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Negros americanos abandonam cada vez mais a religião, na proporção de 1 a cada 5

O percentual dos negros sem religião tem crescido mais entre as gerações mais jovens

Levantamento do Pew Research Center de 2020 mostra que 1 em cada 5 adultos negros americanos (21%) declara não possuir filiação religiosa — ou seja, identifica-se como ateu, agnóstico ou “sem religião específica”. 

Esse número era de 12% em 2009, indicando uma mudança significativa ao longo de pouco mais de uma década. 

Essa evolução representa um reexame sobre identidade, comunidade e papel da religião na comunidade negra americana. 

A desfiliação religiosa cresce em todos os grupos raciais, mas o avanço entre negros tem mais relevância devido à influência histórica da fé. 

Historicamente, para os afro-americanos, a fé cristã funcionou como mecanismo social: durante a escravidão, a religião forneceu esperança e fortalecia vínculos comunitários; no movimento por direitos civis, a igreja foi palco de ativismo e educação. 

Abandonar
ou deixar de
professar uma
religião está
ligado não
apenas a
crenças
individuais,
mas a um
deslocamento
cultural e
identitário,
e a igreja negra
funcionou como
pilar social

Entre os jovens gerações negras as taxas de desfiliação religiosa são maiores. Por exemplo: cerca de 28% dos jovens da “Geração Z” negros se identificam sem filiação religiosa; entre os Millennials esse índice chega a 33%; entre os Baby Boomers, 11%. 

A mudança não significa ausência de crença em algo maior. Mesmo entre negros não afiliados, a maioria afirma acreditar em Deus ou em algum poder superior. 

Na comunidade negra, organizações seculares e de ateus têm buscado criar espaços que tratem de questões que as igrejas tradicionais tendem a abordar menos ou de forma distinta — como gênero, orientação sexual, identidades negras diversas, racismo institucional e justiça social.

Por exemplo, Sikivu Hutchinson, fundadora do grupo Black Skeptics Los Angeles, critica elementos de “doutrinação religiosa” em instituições que historicamente servem à comunidade negra, e destaca que mulheres negras podem ter enfrentado experiências traumáticas nesses contextos.

Outro exemplo: Candace Gorham, presidente da American Humanist Association, observa que organizações ateístas majoritariamente brancas não costumam dar foco a temas centrais para negros — encarceramento, pobreza, racismo — e que grupos predominantemente negros conseguem tratar desses temas com mais profundidade.

O avanço da desfiliação entre negros sugere uma mudança de paradigma: o que significa ser negro, como se define comunidade, e qual o papel da religião nessa identidade.

Para analistas, esse fenômeno ajuda a entender que a desfiliação religiosa entre negros não é apenas uma questão de crença, mas parte de uma transformação social e cultural mais ampla.

> Com informação de Pew Research Center e The Guardian.

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