Pular para o conteúdo principal

Sobrinho-neto gay do pastor Malafaia fala do preconceito que sofre de sua família

'Cheguei a parar de falar
 com Deus. Hoje entendo que
 Ele me ama do jeito que sou'

por Rodrigo Malafaia

Desde pequeno, eu sabia que Silas Malafaia era um parente distante. Minha família, evangélica tradicionalista, sempre falou dele com orgulho. Adorava ouvi-lo na televisão, gritando e pregando. 

Por carregarmos o sobrenome, tínhamos de ser um exemplo na congregação. Meu avô é primo do pai dele, e eu digo que o Silas é meu tio-avô distante, para encurtar a história. 

A qualquer lugar que ia, eu me apresentava como Malafaia, já que meu sobrenome do meio é alemão, Westermann, e ninguém sabia escrever ou pronunciar. Imediatamente, as pessoas me olhavam com exaltação. Achava legal, porque na minha cabeça o evangelismo era o certo, e tudo o que ia contra isso era errado. 

Conforme fui crescendo, porém, minha percepção mudou — e acredito que a visão das pessoas sobre meu parente famoso também. Hoje, elas me olham com repúdio quando digo meu sobrenome. Eu não costumo usar mais o Malafaia. É como uma sombra que paira sobre mim.

Minha família descobriu que eu era gay quando eu tinha 15 anos, depois que uma tia começou a notar que eu não ia às aulas de natação e mentia sobre meu destino. 

Ela me perseguia de táxi pelas ruas do Rio e flagrou-me dando um beijo inocente em um menino. Meus pais me colocaram no carro e ficaram horas rodando comigo e gritando coisas na minha cabeça: como eu estava errado e que havia algo ruim dentro de mim capaz de me fazer sentir atração por meninos. Só Deus poderia tirar aquela maldade do meu corpo e me salvar, eles garantiam. 

Eles pararam apenas quando fiz a promessa de que iria mudar. Eu me sentia dentro de uma prisão. 



Minha vida era de casa para a igreja, e vice-versa. Só podia sair para ir ao psicólogo, que também era da igreja que frequentávamos.

Passava os fins de semana em um acampamento para jovens evangélicos. As pessoas oravam por mim nos cultos. Pediam a Deus que tirasse as sensações e os desejos carnais errados que eu sentia. Mas os filhos deles também tinham os mesmos desejos quando íamos ao acampamento, e ninguém orava por eles. Eu era o erro em forma de pessoa, segundo minha família.

As coisas começaram a melhorar quando arrumei uma namorada falsa. Ficamos juntos por três anos — hoje, ela é lésbica e minha melhor amiga. 

Minha família nunca usou o termo “cura gay”. Isso não existia na época. 

Por dentro, eu sabia que não havia nada a ser consertado. Reconciliei-me com minha mãe, e viramos os melhores amigos do mundo, algum tempo antes de ela morrer, em 2017. Mas meu pai ainda acredita que, por ser gay, nunca serei liberto: irei para o inferno, como a Bíblia e a religião dele dizem. 

Cheguei a parar de falar com Deus. Eu me sentia um babaca falando com Ele. Era hipocrisia da minha parte, já que sou gay. Hoje, entendo que Deus me ama do jeito que sou.

Perdoo minha família, mas o problema é perdoar sem existir um pedido de desculpas. 

Meu pai não conhece meu noivo, que está comigo há mais de um ano. Vamos nos casar em março [2020], e ninguém da família estará presente. Meu irmão se recusou a ser padrinho.

Eu pensava em dar um basta nessa dor com o meu casamento. Queria abolir o sobrenome Malafaia e colocar o do meu marido no lugar. Mas cheguei à conclusão de que posso fazer a história desse nome mudar.

Fico indignado quando vejo que há um discurso de ódio explícito como o do Silas Malafaia em pleno século XXI.

É chocante ver uma pessoa que se diz pastor e se apresenta como a voz de Deus pregar com tanto ódio e agressividade contra os homossexuais. 

Mas o sobrenome Malafaia não precisa ser lembrado só como sinônimo de ódio — pode ser lembrado por alguém que deseja apenas viver em paz e harmonia. Acredito que o amor sempre vence.

Depoimento a Eduardo F. Filho, da Veja. O título original do texto é A luta de Rodrigo Malafaia para ser aceito como gay no clã de Silas. A foto é de redes sociais.



