Pular para o conteúdo principal

Florais de Bach não curam nada. É uma bobagem

Não há nenhuma prova científica que valide o suposto poder de cura dos medicamentos inventados pelo dr. Edward Bach

HARRIET HALL | Science-Based Medicine
médica que escreve
sobre pseudociência

Os chamados remédios florais de Bach contêm uma quantidade pequena de material floral em uma solução 50:50 de brandy (conhaque) ou álcool e água. Dizem que funcionam transmitindo uma energia por meio da memória da água (não é o mesmo que a homeopatia, mas igualmente implausível).

Esses supostos remédios foram desenvolvidos pelo médico Edward Bach, que nasceu em 24 de setembro de 1886, em Moseley, Inglaterra.

Bach se interessou por homeopatia, criando alguns nosódios, substâncias de materiais orgânicos derivados de produtos inativos de doenças, culturas de microrganismos (bactérias, vírus e fungos, por exemplo) ou parasitas, material infectado ou com alterações patológicas ou produtos de decomposição animal ou humana feitos seguros. Mas mudou o rumo de suas pesquisas.

Ele disse ter usado a intuição para obter uma "conexão psíquica" com as plantas. Colocava a mão sobre diferentes plantas para ver qual afetava seu estado emocional, coletando o orvalho delas para usar como remédio.

Ele começa assim o livro The Twelve Healers (Os 12 Curadores), publicado em 1936:

"Desde tempos imemoriais sabe-se que os meios providenciais colocaram na natureza a prevenção e a cura das doenças, por meio de ervas, plantas e árvores divinamente enriquecidas. Os remédios da natureza dados neste livro provaram serem mais abençoados que outros em seu trabalho de misericórdia; e que receberam o poder de curar todos os tipos de doenças e sofrimentos".

Não tenho ideia de onde vieram as provas de cura de tais medicamentos. Ele não oferece nenhuma evidência, nem mesmo depoimentos.

O livro explica como preparar essências florais por exposição à luz solar ou por fervura, e lista os remédios e suas indicações em 7 títulos:

Para medo

Para incerteza

Para interesse insuficiente nas circunstâncias atuais

Para solidão

Para hipersensíveis a influências e ideias

Para desânimo ou desespero

Por excesso de cuidado com o bem-estar dos outros

A natureza da doença é irrelevante, porque, para Bach, o mal só estaria na mente, desde a origem. A mente é tudo o que doente precisa considerar. Cure a mente e o corpo se curará.

O livro foi anunciado como “Uma explicação da verdadeira causa e cura da doença”. O “12” no título refere-se aos remédios originais. A descoberta de mais 26 “completou a série”.

Ele não explica como sabia não haver mais nada para ser descoberto. Eu só posso imaginar que uma pequena flor disse a ele.

Como um exemplo, Bach lista o larício em “Para desânimo ou desespero” com esta recomendação:

"Para aqueles que não se consideram tão bons ou capazes quanto aqueles ao seu redor, que esperam o fracasso, que sentem que nunca serão um sucesso e, portanto, não se aventuram ou fazem uma tentativa forte o suficiente para vencer."

As descrições soam mais como tipos de personalidade na astrologia do que como manifestações temporárias de doença.

Dr. Bach dizia
ter "conexão
psíquica" com
as plantas

Bach morreu de câncer aos 50 anos, Seus seguidores, contudo, afirmam que "ele morreu de exaustão e não da doença em si".

O Bach Center dá sustentação à pseudociência dizendo:

Não é nosso papel 'provar' que os remédios funcionam — em vez disso, simplesmente demonstramos como usá-los e deixamos que as pessoas provem o efeito em si mesmas.

Ainda assim, o Bach Center aponta para resumo de supostas evidências e para um estudo duplo-cego que está longe de ser persuasivo.

Também encontrei um estudo de dois geólogos italianos que usaram os remédios para melhorar as propriedades inerentes das rochas. Confesso não ter conseguido me forçar a lê-lo.

O incansável Edzard Ernst fez uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados com data desde 2010, concluindo que os ensaios mais confiáveis ​​não mostraram nenhuma diferença entre remédios florais e placebos.

