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Jovens têm mais interesse por ciência que por esportes e religião, diz estudo

Maioria se informa sobre
 o assunto pela internet e
tem dificuldade em identificar
 uma fake news


por Herton Escobar
para Jornal da USP

Quase 70% dos jovens entrevistados para um estudo disseram ter interesse em ciência e tecnologia — mais do que em esportes (62%) e o mesmo que em religião (67%). O tema só ficou atrás de meio ambiente (com 80% de interessados) e medicina e saúde (74%), que também são temas fortemente ligados à ciência e tecnologia.

Cerca de 70% consideraram que a ciência traz “muitos benefícios” para a humanidade e 82% concordaram com a afirmação de que “a ciência e a tecnologia estão tornando nossas vidas mais confortáveis”.

A estudo foi feito no início de 2019 pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), com 2,2 mil entrevistas domiciliares, realizadas com jovens de 15 a 24 anos, em 21 Estados e no Distrito Federal. 

A pesquisa segue os moldes de um levantamento nacional sobre o tema, que vem sendo realizado periodicamente desde o início dos anos 2000, com resultados publicados em 2006, 2010 e 2015. Porém, com algumas especificidades e categorias adicionais.




Além de focar no público jovem, os pesquisadores incluíram perguntas sobre o problema das fake news e questões relacionadas a temas políticos, morais e religiosos — numa tentativa de entender como esses posicionamentos afetam a opinião dos jovens sobre ciência e tecnologia.

A maioria dos jovens brasileiros gosta de ciência e acha que o governo deveria investir mais no setor — inclusive em momentos de aperto econômico, como o atual. Mas poucos deles buscam ativamente informações sobre ciência e tecnologia; e apenas uma minoria sabe dizer o nome de alguma instituição de pesquisa nacional. 

A maioria se informa sobre o assunto pela internet, e confessa ter dificuldade para saber se uma notícia é verdadeira.

“É importante entender a percepção dos jovens, porque eles são nossos futuros cidadãos”, disse a coordenadora do INCT-CPCT e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Luisa Massarani. “É uma geração que já nasceu no contexto da internet.”

Com relação ao apoio do poder público, 94% disseram que o governo federal deveria aumentar, ou ao menos manter, os investimentos em ciência e tecnologia, mesmo “sabendo que os recursos são limitados e que gastar mais com alguma coisa significa ter que gastar menos com outras”. Além disso, 68% concordaram que “ os governantes devem seguir as orientações dos cientistas”.

Apesar disso, somente 26% disseram buscar informações sobre o tema com frequência; e apenas 12% souberam citar o nome de alguma instituição “que se dedique a fazer pesquisa científica no Brasil”. 

As três instituições mais lembradas foram a Universidade de São Paulo (USP), o Instituto Butantan e a Fiocruz. Só 5% souberam dizer o nome de algum cientista brasileiro. Os mais citados foram o astronauta Marcos Pontes (atual ministro da Ciência e Tecnologia), o inventor/aviador Santos Dumont e o médico sanitarista Oswaldo Cruz.




Pouco mais da metade (57%) dos entrevistados disse acreditar que “a ciência e a tecnologia vão ajudar a eliminar a pobreza e a fome no mundo”; 54% consideraram que os cientistas “estão exagerando sobre os efeitos das mudanças climáticas”; e 40% concordaram com a afirmação de que, “se a ciência não existisse, meu dia a dia não mudaria muito” — apesar de a ciência estar por trás de todos os produtos que utilizamos no nosso dia a dia, das roupas e alimentos aos remédios e aparelhos eletrônicos.

Os resultados são ao mesmo tempo “desalentadores e empolgantes”, segundo Yurij Castelfranchi, pesquisador do INCT-CPCT, diretor de divulgação científica e professor de Sociologia da Ciência na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Se por um lado os jovens demonstram ter uma visão muito positiva da ciência e dos serviços que ela presta para a sociedade, há um desconhecimento muito grande sobre conceitos básicos de ciência e sobre como a ciência e a tecnologia são produzidas no Brasil.

“Esperávamos que os jovens se saíssem melhor que os adultos nesse quesito, por estarem mais próximos das universidades; mas não”, afirma Castelfranchi. “Temos um trabalho urgente a fazer na melhoria da comunicação da ciência no Brasil. Não só há pouco conhecimento, como a desinformação é muito alta.”

O cruzamento dos diversos dados do estudo — incluindo informações sobre o perfil político, religioso e socioeconômico dos entrevistados — sugere que “ter a verdade ao alcance de um click” não é suficiente para moldar a opinião dos jovens sobre temas científicos, ressalta Castelfranchi.

“Boa parte da atitude das pessoas sobre ciência não tem a ver com o seu grau de conhecimento científico, mas com posicionamentos políticos e morais”, diz o pesquisador.

As opiniões sobre mudanças climáticas, por exemplo, são influenciadas por vieses políticos, enquanto as opiniões sobre evolução humana são fortemente moldadas por crenças religiosas. “O nível de conhecimento é importante, mas não é suficiente.”

É algo que precisa ser considerado na formulação de estratégias de comunicação da ciência sobre esses e outros temas polêmicos, como vacinas e alimentos geneticamente modificados, diz Castelfranchi. “A pessoa pode ter doutorado e ser contra transgênicos”, exemplifica ele — ainda que as evidências científicas respaldem amplamente a segurança desses alimentos.

Também fica claro no estudo que não há um “bloco único” de jovens anticiência no Brasil, mas uma pluralidade de opiniões e posicionamentos que são influenciados por fatores diversos na sociedade. 

“Não existe um grupo compacto que rejeita a ciência como um todo, mas pessoas que, em geral, reconhecem o valor da ciência e que rejeitam ou se distanciam de algumas áreas, aplicações ou evidências específicas”, afirma Castelfranchi.








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Comentários

Paul Muadib disse…
Citaram o Marcos Pontes como cientista porém ele não é.
Emerson Santos disse…
Normal o resultado ... só quando as pessoas são mais idosas ou vivem em condições mais miseráveis ou vem de famílias fundamentalistas .. que a religião se torna algo a ser buscado .. eh uma muleta que os mais jovens em seu pleno vigor ... não precisam ...
Rafael disse…
Ciencia e tecnologia para os jovens entrevistados: mexer no smartphone, usar o twitter etc.
Não se interessam por religião mas creem.
Balela.

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