Um trabalho de convencimento deve combinar evidências com empatia e narrativa, para criar mensagens que falem tanto à mente quanto ao coração
Como Jonathan Swift escreveu certa vez,
Essa citação também ilustra bem o problema que descreve, pois é frequentemente citada incorretamente e atribuída a outros autores. Mas, sem dúvida, uma citação mal atribuída tem pouca importância em comparação com a desinformação que leva as pessoas a temerem e rejeitarem coisas mais essenciais para a saúde humana, como intervenções médicas eficazes. Então, o que podemos fazer a respeito?
Durante décadas, a comunicação científica inicial baseou-se numa estratégia simples: apresentar as evidências e esperar que as pessoas mudassem de opinião apenas com base em números e gráficos.
Zion Lights
comunicadora de ciência
Skeptic, razão com compaixão
Skeptic, razão com compaixão
site britânico de análise cética sobre pseudociência, teorias da conspiração e alegações paranormais p
Em 2020, em meio à torrente de desinformação sobre a pandemia, um tweet afirmava que uma vacina contra a Covid-19 implantaria microchips de rastreamento nas pessoas. Em poucas horas, a publicação foi compartilhada milhares de vezes, espalhando o medo mais rápido do que qualquer explicação científica poderia refutá-lo. As autoridades de saúde se apressaram em divulgar informações corretas, mas a mentira viral já havia se alastrado.
O episódio ilustrou uma verdade assustadora: embora a desinformação não seja novidade, na era das redes sociais ela pode se espalhar mais rapidamente do que conseguimos combatê-la.
Como Jonathan Swift escreveu certa vez,
A mentira voa, e a verdade vem mancando atrás dela; de modo que, quando os homens se dão conta do engano, é tarde demais; a brincadeira acabou e a história surtiu efeito.
Essa citação também ilustra bem o problema que descreve, pois é frequentemente citada incorretamente e atribuída a outros autores. Mas, sem dúvida, uma citação mal atribuída tem pouca importância em comparação com a desinformação que leva as pessoas a temerem e rejeitarem coisas mais essenciais para a saúde humana, como intervenções médicas eficazes. Então, o que podemos fazer a respeito?
Durante décadas, a comunicação científica inicial baseou-se numa estratégia simples: apresentar as evidências e esperar que as pessoas mudassem de opinião apenas com base em números e gráficos.
Nos estudos de comunicação científica, isso é conhecido como Modelo do Déficit, e já foi completamente refutado. A experiência e a pesquisa têm demonstrado, nos últimos anos, que essa abordagem raramente funciona. Isso ocorre porque as pessoas se apegam a crenças por estarem ligadas à identidade, à ideologia e à comunidade, e não por não compreenderem argumentos baseados em fatos.
Para persuadir as pessoas de forma eficaz, os cientistas precisam ir além da tentativa de convencê-las apenas com base em dados. Eles precisam combinar evidências com empatia e narrativa, para criar mensagens que falem tanto à mente quanto ao coração.
Se parece desafiador, é útil entender por que funciona. O primeiro ponto a compreender é que os vieses cognitivos tornam as crenças falsas persistentes. Os seres humanos tendem a favorecer informações que confirmam o que já pensam — uma tendência que os psicólogos chamam de viés de confirmação.
Para persuadir as pessoas de forma eficaz, os cientistas precisam ir além da tentativa de convencê-las apenas com base em dados. Eles precisam combinar evidências com empatia e narrativa, para criar mensagens que falem tanto à mente quanto ao coração.
Se parece desafiador, é útil entender por que funciona. O primeiro ponto a compreender é que os vieses cognitivos tornam as crenças falsas persistentes. Os seres humanos tendem a favorecer informações que confirmam o que já pensam — uma tendência que os psicólogos chamam de viés de confirmação.
Quanto mais carregada de emoção for uma afirmação falsa e quanto mais ela se encaixar no sistema de crenças existente de alguém, mais difícil será refutá-la. Nesse caso, tentar corrigir uma crença apenas com fatos pode até ser contraproducente, potencialmente reforçando-a na mente da outra pessoa, o que é conhecido como Efeito Reverso (embora as evidências mais recentes sugiram que esses temores possam ser exagerados).
Esse fenômeno ajuda a explicar por que a desinformação sobre vacinas persiste apesar de décadas de campanhas de saúde pública compartilhando dados sobre vacinas.
