Pular para o conteúdo principal

Governo se afasta da cloroquina contra Covid-19 por temer impeachment de Bolsonaro

PAULO LOPES     A vacina contra a Covid-19 vai demorar para chegar a todos os brasileiros, há pelo menos um ano pela frente, e os óbitos pela doença permanecerão elevados. Apesar disso, o Governo Bolsonaro está deixando de recomendar a cloroquina e outros remédios que não têm nenhuma comprovação científica de eficácia contra as consequências do coronavírus.

Motivo: o presidente poderá ser processado pela lei 1.079, de 1950, por vários crimes de responsabilidade, incluindo o de negligenciar a saúde pública. Esse fato consta nas dezenas de pedidos de impeachment de Bolsonaro que foram enviados à Câmara dos Deputados.

O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, causou surpresa em uma entrevista no dia 18 de janeiro ao mentir descaradamente que nunca tinha indicado a cloroquina para o tratamento da Covid-19. Como pode ser facilmente provado, em algumas ocasiões ele fez referência ao medicamento, inclusive em uma live do Bolsonaro.

O ministro, na mesma entrevista, insistiu na mentira ao dizer que o governo não defende "tratamento precoce" contra a Covid-19, mas "atendimento precoce" —  atendimento por um médico ao sinal dos primeiros sintomas, de um posto de saúde.

Não existe nada que se possa fazer precocemente contra a doença, a não ser a higienização das mãos, uso de máscara e o distanciamento social — tudo que Bolsonaro não faz e desestimula.

O general da ativa interpretou o papel vexaminoso de Pinóquio, desmoralizando, por tabela, as Forças Armadas. Ele teria sido alertado por assessores jurídicos do Palácio do Planalto sobre a possibilidade do impeachment.

Como agravante, há o fato de o governo ter desperdiçado dinheiro por ter mandado o laboratório do Exército fabricar milhões de pílulas da cloroquina.

Depois de o Pazuello ter ido pessoalmente a Manaus para distribuir "kit Covid" com medicamentos milagrosos — dias antes de as pessoas começarem a morrer afogadas no seco por falta de oxigênio —, o Governo Bolsonaro começou a desistir de sua postura farsesca porque agora há oficialmente como provar na Justiça que a população está sendo enganada.

Ao aprovar o uso emergencial das vacinas CoronaVac e AstraZeneca/Oxford, a Anvisa concluiu não haver nenhum tratamento precoce contra a doença.

Qualquer pedido de impeachment poderá recorrer ao relatório técnico da Agência Sanitária, órgão ligado ao governo que mantém seus critérios técnicos rigorosos, não se contaminando, portanto, com o bolsonarismo. A palavra do presidente já não valia nada e a partir de então menos ainda.

Há ainda a decisão da OMS de meados de 2020 pela suspensão dos testes da cloroquina e  hidroxicloroquina contra a doença.

Por não ser médico, Pazuello, obviamente, não entende de medicamento, nem sequer de logística, sua especialidade no Exército, como ficou demonstrado com o atraso na compra de vacinas e seringas. 

No ministério, ele tem sido orientado — ou estava até recentemente — pela médica Mayra Pinheiro, também conhecida por "Capitã Cloroquina". Defensora do medicamento, ela foi colocada no ministério por Bolsonaro.

Ela esteve com Pazuello em Manaus para distribuir o kit e aparece sem máscara em fotos de entrevistas coletivas ao ministro.

Nesta quinta-feira (21), o Ministério da Saúde tirou do ar o aplicativo "TrateCov", que recomendava cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina como "tratamento precoce" até para bebê. Parece queima (inútil) de provas.

Associações médicas que até agora estavam em cima do muro, para não terem de contestar frontalmente a prescrição do "Dr. Bolsonaro", passaram a criticar o uso dos medicamentos, o que ajuda a mover a roda pelo impeachment.

O afastamento de um presidente envolve negociações que dependem de interesses políticos, mas a defesa de Bolsonaro por remédios inócuos contra a Covid-19 serve como bom gancho, porque, além de ter apelo popular, comprova o quanto o presidente tem sido responsável pela matança de brasileiros pela peste.


Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Ateu usa coador de macarrão como chapéu 'religioso' em foto oficial

Fundamentalismo de Feliciano é ‘opinião pessoal’, diz jornalista

Sheherazade não disse quais seriam as 'opiniões não pessoais' do deputado Rachel Sheherazade (foto), apresentadora do telejornal SBT Brasil, destacou na quarta-feira (20) que as afirmações de Marco Feliciano tidas como homofóbicas e racistas são apenas “opiniões pessoais”, o que pareceu ser, da parte da jornalista,  uma tentativa de atenuar o fundamentalismo cristão do pastor e deputado. Ficou subentendido, no comentário, que Feliciano tem também “opiniões não pessoais”, e seriam essas, e não aquelas, que valem quando o deputado preside a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Se assim for, Sheherazade deveria ter citado algumas das opiniões “não pessoais” do pastor-deputado, porque ninguém as conhece e seria interessante saber o que esse “outro” Feliciano pensa, por exemplo, do casamento gay. Em referência às críticas que Feliciano vem recebendo, ela disse que “não se pode confundir o pastor com o parlamentar”. A jornalista deveria mandar esse recado...

