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Secularistas e ateus clamam por um reavivamento cristão. Saiba por que eles estão errados

Ateus e céticos que defendem um retorno ao cristianismo ignoram causas materiais da insegurança e atribuem à religião virtudes que nasceram do secularismo liberal


Nos últimos anos, ateus e céticos têm defendido um reavivamento do cristianismo como antídoto às crises sociais. Não creem em Deus, mas consideram que a fé oferece estabilidade moral. Para a comentarista britânica Helen Pluckrose, essa posição resulta de angústia existencial, revisionismo histórico e má compreensão da natureza humana.

Instabilidade e a onda de entusiasmo pela religião

Sociedades prósperas tendem a se afastar da religião. Mas quando a sensação de segurança é abalada, buscam refúgio em valores tradicionais. A atual onda de entusiasmo pela religião reflete medo e incerteza diante da polarização política, da crise econômica e da desconfiança nas instituições. O resultado é aumento da ansiedade e do ressentimento.

O mito do cristianismo benigno

Alguns ateus passaram a tratar o cristianismo como barreira contra ideologias tidas como piores, como o islamismo e o wokeness.

Outros dizem que a fé sustentou valores como ciência, liberdade e democracia. Pluckrose afirma que esses avanços surgiram quando a Igreja perdeu poder, e não por causa dele.

A falha da hipótese do “buraco em forma de Deus”

A ideia de que o declínio religioso criou um vazio ocupado por ideologias seculares é frágil. Os EUA, país mais religioso do Ocidente, foram o berço do movimento woke. Já nações amplamente seculares, como Holanda e República Tcheca, não geraram dogmas similares. 

A IA vestiu
o líder ateu
e defensor
do cristianismo
cultural Richard
Dawkins de
padre e aplicou
na batina o
símbolo do
ateísmo. O
novo ateísmo
foi substituído
por um novíssimo
catolicismo?


A religiosidade americana moldou a retórica moral do progressismo, mas isso é herança cultural, não necessidade humana.

Causas materiais da insegurança

Ateus e céticos fariam melhor se perguntassem por que tantas pessoas no Ocidente buscam segurança em ideologias dogmáticas e antiliberais, e abordassem as causas materiais dessa insegurança, em vez de defender uma muleta psicológica cristã como sendo preferível a uma secular.

Cristianismo benigno? Só quando é fraco

Pluckrose observa que o cristianismo parece pacífico hoje porque foi contido pelo secularismo liberal. Ele é tolerante apenas quando não tem poder. A perda de autoridade institucional forçou as igrejas a aceitar a pluralidade e os direitos individuais.

Richard Dawkins e o falso consolo da fé

Apologistas citam Richard Dawkins, que disse ter “sentimentos mistos” sobre o declínio da fé. Segundo Pluckrose, Dawkins falava das manifestações atuais das religiões, não de sua essência. Quando o cristianismo teve poder, foi tão autoritário quanto o islamismo. A tolerância só emergiu após o avanço do pensamento iluminista e liberal.

O risco do poder religioso

O cristianismo parece benigno porque perdeu poder político. Se recuperasse a influência institucional que tem o islamismo em alguns países, dificilmente manteria essa imagem. O mesmo vale para o progressismo identitário, cuja força vem da imposição social. Ideias tornam-se nocivas quando ganham poder de coerção.

Secularismo liberal como antídoto

O secularismo liberal limita abusos, religiosos ou ideológicos. Ele permite que grupos creiam livremente, mas impede que suas crenças se tornem lei. É esse equilíbrio, e não a religião, que sustenta as democracias ocidentais.
 
A crença simbólica e o perigo do literalismo

Muitos defensores da fé a veem como metáfora moral. Mas milhões de cristãos acreditam literalmente na condenação eterna. Essa convicção pode justificar coerção e intolerância. 

A fé literal, lembra Pluckrose, não é inofensiva quando associada a poder político.

O mito da harmonia sob o cristianismo

Alguns sustentam que o cristianismo unificou sociedades e reduziu conflitos. A autora mostra o contrário. A Inglaterra entre 1300 e 1700, quase totalmente cristã, viveu guerras religiosas, perseguições e revoltas. A religião não evitou divisões, apenas deu nova forma a elas.

O verdadeiro fator de paz

A redução dos conflitos religiosos ocorreu quando surgiram princípios liberais que protegeram a liberdade de crença e expressão. Foi o Estado secular, e não a fé, que tornou possível a convivência pacífica de diferentes visões de mundo.

Cristianismo e modernidade

É comum afirmar que a modernidade ocidental — ciência, democracia, direitos humanos — nasceu do cristianismo. Pluckrose refuta essa ideia. O pensamento moderno surgiu quando o poder religioso foi desafiado pelo ceticismo e pela filosofia greco-romana redescoberta no Renascimento e no Iluminismo.

A adaptação da fé ao liberalismo

O cristianismo atual parece tolerante porque se adaptou ao mundo liberal. Quando dominante, foi autoritário. A benevolência que hoje se associa à fé nasceu do secularismo, não da religião.

Religião e ansiedade

A religiosidade é resposta à angústia existencial, mas não elimina suas causas materiais. Reavivar o cristianismo não resolverá crises de desigualdade, insegurança ou polarização. A religião oferece consolo, não soluções.

Liberalismo, não fé, como proteção

O verdadeiro antídoto contra o autoritarismo está no liberalismo secular. Ele protege a liberdade de consciência e impede que qualquer doutrina se torne obrigatória. O perigo não está no declínio do cristianismo, mas no enfraquecimento das instituições liberais.

A única tarefa dos secularistas

Para Helen Pluckrose, defender os frutos céticos do Iluminismo é a única tarefa dos secularistas. Eles devem preservar o pluralismo e a liberdade de pensamento que tornaram possível a modernidade.
Conclusão

O cristianismo parece pacífico porque foi limitado pelo Estado secular. Quando teve poder, perseguiu e impôs dogmas. Ateus e céticos que pedem um retorno à fé confundem as causas do progresso ocidental. 

O que precisa ser revivido não é a religião, mas a confiança no secularismo racional, base da liberdade e do conhecimento.

> Com base no artigo de Helen Pluckrose publicado em Skeptic.


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