Pular para o conteúdo principal

Cardeal de Milão diz temer o 'ateísmo anônimo' de 'cristãos'

por Paolo Foschini
do Corriere della Sera

Dom Scola disse que viver como se Deus
não existisse é uma forma de ateísmo
"Ateísmo anônimo" é a fórmula com a qual se indica o fato desta vez. Mas continua se tratando sempre da mesma coisa, isto é, concretamente, do fato de "viver como se Deus não existisse". E é nisso que o cardeal Angelo Scola continua indicando, praticamente desde a sua posse arquiepiscopal, em Milão, há dois anos, uma das armadilhas mais perversas do mundo ocidental contemporâneo: do qual a realidade ambrosiana – destacou ele nessa segunda-feira – não é exceção.

.Para entender como o problema lhe é caro, basta lembrar o título do livro – Non dimentichiamoci di Dio [Não nos esqueçamos de Deus], Ed. Rizzoli – inteiramente dedicado por ele ao assunto em abril passado. Ele voltou a falar a respeito nessa segunda-feira, apresentando, na Catedral de Milão, a carta que, com outro título significativo, "O campo é o mundo", prospecta aos fiéis da sua diocese os "caminhos a percorrer" em vista do novo ano pastoral.

É um texto longo e fala quase por referências sobre muitas coisas, crise, fome, trabalho, Expo Milano, Europa, raízes cristãs. E repete que, nesse sentido, Milão continua sendo um ponto de referência: "A Igreja ambrosiana ainda pode contar – insiste Scola no fim da missa – com uma realidade popular viva, ainda há um bom número de pessoas que participaram da missa dominical e que dão uma mão verdadeira à edificação de uma vida cristã..." . Mas...

"Mas o cristianismo está se tornando culturalmente uma minoria também na nossa diocese – prossegue o cardeal –, e é aqui que se insinua essa atitude que eu chamei de ateísmo anônimo". Em suma, "o homem cresce harmoniosamente – conclui Scola – quando tem uma relação equilibrada consigo mesmo, com Deus e com os outros": o problema é que, "acima de tudo às gerações dos 25 aos 50 anos, Deus parece não interessar mais".

Falar de "ateísmo" nesses termos "não tem nenhum sentido", segundo o filósofo Massimo Cacciari, ex-reitor da Università Vita-Salute San Raffaele: "Deus não é um objeto de demonstração nem de saber, e eu não me vejo absolutamente no uso da palavra".

O problema, no entanto, existe, na sua opinião, e é "o velho discurso da vida ou das vidas que não sentem a necessidade de se confrontar com as coisas últimas, de uma sociedade que não se faz mais perguntas sobre o sentido profundo da existência: e isso, sim, é um problema. Mas diz respeito a todos, crentes ou não".

Para o escritor católico Luca Doninelli, "não é uma questão só de hoje, penso no rico do Evangelho que respeitava os mandamentos, mas 'não era feliz'... Mas eu não acredito que a questão do sentido por parte das pessoas tenha se apagado. É que é preciso insistir e propor respostas mais profundas".

Por outro lado, há Giulio Giorello, filósofo da ciência que sobre o bom uso do ateísmo centrou todo um livro [Senza Dio. Del buon uso dell'ateismo, Ed. Longanesi]: "Eu acho que uma sociedade madura – diz – pode viver muito bem sem Deus. O verdadeiro risco atual é o contrário, a meu ver, isto é, os fundamentalismos. De todos os tipos: ideológicos, religiosos e até ateístas. Eu diria que, ao contrário, ainda há pouca laicidade verdadeira e serena: é possível que, para encher as praças de pessoas contrárias à guerra, houvesse a necessidade do apelo de Bergoglio?".

Desconforto igual e contrário ao do outro filósofo Giovanni Reale: "Infelizmente, eu vejo a indiferença desenfreada entre os meus alunos. 'Pseudoproblemas com os quais não queria encher a cabeça', me disse um deles. A teorização da indiferença: o último estágio".

Para o rabino Giuseppe Laras, histórico ponto de referência da comunidade judaica milanesa e italiana, também "na tradição bíblica o fazer e o ser estão inextricavelmente interligados" e "pensar que se pode prescindir da dimensão vertical, desprezando-a ou ignorando-a é a premissa para enfraquecer o impulso ético, o bem-agir". E conclui: "O problema existe em muitos níveis. Se o esforço de ir além do contingente fosse mais difundido e compartilhado, o mundo seria melhor do que é".

Com tradução de Moisés Sbardelotto para IHU On-line.





Italianos pedem retirada de seus nomes do registro de batismo
setembro de 2013

Ateísmo

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Vicente e Soraya falam do peso que é ter o nome Abdelmassih

Chico Buarque: 'Sou ateu, faz parte do meu tipo sanguíneo'

Escritor ateu relata em livro viagem que fez com o papa Francisco, 'o louco de Deus'

Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano

Ateísmo faz parte há milênios de tradições asiáticas

Cinco deuses filhos de virgens morreram e ressuscitam. E nenhum deles é Jesus

Mulheres tendem a ser mais religiosas que os homens, mas nos EUA geração Z pode mudar isso

Documentário relata abusos sexuais do autor dos mosaicos do Santuário de Aparecida

Caso Roger Abdelmassih

Violência contra a mulher Liminar concede transferência a Abelmassih para hospital penitenciário 23 de novembro de 2021  Justiça determina que o ex-médico Roger Abdelmassih retorne ao presídio 29 de julho de 2021 Justiça concede prisão domiciliar ao ex-médico condenado por 49 estupros   5 de maio de 2021 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico Abdelmassih 26 de fevereiro de 2021 Corte de Direitos Humanos vai julgar Brasil por omissão no caso de Abdelmassih 6 de janeiro de 2021 Detento ataca ex-médico Roger Abdelmassih em hospital penitenciário 21 de outubro de 2020 Tribunal determina que Abdelmassih volte a cumprir pena em prisão fechada 29 de agosto de 2020 Abdelmassih obtém prisão domicililar por causa do coronavírus 14 de abril de 2020 Vicente Abdelmassih entra na Justiça para penhorar bens de seu pai 20 de dezembro de 2019 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico estuprador 19 de novembro de 2019 Justiça cancela prisão domi...