Pular para o conteúdo principal

Historiadora afirma que Moisés não existiu. E sofre ameaças de morte

Estudiosa registrou na polícia queixa contra os fanáticos cristãos; ela sofre assédio desde 2020


Juliana Cavalcanti
, especialista em história do cristianismo e divulgadora científica, está sofrendo ameaças de morte por falar nas redes sociais sobre a inexistência do Moisés histórico, entre outras coisas.

No perfil dela, alguém escreveu: "suas foto [sic] já ta salva. vai pagar por ter falado que moises não existiu, aguarde".

Há mensagens mais ameaçadoras, como a da foto de uma pistola como o recado "ja sabemos onde mora ja sabemos a casa do seu marido vc vai ve".

As ameaças começaram em abril de 2020.

Professora na Universidade Estácio de Sá, Rio, Cavalcanti estuda o Cristianismo Antigo, do século I ao IV.

Dedica-se ao tema há mais de dez anos, mas só agora ela e sua família são alvos do fanatismo cristão, que desde o Governo Bolsonaro se sente fortalecido.

Para historiadora, a Bíblia serve como fonte de informação assim como qualquer outro registro humano, como as obras de Shakespeare, Conto do Drácula, romance O Crepúsculo. "Tudo que resulta da ação humana é documento."

A professora abalou-se com a contundência das ameaças, a ponto de tomar tranquilizante para dormir e tem medo de sair de casa, de acordo com o portal Ndmais.

O seu conteúdo na rede social, diz ela, não ofende ninguém porque trata das personagens bíblicas do ponto de vista histórico, com metodologia científica, a partir de documentos e da comparação entre eles. Ressalta que contextualiza tudo o que diz. 

Fanatismo religioso
se sente encorajado
a fazer ameaças

No Youtube, onde tem mais de 7 mil seguidores, ela aborda temas como a "Bíblia como fonte histórica" [vídeo abaixo], reforçando a importância da metodologia científica para entender o fenômeno religioso e suas implicações na sociedade na disputa pelo poder. Um assunto atualíssimo, que permeia hoje todo o noticiário político. 

Cavalcanti gravou uma entrevista com o professor José D’Assunção, especialista em Teoria e Metodologia da História.

Há também uma entrevista com a estudiosa Angela Natel sobre "Asherah: a esposa de Yahweh?", que serve como ponto de partida a quem quiser se aprofundar sobre a misoginia do judaísmo e cristianismo. Dá para entender por que o candelabro judaico de 7 pontas é a representação de uma árvore, uma coisificação da deusa Asherah.

O "Busca do Moisés histórico" é um dos vídeos que mais repercutiu entre "os malucos do fanatismo", como diz Cavalcanti.

De fato, como sugere a historiadora, não há como comprovar a existência de Moisés, embora ele esteja na base das religiões monoteístas judaísmo, cristianismo e islamismo e todas as atrocidades associadas a elas.

Também causou reação de fundamentalistas o vídeo "Por que Judas Iscariotes e a narrativa da traição não existiram?" A historiadora se sustenta em afirmações do Paulo e em contradições bíblicas decorrentes de manipulação de tradutores.

Em um vídeo, Cavalcanti fala sobre "A paixão de Jesus: o que está no Novo Testamento e o que é uma tradição inventada do período medieval?" Diz não se saber como Jesus foi crucificado e o que exista são narrativas construídas paulatinamente ao longo dos séculos por teologias. E esse Jesus que é retratado no cinema.

Cavalcanti registrou queixa na 20ª Delegacia de Polícia do Rio, para que os fanáticos religiosos sejam identificados e punidos de acordo com a lei. Se houver um pouco de boa vontade das autoridades, não será difícil de localizar os marginais, porque a navegação na internet deixa rastros.

A historiadora tem recebido solidariedade e apoio da comunidade acadêmica, como do GTAH (Grupo de Trabalho em História Antiga da Anpuh), que, em nota, criticou os grupos de ódio que "buscam restaurar sistemas morais e de costumes anacrônicos, que orgânica ou ignorantemente, se associam ao momento violento e reacionário”.

O professor Fábio Augusto Morales, de História Antiga da UFSC, comentou que não aceitar o método histórico, que não se interessa como e como foi escrito um documento, no caso a Bíblia.

“Essa gente entende que a pesquisa histórica como sintoma da ‘decadência da cultura'”, disse. “E a Bíblia, na história, é uma fonte como qualquer outra. Escrito em um período e por muitas mãos. Interpretamos como um texto escrito por um filósofo ou um político.”

“Tem gente que afirma que o texto [bíblico] ‘não tem contradições e fala a verdade absoluta’. E aí não dá, é contra o método [histórico e científico]”.


> Com informações do Youtube e de outras fontes.



