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Na agonia de diminuir as baixarias, estamos gerando meninos inseguros

Título original: O filósofo Charles Harper

por Luiz Felipe Pondé para a Folha

Adoro televisão! Curto muito o dr. House e sua visão trágica de mundo (aliviada estes dias porque ele está pegando a chefe, a dra. Cuddy, e sempre que pegamos alguém a tragédia da vida se dilui na doçura do sucesso sexual, não?).

Hierarquias de poder são grandes afrodisíacos, seja quando envolve mulheres acima (chefes), seja com mulheres abaixo (secretárias). O cinema explora isso há muito tempo com sucesso de bilheteria.

Calma, cara leitora. Não engasgue. Brinco. Aliás, brinco muitas vezes, mas nunca sabemos até onde vai a brincadeira no mundo, não é? Dúvidas são como neblina numa estrada. Escondem curvas e acidentes mortais ou nada além da própria monótona neblina.

Mas tenho um outro herói na TV: Charles Harper, da série "Two and a Half Men". Tenho um amigo que a deu de presente para seu jovem sobrinho. Acertou em cheio: essa série deveria fazer parte da formação de todo menino hoje em dia, porque vivemos em épocas sombrias. A propósito, deveríamos dar de presente neste Natal a coleção inteira de Monteiro Lobato só para deixar os fascistas da censura das raças bravos. Se vivessem na Alemanha nazista, esses fascistas fariam fogueiras com livros do Monteiro Lobato.

Na agonia de diminuir as baixarias do mundo, estamos mesmo é gerando meninos inseguros e confusos e ainda tem gente por aí que nega isso. Sei que escolas "ensinam" em sala de aula que as "mulheres são oprimidas" já na sétima série! Ouvindo isso, fico feliz que já tenho 51 anos e que pude crescer num mundo onde as mulheres não eram "esse bicho de sete cabeças" que viraram. Pena. Agora sofrem com carinhas medrosos e chorões... e fóbicos que não aguentam compromissos. Ainda bem que a velha seleção natural do Darwin impede que a maioria delas acredite nas baboseiras que falam por aí sobre meninas oprimidas na sétima série. Homens e mulheres se amam para além do "ódio de gênero".

Voltando ao filósofo Charlie. O duo dele e seu irmão Alan é ceticismo puro para com as modas do comportamento "correto". Um estudo do comportamento masculino que deixa muita ciência "das masculinidades" (que nome horroroso!) no chinelo. As "militâncias" transformaram muitas mulheres em zumbis emancipados e agora se preparam para fazer o mesmo com os coitados dos caras.

Alan é o típico homem inseguro, mentiroso, "loser", que se esconde no blá-blá-blá atual da "sensibilidade masculina". Mas sua muito para pegar alguém. Falido, "massagista" que queria ser médico, expulso de casa pela sua ex-mulher, Alan vai morar com seu irmão Charlie e leva seu filho, Jake (uma prova de que corremos risco de extinção por estupidez). Charlie é seu oposto: bem-sucedido financeiramente, ganha muita grana fazendo jingle publicitário (o suficiente para deixar as "freiras feias" da esquerda nervosas) e pega todas.

Claro que estamos no mundo dos tipos superficiais de comédias. A vida dos homens não é nem Alan nem Charlie. A sociedade do sucesso (material, sexual, afetivo) de hoje é um fracasso: tortura meninas para serem magras e meninos para darem dez sem tirar. A verdade é que a série brinca com os sucessos vazios dos dois irmãos e expõe a dura realidade: o sucesso na vida afetiva não existe.

Uma pérola para você: num dado momento, Alan reclama que seu irmão Charlie está ensinando bobagens para seu filho. Os dois conversavam sobre mulheres. Alan diz "uma relação é construída com sinceridade e respeito pelo outro" (mentira, ele é um dissimulado, como todo mundo que diz "respeitar o outro"), ao que seu irmão Charlie responde: "Nada disso, uma relação se constrói com diamante e Viagra". Voilà.

Moral da história: para além do blá-blá-blá da "sensibilidade masculina" e da idealização dos afetos (comum em épocas como a nossa, dominada pela sensibilidade infantil da classe média), a maioria das mulheres quer mesmo é homens com "poder" e seguros, que saibam dizer "não" para elas e "sustentar" um mundo onde elas se sintam amadas. A questão é: tem algum cara que queira pagar a conta? Amor é luxo.
Espero que você ganhe um diamante nesta semana.

> Homem morre de medo de ser fraco diante da mulher.
setembro de 2010

> Artigos de Luiz Felipe Pondé.

Comentários

Ricardo disse…
Desta vez tenho que concordar com Pondé. Os dois personagens, House e Harper, são tragicamente engraçadíssimos. Também adoro as duas séries americanas. E aqui fica um pergunta: porquê será que as telenovelas brasileiras (tidas como as melhores do mundo, sabe Deus porquê)não conseguem chegar nem perto dos perfis psicológicos traçados nas séries norte-americanas? Mesmo as mais rasas, o que não é o caso.
Ainda mais quando contrapostas com séries ditas "adultas" e "bem resolvidas" no tratamento das relações humanas, tais como Mad Men e The Good Wife. Nunca assisti a tais séries, mas, pelo teor da crítica (e fracasso de público) devo imaginar que sejam chatíssimas.
Afinal, quem quer ver observar o cotidiado de seres humanos lutando para "vencer" nesta chatice absurda a que chamamos atualmente de "mundo adulto"???
O mundo está cheio de exemplo de pessoas superbemssucedidas no mundo adulto, que não tiveram que fazer concessões à chatice, vide os Tarantinos e Coens Brothers da vida.
O que nos leva a uma questão perturbadora: afinal, o que significa ser adulto no mundo de hoje?
Anônimo disse…
Ah, eu também espero ganhar um diamante essa semana, eles duram para sempre e são a melhor
coisa que um homem pode ofertar a uma mulher!
Anônimo disse…
Só corrigindo: Mad Men é um sucesso absoluto.
Ricardo disse…
Anônimo,

