Pular para o conteúdo principal

Ali deixa o ateísmo e se converte ao cristianismo com argumento de extrema direita, diz estudioso

Ricardo Oliveira da Silva comenta que a escritora se equivoca ao atribuir ao cristianismo méritos que ele não tem


A anunciar a sua conversão ao cristianismo, a escritora Ayaan Hirsi Ali usou argumento de extrema direita segundo o qual o cristianismo pode salvar o Ocidente de ataques de forças poderosas, afirma Ricardo Oliveira da Silva, doutor em história e autor de livros sobre o ateísmo.

Em seu canal no Youtube [vídeo abaixo], Silva avalia que a conversão de Ali foi mais pautada por motivos políticos do que espirituais, com a adoção de ideias "reacionárias", o que a aproxima de Donald Trump, por exemplo.

Nascida na Somália, Ali se notabilizou por criticar o Islã, religião na qual se criou. Foi firme em defender os direitos humanos, com destaque para a autodeterminação das mulheres muçulmanas. A própria Ali foi submetida à mutilação genital, uma tradição religiosa que a deixou traumatizada.

Nos anos 90 ela pediu asilo no Holanda, declarou-se ateia, escreveu livros, tornando-se uma referência dentro do movimento ateísta. Morando atualmente nos Estados Unidos, semanas atrás ela publicou um artigo anunciando que se tornou cristã, surpreendendo ateus de todo o mundo.

Pela explicação de Ali, a conversão dela se deve mais a uma estratégia política do que à crença ou não em um deus. Só de passagem ela diz que estava sentido um vazio "espiritual".

No entendimento da escritora, o ateísmo é "fraco" para se apor aos grandes desafios deste século e somente o cristianismo tem condições de deter as três forças que ameaçam os valores da civilização ocidental: (1ª) o ressurgimento do autoritarismo e expansionismo da China e da Rússia, (2ª) a ascensão global do islamismo e (3ª) a disseminação de ideologia que corrói "a fibra moral da próxima geração".

Silva argumenta que Ayaan está equivocada porque o Ocidente é uma "ideia que foi construída" por povos europeus que se colocaram como superiores a outros para justificar o seu expansionismo e prevalência.

Diz que Ali faz uma leitura idealizada do cristianismo, atribuindo-lhe méritos que ele não possui, como a garantia à liberdade de expressão, uma conquista da sociedade.

Trata-se, da parte da escritora, de uma postura "enviesada, bastante parcial", porque, na história do conhecimento, o cristianismo se opôs à ciência, que avançou apesar dele, afirma o estudioso.

Silva é professor de história na UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul). Tem se dedicado ao estudo do ateísmo brasileiro. Escreveu os livros Ateísmo do Brasil, Espectro do AteísmoMarxismo e Escrita da História: Os Intelectuais e a Questão Agrária no Brasil (1950/1960).

Comentários

betoquintas disse…
O que o ateu não admite é que existe ateu de direita. Aayan apenas adotou o Cristianismo porque identificou-se com os grupos de conservadores, de direita, que vivem envolvidos e associados com o fundamentalista cristão. Assim que ela perder a utilidade, será descartada.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Historiador católico critica Dawkins por usar o 'cristianismo cultural' para deter o Islã

Jesus não é mencionado por nenhum escritor de sua época, diz historiador

'Sou a Teresa, fui pastora da Metodista e agora sou ateia'

Pastor Lucinho organiza milícia para atacar festa de umbanda

Ex-freira Elizabeth, 73, conta como virou militante ateísta

'Quando saí [do  convento], era como eu  tivesse renascido' Elizabeth Murad (foto), de Fort Pierce (EUA), lembra bem do dia em que saiu do convento há 41 anos. Sua sensação foi de alívio. Ela tocou as folhas de cada árvore pela qual passou. Ouviu os pássaros enquanto seus olhos azuis percorriam o céu, as flores e grama. Naquele dia, tudo lhe parecia mais belo. “Quando saí, era como se eu estivesse renascido”, contou. "Eu estava usando de novo os meus sentidos, querendo tocar em tudo e sentir o cheiro de tudo. Senti o vento soprando em meu cabelo pela primeira vez depois de um longo tempo." Ela ficou 13 anos em um convento franciscano de Nova Jersey. Hoje, aos 73 anos, Elizabeth é militante ateísta. É filiada a uma fundação que denuncia as violações da separação entre o Estado e Igreja. Ela tem lutado contra a intenção de organizações religiosas de serem beneficiadas com dinheiro público. Também participa do grupo Treasure Coast , de humanistas seculares.

Só metade dos americanos que dizem 'não acredito em Deus' seleciona 'ateu' em pesquisa

Música gravada pelo papa Francisco tem acordes de rock progressivo. Ouça