PMs de Cristo combatem violência com oração e jejum

Violência se agrava em SP, e os PMs evangélicos oram Houve um recrudescimento da violência na Grande São Paulo. Os homicídios cresceram e em menos de 24 horas, de anteontem para ontem, ocorreram pelo menos 20 assassinatos (incluindo o de policiais), o triplo da média diária de seis mortes por violência. Um grupo de PMs acredita que pode ajudar a combater a violência pedindo a intercessão divina. A Associação dos Policiais Militares Evangélicos do Estado de São Paulo, que é mais conhecida como PMs de Cristo, iniciou no dia 25 de outubro uma campanha de “52 dias de oração e jejum pela polícia e pela paz na cidade”, conforme diz o site da entidade. “Essa é a nossa nobre e divina missão. Vamos avante!” Um representante do comando da corporação participou do lançamento da campanha. Com o objetivo de dar assistência espiritual aos policiais, a associação PMs de Cristo foi fundada em 1992 sob a inspiração de Neemias, o personagem bíblico que teria sido o responsável por uma mobili...

Wyllys vai processar Feliciano por difamação em vídeo

Wyllys afirmou que pastor faz 'campanha nojenta' contra ele O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), na foto, vai dar entrada na Justiça a uma representação criminal contra o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) por causa de um vídeo com ataques aos defensores dos homossexuais.  O vídeo “Marco Feliciano Renuncia” de oito minutos (ver abaixo) foi postado na segunda-feira (18) por um assessor de Feliciano e rapidamente se espalhou pela rede social por dar a entender que o deputado tinha saído da presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Mas a “renúncia” do pastor, no caso, diz o vídeo em referência aos protestos contra o deputado, é à “privacidade” e às “noites de paz e sono tranquilo”, para cuidar dos direitos humanos. O vídeo termina com o pastor com cara de choro, colocando-se como vítima. Feliciano admitiu que o responsável pelo vídeo é um assessor seu, mas acrescentou que desconhecia o conteúdo. Wyllys afirmou que o vídeo faz parte de uma...

Embrião tem alma, dizem antiabortistas. Mas existe alma?

por Hélio Schwartsman para Folha  Se a alma existe, ela se instala  logo após a fecundação? Depois do festival de hipocrisia que foi a última campanha presidencial, com os principais candidatos se esforçando para posar de coroinhas, é quase um bálsamo ver uma autoridade pública assumindo claramente posição pró-aborto, como o fez a nova ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci. E, como ela própria defende que a questão seja debatida, dou hoje minha modesta contribuição. O argumento central dos antiabortistas é o de que a vida tem início na concepção e deve desde então ser protegida. Para essa posição tornar-se coerente, é necessário introduzir um dogma de fé: o homem é composto de corpo e alma. E a Igreja Católica inclina-se a afirmar que esta é instilada no novo ser no momento da concepção. Sem isso, a vida humana não seria diferente da de um animal e o instante da fusão dos gametas não teria nada de especial. O problema é que ninguém jamais demonstrou que ...

Defensores do Estado laico são ‘intolerantes’, diz apresentadora

Evangélico quebrou centro espírita para desafiar o diabo

"Peguei aquelas imagens e comei a quebrar" O evangélico Afonso Henrique Alves , 25, da Igreja Geração Jesus Cristo, postou vídeo [ver abaixo] no Youtube no qual diz que depredou um centro espírita em junho do ano passado para desafiar o diabo. “Eu peguei todas aquelas imagens e comecei a quebrar...” [foto acima] Na sexta (19), ele foi preso por intolerância religiosa e por apologia do ódio. “Ele é um criminoso que usa a internet para obter discípulos”, disse a delegada Helen Sardenberg, depois de prendê-lo ao término de um culto no Morro do Pinto, na Zona Portuária do Rio. Também foi preso o pastor Tupirani da Hora Lores, 43. Foi a primeira prisão no país por causa de intolerância religiosa, segundo a delegada. Como 'discípulo da verdade', Alves afirma no vídeo coisas como: centro espírito é lugar de invocação do diabo, todo pai de santo é homossexual, a imprensa e a polícia estão a serviço do demônio, na Rede Globo existe um monte de macumbeiros, etc. A...

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Apoio de âncora a Feliciano constrange jornalistas do SBT

Opiniões da jornalista são rejeitadas pelos seus colegas O apoio velado que a âncora Rachel Sheherazade (foto) manifestou ao pastor-deputado Marco Feliciano (PSC-SP)  deixou jornalistas e funcionários do "SBT Brasil" constrangidos. O clima na redação do telejornal é de “indignação”, segundo a Folha de S.Paulo. Na semana passada, Sheherazade minimizou a importância das afirmações tidas como homofóbicas e racistas de Feliciano, embora ele seja o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, dizendo tratar-se apenas de “opinião pessoal”. A Folha informou que os funcionários do telejornal estariam elaborando um abaixo assinado intitulado “Rachel não nos representa” para ser encaminhado à direção da emissora. Marcelo Parada, diretor de jornalismo do SBT, afirmou não saber nada sobre o abaixo assinado e acrescentou que os âncoras têm liberdade para manifestar sua opinião. Apesar da rejeição de seus colegas, Sheherazade se sente segura no cargo porque ela cont...