Pular para o conteúdo principal

Novo documentário denuncia acobertamento de abuso pela Igreja Católica da Polônia

Paula Guzik / Crux   Um novo documentário polonês sobre o abuso sexual clerical católico foi lançado no sábado pela internet. “Hide and Seek” [Zabawa w chobanego], produzido pelos irmãos Marek e Tomasz Sekielski, registra não apenas o abuso sexual de crianças na Igreja na Polônia, mas também o abuso de poder pela hierarquia católica.

O filme é uma continuação do documentário “Tell No One”, dos irmãos Sekielski, que foi rapidamente relatado na mídia como o “Spotlight polonês” — em referência ao filme vencedor do Oscar de 2015, que documenta a investigação do jornal Boston Globe em 2002 sobre o abuso sexual clerical na Arquidiocese de Boston.

Depois que o documentário foi ao ar, o primaz da Polônia, o arcebispo Wojciech Polak — que também atua como delegado da Comissão de Proteção Infantil da Conferência dos Bispos da Polônia —, anunciou imediatamente que havia relatado o caso no documentário ao representante do Vaticano no país.


O caso é o primeiro na Polônia a ser processado sob as regras impostas pelo motu proprio Vos Estis Lux Mundi, uma lei da Igreja promulgada pelo papa Francisco em 2019 para denunciar os bispos acusados de cometer ou encobrir o abuso sexual de menores ou de adultos vulneráveis.

Os comentaristas dizem que esse não é apenas um teste para a Igreja na Polônia, mas também para o Vaticano, já que apenas o papa pode demitir um bispo.

O tormento do abuso


Há exatamente um ano, a Igreja polonesa sofreu um terremoto após o lançamento de “Tell No One”.

O filme documentava que, embora os procedimentos de proteção aos menores existam tecnicamente há anos na Igreja na Polônia, muitas autoridades da Igreja ainda estavam indiferentes à situação das vítimas de abuso sexual.

Com o lançamento de “Hide and Seek” no YouTube no dia 16 de maio, os irmãos Sekielski voltam a sua atenção para o abuso de poder na Igreja.

O filme conta a história dos irmãos Jakub e Bartek Pajkowski, que foram abusados em seu próprio apartamento, enquanto seus pais estavam na cozinha ao lado.

Jakub tinha 13 anos quando sua família — seus pais tinham quatro filhos — se mudou para o novo apartamento paroquial de Pleszewo, na Diocese de Kalisz, na Polônia central, em 1996.

Seu pai era o organista da paróquia.

“Achamos que era um presente do céu”, disse Jakub sobre o seu novo lar. Mesmo que fosse modesto, era mais espaçoso do que o lar anterior, e o subsídio paroquial significava que haveria mais dinheiro para cuidar de um de seus irmãos que estava em estado terminal.

“Éramos os peixes mais fáceis de pescar”, disse Bartek Pajkowski, irmão mais novo de Jakub. Quando o abuso começou, ele tinha 8 anos.

Ambos os irmãos estavam sendo abusados pelo padre Arkadiusz Hajdasz, mas, em princípio, nenhum dos dois sabia que o outro também era uma vítima.

“Mesmo que eu fosse muito atento e desconfiado, eu não sabia que ele estava escondendo tudo tão bem”, disse Jakub.

O padre estava supostamente dando aulas de violão para os meninos enquanto seus pais estavam ocupados na cozinha, mas, ao invés disso, ele estava beijando e acariciando cada menino em seus quartos.

“Ele está ‘comigo’ o tempo todo. Tenho a impressão de que iremos juntos para o túmulo — só sei que não nos encontraremos no Céu”, diz Jakub no documentário.

Os irmãos tinham medo de contar a seus pais — se o pai perdesse o emprego como músico da paróquia, a vida do irmão doente seria posta em perigo.

Quando Hajdasz deixou Pleszewo, ele foi transferido para outra paróquia na mesma diocese, onde o padrão de abuso continuou.

“Eu me lembro de estar deitado nu na cama dele. Eu nem entendia o que estava acontecendo comigo”, disse Andrzej, uma das vítimas agora adultas do documentário.

Em 2016, os pais de um dos meninos vítimas de abuso gravou secretamente uma discussão com Hajdasz: “Você não precisa ir ao bispo” — disse o padre —, “ele sabe de tudo”.

Mas eles foram ao encontro de Dom Edward Janiak, que se tornou bispo de Kalisz em 2012, mas apenas para receber uma reprimenda: “São mentiras, e vocês têm que ir embora agora”, disse ele aos pais.

O bispo, então, transferiu o padre para o hospital da cidade, sem denunciar o caso à Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, de acordo com a lei da Igreja.

