Pular para o conteúdo principal

Acusado de abuso sexual, padre tem mosaico em todos os lugares

O maior mosaico de Marko Rupnik está no Santuário de Aparecida


GREG ERLANDSON
jornalista
Catholic News Service

Minha esposa tirou Cristo da parede da nossa sala no início deste ano. Era uma imagem de cartão postal de um mosaico criado pelo padre jesuíta Marko Rupnik. Ela não suportava tê-lo. Padre Rupnik é um artista extraordinariamente talentoso. Seus mosaicos adornam capelas e edifícios desde o Santuário Nacional de São João Paulo II em Washington até a Basílica de Nossa Senhora do Rosário em Lourdes, França. E até agora, a parede da nossa sala.

O padre Rupnik é “acusado de abuso espiritual, psicológico ou sexual por várias mulheres adultas ao longo de quase 40 anos”, de acordo com um relatório de Paulina Guzik no OSV News. 

Estilo de Rupnik
tem reconhecimento
internacional

Muitos dos casos envolviam mulheres sob sua direção espiritual. Três anos atrás, ele foi até brevemente excomungado por conceder absolvição a uma mulher consagrada com quem teve relações sexuais, embora a excomunhão tenha sido suspensa quando ele confessou e se arrependeu.

A Companhia de Jesus expulsou Rupnik da ordem “por recusa obstinada em observar o voto de obediência”.

As acusações são tão graves que o bispo responsável pelo Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, que inclui a basílica, nomeou um grupo de reflexão para considerar se os imponentes mosaicos instalados na fachada da basílica inferior em 2008 devem ser removidos.

Há alguns meses, visitei Lourdes pela primeira vez e, quando vi os mosaicos, gemi alto. O estilo do padre Rupnik é imediatamente reconhecível, e meu primeiro pensamento foi que a arte seria para sempre manchada por seus crimes. 

Certamente, para quem foi abusado pelo padre Rupnik, mas também por pessoas que foram abusadas por outros padres ou líderes religiosos, a arte nunca seria apenas arte.

Picasso era um cretino misógino que levava amantes ao suicídio. Como olhamos para sua pintura “Guernica” agora? Woody Allen abandonou Mia Farrow por sua filha de 21 anos. Como olhamos para o seu filme “Manhattan”? E quanto a Roman Polanski? Jean Vanier? Bill Cosby? Theodore McCarrick? Marcial Maciel? Michael Jackson?

Na era do #Metoo e das biografias reveladoras, nos tornamos hábeis em contornar os desastres morais de vidas famosas, mas é muito menos fácil quando os escândalos envolvem alguém que admiramos, talvez até reverenciados.

Podemos ignorar as rotinas de comédia de Bill Cosby ou pular o último filme de Woody. Podemos tirar a foto da parede da sala. Mas arrancamos os mosaicos de uma igreja? Uma resposta pode ser simplesmente reconhecer que, uma vez concluída, a arte se mantém por conta própria, independentemente do mau comportamento de seu criador.

O correspondente do jornal William Shirer contou em suas memórias a época em que conheceu um bêbado F. Scott Fitzgerald, que havia sido um herói dele. Ele chamou de "uma noite bastante desiludida". No entanto, o tempo deu a ele uma perspectiva diferente. “Eu ainda não era adulto o suficiente para perceber, eu acho, que não importava o quanto um escritor pudesse se tornar um incômodo, especialmente quando bêbado. A única coisa que contava era o quão bem ele escrevia”, concluiu Shirer.

No entanto, quando se fala em abuso sexual, não em embriaguez, não é tão fácil separar o artista da arte. A outra perspectiva é dar tempo para fazer um julgamento mais duradouro.

Um dos artistas favoritos da minha esposa é Caravaggio. Sua arte também está em nossas paredes. Quando vivo, ele era um malandro e um gênio. Ele acabou matando um homem em uma briga de bar. Ele frequentava prostitutas, às vezes usando-as como modelos. No entanto, o tempo nos deu alguma distância, e sua arte é apreciada agora, até mesmo por papas. O único cuidado a acrescentar é que o último recurso seria destruir a arte.

Temos sorte que “A vocação de Mateus” de Caravaggio não foi destruído pelos pecados do artista. Se o padre Rupnik é culpado de abuso, ele deveria ser punido, mas talvez precisemos de mais tempo antes de condenar seus mosaicos também.

• Igreja Católica de Portugal ocultou abuso de 5.000 crianças

• Igreja Católica do Brasil tem menos pedófilos do que outras?

Comentários

Rodrigo Schmidt disse…
A arte sempre deve ser separada do artista, pois ela transcende e possui características e qualidades próprias. A arte interage com aquele que a observa e nos impacta, evocando emoções e despertando reflexões. Negar ou ignorar uma obra de arte com base na conduta do seu criador seria limitar nosso próprio acesso a experiências enriquecedoras e diversas.
Paulo Lopes disse…
Sim, a arte é separada do artista. Mas sempre? E se na arte houver um rosto inspirado em uma mulher que foi estuprado pelo artista?

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Ateu usa coador de macarrão como chapéu 'religioso' em foto oficial

Fundamentalismo de Feliciano é ‘opinião pessoal’, diz jornalista

Sheherazade não disse quais seriam as 'opiniões não pessoais' do deputado Rachel Sheherazade (foto), apresentadora do telejornal SBT Brasil, destacou na quarta-feira (20) que as afirmações de Marco Feliciano tidas como homofóbicas e racistas são apenas “opiniões pessoais”, o que pareceu ser, da parte da jornalista,  uma tentativa de atenuar o fundamentalismo cristão do pastor e deputado. Ficou subentendido, no comentário, que Feliciano tem também “opiniões não pessoais”, e seriam essas, e não aquelas, que valem quando o deputado preside a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Se assim for, Sheherazade deveria ter citado algumas das opiniões “não pessoais” do pastor-deputado, porque ninguém as conhece e seria interessante saber o que esse “outro” Feliciano pensa, por exemplo, do casamento gay. Em referência às críticas que Feliciano vem recebendo, ela disse que “não se pode confundir o pastor com o parlamentar”. A jornalista deveria mandar esse recado...