Em país sério, Malafaia já estaria na cadeia, diz pastor Caio Fábio

Malafaia atribui união gay ao modelo ateísta de sociedade

Malafaia diz que desenho da Disney com beijo gay é safadeza

Mesmo vendendo Bíblia a evangélicos empresa de Malafaia tem prejuízo




Comentários

Anônimo disse…
Silas Malafaia estragou seu próprio sobrenome, muita gente tirou o nome Malafaia por vergonha. O que o ódio faz com a pessoa, ele está cegado pelo ódio, é um dos falsos profetas que a Bíblia fala.
Unknown disse…
deus ama a todos sem distinção
Anônimo disse…
E daí?
Anônimo disse…
Só comento como anônimo por ninguém mostrou a cara. kkkk. Mas é o seguinte: O camarada aí é parente distante, nem deveria usar mesmo o nome do Pastor. Se quer queimar a rosca o problema é dele! O que tem a ver com o Malafaia... Nada! Deixem de palahacada e de se fazerem de vítimas.
Anônimo disse…
Rodrigo é tão Malafaia quanto o Silas.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Evangélicos lançam camiseta para ex-gay, ex-fornicador, etc.

Cada camiseta custa US$ 10 Quem disse que não existe ex-gay? O Passion for Christ Movement (Movimento da Paixão por Cristo), grupo evangélico com sede em Los Angeles, Califórnia (EUA), está vendendo pela internet camiseta não só para ex-homossexual como também para ex-fornicador, ex-masturbador, ex-prostituta, ex-ateu, ex-hipócrita etc. No site do movimento, há fotos de jovens que dão depoimento sobre como conseguiram escapar do mau caminho com a ajuda de Jesus. Não há informação sobre qual tem sido a camiseta a mais procurada. Há camiseta para todos tamanhos, desde a pequena  à extra-grande. Portanto, nenhum arrependido ficará sem o que vestir. Cada uma custa US$ 10 (um pouco mais de R$ 22, sem frete). O  endereço é http://p4cmtshirts.bigcartel.com/

Feliciano tenta se explicar, mas repete que África é amaldiçoada

Evangélicos adotam noivado sem sexo e beijo na boca

Rafael e Heloísa adotaram a castidade para conhecer o "verdadeiro amor" Rafael Almeida (foto), 22, estudante de engenharia civil, e Heloísa Lugato (foto), 24, formada em direito, estão apaixonados, namoram há mais de um ano e já marcaram a data do casamento, março de 2013. Até lá, eles não farão sexo e sequer darão beijo na boca, só vão se abraçar e pegar na mão. Eles adotaram noivado casto para conhecer o “verdadeiro amor”. São evangélicos da Cuiabá (MT), frequentam a Igreja Videira, do pastor Heitor Henrique Laranjo, 27, e fazem parte do movimento “Eu Escolhi Esperar”, que defende namoro sem relacionamento sexual. “Abdicamos do contato físico, do toque, para focar nosso relacionamento na amizade e em conhecer um ao outro”, disse Rafael. “Preferi me preservar.” Na expectativa dos jovens, a “pureza sexual” vai lhes garantir uma vida “emocionalmente saudável” e equilibrada. Heloísa afirmou que o seu noivado segue os princípios de santidade descritos na Bíbl...

1º Encontro Nacional de Ateus obtém adesão de 25 cidades

Lakatos: "Queremos mostrar a nossa cara " O 1º Encontro Nacional de Ateus será realizado no dia 12 de fevereiro com participantes de 25 cidades em 23 Estados (incluindo o Distrito Federal). A expectativa é de que ele reúna cerca de 5.000 pessoas. A mobilização para realizar o encontro – independentemente do resultado que possa ter – mostra que os ateus brasileiros, principalmente os mais jovens, começam a se articular em todo o país a partir da internet. A ideia da reunião surgiu no Facebook. Pelo IBGE, os ateus e agnósticos são 2% da população. O que representa 3,8 milhões de pessoas, se o censo de 2010, que apurou uma população de 190,7 milhões, mantiver esse índice. “Queremos mostrar a nossa cara”, disse Diego Lakatos (foto), 23, que é o vice-presidente da entidade organizadora do evento, a SR (Sociedade Racionalista). “Queremos mostrar que defendemos um Brasil laico, com direitos igualitários a todas as minorias, independentemente de crença ou da inexis...

