Pular para o conteúdo principal

Saiba por que Darwin cita 17 vezes o alemão que se fixou em Santa Catarina

Fritz Müller se
 correspondeu com
 o autor da teoria
 da evolução


por Augusto Ittner
para NSC Total

Feche os olhos e volte no tempo. Vamos até meados de 1856 em Blumenau, uma colônia com pouco mais de 600 habitantes. Você está na Wurststrasse, a Rua da Linguiça, principal via da localidade. De repente passa um homem simples, descalço, louro, de cabelos anelados, longos, e que mal olha para o lado. Ele tem nas mãos calejadas um cajado e uma pequena bolsa quase colada ao corpo. Você olha para a primeira pessoa ao lado e pergunta: "Wer ist dieser Mann?" (quem é este homem?).

Ele é Fritz Müller, mais um entre os colonos alemães, mas com um talento adormecido pela enxada e pelos quatro anos sabáticos que teve com a família após a chegada ao Brasil: o de ser um cientista. E não qualquer cientista. Fritz viria a ser anos mais tarde um dos principais pesquisadores do Ocidente, ajudando a provar a Teoria da Evolução das Espécies – estudo do britânico Charles Darwin que mostrava as modificações que os seres vivos sofreram ao longo do tempo.

Filho de pastor protestante e neto de um químico, Fritz Müller estudou matemática e história natural em 1841, disciplina que depois ele lecionaria para adolescentes em Erfurt, região onde nasceu. É nesse período, à beira do Mar Báltico, que ele começa os estudos relacionados à biologia.

Já em 1845 inicia o curso de medicina, mas, quando iria receber o diploma e se tornar médico, recusa fazer o juramento. Agnóstico, Fritz não quis jurar que exerceria a profissão em nome de Deus, o que o levou a nunca atuar profissionalmente, embora fosse habilitado. Essa é a brecha para que Müller, então, focasse naquilo que realmente lhe importava: estudar a natureza e os seres vivos.

Demorou para que Fritz focasse nos estudos em solo brasileiro, mesmo com uma natureza que ele descreve como apaixonante.

Introspectivo, ele escolheu viver com a família “com o machado e a enxada, na mata virgem, sentindo-se esplendidamente bem”, como o próprio Müller descreve em carta ao irmão Hermann, em 1856. É só depois de criar rusgas com Dr. Blumenau, o fundador da colônia – por conta de ideologias distintas –, que o cientista desencadeia em si o dom da ciência.

E, para entender esse contexto é preciso voltar no tempo um pouco mais. Lá para a década de 1840, quando o jovem Fritz, natural de uma aldeia no interior da Alemanha, formou o pensamento. 

Com os ideais inspirados em pensadores como Kant, Hegel, Engels e Marx, ele se transformou em um cidadão inquieto com a política e contrário à monarquia alemã. Tanto é que, de acordo com o livro "Fritz Müller a genialidade venceu a floresta" e por conta do insucesso da Revolução de 1948, Müller decide deixar a terra natal para embarcar ao Brasil.

Encantado por um país de florestas densas e animais exóticos, ele embarca com a esposa Caroline e a filha Johanna para as terras tropicais, deixando a Alemanha de lado – ele nunca mais retornaria à Europa após a partida, em 1852. Esse lado político de Fritz e o receio da região de que ele pudesse disseminar as ideias, como por exemplo o ateísmo, é o que motiva a saída rumo a Desterro, hoje Florianópolis.

Quando deixa a colônia de Blumenau, em 1856, Fritz Müller vai dar aulas no Liceu Provincial, em Desterro, um colégio fundado pela Assembleia da Província. É lá na Capital, durante 11 anos analisando crustáceos e outros seres da vida marinha, que o naturalista desenvolve estudos que contribuem na Teoria da Evolução de Darwin. 

Empiricamente, entre uma aula e outra, a partir de 1857 – quando ganha um microscópio –, Fritz se aproveita da facilidade do acesso à vida nos mares para colher espécies que foram fundamentais nas observações.

Em 1861, Müller recebe uma carta do irmão com um exemplar do livro "A Origem das Espécies". Encantado com os estudos – que até então não eram completamente aceitos na comunidade científica –, o alemão decide contribuir com o então desconhecido Darwin para provar o evolucionismo. Fritz se aproveita das observações nos quatro anos anteriores na Praia de Fora, em Desterro, e escolhe a classe dos crustáceos. É com esse tema que em 1864 ele publica um pequeno livro chamado “Für Darwin” – Para Darwin, em português. Esse trabalho, explica Zilig, é uma das obras que ajuda a alavancar a teoria da evolução.

