Pular para o conteúdo principal

'Pai da Luzia' cria núcleo para popularizar informações sobre a evolução humana

> SILVANA SALLES
Jornal da USP

O bioantropólogo Walter Neves conta que sempre dedicou parte de seu tempo à divulgação científica. Mas foi apenas depois de se aposentar como professor do Instituto de Biociências (IB) da USP que ele pôde desenvolver essa atividade sem ter de lidar com o julgamento de colegas que viam o esforço de popularização da ciência como uma perda do tempo destinado às aulas e à pesquisa.

Ele é conhecido como o “pai da Luzia”, por seus estudos com o fóssil humano de cerca de 11 mil anos. O crânio de Luzia foi encontrado em uma escavação em Lagoa Santa, Minas Gerais, na década de 1970

“Quando tem um corte de verba no CNPq, na Capes, na Fapesp, aí os cientistas (dizem) ‘temos que procurar o apoio da população’. Como procurar o apoio da população? Nunca perdeu cinco minutos do seu tempo para levar sua ciência para o povo, como é que você vai querer ter o apoio da população?”, afirma Neves, que desde 2018 trabalha no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, onde acaba de criar o novíssimo Núcleo de Popularização dos Conhecimentos sobre Evolução Humana.

O objetivo central do novo núcleo é levar conhecimentos científicos sobre a evolução da nossa espécie ao maior número possível de pessoas. Nesse sentido, a equipe desenvolverá ações para escolas públicas, estudantes de graduação e para o público geral.

 Lucy viveu cerca de 3,2 milhões de anos
atrás, tinha cerca de 1,10m de altura,
era bípede e andava ereta.

Walter Neves pretende montar pequenas exposições em shopping centers, que têm alta circulação de pessoas e seguem abertos durante a pandemia de Covid-19. Ele entende que esse tipo de ação é uma contribuição importante, ainda que modesta, para combater o negacionismo e o anticientificismo que circulam pelo país junto com o coronavírus.

“Nós estamos vivendo um momento muito paradoxal. Nunca houve tanto negacionismo científico no país, realmente estamos vivendo um momento de trevas. Mas, por outro lado, por causa da pandemia, também nunca se falou tanto em ciência e nunca se falou tanto em cientistas. Eu acho que a gente deve aproveitar o lado bom. Com a pandemia, as pessoas estão valorizando a ciência e estão valorizando os cientistas.”

Para quem dedicou toda a vida profissional à biologia evolutiva, combater o negacionismo científico significa fazer o contraponto às ideias criacionistas. 

“Eu tenho uma posição muito distinta dos meus colegas sobre essa coisa de criacionismo e evolucionismo. Eu acho que as pessoas atribuem significados às suas vidas de maneiras muito distintas. Algumas pessoas atribuem significado através da religião; outros, através da ciência. Eu acho que você optar por uma visão religiosa, ou seja, pelo criacionismo, ou você optar por uma versão científica, que é o evolucionismo, é uma decisão de foro íntimo. Mas eu acho que as pessoas têm que fazer isso de maneira informada”, diz.

O problema, avalia, é que enquanto os criacionistas estão fazendo um trabalho consistente para levar ideias religiosas à população, as ações da academia são insuficientes para popularizar os conhecimentos científicos.

“As pessoas já são expostas no seu cotidiano às ideias criacionistas, principalmente através das suas religiões fundamentalistas, mas elas não têm acesso ao que a ciência tem a dizer sobre o surgimento da espécie humana no planeta. Então, o núcleo, ainda que modestamente, quer contribuir para isso, para que as pessoas tenham acesso fácil ao que a ciência tem a dizer sobre a nossa existência no planeta”, diz Neves.

O Núcleo de Popularização dos Conhecimentos sobre Evolução Humana do IEA começa com nove integrantes — cinco professores e quatro estudantes — e se dedicará a promover exposições, cursos e palestras, todas gratuitas. 

A iniciativa é uma grande novidade no IEA, onde a programação é, por norma, composta por “discussão acadêmica frenética”. “Acho que ninguém nunca lá propôs uma linha de popularização da ciência. Para minha grata surpresa, foi aprovado”, conta o professor aposentado.