Suposto ativista do Anonymous declara guerra a Malafaia

Grupo Anonymous critica o enriquecimento de pastores O braço brasileiro dos ativistas digitais Anonymous (ou alguém que está se passando por eles) declarou guerra ao Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e aos demais pastores que pregam "mentiras" e “a prosperidade usando a Bíblia” para enriquecimento próprio. “Vamos buscar a fé verdadeira e a religião”, promete uma voz feminina gerada por um soft, de acordo com um vídeo de 14,5 minutos. As imagens reproduzem cenas de programas antigos do pastor pedindo aos fiéis, por exemplo, contribuição no valor de um aluguel, inclusive dos desempregados. Em contraposição, o vídeo apresenta o depoimento de alguns pastores que criticam a “teologia da prosperidade”. Resgata uma gravação onde Malafaia chama de “palhaço” um pastor cearense que critica a exploração dos fiéis. Como quase sempre, é difícil confirmar a autenticidade de mensagem dos Anonymous. Neste vídeo, o curioso é que os ativistas estão preocup...

Professora usa Folha Universal para ‘formar senso crítico’

Suplemento do jornal só sobre a igreja A professora de redação Mara Regina Aparecida Trindade dos Santos, da Escola Estadual Gonçalves Dias, da zona norte de São Paulo, usa o semanário “Folha Universal”, da Igreja Universal, como material de leitura dos seus alunos da quinta série. “[O semanário] serve para formar senso críticos dos alunos”, disse a professora. De acordo com orientação do MEC, os professores têm liberdade para escolher publicações como material de apoio. Mas, nesse caso, a Folha Universal é a única publicação que os alunos leem em classe. A coordenadora pedagógica Márcia Coltre Cordeiro afirmou que "o foco é na leitura dos textos, e não no seu conteúdo", como se fosse possível separar uma coisa da outra. A Folha Universal tem um suplemento, a Folha IURD, só com informações sobre a igreja. Na edição da semana passada, por exemplo, o suplemento informou que o blog do bispo Edir Macedo tem impressionado os acadêmicos por ter 100 mil ace...

Icar queixa-se de que é tratada apenas como mais uma crença

Bispos do Sínodo para as Américas elaboraram um relatório onde acusam autoridades governamentais de países do continente americano de darem à Igreja Católica um tratamento como se ela fosse apenas mais uma crença entre tantas outras, desconsiderando o seu “papel histórico inegável”. Jesuíta convertendo índios do Brasil Os bispos das Américas discutiram essa questão ao final de outubro em Roma, onde elaboraram o relatório que agora foi divulgado pela imprensa. No relatório, eles apontam a “interferência estatal” como a responsável por minimizar a importância que teve a evangelização católica na formação da identidade das nações do continente. Eles afirmaram que há uma “estratégia” para considerar a Igreja Católica apenas pela sua “natureza espiritual”,  deixando de lado o aspecto histórico. O relatório, onde não há a nomeação de nenhum país, tratou também dos grupos de evangélicos pentecostais, que são um “desafio” por estarem se espalhando “através de um proselitism...

Caso Roger Abdelmassih

Violência contra a mulher Liminar concede transferência a Abelmassih para hospital penitenciário 23 de novembro de 2021  Justiça determina que o ex-médico Roger Abdelmassih retorne ao presídio 29 de julho de 2021 Justiça concede prisão domiciliar ao ex-médico condenado por 49 estupros   5 de maio de 2021 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico Abdelmassih 26 de fevereiro de 2021 Corte de Direitos Humanos vai julgar Brasil por omissão no caso de Abdelmassih 6 de janeiro de 2021 Detento ataca ex-médico Roger Abdelmassih em hospital penitenciário 21 de outubro de 2020 Tribunal determina que Abdelmassih volte a cumprir pena em prisão fechada 29 de agosto de 2020 Abdelmassih obtém prisão domicililar por causa do coronavírus 14 de abril de 2020 Vicente Abdelmassih entra na Justiça para penhorar bens de seu pai 20 de dezembro de 2019 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico estuprador 19 de novembro de 2019 Justiça cancela prisão domi...

Cinco deuses filhos de virgens morreram e ressuscitam. E nenhum deles é Jesus