Pular para o conteúdo principal

Câmara de Artur Nogueira recorre contra veto à leitura bíblica. Sua fundamentação é fraca

A abordagem da casa legislativa da cidade paulista desvia-se do mérito da decisão do Tribunal de Justiça — o Princípio da Laicidade


EDUARDO BANKS
jornalista e ativista da
laicidade de Estado

A Câmara Municipal de Artur Nogueira (SP) interpôs recurso extraordinário contra o acórdão do Órgão Especial do TJ (Tribunal de Justiça) que derrubou a leitura bíblica na abertura das sessões. Invocou a incidência do tema 1120 da Repercussão Geral, que se refere à inconstitucionalidade por vícios no processo legislativo.

Não é o caso. O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) não imputou nenhum vício na elaboração do regimento interno da Câmara Municipal, apenas ressaltando que o artigo que falava em "fazer leitura bíblica" viola à laicidade do Estado.

A norma pode ter sido aprovada em um processo legislativo perfeitamente regular, e ser inconstitucional, o que é o caso.

Além disso, a questão posta no recurso não foi prequestionada no acórdão recorrido, ou seja, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo não construiu tese sobre o artigo 29, inciso IX da Constituição Federal, que a Procuradoria da Câmara invocou, e nem a Câmara opôs Embargos de Declaração para forçar a discussão da tese (o Recurso desatende à Súmula 356 do Supremo Tribunal Federal).

Vereadores resistem em
acatar a laicidade de Estado
determinada pela Constituição
Foto: divulgação

Observa-se que o recurso não ataca os fundamentos do acórdão, os quais assentam na violação ao Princípio da Laicidade (artigo 19, inciso I da Constituição Federal), sendo inepto neste ponto por não infirmar todas as conclusões alcançadas pelo acórdão para julgar procedente a ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade).

O recurso até poderia alegar que o Regimento Interno é ato interna corporis, mas deveria ter um capítulo demonstrando que a "leitura bíblica" não violaria à laicidade estatal, o que não foi feito, logo, é inadmissível pela súmula 283-STF, posto que não impugna todos os fundamentos do Acórdão recorrido).

Apenas alega que a "leitura bíblica" seria um ato interna corporis da Câmara Municipal, algo que, certo ou errado, ela teria o poder de fazer, e somente a própria Câmara poderia mudar.

Não é assim que funciona. O Ministério Público pode e deve fiscalizar o teor de qualquer norma jurídica, principalmente quanto aponta inconstitucionalidade material, e não apenas formal.

É o pior Recurso Extraordinário que já vi nessa matéria. O da Câmara Municipal de Piracicaba chegou a ser admitido pela presidência do TJ-SP, mas teve o seguimento negado pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski (que se aposentou).

O recurso da Câmara Municipal de São Carlos foi sobrestado, até que se julgue o Tema 1086 da Repercussão Geral (ostentação de símbolos religiosos em prédios públicos), mas esse da Câmara Municipal de Artur Nogueira não deve passar sequer no exame de admissibilidade no TJ-SP.

• Eduardo Banks se destaca como ativista em defesa do Estado laico

• Estado laico não é contra Deus nem a favor


Comentários

CBTF disse…
O coroné Aboberto fez ontem uma moção de aplausos as mulheres solteiras que querem ter filhos e não podem. Tudo isso em protesto a legalização do aborto, dei muita risada quando vi, uma verdadeira sessão de comédia.
Uma (ou mais) vez explanei que no caso da Bíblia, que seja isento a lógica de "inclusão religiosa". Lembrar dos "maravilhosos" versículos BEM CLAROS a respeito do "amor DE Deus" etc. Nada de aceitar "versícuos da conveniência". E salientar que HÁ "versões" da Bíblia, algumas até tem LIVROS a mais (ou as outtras seriam a menos?), versículos a mais etc.
Não esquecendo de incluir OUTROS livros religiosos, afinal, há ou não liberdade religiosa? Ou melhor, de crença ou não crença? Logo esotéricos, místicos, wicca, ateístas, céticos etc.
Ou seja, independete de ferir a laicidade, seria impraticável ter que recintar por haver TANTAS da própria Bíblia e outras.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Prefeito de São Paulo veta a lei que criou o Dia do Orgulho Heterossexual

Kassab inicialmente disse que lei não era homofóbica

Canadenses vão à Justiça para que escola distribua livros ateus

Bento 16 associa união homossexual ao ateísmo

Papa passou a falar em "antropologia de fundo ateu" O papa Bento 16 (na caricatura) voltou, neste sábado (19), a criticar a união entre pessoas do mesmo sexo, e, desta vez, associou-a ao ateísmo. Ele disse que a teoria do gênero é “uma antropologia de fundo ateu”. Por essa teoria, a identidade sexual é uma construção da educação e meio ambiente, não sendo, portanto, determinada por diferenças genéticas. A referência do papa ao ateísmo soa forçada, porque muitos descrentes costumam afirmar que eles apenas não acreditam em divindades, não se podendo a priori se inferir nada mais deles além disso. Durante um encontro com católicos de diversos países, Bento 16 disse que os “cristãos devem dizer ‘não’ à teoria do gênero, e ‘sim’ à aliança entre homens e mulheres no casamento”. Afirmou que a Igreja defende a “dignidade e beleza do casamento” e não aceita “certas filosofias, como a do gênero, uma vez que a reciprocidade entre homens e mulheres é uma expressão da bel...

