvolvimentos tecnológicos em operações agrícolas reais facilitará a gestão dos recursos hídricos e energéticos, tornando a sua utilização mais eficiente. As novas tecnologias são fundamentais para satisfazer as necessidades alimentares da crescente população mundial nas próximas décadas, sem esgotar as nossas reservas de água doce.

> Este artigo foi publicado originalmente em espanhol.


Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

Canadenses vão à Justiça para que escola distribua livros ateus

René (foto) e Anne Chouinard recorreram ao Tribunal de Direitos Humanos do Estado de Ontário, no Canadá, para que a escola de seus três filhos permita a distribuição aos alunos de livros sobre o ateísmo, não só, portanto, a Bíblia. Eles sugeriram os livros “Livre Pensamento para Crianças” e “Perdendo a Fé na Fé: De Pregador a Ateu” (em livre tradução para o português), ambos de Dan Barker. Chouinard sugeriu dois livros à escola, que não aceitou Os pais recorreram à Justiça porque a escola consentiu que a entidade cristã Gideões Internacionais distribuísse exemplares da Bíblia aos estudantes. No mês passado, houve a primeira audiência. O Tribunal não tem prazo para anunciar a sua decisão, mas o recurso da família Chouinard desencadeou no Canadá uma discussão sobre a presença da religião nas escolas. O Canadá tem cerca de 34 milhões de habitantes. Do total da população, 77,1% são cristãos e 16,5% não têm religião. René e Anne são de Niágara, cidade perto da fronteira com...

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Bento 16 associa união homossexual ao ateísmo

Papa passou a falar em "antropologia de fundo ateu" O papa Bento 16 (na caricatura) voltou, neste sábado (19), a criticar a união entre pessoas do mesmo sexo, e, desta vez, associou-a ao ateísmo. Ele disse que a teoria do gênero é “uma antropologia de fundo ateu”. Por essa teoria, a identidade sexual é uma construção da educação e meio ambiente, não sendo, portanto, determinada por diferenças genéticas. A referência do papa ao ateísmo soa forçada, porque muitos descrentes costumam afirmar que eles apenas não acreditam em divindades, não se podendo a priori se inferir nada mais deles além disso. Durante um encontro com católicos de diversos países, Bento 16 disse que os “cristãos devem dizer ‘não’ à teoria do gênero, e ‘sim’ à aliança entre homens e mulheres no casamento”. Afirmou que a Igreja defende a “dignidade e beleza do casamento” e não aceita “certas filosofias, como a do gênero, uma vez que a reciprocidade entre homens e mulheres é uma expressão da bel...

Eleição de Haddad significará vitória contra religião, diz Chaui

Marilena Chaui criticou o apoio de Malafaia a Serra A seis dias das eleições do segundo turno, a filósofa e professora Marilena Chaui (foto), da USP, disse ontem (23) que a eleição em São Paulo do petista Fernando Haddad representará a vitória da “política contra a religião”. Na pesquisa mais recente do Datafolha sobre intenção de votos, divulgada no dia 19, Haddad estava com 49% contra 32% do tucano José Serra. Ao participar de um encontro de professores pró-Haddad, Chaui afirmou que o poder vem da política, e não da “escolha divina” de governantes. Ela criticou o apoio do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus do Rio, a Serra. Malafaia tem feito campanha para o tucano pelo fato de o Haddad, quando esteve no Ministério da Educação, foi o mentor do frustrado programa escolar de combate à homofobia, o chamado kit gay. Na campanha do primeiro turno, Haddad criticou a intromissão de pastores na política-partidária, mas agora ele tem procurado obter o apoio dos religi...

Existe uma relação óbvia entre ateísmo e instrução

de Rodrigo César Dias   (foto)   a propósito de Arcebispo afirma que ateísmo é fenômeno que ameaça a fé cristã Rodrigo César Dias Acho que a explicação para a decadência da fé é relativamente simples: os dois pilares da religião até hoje, a ignorância e a proteção do Estado, estão sendo paulatinamente solapados. Sem querer dizer que todos os religiosos são estúpidos, o que não é o caso, é possível afirmar que existe uma relação óbvia entre instrução e ateísmo. A quantidade de ateus dentro de uma universidade, especialmente naqueles departamentos que lidam mais de perto com a questão da existência de Deus, como física, biologia, filosofia etc., é muito maior do que entre a população em geral. Talvez não existam mais do que 5% de ateus na população total de um país, mas no departamento daqueles cursos você encontrará uma porcentagem muito maior do que isso. E, como esse mundo de hoje é caracterizado pelo acesso à informação, como há cada vez mais gente escolarizada e dipl...