Foi só quando o caso começou a se tornar público em 2018 que Janiak finalmente relatou o caso ao Vaticano: Hajdasz vinha abusando de várias crianças há mais de 20 anos.

“Estou devastado”, disse Robert Fidura, uma vítima do abuso sexual clerical, depois de assistir ao documentário.

“Estou devastado principalmente com o comportamento do bispo em relação aos pais que denunciaram o abuso do seu filho”, disse ele.

“Muitos casos não terminariam em um tribunal se os homens da Igreja finalmente aprendessem a ouvir.”

Igreja na Polônia recorre a motu proprio de Francisco


Menos de meia hora depois que o novo documentário foi publicado na internet, Polak divulgou um comunicado anunciando que estava usando o motu proprio Vos Estis.

“O filme ‘Hide and Seek’ mostra que os padrões de proteção de crianças e jovens na Igreja não têm sido obedecidos”, disse o arcebispo.

NOVO DOCUMENTÁRIO
TEVE GRANDE REPERCUSSÃO


“Devido às informações apresentadas no filme, peço à Santa Sé, através da nunciatura [a embaixada vaticana], que inicie os procedimentos ordenados pelo motu proprio do Papa Francisco, sobre o abandono da ação exigida pela lei”, continuou Polak.

“Todos os fiéis receberam os meios do novo motu proprio Vos Estis Lux Mundi para denunciar ambos os tipos de casos, o abuso sexual e o abuso de poder. O Santo Padre nos deu um sinal claro — denunciar é um ato de amor. É um ato de amor difícil, mas é necessário”, disse o padre Piotr Studnicki, chefe do Escritório de Proteção à Criança da Conferência dos Bispos da Polônia.

“É um caso evidente. O documentário prova a falta de reação. É dever do delegado de Proteção à Criança denunciar, e meras palavras não seriam suficientes nessas circunstâncias”, disse Studnicki. “Era preciso agir.”

O primaz polonês também usou o seu comunicado para condenar a reação fria e inadequada aos pais após a denúncia do caso. Polak também falou com Jakub Pajkowski por telefone no sábado à tarde.

Em um comunicado divulgado em nome de Janiak, a Diocese de Kalisz se defendeu, enumerando as ações que afirmou ter feito em resposta ao abuso. No entanto, não explicou por que o caso não foi relatado ao Vaticano até 2016, nem incluiu um pedido de desculpas às vítimas.

Polônia, campo de testes para a nova lei vaticano sobre abusos


Ao longo do ano passado, as autoridades da Igreja polonesa tomaram medidas para tentar mudar a mentalidade sobre os abusos sexuais no país. A Fundação de São José foi criada para ajudar as vítimas de abuso, financiada com doações de padres e bispos.

No entanto, o novo documentário mostra que isso não foi suficiente.

“A Igreja na Polônia teve uma chance de fazer isso por conta própria. Essa chance foi desperdiçada”, disse Tomasz Krzyżak ao Crux. Krzyżak escreve para o jornal polonês Rzeczpospolita e investiga abusos sexuais na Igreja há 20 anos.

“Hide and Seek” foi visto por mais de 2,5 milhões de pessoas em menos de 24 horas. Krzyżak disse que agora cabe ao Vaticano restaurar a fé na Igreja da Polônia.

“Se esse caso for depositado sobre alguma escrivaninha burocrática vaticana e ficar lá por meses, a última chance da Igreja polonesa terá sido jogada na lixeira”, disse Krzyżak. “Essa precisa ser uma prioridade para o Vaticano. Ponto final.”

Íntegra do filme em polonês e legendas em inglês.

Com tradução é de Moisés Sbardelotto para IHU Online.



Igreja Católica do Brasil tem menos pedófilos do que outras?

Padre diz que a Igreja ainda não entendeu a seriedade dos abusos sexuais

Um a cada dez padres do Brasil abusa de criança, diz relatório confidencial do Vaticano

Justiça da Argentina condena padres que abusaram de jovens surdos

Abuso em coral alemão desmente narrativa defendida por Bento 16




Comentários

Anônimo disse…
Olha isso que absurdo, grupo gospel usando o massacre de Suzano em clipe: https://www.acidadeon.com/campinas/cotidiano/cidades/NOT,0,0,1518123,grupo+lanca+videoclipe+baseado+no+massacre+de+suzano.aspx

Post mais lidos nos últimos 7 dias

Vicente e Soraya falam do peso que é ter o nome Abdelmassih

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Limpem a boca para falar do Drauzio Varella, cristãos hipócritas!