Comentários

Anônimo disse…
Ah, o amor CRISTÃO..............
Histórias como estas reforçam a minha convicção de que o Brasil é um país muito peculiar. Aos olhos dos europeus, as vossas contendas políticas e religiosas são um autêntico circo.
marceloDC disse…
Deus, religiões, Moisés, Jesus Cristo... Tudo ideais, melhor, IDEOLOGIAS desenvolvidas, ou transformadas, para manipular o povão. Ir a fundo na História é INVESTIGAR, doa a quem doer. Infelizmente os fanáticos, os fundamentalistas, não se conformam.
Disse de "transformadas", pois muitas crenças podem surgir naturalmente, inconscientemente nas mentes primitivas no desespero por respostas. Depois passam a serem utilizadas deliberadamente para manipular. Deuses podem surgir "naturalmente", assim como "espíritos", nessa ânsia por respostas e "confortos" pelos infortúnios da vida. Agora Deus, UM, está mais ligado ao senso de autoridade, autoritarismo. Algo mais voltado para manipular deliberadamente o povo.
Há bug nessa página (e outras), as colunas aparecem estreitas e a seção de comentários pior ainda, "largura 2 caracteres".
Paulo Lopes disse…
Sim, Marcelo. Havia um bug (acabei de corrigir). Se você me informar outras páginas com o mesmo problema, eu agradeço. Abs.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

'Não entendo como alguém pode odiar tanto quem é diferente'

por Concebida Sales Batista a propósito de Associação de gays pede a retirada do ar do programa do Malafaia Escreverei pessoalmente à procuradora [Gilda Pereira de Carvalho], e em acordo com as dificuldades de saúde que atravesso, sob autorização médica, irei à Brasília obter audiência particular com ela. Perdi um filho no passado por crime de homofobia e recentemente um amigo muito íntimo, por bullying acadêmico, pelas mesmas razões, só que por homofobia inversa, que é praticada por homossexuais que se disfarçam de heterossexuais e ocupam cargos nas universidades e igrejas. Eles perseguem quaisquer jovens talentosos que lhes pareça ameaçar a vida dupla que levam, aliciando outros incompetentes por critérios sexuais e temendo serem descobertos, alijam os possíveis e eventuais discordantes, fazendo-o previamente pela perseguição odiosa. Meu amigo era também um colaborador assíduo deste site, e perdi-o para sempre. Deus sabe as razões por que abandonou a faculdade, não me pr

Vídeo de pastor mostra criança em situação de constrangimento

Imagens pegam menina em close se contorcendo no chão Um vídeo de 3 minutos [ver trecho abaixo] do ministério do pastor Joel Engel, do Rio Grande do Sul, expõe uma criança em situação de constrangimento ao mostrá-la se contorcendo no chão ao lado do seu pai, em uma sessão de descarrego. Pelo artigo 232 do Eca (Estatuto da Criança e do Adolescente), comete crime quem submete menor de idade sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexames ou constrangimento. É o caso deste vídeo. Na gravação, a mãe diz o nome da filha. Ao final, Engel afirma: “O que Deus está fazendo aqui é impressionante”. Em outra oportunidade, Angel já tinha passado por cima do Eca ao pegar como oferta o único par de tênis de um menino, deixando-o descalço e com o rosto de choro. . Se o Conselho Tutelar e o Ministério Público tivessem enquadrado na época o pastor, ele certamente agora pouparia a menina do vexame. Imagens vexatórias Pastor Joel Engel pega como oferta único par de tênis de

Traição feminina cresce e a masculina cai, revela pesquisa

Mulheres de gerações mais recentes traem mais As casadas na faixa de 18 a 25 anos traem os maridos mais do que as mulheres de gerações anteriores. De acordo com 8.200 entrevistas feitas em dez capitais brasileiras, praticamente metade delas (49,5%) revelou ter tido relações extraconjugais. O percentual de traições entre as mulheres de 41 a 50 anos é de 34,7%. Das entrevistadas acima de 70 anos, 22% admitiram ter cometido em algum momento de sua vida o adultério. A pesquisa faz parte do estudo Mosaico Brasil 2008, coordenado pela psiquiatra Carmila Abdo, do ProSex (Projeto Sexualidade) da USP. Os homens continuam mais infiéis, mas o percentual deles vem caindo em comparação com o tempo de jovem da geração que hoje está com 70 anos [ver quadro], enquanto o número de adúlteras se mantém em alta. Numa projeção, em alguns anos elas deverão empatar com os homens ou até superá-los. A Istoé desta semana, que publicou os dados inéditos do Mosaico, ouviu algumas mulheres sobre

Icar queixa-se de que é tratada apenas como mais uma crença

Bispos do Sínodo para as Américas elaboraram um relatório onde acusam autoridades governamentais de países do continente americano de darem à Igreja Católica um tratamento como se ela fosse apenas mais uma crença entre tantas outras, desconsiderando o seu “papel histórico inegável”. Jesuíta convertendo índios do Brasil Os bispos das Américas discutiram essa questão ao final de outubro em Roma, onde elaboraram o relatório que agora foi divulgado pela imprensa. No relatório, eles apontam a “interferência estatal” como a responsável por minimizar a importância que teve a evangelização católica na formação da identidade das nações do continente. Eles afirmaram que há uma “estratégia” para considerar a Igreja Católica apenas pela sua “natureza espiritual”,  deixando de lado o aspecto histórico. O relatório, onde não há a nomeação de nenhum país, tratou também dos grupos de evangélicos pentecostais, que são um “desafio” por estarem se espalhando “através de um proselitismo fo

