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Polêmica: árvores usam fungos para conversar entre si?

Professor Fernando Andreote, da USP, afirma que considerar que as plantas falam outras com as outras é simplificar demais o conceito de uma conexão

GUILHERME CASTRO SOUZA 
jornalista
Jornal da USP

Em um artigo publicado no jornal Nature Ecology & Evolution, pesquisadores da Universidade de Alberta e da Universidade de British Columbia, ambas no Canadá, com participação da Universidade do Mississipi, nos EUA, questionaram a capacidade de comunicação das árvores por meio de fungos, hipótese parcialmente aceita pela comunidade científica nos últimos anos.

Revisando conclusões de estudos prévios da área, os cientistas contestaram três alegações populares sobre as capacidades de comunicação de fungos subterrâneos conhecidos como redes micorrizas comuns, que conectam raízes de várias plantas subterrâneas. Os fungos são organismos vivos, como cogumelos, bolores, orelhas-de-pau e leveduras.

Segundo o professor Fernando Andreote, especialista em microbiologia do solo da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da USP, as chamadas micorrizas são essenciais ao sucesso das plantas no ambiente terrestre.

“Na essência, as micorrizas são uma conexão da raiz das plantas com fungos e têm a capacidade de funcionar como extensores do sistema radicular, ou seja, elas ajudam muito a planta a explorar o solo para a absorção de água e nutrientes”, explica.

A micorriza é uma interação do tipo mutualística, ou seja, tanto os fungos quanto as plantas se beneficiam dessa associação.

Estudos sobre a
função dos fungos
para as plantas não
são conclusivos

De acordo com Andreote, nas raízes, os fungos conseguem proteção e acesso fácil ao carbono necessário à sua sobrevivência. Em troca, eles ajudam as plantas na obtenção de nutrientes. Sobre isso, o professor conta que “como os fungos têm uma capacidade de ocupar espaços maiores que a própria raiz da planta, eles aumentam exponencialmente o volume de solo que a planta explora.”

Uma única planta pode estar ligada a vários fungos, enquanto um único fungo pode estar ligado a várias plantas. Essas conexões acabam criando uma rede de troca entre esses seres vivos, possibilitando o transporte de nutrientes e moléculas químicas, que servem como sinalizadores. 

Nas palavras de Fernando, “simplificando ao máximo esse conceito, podemos falar que as plantas estão conversando umas com as outras.”

Apesar de o estudo recém publicado não negar a existência dessas trocas, o artigo sugere que muitos dos trabalhos realizados sobre o assunto tiraram conclusões precipitadas. Isso ocorre porque, de acordo com eles, o estudo das micorrizas é “muito delicado”. 

A manipulação em laboratório dos espécimes é considerada difícil. Além disso, o professor destaca que “as respostas acontecem, muitas vezes, em quantidades muito pequenas de molécula sinalizadora,” o que dificulta ainda mais sua detecção e monitoramento.

Por isso, os especialistas reforçam que distorcer resultados sobre a comunicação possibilitada pelas micorrizas pode ser um problema para a área no futuro. Principalmente porque entender como as florestas funcionam influencia a tomada de decisões sobre o manejo dessas regiões. Para eles, seria prematuro basear práticas e políticas florestais sem evidências mais consistentes de como funciona essa comunicação.

> Com informação do Nature Ecology & Evolution,

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