Pular para o conteúdo principal

Testemunhas de Jeová podem recusar transfusão de sangue, mas seus filhos não, decide STF

A decisão não abrange os filhos menores de idade dos religiosos porque continua valendo o Estatuto da Criança e do Adolescente


O STF (Supremo Tribunal Federal) aprovou por unanimidade hoje (25/9/2024) que os fiéis das Testemunhas de Jeová podem se recusar à transfusão de sangue, conforme a sua crença segundo a qual Deus ordena que não se pode beber sangue.

Em caso de necessidade do procedimento, o SUS terá de ter disponível o tratamento alternativo disponível.


O Supremo esclareceu
que a medida vale para
“as testemunhas de Jeová
quando maiores e capazes”.
Ou seja, em tese, as
crianças continuam
elegível para a transfusão,
mesmo que seus pais
não queiram.

Poucas unidades do Sistema Único de Saúde oferecem o tratamento alternativo. Por isso, pela decisão do STF, os pacientes deverão ser transportados para o local mais próximo onde houver o tratamento. O poder público arcará com os custos da viagem e da estada.

O ministro Luís Roberto Barroso, relator de dois casos envolvendo transfusão cujo julgamento terá ampla repercussão, ressaltou que devem ser considerados requisitos para a recusa ao tratamento, como que a manifestação ser feita por paciente maior e em condições de discernimento, além de ser dada de forma voluntária e autônoma, sem pressão ou coação.

A decisão judicial acabará com a tensão entre fiéis e médicos, porque, a partir de agora, os religiosos fundamentalistas terão a certeza de que o tratamento não lhe será imposto.

E os médicos, que fazem juramento para salvar vida, poderão deixar de adotar a transfusão de sangue sem peso na consciência, ao menos diante de seus pares e da lei, mas talvez não em âmbito íntimo.

Como julgamento do STF não se aplica aos menores de idade, nesse caso, aguarde-se para ver, em uma situação de grave emergia, como agirão os médicos diante do Estatuto da Criança e do Adolescente, que diz, entre outras coisas, ser “dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.

Comentários

K disse…
Caro Paulo Lopes,

Algumas imprecisões na sua cobertura me chamaram a atenção e gostaria de abordá-las de forma construtiva, com o objetivo de esclarecer alguns pontos cruciais que parecem ter sido mal interpretados.

Primeiramente, é importante corrigir a insinuação de que o direito de recusar transfusões não se aplicaria a menores de idade. O STF foi explícito em sua decisão ao permitir que pais Testemunhas de Jeová possam optar por tratamentos alternativos para seus filhos menores, desde que, após avaliação médica, o tratamento sem sangue seja considerado eficaz. Este aspecto essencial do julgamento não foi adequadamente refletido na sua matéria, o que pode levar os leitores a uma compreensão equivocada da amplitude da decisão.

Outro ponto que merece destaque é a ênfase do STF na eficácia dos tratamentos sem sangue. Durante a audiência, ficou claro que esses tratamentos não são apenas viáveis, mas em muitos casos podem ser mais seguros e até mais econômicos do que as transfusões de sangue. Isso se baseia em evidências científicas e práticas médicas modernas, algo que sua reportagem deixou de abordar. Ao focar exclusivamente no aspecto religioso, a matéria ignorou os avanços tecnológicos e as inovações que tornam o tratamento sem sangue uma alternativa válida, segura e acessível.

Além disso, me pareceu infeliz a utilização do termo “fundamentalistas” para se referir às Testemunhas de Jeová. Rotular negativamente um grupo religioso que busca exercer seus direitos constitucionais – neste caso, o direito à liberdade de crença e à escolha informada no tratamento médico – distorce a natureza do debate e polariza ainda mais uma questão que exige sensibilidade e respeito pela diversidade.

A decisão do STF, por outro lado, deve ser saudada como um verdadeiro avanço civilizacional. O tribunal não apenas respeitou a liberdade religiosa garantida pela Constituição, mas o fez com base em dados científicos que demonstram que os tratamentos sem sangue podem ser tão eficazes quanto os com transfusões. Isso coloca o Brasil em sintonia com países que já reconhecem a importância de garantir que a ciência e a medicina coexistam com a diversidade de crenças, promovendo uma convivência mais harmoniosa entre os direitos individuais e o bem-estar coletivo.