Segundo Edgard Roquette Pinto, no livro “O sábio Fritz Müller”, de 1929, a obra do naturalista alemão radicado em Santa Catarina “é um dos maiores monumentos científicos na América do Sul” e destaca ainda que Fritz não é reconhecido da mesma forma que outros cientistas por ter publicado descobertas em revistas, sem centralizar em uma grande obra, tanto que o Für Darwin foi o único livro lançado por Müller.

A publicação sobre os crustáceos, então, chega às mãos de Charles Darwin depois da metade da década de 1860. Ela agrada tanto ao cientista, que ele pede a tradução para o inglês. 

Daquele momento em diante, Müller e Darwin começam uma amizade que duraria 17 anos, mesmo sem os dois nunca se terem se encontrado pessoalmente. Como em uma rede social arcaica, os cientistas trocaram mais de 70 cartas. Por elas, compartilharam trabalhos, fatos curiosos e questionamentos em envelopes que levavam desde desenhos, até insetos e plantas das mais diferentes espécies.

Esse relacionamento à distância, desencadeado pelos estudos no local onde hoje fica a Beira-Mar Norte, em Florianópolis, fez com que Fritz Müller fosse citado 17 vezes na reedição da obra de Darwin – tornando o “catarinense” o único cientista brasileiro relevante na comprovação do evolucionismo. 

Não à toa, é carinhosamente chamado pelo britânico de “o príncipe dos observadores”, alcunha gravada em uma praça, ao lado de uma estátua em homenagem ao Fritz, às margens da Rua São Paulo, na região central de Blumenau.

Túmulo do estudioso "catarinense" 





Livro de Darwin abalou o mundo e desmoralizou o criacionismo

Darwin tomou conhecimento da diversidade da floresta no Brasil

Inteligência artificial usa teoria de Darwin para se desenvolver

Carta em que Darwin nega Bíblia é leiloada por US$ 197 mil



Receba por e-mail aviso de novo post

Comentários

Alex B disse…
Cadê nosso crentrelho de estimação para acusar a matéria e seu autor de intolerância religiosa, estimular o ódio aos cristãos, não ter evidências, blá blá blá blá...

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Ateu usa coador de macarrão como chapéu 'religioso' em foto oficial

Fundamentalismo de Feliciano é ‘opinião pessoal’, diz jornalista

Sheherazade não disse quais seriam as 'opiniões não pessoais' do deputado Rachel Sheherazade (foto), apresentadora do telejornal SBT Brasil, destacou na quarta-feira (20) que as afirmações de Marco Feliciano tidas como homofóbicas e racistas são apenas “opiniões pessoais”, o que pareceu ser, da parte da jornalista,  uma tentativa de atenuar o fundamentalismo cristão do pastor e deputado. Ficou subentendido, no comentário, que Feliciano tem também “opiniões não pessoais”, e seriam essas, e não aquelas, que valem quando o deputado preside a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Se assim for, Sheherazade deveria ter citado algumas das opiniões “não pessoais” do pastor-deputado, porque ninguém as conhece e seria interessante saber o que esse “outro” Feliciano pensa, por exemplo, do casamento gay. Em referência às críticas que Feliciano vem recebendo, ela disse que “não se pode confundir o pastor com o parlamentar”. A jornalista deveria mandar esse recado...

PMs de Cristo combatem violência com oração e jejum

Violência se agrava em SP, e os PMs evangélicos oram Houve um recrudescimento da violência na Grande São Paulo. Os homicídios cresceram e em menos de 24 horas, de anteontem para ontem, ocorreram pelo menos 20 assassinatos (incluindo o de policiais), o triplo da média diária de seis mortes por violência. Um grupo de PMs acredita que pode ajudar a combater a violência pedindo a intercessão divina. A Associação dos Policiais Militares Evangélicos do Estado de São Paulo, que é mais conhecida como PMs de Cristo, iniciou no dia 25 de outubro uma campanha de “52 dias de oração e jejum pela polícia e pela paz na cidade”, conforme diz o site da entidade. “Essa é a nossa nobre e divina missão. Vamos avante!” Um representante do comando da corporação participou do lançamento da campanha. Com o objetivo de dar assistência espiritual aos policiais, a associação PMs de Cristo foi fundada em 1992 sob a inspiração de Neemias, o personagem bíblico que teria sido o responsável por uma mobili...