Varella presta serviço que nenhum médico cristão quer fazer LUÍS CARLOS BALREIRA / opinião Eu meto o pau na Rede Globo desde o começo da década de 1990, quando tinha uma página dominical inteira no "Diário do Amazonas", em Manaus/AM. Sempre me declarei radicalmente a favor da pena de morte para estupradores, assassinos, pedófilos, etc. A maioria dos formadores de opinião covardes da grande mídia não toca na pena de morte, não discutem, nada. Os entrevistados de Sikera Júnior e Augusto Nunes, o povo cristão da rua, também não perdoam o transexual que Drauzio, um ateu, abraçou . Então que tipo de país de maioria cristã, tão propalada por Bolsonaro, é este. Bolsonaro é paradoxal porque fala que Jesus perdoa qualquer crime, base haver arrependimento Drauzio Varella é um médico e é ateu e parece ser muito mais cristão do que aqueles dois hipócritas.  Drauzio passou a vida toda cuidando de monstros. Eu jamais faria isso, porque sou ateu e a favor da pena de mor...

Feliciano manda prender rapaz que o chamou de racista

Marcelo Pereira  foi colocado para fora pela polícia legislativa Na sessão de hoje da Comissão de Direitos Humanos e Minoria, o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP), na foto, mandou a polícia legislativa prender um manifestante por tê-lo chamado de racista sob a alegação de ter havido calúnia. Feliciano apontou o dedo para um rapaz: “Aquele senhor de barba, chama a segurança. Ele me chamou de racista. Racismo é crime. Ele vai sair preso daqui”. Marcelo Régis Pereira, o manifestante, protestou: “Isso [a detenção] é porque sou negro. Eu sou negro”. Depois que Pereira foi retirado da sala, Feliciano disse aos manifestantes: “Podem espernear, fui eleito com o voto do povo”. O deputado não conseguiu dar prosseguimento à sessão por causa dos apitos e das palavras de ordem cos manifestantes, como “Não, não me representa, não”; “Não respeita negros, não respeita homossexuais, não respeita mulheres, não vou te respeitar não”. Jovens evangélicos manifestaram apoio ao ...

Prefeito de São Paulo veta a lei que criou o Dia do Orgulho Heterossexual

Kassab inicialmente disse que lei não era homofóbica

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Deputado gay é ameaçado de morte no Twitter por supostos evangélicos

Resposta do deputado Jean Wyllys O militante gay e deputado Jean Wyllys (PSOL) recebeu hoje (18) pelo Twitter três ameaças de morte de supostos evangélicos. Diz uma delas: "É por ofender a bondade de Deus que você deve morrer". Outra: "Cuidado ao sair de casa, você pode não voltar". A terceira: “"A morte chega, você não tarda por esperar".  O deputado acredita que as ameaças tenham partido de fanáticos religiosos. “Esses religiosos homofóbicos, fundamentalistas, racistas e enganadores de pobres pensam que me assustam com ameaças de morte!”, escreveu ele no Twitter. Wyllys responsabilizou os pastores por essas “pessoas doentes” porque “eles as conduzem demonizando minorias”. Informou que vai acionar as autoridades para que os autores da ameaça seja penalizados. Escreveu: "Vou recorrer à Justiça toda vez que alguém disseminar o ódio racista, misógino e homofóbico no Twitter, mesmo que seja em nome de seu deus". Defensor da união civi...

Drauzio Varella afirma por que ateus despertam a ira de religiosos

Promotor nega ter se apaixonado por Suzane, mas foi suspenso

Gonçalves, hoje com 45 anos, e Suzane quando foi presa, 23 No dia 15 de janeiro de 2007, o promotor Eliseu José Berardo Gonçalves (foto), 45, em seu gabinete no Ministério Público em Ribeirão Preto e ao som de músicas românticas de João Gilberto, disse a Suzane Louise Freifrau von Richthofen (foto), 27, estar apaixonado por ela. Essa é a versão dela. Condenada a 38 anos de prisão pela morte de seus pais em outubro de 2002, a moça foi levada até lá para relatar supostas ameaças de detentas do presídio da cidade. Depois daquele encontro com o promotor, ela contou para uma juíza ter sido cortejadar.  Gonçalves, que é casado, negou com veemência: “Não me apaixonei por ela”. Aparentemente, Gonçalves não conseguiu convencer sequer o Ministério Público, porque foi suspenso 22 dias de suas atividades por “conduta inadequada” e por também por ter dispensado uma testemunha importante em outro caso. Ele não receberá o salário correspondente a esse período. O Fantástico de ontem apre...

Cinco deuses filhos de virgens morreram e ressuscitam. E nenhum deles é Jesus