A desinformação persiste não apenas por razões psicológicas, mas também porque se propaga como uma narrativa. Os fatos são inertes, enquanto as histórias são memoráveis e pessoais.
A desinformação persiste não apenas por razões psicológicas, mas também porque se propaga como uma narrativa. Os fatos são inertes, enquanto as histórias são memoráveis e pessoais.
Muitas vezes, o valor discrepante em um conjunto de dados conta a história mais convincente; por exemplo, uma anedota dramática sobre um efeito colateral de uma vacina ou um único evento climático extremo têm mais peso do que tabelas de dados que representam uma verdade diferente.
Somos uma espécie que conta histórias: o cérebro humano evoluiu para responder a narrativas, para memorizar lições e padrões inseridos no contexto social. Quando os cientistas ignoram isso, as evidências têm dificuldade em competir com os contadores de histórias que podem não ter as melhores intenções.
No entanto, entender por que as pessoas acreditam em afirmações falsas é apenas metade da batalha. Os comunicadores também precisam de estratégias para que as correções sejam assimiladas, e é aí que a pesquisa em ciência cognitiva e psicologia oferece insights.
Primeiro, temos o princípio da cognição protetora da identidade: as pessoas rejeitam informações que ameaçam sua identidade social, política ou cultural.
No entanto, entender por que as pessoas acreditam em afirmações falsas é apenas metade da batalha. Os comunicadores também precisam de estratégias para que as correções sejam assimiladas, e é aí que a pesquisa em ciência cognitiva e psicologia oferece insights.
Primeiro, temos o princípio da cognição protetora da identidade: as pessoas rejeitam informações que ameaçam sua identidade social, política ou cultural.
Uma correção apresentada como um desafio direto à visão de mundo de alguém quase certamente não a convencerá. Isso significa que, ao contestar um ponto de vista, é essencial considerar e dialogar com o sistema de crenças da pessoa, encontrando-a onde ela está, em vez de exigir que ela se afaste dos grupos e valores que moldam seu senso de identidade.
Há também o papel da empatia, uma ferramenta surpreendentemente poderosa — e frequentemente subutilizada. Comunicadores científicos que reconhecem as preocupações em vez de as descartarem criam espaço para o diálogo.
Há também o papel da empatia, uma ferramenta surpreendentemente poderosa — e frequentemente subutilizada. Comunicadores científicos que reconhecem as preocupações em vez de as descartarem criam espaço para o diálogo.
Estudos mostram que as pessoas são mais receptivas a correções baseadas em valores compartilhados do que a mensagens confrontadoras. Por exemplo, um cético climático pode resistir a gráficos de emissões de carbono, que representam estatísticas abstratas, mas é mais propenso a se envolver com uma história sobre como ondas de calor extremas estão afetando uma comunidade local.
A experiência humana ancora a narrativa em uma história emocional e permite uma reformulação dos dados. Da mesma forma, campanhas de saúde pública que apresentam a vacinação como uma forma de proteger entes queridos ou a comunidade em geral exploram respostas emocionais, reduzindo a resistência.
Outro elemento importante é a confiança no comunicador. Isso se refere à confiança que o público deposita na pessoa ou fonte que transmite a mensagem. É a crença de que o comunicador é honesto, conhecedor do assunto e tem boas intenções.
Outro elemento importante é a confiança no comunicador. Isso se refere à confiança que o público deposita na pessoa ou fonte que transmite a mensagem. É a crença de que o comunicador é honesto, conhecedor do assunto e tem boas intenções.
Quando as pessoas confiam em um comunicador, elas são mais propensas a aceitar, compreender e agir de acordo com as informações que essa pessoa compartilha — mesmo que sejam cientificamente falsas.
A confiança no comunicador geralmente é construída por meio da credibilidade, autenticidade e consistência ao longo do tempo, e costuma estar associada aos contadores de histórias mais eficazes.
Pode ser intimidante começar do zero na construção de confiança no mundo digital, mas a boa notícia é que alguns grupos já gozam de maior confiança do que outros, e podem usar isso a seu favor para desmentir informações falsas com mais sucesso. Por exemplo, os médicos geralmente inspiram muita confiança devido à sua especialização e às boas intenções que lhes são atribuídas.