O reconhecimento da autonomia do paciente – e, neste caso, dos pais em nome de seus filhos menores – e a validação de tratamentos sem sangue no SUS é um passo importante para a modernização do sistema de saúde brasileiro. Em vez de enxergar a decisão do STF como um favorecimento a grupos religiosos, ela deve ser vista como uma medida que fortalece os princípios da ciência médica e da tolerância religiosa, abrindo espaço para opções de tratamento que respeitem as convicções individuais.

Ao encerrar, gostaria de sugerir uma reflexão sobre o impacto que uma cobertura mais equilibrada e abrangente pode ter. O papel do jornalista é fundamental na construção de uma sociedade informada, e uma abordagem que leve em consideração todas as nuances de decisões como essa – incluindo os avanços científicos e os direitos fundamentais – contribui para um debate público mais justo e esclarecido.
CBTF disse…
Deveriam usar o mesmo argumento para legalizar a eutanásia, em vez de autorizar apenas fanatismos religiosos. O médico fez juramento pra salvar vidas, com essa decisão muitos médicos vão poder ser processados e até presos, fora que inocentes vão falecer ao ter seus tratamentos médicos negados se foram confundidos com TJs. Com essa decisão o direito a vida fica abaixo da liberdade religiosa.
RADIO DO ATEU disse…
Por causa desse fanatismo religioso, muitas pessoas morreram. E até quando isso vai ? . Sinceramente não respeito tais atitudes que arriscam a vida de pessoas, a desculpa é sempre "que é uma prática religiosa." Ainda bem que estão protegendo as crianças, por hora.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

'Não entendo como alguém pode odiar tanto quem é diferente'

por Concebida Sales Batista a propósito de Associação de gays pede a retirada do ar do programa do Malafaia Escreverei pessoalmente à procuradora [Gilda Pereira de Carvalho], e em acordo com as dificuldades de saúde que atravesso, sob autorização médica, irei à Brasília obter audiência particular com ela. Perdi um filho no passado por crime de homofobia e recentemente um amigo muito íntimo, por bullying acadêmico, pelas mesmas razões, só que por homofobia inversa, que é praticada por homossexuais que se disfarçam de heterossexuais e ocupam cargos nas universidades e igrejas. Eles perseguem quaisquer jovens talentosos que lhes pareça ameaçar a vida dupla que levam, aliciando outros incompetentes por critérios sexuais e temendo serem descobertos, alijam os possíveis e eventuais discordantes, fazendo-o previamente pela perseguição odiosa. Meu amigo era também um colaborador assíduo deste site, e perdi-o para sempre. Deus sabe as razões por que abandonou a faculdade, não me pr

Vídeo de pastor mostra criança em situação de constrangimento

Imagens pegam menina em close se contorcendo no chão Um vídeo de 3 minutos [ver trecho abaixo] do ministério do pastor Joel Engel, do Rio Grande do Sul, expõe uma criança em situação de constrangimento ao mostrá-la se contorcendo no chão ao lado do seu pai, em uma sessão de descarrego. Pelo artigo 232 do Eca (Estatuto da Criança e do Adolescente), comete crime quem submete menor de idade sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexames ou constrangimento. É o caso deste vídeo. Na gravação, a mãe diz o nome da filha. Ao final, Engel afirma: “O que Deus está fazendo aqui é impressionante”. Em outra oportunidade, Angel já tinha passado por cima do Eca ao pegar como oferta o único par de tênis de um menino, deixando-o descalço e com o rosto de choro. . Se o Conselho Tutelar e o Ministério Público tivessem enquadrado na época o pastor, ele certamente agora pouparia a menina do vexame. Imagens vexatórias Pastor Joel Engel pega como oferta único par de tênis de

Traição feminina cresce e a masculina cai, revela pesquisa

Mulheres de gerações mais recentes traem mais As casadas na faixa de 18 a 25 anos traem os maridos mais do que as mulheres de gerações anteriores. De acordo com 8.200 entrevistas feitas em dez capitais brasileiras, praticamente metade delas (49,5%) revelou ter tido relações extraconjugais. O percentual de traições entre as mulheres de 41 a 50 anos é de 34,7%. Das entrevistadas acima de 70 anos, 22% admitiram ter cometido em algum momento de sua vida o adultério. A pesquisa faz parte do estudo Mosaico Brasil 2008, coordenado pela psiquiatra Carmila Abdo, do ProSex (Projeto Sexualidade) da USP. Os homens continuam mais infiéis, mas o percentual deles vem caindo em comparação com o tempo de jovem da geração que hoje está com 70 anos [ver quadro], enquanto o número de adúlteras se mantém em alta. Numa projeção, em alguns anos elas deverão empatar com os homens ou até superá-los. A Istoé desta semana, que publicou os dados inéditos do Mosaico, ouviu algumas mulheres sobre