Papa afirma que casamento gay ameaça o futuro da humanidade

Bento 16 disse que as crianças precisam de "ambiente adequado" O papa Bento 16 (na caricatura) disse que o casamento homossexual ameaça “o futuro da humanidade” porque as crianças precisam viver em "ambientes" adequados”, que são a “família baseada no casamento de um homem com uma mulher". Trata-se da manifestação mais contundente de Bento 16 contra a união homossexual. Ela foi feita ontem (9) durante um pronunciamento de ano novo a diplomatas no Vaticano. "Essa não é uma simples convenção social", disse o papa. "[Porque] as políticas que afetam a família ameaçam a dignidade humana.” O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) ficou indignado com a declaração de Bento 16, que é, segundo ele, suspeito de ser simpático ao nazismo. "Ameaça ao futuro da humanidade são o fascismo, as guerras religiosas, a pedofilia e o abusos sexuais praticados por membros da Igreja e acobertados por ele mesmo", disse. Tweet Com informação...

Médico acusado de abuso passa seu primeiro aniversário na prisão

Roger Abdelmassih (reprodução acima), médico acusado de violentar pelo menos 56 pacientes, completou hoje (3) 66 anos de idade na cela 101 do pavilhão 2 da Penitenciária de Tremembé (SP). Foi o seu primeiro aniversário no cárcere. Filho de libaneses, ele nasceu em 1943 em São João da Boa Vista, cidade paulista hoje com 84 mil habitantes que fica a 223 km da capital. Até ser preso preventivamente no dia 17 de agosto, o especialista em reprodução humana assistida tinha prestígio entre os ricos e famosos, como Roberto Carlos, Hebe Camargo, Pelé e Gugu, que compareciam a eventos promovidos por ele. Neste sábado, a companhia de Abdelmassih não é tão rica nem famosa e, agora como o próprio médico, não passaria em um teste de popularidade. Ele convive em sua cela com um acusado de tráfico de drogas, um ex-delegado, um ex-agente da Polícia Federal e um ex-investigador da Polícia Civil. Em 15 metros quadrados, os quatros dispõem de três beliches, um vaso sanitário, uma pia, um ch...

Polícia recebe denúncia anônima sobre paradeiro de Abdelmassih

O ex-médico fugitivo afirma ser inocente A Polícia Civil de São Paulo recebeu uma denúncia anônima sobre o paradeiro do ex-médico Roger Abdelmassih (foto), 68, especialista em fertilização in vitro condenado em 2010 em primeira instância a 278 anos de prisão por ter estuprado pacientes. O delegado Waldomiro Milanesi, da Divisão de Capturas, disse que a denúncia foi a primeira em quase 11 meses de  sumiço do médico. Ele afirmou à Folha de S.Paulo que as poucas pistas existentes até agora foram obtidas por seus policiais. O Ministério Público Estadual, que também investiga o desaparecimento de Abdelmassih, não recebeu uma única denúncia. Milanesi afirmou que a falta de denúncias demonstra que a “elite” da sociedade da qual Abdelmassih faz parte não está disposta a colaborar. "Quem eram as pessoas próximas e tinham contato com o Roger? Era uma elite muito mais longe da própria sociedade", disse. O delegado não forneceu detalhe da denúncia para não atrapalhar as ...

Mara Maravilha diz que quem não paga dízimo rouba de Deus

Mara não quer  saber  o que o   pastor  faz com o dinheiro Eliamary Silva da Silveira (foto), 42, a apresentadora Mara Maravilha de programas infantis dos anos 80, disse que entrega à Igreja Universal todo o mês 10% do que ganha porque “quem não paga o dízimo rouba de Deus”. “Se o pastor vai fazer o certo ou o errado [com o dinheiro], isso não mais cabe a mim”, disse. Mara atualmente é cantora gospel e tem uma loja de produtos evangélicos. No auge de sua carreira, posou para a Playboy. Tornou-se evangélica aos 26 anos, após se livrar das drogas. O seu marido é também evangélico. A omissão de Mara sobre o que é feito com o dízimo é comum entre evangélicos das várias denominações. É como se os pastores pudessem se enriquecer com o dinheiro dos fiéis sem ter de prestar contas à lei dos homens e à de Deus. Carol Celico, 23, mulher do jogador Kaká, conseguiu superar essa alienação. Ela e o marido deixaram a Igreja Renascer em 2010 porque, entre out...

TJ impede que cidade gaste dinheiro com Marcha para Jesus

O TJ (Tribunal de Justiça) do Estado de São Paulo impediu pela segunda vez que a prefeitura de Santa Bárbara d’Oeste libera verba ou funcionários para a realização da Marcha para Jesus. Os organizadores desse evento da Igreja Renascer estavam pleiteando R$ 25 mil, além do apoio logístico da prefeitura. A cidade tem 180 mil habitantes e fica a 138 km de São Paulo. O prefeito é Mário Celso Heins (PDT). Nenhuma instância de governo pode ter gasto ou se envolver com atividades religiosas porque a Constituição determina que o Estado brasileiro é laico. Além disso, para o TJ, Marcha para Jesus não tem nenhuma ligação “com tradições históricas, culturas ou turísticas da cidade”, porque se trata de um evento “exclusivamente religioso”. Tweet Com informação do Liberal .  Justiça manda tirar Marcha para Jesus do calendário de Brasília. julho de 2011 Marcha para Jesus.      Religião no Estado laico.