Você pode se perguntar: se a confiança nos médicos é tão alta, por que as pessoas rejeitam as vacinas? E essa é uma ótima pergunta.
Pode ser intimidante começar do zero na construção de confiança no mundo digital, mas a boa notícia é que alguns grupos já gozam de maior confiança do que outros, e podem usar isso a seu favor para desmentir informações falsas com mais sucesso. Por exemplo, os médicos geralmente inspiram muita confiança devido à sua especialização e às boas intenções que lhes são atribuídas.
Você pode se perguntar: se a confiança nos médicos é tão alta, por que as pessoas rejeitam as vacinas? E essa é uma ótima pergunta.
Quase sempre, nesses casos, a confiança entre médico e paciente foi abalada por alguma experiência negativa. Mas há boas notícias: estudos mostram que, mesmo perdida, a confiança nos médicos pode ser recuperada por meio da transparência, da empatia e da demonstração de competência.
Ser honesto sobre as incertezas, ouvir atentamente os pacientes, demonstrar preocupação com o bem-estar deles e fornecer consistentemente orientações médicas confiáveis são ações que ajudam a reconstruir a confiança ao longo do tempo.
Este é um elemento subutilizado da comunicação científica que pode gerar resultados significativos — estudos descobriram que pais hesitantes em relação à vacinação muitas vezes mudam de ideia após serem convidados a conversar individualmente com um médico qualificado, quando seus medos são ouvidos e abordados com respeito.
Mesmo nas populações mais resistentes, a escolha do mensageiro é crucial. Pesquisas mostram que pares, líderes comunitários ou indivíduos com características de identidade compartilhadas podem influenciar crenças com muito mais eficácia do que especialistas distantes.
Mesmo nas populações mais resistentes, a escolha do mensageiro é crucial. Pesquisas mostram que pares, líderes comunitários ou indivíduos com características de identidade compartilhadas podem influenciar crenças com muito mais eficácia do que especialistas distantes.
Da mesma forma, vozes com as quais o público se identifica, contando histórias sobre os impactos das mudanças climáticas, podem persuadir audiências que os dados, por si só, não conseguem alcançar.
Pode parecer contraintuitivo que as pessoas sejam mais propensas a confiar em um único indivíduo do que em um amplo consenso científico, mas isso reflete a forma como o cérebro humano funciona: respondemos com mais intensidade a histórias pessoais e mensageiros com os quais nos identificamos do que a dados abstratos, por mais robustos que sejam.
As implicações dessas descobertas são significativas. Para serem eficazes, os comunicadores científicos precisam aprender a elaborar mensagens que engajem a empatia por meio da narrativa, reconhecendo que a persuasão é tanto uma arte quanto uma ciência.
As implicações dessas descobertas são significativas. Para serem eficazes, os comunicadores científicos precisam aprender a elaborar mensagens que engajem a empatia por meio da narrativa, reconhecendo que a persuasão é tanto uma arte quanto uma ciência.
Mudar mentalidades não é fácil, mas é possível. Evidências mostram que a comunicação respeitosa e baseada em narrativas pode reduzir a influência da desinformação e encorajar as pessoas a repensarem crenças profundamente arraigadas.
O objetivo não é envergonhar ou dar sermões, mas sim conectar-se com as pessoas e guiá-las rumo à compreensão sem gerar resistência defensiva.
Em um mundo saturado de desinformação, a capacidade de comunicar ciência de forma eficaz é tão crucial quanto a própria ciência.
Em última análise, combater a desinformação exige humildade e persistência, mas também é necessário construir confiança, fortalecer o entendimento e criar uma base para a tomada de decisões informadas na sociedade.
Em última análise, combater a desinformação exige humildade e persistência, mas também é necessário construir confiança, fortalecer o entendimento e criar uma base para a tomada de decisões informadas na sociedade.
Se quisermos que a verdade acompanhe as notícias falsas, precisamos aprender a acolher as pessoas onde elas estão, comunicar com empatia e nos comprometer com o longo e paciente trabalho de reconstruir a confiança em informações confiáveis. Só então as evidências poderão ocupar uma posição central no discurso público, orientando as decisões em vez de serem abafadas por alegações convincentes, porém enganosas.
> Esse texto foi publicado originalmente com o título: Por que as pessoas ignoram as evidências e o que realmente muda as opiniões?

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