Uma pesquisa no PubMed encontrou algumas revisões em periódicos de Medicina Complementar e Alternativa [CAM na sigla em inglês]. uma negativa e outra (uma análise retrospectiva de estudo de caso) afirmando que o valor das essências florais é fazer os pacientes contarem seus problemas.

Há pessoas que acreditam nesse lixo

Adeptos dos florais de Bach oferecem treinamento em mais de 40 países aos interessados em se qualificarem em tratamento com essas substâncias. Há listas de profissionais qualificados em mais de 60 países.

Acessei o site de alguém iniciado em florais de Bach que mora perto de mim, chama-se Karen. Seu site tem depoimentos de clientes agradecidos.

Ela oferece uma consulta pessoalmente, pelo telefone ou Skype por US$ 65, incluindo um frasco de remédios e frete.

Karen também pratica cura com cristais (para equilibrar a energia no corpo etérico) e terapia energética. Cita o Dr. Oz [médico conhecido por ser uma personalidade televisiva] dizendo que a medicina energética é a próxima grande fronteira na medicina.

O Bach Center dá esta hilariante resposta a uma pergunta frequente sobre o uso de radiestesia e cinesiologia aplicada para selecionar remédios:

[A radiestesia e cinesiologia podem ir] direto ao cerne do problema antes que o cliente esteja pronto para ir tão longe. Isso significa que o autoconhecimento, um dos objetivos do tratamento com os remédios, nunca é alcançado adequadamente.

Insiste ser essencial selecionar remédios pela técnica de entrevista prescrita pelo dr. Bach.

Até existe na Oceania uma ramificação dos florais com plantas da Austrália. Recomenda meditar durante o tratamento. Mas tem de cantar “OM HUM NAMAHA”.

Uma universidade americana fundamentada em naturopatia, a Bastyr, ensina a terapia floral de Bach e vende um livro sobre remédios florais para animais.

Aparentemente, o NCCAM (sigla em inglês para Centro Nacional de Medicina Complementar e Alternativa dos EUA), que geralmente aceita a medicina alternativa, ainda não se convenceu sobre o poder de cura dos florais. Não encontrei nenhuma menção aos remédios de Bach em seu site.

Até mesmo o Banco de Dados Abrangente de Medicamentos Naturais afirma "não haver informações confiáveis ​​suficientes disponíveis sobre a eficácia dos florais de Bach".

A Colaboração Cochrane  organização não governamental sem fins lucrativos de revisão de estudos científicos, não lista nenhuma abordagem sobre florais elegíeis para financiamento. O que indica que ela está segura sobre a ineficácia dos remédios do dr. Bach.

É improvável que esses remédios causem reações adversas. E a quem tiver alergia à flor? Sem problemas, garante o Bach Center:

“As essências não contêm nenhuma substância material derivada de flores; portanto, elas não contêm alérgenos. Elas carregam apenas as informações energéticas de cada Flor.”

A única coisa que pode ter algum efeito real é o conhaque usado para diluí-las, mas é improvável que um paciente ingira o suficiente para ter muito efeito.

Tudo isso é uma bobagem. Mas, pensando bem, nada jamais se mostrou tolo demais para as pessoas que querem acreditar.

O termo “idiota florescente” vem à mente, mas essas pessoas não são idiotas, são apenas equivocadas. É deprimente. Eles provavelmente me diriam que eu deveria tomar um remédio floral para o desespero. Vou passar minha vez.   

Com informação de Science-Based Medicine e adpatação e edição de Paulopes para o português.

• Saiba por que o espiritismo kardecista é a alma da pseudociência no Brasil

• SUS adota o Reiki, uma pseudociência de cura pelas mãos

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Vicente e Soraya falam do peso que é ter o nome Abdelmassih

O incrível padre Meslier. Ateu enrustido, escreveu contundentes críticas ao cristianismo e a Jesus

