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Igreja Católica da França está afundando em mar de escândalos

Por motivos variados, entre os quais abusos sexuais, cerca de 10% dos bispos foram afastados de suas atividades


JOSÉ LORENZO
jornalista
Religión Digital

O caminho de purificação da Igreja na França, depois do devastador relatório Sauvé, que há dois anos estimou mais de 330.000 vítimas de abusos desde 1950, continua a ser lamentável. Apesar dos seus pedidos de perdão e da implementação de iniciativas para acabar com este flagelo, o gotejar incessante de escândalos põe em causa os passos dados e, o que é pior, aprofunda a desconfiança do clero e dos párocos que continuam a ser uma pedra de escândalo.

A última delas foi revelada em uma investigação pelos prestigiosos meios de comunicação católicos La Croix, La Vie e Famille Chretienne, e teve como protagonista dom Georges Colomb, bispo de La Rochelle-Saintes e ex-superior das Missões Estrangeiras de Paris (MEP), acusado de agressão sexual a um jovem adulto, fatos que teriam ocorrido entre 2010 e 2016 quando dirigia aquela sociedade de vida apostólica que, desde o século XVII, evangeliza não cristãos na Ásia e no Oceano Índico, conforme publicado pela Slate.

O caso de Colomb se junta aos do outrora respeitado cardeal Ricard, arcebispo emérito de Bordeaux; dom Michel Santier, ex-bispo de Créteil; o arcebispo de Paris, dom Michel Aupetit; o arcebispo de Estrasburgo, dom Luc Ravel, que teve que renunciar após uma visita apostólica feita em junho de 2022; dom Dominique Rey, bispo de Fréjus-Toulon, que desde o ano passado está proibido de ordenar sacerdotes por falta de discernimento diante do florescimento de grupos ultraconservadores em sua sede...

"Terrível eleição de bispos"

Se um conturbado dom Éric de Moulins-Beaufort, arcebispo de Reims e presidente da CEF, já revelou no outono passado, durante a sessão plenária, que onze bispos foram "implicados perante a justiça civil ou o tribunal eclesial", agora, de acordo com a mídia mencionada, dom Pascal Wintzer, arcebispo de Poitiers, destacou que “atualmente, cerca de 10% dos bispos franceses foram afastados de seus cargos por diversos motivos. É enorme! Nunca tínhamos visto isso antes. Isso mostra que há um problema".

Bispos franceses

E alguns atribuem parte desse problema à desastrosa eleição dos bispos, algo que, como se sabe, é assinado pelo Papa, mas cujo processo na busca de candidatos diz respeito diretamente ao núncio e à Congregação para os Bispos.

Nesse sentido, destaca-se que “há alguns anos, parece que essas investigações conduzidas pelo núncio papal foram especialmente mal conduzidas” pelo ex-núncio, Luigi Ventura, condenado por agressão sexual em 2020.

Segundo informações conjuntas de La Croix, La Vie e Famille Chretienne, alertas foram dados sobre o perfil de alguns candidatos que foram finalmente ordenados bispos, entre outros Marc Ouellet, Luigi Ventura e André Vingt-Trois.

“A qualidade do pessoal da Igreja diminuiu com as vocações. Alguns bispos atuais nunca teriam sido nomeados há vinte ou trinta anos”, diz Slate, que também aponta que a Conferência Episcopal Francesa “poderia trazer ao próximo sínodo romano o pedido de uma profunda reforma do processo de nomeação episcopal”.

"Queda maciça" nas ordenações sacerdotais

A esta situação preocupante deve-se acrescentar a "queda maciça" do número de ordenações sacerdotais na França, que caiu acentuadamente. Assim, se em 2022 houve 122 ordenações, este ano serão apenas 88, segundo o site Katholisch, que acrescenta que o número de novos sacerdotes não pode em nada compensar o número dos que já faleceram.

“Em um quarto de século, o número de padres diocesanos e religiosos na França caiu pela metade, de 29.000 em 1995 para menos de 14.000 em 2021. Isso corresponde a uma diminuição de cerca de 600 por ano. Entre os que ainda praticam, mais da metade tem mais de 75 anos”, acrescenta o portal alemão.


> A versão em português desse texto foi publicada no IHU Online. 

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