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Brasil já tem pelo menos dez igrejas dedicadas aos gays

Título original: Desafiando preconceito, cresce número de igrejas inclusivas no Brasil por Luís Guilherme Barrucho , da BBC Brasil As inclusivas se concentram no eixo São Paulo-Rio Encaradas pelas minorias como um refúgio para a livre prática da fé, as igrejas "inclusivas" - voltadas predominantemente para o público gay - vêm crescendo a um ritmo acelerado no Brasil, à revelia da oposição de alas religiosas mais conservadoras. Estimativas feitas por especialistas a pedido da BBC Brasil indicam que já existem pelo menos dez diferentes congregações de igrejas gay-friendly no Brasil, com mais de 40 missões e delegações espalhadas pelo país. Concentradas, principalmente, no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, elas somam em torno de 10 mil fiéis, ou 0,005% da população brasileira. A maioria dos membros (70%) é composta por homens, incluindo solteiros e casais, de diferentes níveis sociais. O número ainda é baixo se comparado à quantidade de católicos e evangélico

Textos bíblicos têm contradições, mas as teorias científicas também

por Demetrius dos Santos Silva , biblista, a propósito de Quem Deus criou primeiro, o homem ou os animais? A Bíblia se contradiz Por diversas vezes vejo pessoas afirmarem ideias sobre a Bíblia baseadas em seus preconceitos religiosos ou seculares. Todo preconceito é baseado em uma postura fanática onde o relativo é assumido como absoluto. Nesse sentido, qualquer ideia ou teoria deve-se enquadrar dentro da visão obtusa do fanático. É como uma pessoa que corta a paisagem para caber dentro de sua moldura. O quadro é assumido como se fosse a paisagem verdadeira e tudo o que está fora de seu quadro é desconsiderado. Quando o assunto é a Bíblia, muitas pessoas abandonam os critérios literários e assumem uma postura pseudocientífica que revela seus profundos preconceitos sobre as religiões e seus livros sagrados. A palavra Bíblia vem da língua grega “Biblos” e significa: livros. A Bíblia é uma biblioteca. Nela encontramos diversos gêneros literários: poesia, prosa, leis, oráculos pro

Deus quer 30% do ganho deste mês dos fiéis, afirma Valdemiro

Valdemiro Santigo (foto), 46, fundador da IMPD (Igreja Mundial de Poder de Deus), diz na tv que o pedido não é dele, mas, sim, de Deus, que lhe falou: “Chama o meu povo e peça 30% de tudo que Eu lhe der neste mês de dezembro”. É curioso que Deus tenha resolvido fazer tal pedido justamente no mês em que os trabalhadores ganham o 13º salário. Valdemiro explica: “Se Ele lhe der R$ 1.000, você vai ter de devolver R$ 300. Se Ele lhe der R$ 10.000, você vai ter de dar R$ 3 mil.” A representante do Deus, para receber a “devolução”, é a IMPD, claro. Para o autoproclamado apóstolo, é justo que os fiéis façam uma doação dessa monta “uma vez na vida”. Ele assegura que, em troca dos 30%, os fiéis terão realizado “o projeto de sua vida”. Porque é Deus que “faz o povo prosperar e ficar rico”. Afirma que, com o dinheiro,  ele vai ganhar mais almas. “Esse é o meu projeto.” Valdemiro tem pressa: “Mande a carta [com dinheiro] até o dia 15 de dezembro. Comece a mandá-la já. […] Q

Pastor que exigia 'boa conduta' de fiéis é condenado por estupro

Pastor abusou de crianças na faixa de 4 a 11 anos O pastor Manoel Teoplício de Souza Ribeiro (foto), 52, da Assembleia de Deus, exigia das fiéis “boa conduta”, como não usar calças compridas e maquiagem – coisas do demônio, segundo dizia. Mesmo sendo tão conservador, atraia muitos fiéis para a sua igreja em Samambaia, cidade próxima de Brasília. Ribeiro foi condenado a 50 anos e 10 meses de prisão por ter estuprado crianças na faixa de 4 a 11 anos, filhas de fiéis. A sentença, agora divulgada, tomada há um mês pela Justiça do Distrito Federal. O pastor já se encontrava preso preventivamente desde junho de 2011. Ele alegou à polícia ter conhecimentos de medicina e que, por isso, levava as filhas de fiéis para sua casa de modo a tirar delas “maus fluidos” por intermédio de massagens. Só que  massageava principalmente a genitália das meninas, de acordo com as denúncias. Ele abusava das crianças desde 2005 e as ameaçava para que não contassem nada a ninguém. Uma fiel