Neymar paga por mês R$ 40 mil de dízimo à Igreja Batista

Origem da religião: ensinamentos dos nossos ancestrais monstruosos

Título original: Origem da religião na pré-história  por Luiz Felipe Pondé para Folha Muitos leitores me perguntaram o que aquela peça kafkiana cujo título era "Páscoa" queria dizer na coluna do dia 2/4/2012. O texto era simplesmente isto: a descrição de um ritual religioso muito próximo dos centenas de milhares que devem ter acontecido em nossa Pré-História. Horror puro, mas é assim que deve ter começado toda a gama de comportamentos que hoje assumimos como cheios de significados espirituais. Entender a origem de algo "darwinianamente", nada tem a ver com a "cara" que esse algo possui hoje. Vejamos o que nos diz um especialista. O evolucionista Stephen Jay Gould (1941-2002), num artigo de 1989 cujo título é The Creation Myths of Cooperstown , compara a origem mítica do beisebol (supostamente nascido em território americano e já "pronto") com a explicação evolucionaria do beisebol. Gould está fazendo no texto uma metáfora do...

Limpem a boca para falar do Drauzio Varella, cristãos hipócritas!

Varella presta serviço que nenhum médico cristão quer fazer LUÍS CARLOS BALREIRA / opinião Eu meto o pau na Rede Globo desde o começo da década de 1990, quando tinha uma página dominical inteira no "Diário do Amazonas", em Manaus/AM. Sempre me declarei radicalmente a favor da pena de morte para estupradores, assassinos, pedófilos, etc. A maioria dos formadores de opinião covardes da grande mídia não toca na pena de morte, não discutem, nada. Os entrevistados de Sikera Júnior e Augusto Nunes, o povo cristão da rua, também não perdoam o transexual que Drauzio, um ateu, abraçou . Então que tipo de país de maioria cristã, tão propalada por Bolsonaro, é este. Bolsonaro é paradoxal porque fala que Jesus perdoa qualquer crime, base haver arrependimento Drauzio Varella é um médico e é ateu e parece ser muito mais cristão do que aqueles dois hipócritas.  Drauzio passou a vida toda cuidando de monstros. Eu jamais faria isso, porque sou ateu e a favor da pena de mor...

Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano

Prefeito de São Paulo veta a lei que criou o Dia do Orgulho Heterossexual

Kassab inicialmente disse que lei não era homofóbica

MP estuda pedir demolição de templo da Mundial que roubou rua

O Ministério Público do Estado de São Paulo poderá enviar à Justiça um pedido para a demolição do templo que a Igreja Mundial está construindo em São Paulo, no bairro Santo Amaro, zona sul. Com a conivência de autoridades municipais, a construção roubou 137 metros de um terreno previsto em lei para ser o prolongamento da rua Bruges, até a Benedito Fernandes, conforme mostra o mapa acima.   Hussain Aref Saab, que foi diretor do Aprov (Departamento de Aprovação de Edificação), da Prefeitura, teria participado de manobras ilegais para permitir que a igreja de Valdemiro Santiago assumisse um pedaço da rua. A informação é de Diego Zanchetta e Rodrigo Burgarelli, do Estado de S.Paulo. Saab se afastou do Aprov após denúncias de que ele se tornou proprietário de 125 apartamentos em 7 anos, levantando a suspeita de enriquecimento ilícito. As obras começaram em março de 2011 sem alvará, apenas com documento provisório chamado “direito de protocolo”. Os vizinhos alertaram as autoridade...

Versão legendada em português mostra trailer de filme anti-islã

Tipologia escolhida  para a legenda dificulta a leitura Começou a se difundir hoje (23) na internet uma versão de 13 minutos com legendas em português do trailer do polêmico filme anti-islã Innocence of Muslims ("A Inocência dos Muçulmanos"). O blog anti-Nova Ordem Mundial informa ter traduzido o vídeo não porque concorde com a mensagem do filme, mas para que os brasileiros “tirem suas próprias conclusões”. O dono do blog se assina como Emerson. Dezenas de pessoas já morreram em países de cultura islâmica durante protesto contra o filme. Um ministro do Paquistão está oferecendo US$ 100 mil (R$ 200 mil) pela morte do diretor do filme, que seria o egípcio cristão copta Nakoula Basseley Nakouda, radicado nos Estados Unidos. No Brasil, a comunidade muçulmana fez uma manifestação discreta. O Google tem resistido às pressões, inclusive do governo americano, para tirar o trailer do Innocence of Muslims do Youtube. Apenas o bloqueou na Líbia e Egito, onde a indignação te...