Registro de 'trigamia' é 'putaria', afirma psicóloga cristã

Marisa Lobo disse que, ao saber do caso, desejou a volta logo de Jesus A psicóloga Marisa Lobo (foto) ficou indignada com o registro de um contrato por um cartório de Tupã (SP) onde duas mulheres e um homem declaram ter envolvimento emocional entre si, vivendo sob o mesmo teto há três anos. Para a “psicóloga cristã”, como ela se apresenta, o nome dessa união é “orgia” e o que o cartório legalizou foi uma “putaria”. Ela disse ter usado essa palavra para se “fazer entender sem falsos moralismos”. De acordo com o cartório, o trio oficializou a sua união, estabelecendo as mesmas regras de um casamento tradicional, para garantir os direitos de cada um deles e dos filhos, como o de herança. Um deles foi nomeado como administrador dos bens. Lobo escreveu que, quando tomou conhecimento dessa “trigamia”, teve vontade de pedir “Jesus, volte logo”, porque se lembrou da decadência moral de Sodoma e Gomorra. “Como membro da sociedade estou chocada, como profissional e militante...

Prefeito de São Paulo veta a lei que criou o Dia do Orgulho Heterossexual

Kassab inicialmente disse que lei não era homofóbica O prefeito Gilberto Kassab (PSD), na foto,  disse que vai vetar o projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo que aprovou o Dia do Orgulho Heterossexual. Trata-se de um recuo porque, na época da aprovação do projeto, ele disse que a nova data não tinha caráter homofóbico. Agora, Kassab disse que se trata de uma medida “despropositada”, conforme entrevista que deu ao jornal Agora São Paulo. "O heterossexual é maioria, não é vítima de violência, não sofre discriminação, preconceito, ameaças ou constrangimentos. Não precisa de dia para se afirmar", disse. O prefeito falou haver somente sentido em datas que estimulem “a tolerância e a paz” em relação, por exemplo, a mulheres e negros e minorias que são vítimas de ofensas e brutalidades. Na campanha de 2008 da eleição municipal, a propaganda na TV de Marta Suplicy (PT) chegou a insinuar que o então seu adversário Kassab era gay, embora ela ti...

Papa afirma que casamento gay ameaça o futuro da humanidade

Bento 16 disse que as crianças precisam de "ambiente adequado" O papa Bento 16 (na caricatura) disse que o casamento homossexual ameaça “o futuro da humanidade” porque as crianças precisam viver em "ambientes" adequados”, que são a “família baseada no casamento de um homem com uma mulher". Trata-se da manifestação mais contundente de Bento 16 contra a união homossexual. Ela foi feita ontem (9) durante um pronunciamento de ano novo a diplomatas no Vaticano. "Essa não é uma simples convenção social", disse o papa. "[Porque] as políticas que afetam a família ameaçam a dignidade humana.” O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) ficou indignado com a declaração de Bento 16, que é, segundo ele, suspeito de ser simpático ao nazismo. "Ameaça ao futuro da humanidade são o fascismo, as guerras religiosas, a pedofilia e o abusos sexuais praticados por membros da Igreja e acobertados por ele mesmo", disse. Tweet Com informação...

Roger Abdelmassih agora é também acusado de erro médico

Mais uma ex-paciente do especialista em fertilização in vitro Roger Abdelmassih (foto), 65, acusa-o de abuso sexual. Desta vez, o MP (Ministério Público) do Estado de São Paulo abriu nova investigação porque a denúncia inclui um suposto erro médico. A estilista e escritora Vanúzia Leite Lopes disse à CBN que em 20 de agosto de 1993 teve de ser internada às pressas no hospital Albert Einstein, em São Paulo, com infecção no sistema reprodutivo. Uma semana antes Vanúzia tinha sido submetida a uma implantação de embrião na clínica de Abdelmassih, embora o médico tenha constatado na ocasião que ela estava com cisto ovariano com indício de infecção. Esse teria sido o erro dele. O implante não poderia ocorrer naquelas circunstâncias. A infecção agravou-se após o implante porque o médico teria abusado sexualmente em várias posições de Vanúzia, que estava com o organismo debilitado. Ela disse que percebeu o abuso ao acordar da sedação. Um dos advogados do médico nega ter havido violê...