PMs de Cristo combatem violência com oração e jejum

Violência se agrava em SP, e os PMs evangélicos oram Houve um recrudescimento da violência na Grande São Paulo. Os homicídios cresceram e em menos de 24 horas, de anteontem para ontem, ocorreram pelo menos 20 assassinatos (incluindo o de policiais), o triplo da média diária de seis mortes por violência. Um grupo de PMs acredita que pode ajudar a combater a violência pedindo a intercessão divina. A Associação dos Policiais Militares Evangélicos do Estado de São Paulo, que é mais conhecida como PMs de Cristo, iniciou no dia 25 de outubro uma campanha de “52 dias de oração e jejum pela polícia e pela paz na cidade”, conforme diz o site da entidade. “Essa é a nossa nobre e divina missão. Vamos avante!” Um representante do comando da corporação participou do lançamento da campanha. Com o objetivo de dar assistência espiritual aos policiais, a associação PMs de Cristo foi fundada em 1992 sob a inspiração de Neemias, o personagem bíblico que teria sido o responsável por uma mobili...

Wyllys vai processar Feliciano por difamação em vídeo

Wyllys afirmou que pastor faz 'campanha nojenta' contra ele O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), na foto, vai dar entrada na Justiça a uma representação criminal contra o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) por causa de um vídeo com ataques aos defensores dos homossexuais.  O vídeo “Marco Feliciano Renuncia” de oito minutos (ver abaixo) foi postado na segunda-feira (18) por um assessor de Feliciano e rapidamente se espalhou pela rede social por dar a entender que o deputado tinha saído da presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Mas a “renúncia” do pastor, no caso, diz o vídeo em referência aos protestos contra o deputado, é à “privacidade” e às “noites de paz e sono tranquilo”, para cuidar dos direitos humanos. O vídeo termina com o pastor com cara de choro, colocando-se como vítima. Feliciano admitiu que o responsável pelo vídeo é um assessor seu, mas acrescentou que desconhecia o conteúdo. Wyllys afirmou que o vídeo faz parte de uma...

Embrião tem alma, dizem antiabortistas. Mas existe alma?

por Hélio Schwartsman para Folha  Se a alma existe, ela se instala  logo após a fecundação? Depois do festival de hipocrisia que foi a última campanha presidencial, com os principais candidatos se esforçando para posar de coroinhas, é quase um bálsamo ver uma autoridade pública assumindo claramente posição pró-aborto, como o fez a nova ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci. E, como ela própria defende que a questão seja debatida, dou hoje minha modesta contribuição. O argumento central dos antiabortistas é o de que a vida tem início na concepção e deve desde então ser protegida. Para essa posição tornar-se coerente, é necessário introduzir um dogma de fé: o homem é composto de corpo e alma. E a Igreja Católica inclina-se a afirmar que esta é instilada no novo ser no momento da concepção. Sem isso, a vida humana não seria diferente da de um animal e o instante da fusão dos gametas não teria nada de especial. O problema é que ninguém jamais demonstrou que ...

Defensores do Estado laico são ‘intolerantes’, diz apresentadora

Evangélico quebrou centro espírita para desafiar o diabo

"Peguei aquelas imagens e comei a quebrar" O evangélico Afonso Henrique Alves , 25, da Igreja Geração Jesus Cristo, postou vídeo [ver abaixo] no Youtube no qual diz que depredou um centro espírita em junho do ano passado para desafiar o diabo. “Eu peguei todas aquelas imagens e comecei a quebrar...” [foto acima] Na sexta (19), ele foi preso por intolerância religiosa e por apologia do ódio. “Ele é um criminoso que usa a internet para obter discípulos”, disse a delegada Helen Sardenberg, depois de prendê-lo ao término de um culto no Morro do Pinto, na Zona Portuária do Rio. Também foi preso o pastor Tupirani da Hora Lores, 43. Foi a primeira prisão no país por causa de intolerância religiosa, segundo a delegada. Como 'discípulo da verdade', Alves afirma no vídeo coisas como: centro espírito é lugar de invocação do diabo, todo pai de santo é homossexual, a imprensa e a polícia estão a serviço do demônio, na Rede Globo existe um monte de macumbeiros, etc. A...

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Apoio de âncora a Feliciano constrange jornalistas do SBT

Opiniões da jornalista são rejeitadas pelos seus colegas O apoio velado que a âncora Rachel Sheherazade (foto) manifestou ao pastor-deputado Marco Feliciano (PSC-SP)  deixou jornalistas e funcionários do "SBT Brasil" constrangidos. O clima na redação do telejornal é de “indignação”, segundo a Folha de S.Paulo. Na semana passada, Sheherazade minimizou a importância das afirmações tidas como homofóbicas e racistas de Feliciano, embora ele seja o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, dizendo tratar-se apenas de “opinião pessoal”. A Folha informou que os funcionários do telejornal estariam elaborando um abaixo assinado intitulado “Rachel não nos representa” para ser encaminhado à direção da emissora. Marcelo Parada, diretor de jornalismo do SBT, afirmou não saber nada sobre o abaixo assinado e acrescentou que os âncoras têm liberdade para manifestar sua opinião. Apesar da rejeição de seus colegas, Sheherazade se sente segura no cargo porque ela cont...