Por serem atividades presenciais, a previsão é de que a programação pública do núcleo comece apenas no segundo semestre, devido às restrições impostas pela pandemia. Até lá, os integrantes aproveitarão o tempo para receber agendamentos e preparar os cursos e o catálogo de palestras, bem como planejar o acervo e a logística das exposições. 

Uma das expectativas do grupo é a de produzir uma grande exposição sobre evolução humana na Avenida Paulista, em São Paulo. Walter Neves conta que o IEA negocia essa possibilidade com o Itaú Cultural desde 2019.

Enquanto o sonho não se concretiza, o núcleo já trabalha com a ideia de organizar uma pequena mostra itinerante em duas cidades do interior. Essa mostra deverá reunir o material que hoje está em exposição no saguão do IEA e inclui uma réplica do esqueleto completo da famosa Lucy, o fóssil de Australopithecus afarensis encontrado em 1974 na Etiópia.



Comentários

Excelente iniciativa!
Não sei como ela é, mas diria aos incautos que para entender a fundo a Evolução, leiam algo sobre bioquímica, inclsive é que a consolida definitivamente. Livros como "O Gene Egoísta" de Richard Dawkins são de enorme ajuda.
Lembro de um biólogo que ficou meio que "flutuando" na mente em duvidar, não da Evolução em si, mas que "algo além existia...", meio que indiretamente queria "admitir um Deus ou algo assim" (diria "a Força" como em Star Wars). Disse em se informar da base, Bioquímica: genética, pepipídeos, ciclo de Krebs etc. E disse tb do citado livro de R. Dawkins.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Alunos evangélicos de escola de Manaus recusam trabalho de cultura africana

Doença de Edir cria disputa pela sucessão na Igreja Universal

Por estar doente, o bispo Edir Macedo tinha nomeado há cerca de três meses o bispo Romualdo Panceiro (foto) como seu sucessor no comando da Igreja Universal do Reino de Deus. A informação é da CartaCapital desta semana.

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Com 44% de ateus, Holanda usa igrejas como livrarias e cafés

Livraria Selexyz, em Maastricht Café Olivier, em Utrecht As igrejas e templos da Holanda estão cada vez mais vazios e as ordens religiosas não têm recursos para mantê-los. Por isso esses edifícios estão sendo utilizados por livrarias, cafés, salão de cabeleireiro, pistas de dança, restaurantes, casas de show e por aí vai. De acordo com pesquisa de 2007, a mais recente, os ateus compõem 44% da população holandesa; os católicos, 28%; os protestantes, 19%; os muçulmanos, 5%, e os fiéis das demais religiões, 4%. A maioria da população ainda acredita em alguma crença, mas, como ocorre em outros países, nem todos são assíduos frequentadores de celebrações e cultos religiosos. Algumas adaptações de igrejas têm sido elogiadas, como a de Maastricht, onde hoje funciona a livraria Selexyz (primeira foto acima). A arquitetura realmente impressiona. O Café Olivier (a segunda foto), em Utrecht, também ficou bonito e agradável. Ao fundo, em um mezanino, se destaca o órgão da antig...

Evolução negou um tesouro ao homem, o osso do pênis

Como é possível Deus ter criado a existência se Ele já existia?

  Austin Cline , do About.com

Mulher faz ritual religioso em trilhos de trem e morre atropelada

Um trem da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) atropelou e matou na noite de sábado (22) uma mulher de 45 anos em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. A morte foi instantânea. A informação é do portal G1. A mulher e o seu marido estavam realizando uma cerimônia religiosa de matriz afro-brasileira. O acidente ocorreu a 300 metros da passagem de nível do distrito de Brás Cubas. O trem seguia no sentido de Mogi, informou a polícia. O marido não foi atingido pelo trem, mas se encontra em estado de choque. Evangélico morre quando orava para agradecer recuperação da saúde. setembro de 2011 Umbandistas matam evangélico em briga em morro místico.   novembro de 2010 Bizarro.

Ateu famoso: Betinho conta como se livrou do cristianismo