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Elite e povo compartilham a mesma imensa ignorância científica. Creem em astrologia

Se há no Brasil uma democracia que não corre risco de golpe é a democracia da credulidade em pseudociências. Aqui quase todos  imagino  acreditam em tudo: homeopatia, cura pelas mãos, florais, macumba, dedos cruzados, entre outras “forças positivas”


Paulo Lopes
jornalista, trabalhou na Folha de S.Paulo, Agência Folha, Diário Popular, Editora Abril (onde foi premiado) e em outras publicações

Eu estava sob as luzes (ainda apagadas) da mesa do centro cirúrgico quando o doutor Joaquim me fez a pergunta protocolar para saber se eu era eu mesmo.

— Em que dia, mês e ano você nasceu?

Ao responder, tentei me descontrair naquelas circunstâncias: 

— Sou do signo de escorpião, mas não acredito em horóscopo. Acredito na ciência.

O anestesista Juliano comentou ser lamentável que até pessoas com curso superior, da elite educacional, acreditarem em horóscopo.

A sedação começara a fazer efeito, e a conversa foi interrompida quando eu me preparava para argumentar que no Brasil a ignorância científica dos diplomados é tão grande quanto à do povão. 

Suponho que abrangência dessa ignorância qualificada se deva à precariedade histórica do ensino brasileiro, do básico ao superior.

Não se incentiva nas escolas o método científico, não se fala da navalha de Ockham, não se ensina a questionar. 

É o que explica o prestígio não só da astrologia, mas também da homeopatia, acupuntura, constelação familiar, espiritismo, bruxaria, cura pelas mãos, florais e por aí vai. 

A crença nessas bobagens é tão grande que algumas delas são oferecidas pelo SUS — um gasto público desnecessário mantido por governo de direita, de Bolsonaro, e por de esquerda, Lula.


Recomendação
para pessoas de
todos os signos:
não acreditem 
em horóscopo

Eu sempre fico com um pé atrás diante a quem acredita em pensamentos mágicos, principalmente quando isso pode me afetar alguma forma.

Por exemplo: se naquele centro cirúrgico os médicos tivessem dado indícios de que levam a sério a astrologia, se o dr. Joaquim consultasse meu mapa astral antes de me operar, eu sairia correndo dali.
No início de minha carreira de jornalista, eu trabalhava na Tribuna de São Carlos, no interior paulista. O jornal tinha uma seção de horóscopo, com texto que não mudava, alternando-se apenas os signos. Desse jeito, as previsões para as pessoas de Leão de um dia eram as mesmas para as Libra em outra data, com o mesmo texto, para aproveitar a digitação, economizar trabalho. Era a seção mais lida do jornal e nunca nenhum leitor reclamou.

A astrologia é uma das enganações mais antigas da humanidade. É há registro dela de 3.500 anos, da primeira metade da dinastia Hamurábi, da Babilônia. Ela vem sobrevivendo a gerações, embora haja informações de sobra provando que se trata de uma besteira, como no vídeo abaixo de Carl Sagan. 

Há alguns anos tentei provar a um amigo que a astrologia não tem o menor sentido. 

Depois de alguns argumentos, obteve esta resposta: 

— O que você diz é típico de quem é de escorpião.

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