Wyllys vai processar Feliciano por difamação em vídeo

Wyllys afirmou que pastor faz 'campanha nojenta' contra ele O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), na foto, vai dar entrada na Justiça a uma representação criminal contra o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) por causa de um vídeo com ataques aos defensores dos homossexuais.  O vídeo “Marco Feliciano Renuncia” de oito minutos (ver abaixo) foi postado na segunda-feira (18) por um assessor de Feliciano e rapidamente se espalhou pela rede social por dar a entender que o deputado tinha saído da presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Mas a “renúncia” do pastor, no caso, diz o vídeo em referência aos protestos contra o deputado, é à “privacidade” e às “noites de paz e sono tranquilo”, para cuidar dos direitos humanos. O vídeo termina com o pastor com cara de choro, colocando-se como vítima. Feliciano admitiu que o responsável pelo vídeo é um assessor seu, mas acrescentou que desconhecia o conteúdo. Wyllys afirmou que o vídeo faz parte de uma...

Embrião tem alma, dizem antiabortistas. Mas existe alma?

por Hélio Schwartsman para Folha  Se a alma existe, ela se instala  logo após a fecundação? Depois do festival de hipocrisia que foi a última campanha presidencial, com os principais candidatos se esforçando para posar de coroinhas, é quase um bálsamo ver uma autoridade pública assumindo claramente posição pró-aborto, como o fez a nova ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci. E, como ela própria defende que a questão seja debatida, dou hoje minha modesta contribuição. O argumento central dos antiabortistas é o de que a vida tem início na concepção e deve desde então ser protegida. Para essa posição tornar-se coerente, é necessário introduzir um dogma de fé: o homem é composto de corpo e alma. E a Igreja Católica inclina-se a afirmar que esta é instilada no novo ser no momento da concepção. Sem isso, a vida humana não seria diferente da de um animal e o instante da fusão dos gametas não teria nada de especial. O problema é que ninguém jamais demonstrou que ...

Defensores do Estado laico são ‘intolerantes’, diz apresentadora

Evangélico quebrou centro espírita para desafiar o diabo

"Peguei aquelas imagens e comei a quebrar" O evangélico Afonso Henrique Alves , 25, da Igreja Geração Jesus Cristo, postou vídeo [ver abaixo] no Youtube no qual diz que depredou um centro espírita em junho do ano passado para desafiar o diabo. “Eu peguei todas aquelas imagens e comecei a quebrar...” [foto acima] Na sexta (19), ele foi preso por intolerância religiosa e por apologia do ódio. “Ele é um criminoso que usa a internet para obter discípulos”, disse a delegada Helen Sardenberg, depois de prendê-lo ao término de um culto no Morro do Pinto, na Zona Portuária do Rio. Também foi preso o pastor Tupirani da Hora Lores, 43. Foi a primeira prisão no país por causa de intolerância religiosa, segundo a delegada. Como 'discípulo da verdade', Alves afirma no vídeo coisas como: centro espírito é lugar de invocação do diabo, todo pai de santo é homossexual, a imprensa e a polícia estão a serviço do demônio, na Rede Globo existe um monte de macumbeiros, etc. A...

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Apoio de âncora a Feliciano constrange jornalistas do SBT

Opiniões da jornalista são rejeitadas pelos seus colegas O apoio velado que a âncora Rachel Sheherazade (foto) manifestou ao pastor-deputado Marco Feliciano (PSC-SP)  deixou jornalistas e funcionários do "SBT Brasil" constrangidos. O clima na redação do telejornal é de “indignação”, segundo a Folha de S.Paulo. Na semana passada, Sheherazade minimizou a importância das afirmações tidas como homofóbicas e racistas de Feliciano, embora ele seja o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, dizendo tratar-se apenas de “opinião pessoal”. A Folha informou que os funcionários do telejornal estariam elaborando um abaixo assinado intitulado “Rachel não nos representa” para ser encaminhado à direção da emissora. Marcelo Parada, diretor de jornalismo do SBT, afirmou não saber nada sobre o abaixo assinado e acrescentou que os âncoras têm liberdade para manifestar sua opinião. Apesar da rejeição de seus colegas, Sheherazade se sente segura no cargo porque ela cont...