Eu li uma matéria na FSP sobre a nova temporada de Mad Men onde diziam que a série não tinha lá muita audiência, mas é sucesso absoluto de crítica.
Ricardo disse…
É só um palpite, mas se não tomarmos cuidado iremos sucumbir a uma sociedade matriarcal, nos moldes primitivos, ou seja, total dominação dos desejos masculinos pelos femininos.
O que siginifica, a este ponto em que chegamos, uma total tragédia. Mulheres fortes (mas não tanto) e homens enfraquecidos (onde eles poderiam se sobressair melhor).
O que nos leva à desgraçada questão crucial de nossa época: AFINAL, O QUE QUEREM AS MULHERES???
Pensem nisto, feministas de plantão (se é que ainda existam).
Anônimo disse…
uau esse brilhante texto me fez mudar a visao de relacionamento entre homens e mulheres! vou deixar de ser feminista
Anônimo disse…
A tese é antiga. Diante da tragédia, o coro tinha uma função especial: diluir os resquícios da catarse, até o público retornar ao chão real. Este "filósofo" uspiano, padece da síndrome do fuso-horário cada vez que desce do seu alçar vôo, ressente-se amargo e enjoado com a ressaca do que vê (pois como pode ver-se no que não vê?); compreensível, em se tratando de um feio narcisista... Como um espécime emblemático que é, da intelectualidade dissociada, da verdadeira condição sine qua non elitista, que é a riqueza; faz a constante elegia da classe à qual sonha pertencer, pela ilustração; porém de que jamais poderá incluir-se, devido à deficiência patrimonial. A função trágica da obra de arte americana, é justamente esta, promover o novo evangelho e o baqueado coro do catecismo, da escola econômica de Chicago. Seja firme, fortaleça-se, saia da depressão, vá produzir, batalhar, ganhar dinheiro, o mundo é de quem tem grana, etc.etc. Não tem diferença da letra de música de um forró nordestino. Todos fazem a apologia da guerra dos sexos, segundo a lógica falida do consumismo ditatorial. Há milhões de pessoas que amam sem essa tortura, de procurar razões ou justificativas econômicas e racionalizadoras, de neuroses sociais. Há pobres não complexados, intelectuais comprometidos, com pequenas resistências que têm produzido impactos bem mais revolucionários, que o criticismo decadente dos pseudofilósofos...Há obras de arte maravilhosas, literatura de boa qualidade, tanta coisa pra distrair e formar gerações. Claro que a mída americana pós-evangélica, e a daqui, confessional, não têm interesse algum de propagar. Quanto às mulheres, bem, como ninguém nasce mulher, mas tornamo-nos, e posso dizer que em ambas as alternativas, critico a posição dualista, que pretende reduzir ao machismo-feminismo a questão; prefiro alargar os horizontes e a perspectiva: sabemos o que queremos. Os homens é que ficam perdidos tentando responder essa pergunta, porque o sujeito da prédica devia ser outro: o que querem afinal os homens? Diz o uspiano que agradar às mulheres...Mas dessa forma? Com diamantes e viagra? (Risos). Ainda bem que partem todas estas suas invectivas da própria neurose, não da discursividade intelectual séria. Senão estaríamos todas fritas, como as personagens dos seriados que assiste.
Gabriel Desloz disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Gabriel Desloz disse…
Eu admiro a capacidade de algumas pessoas, como a lukretia de escrever muito, e não informar nada.
Anônimo disse…
Eu traduzo pra você, em bom português:
A tese é antiga: de que a fortuna e a felicidade andam juntas, ou de que são pela fatalidade drasticamente separadas.
Trata-se da tragédia grega, que tinha a função de catarse. Soletra, vai: ca-tar-se. É um fluxo pulmonar que a gente solta quando gripa, às vezes pode ser bronquite, ou pneumonia.
O coro tinha essa função: orientar o público até que este fosse ruminando as conclusões morais das encenações, das performances dos atores.
Escola de Chicago: é um colégio e fica na cidade norte americana de Chicago.
Catecismo: é a lenga-lenga, o decoreba.
Nada a ver com empreendedorismo, que você não entendeu, entendeu?
Ninguém nasce mulher, torna-se. A frase é de Simone, uma cantora nascida em Beauvoir, na Bélgica.
O trocadilho, soletra, vai , tro-ca-di-lho, é que os homens , segundo o filósofo, tentam agradar não às mulheres, mas a si mesmos.
A verdadeira condição, outrora no latim sine qua non, da felicidade pressuposta, no texto, portanto, é a riqueza.
O autor do texto é pobre. É portanto excluído da felicidade. Como você. Talvez possa comprar Viagra, mas diamante?
Em outras palavras: ela te chamou de pobre. É isso.
Anônimo disse…
Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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