Icar queixa-se de que é tratada apenas como mais uma crença

Bispos do Sínodo para as Américas elaboraram um relatório onde acusam autoridades governamentais de países do continente americano de darem à Igreja Católica um tratamento como se ela fosse apenas mais uma crença entre tantas outras, desconsiderando o seu “papel histórico inegável”. Jesuíta convertendo índios do Brasil Os bispos das Américas discutiram essa questão ao final de outubro em Roma, onde elaboraram o relatório que agora foi divulgado pela imprensa. No relatório, eles apontam a “interferência estatal” como a responsável por minimizar a importância que teve a evangelização católica na formação da identidade das nações do continente. Eles afirmaram que há uma “estratégia” para considerar a Igreja Católica apenas pela sua “natureza espiritual”,  deixando de lado o aspecto histórico. O relatório, onde não há a nomeação de nenhum país, tratou também dos grupos de evangélicos pentecostais, que são um “desafio” por estarem se espalhando “através de um proselitismo fo

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Brasil já tem pelo menos dez igrejas dedicadas aos gays

Título original: Desafiando preconceito, cresce número de igrejas inclusivas no Brasil por Luís Guilherme Barrucho , da BBC Brasil As inclusivas se concentram no eixo São Paulo-Rio Encaradas pelas minorias como um refúgio para a livre prática da fé, as igrejas "inclusivas" - voltadas predominantemente para o público gay - vêm crescendo a um ritmo acelerado no Brasil, à revelia da oposição de alas religiosas mais conservadoras. Estimativas feitas por especialistas a pedido da BBC Brasil indicam que já existem pelo menos dez diferentes congregações de igrejas gay-friendly no Brasil, com mais de 40 missões e delegações espalhadas pelo país. Concentradas, principalmente, no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, elas somam em torno de 10 mil fiéis, ou 0,005% da população brasileira. A maioria dos membros (70%) é composta por homens, incluindo solteiros e casais, de diferentes níveis sociais. O número ainda é baixo se comparado à quantidade de católicos e evangélico

Textos bíblicos têm contradições, mas as teorias científicas também

por Demetrius dos Santos Silva , biblista, a propósito de Quem Deus criou primeiro, o homem ou os animais? A Bíblia se contradiz Por diversas vezes vejo pessoas afirmarem ideias sobre a Bíblia baseadas em seus preconceitos religiosos ou seculares. Todo preconceito é baseado em uma postura fanática onde o relativo é assumido como absoluto. Nesse sentido, qualquer ideia ou teoria deve-se enquadrar dentro da visão obtusa do fanático. É como uma pessoa que corta a paisagem para caber dentro de sua moldura. O quadro é assumido como se fosse a paisagem verdadeira e tudo o que está fora de seu quadro é desconsiderado. Quando o assunto é a Bíblia, muitas pessoas abandonam os critérios literários e assumem uma postura pseudocientífica que revela seus profundos preconceitos sobre as religiões e seus livros sagrados. A palavra Bíblia vem da língua grega “Biblos” e significa: livros. A Bíblia é uma biblioteca. Nela encontramos diversos gêneros literários: poesia, prosa, leis, oráculos pro

Deus quer 30% do ganho deste mês dos fiéis, afirma Valdemiro

Valdemiro Santigo (foto), 46, fundador da IMPD (Igreja Mundial de Poder de Deus), diz na tv que o pedido não é dele, mas, sim, de Deus, que lhe falou: “Chama o meu povo e peça 30% de tudo que Eu lhe der neste mês de dezembro”. É curioso que Deus tenha resolvido fazer tal pedido justamente no mês em que os trabalhadores ganham o 13º salário. Valdemiro explica: “Se Ele lhe der R$ 1.000, você vai ter de devolver R$ 300. Se Ele lhe der R$ 10.000, você vai ter de dar R$ 3 mil.” A representante do Deus, para receber a “devolução”, é a IMPD, claro. Para o autoproclamado apóstolo, é justo que os fiéis façam uma doação dessa monta “uma vez na vida”. Ele assegura que, em troca dos 30%, os fiéis terão realizado “o projeto de sua vida”. Porque é Deus que “faz o povo prosperar e ficar rico”. Afirma que, com o dinheiro,  ele vai ganhar mais almas. “Esse é o meu projeto.” Valdemiro tem pressa: “Mande a carta [com dinheiro] até o dia 15 de dezembro. Comece a mandá-la já. […] Q

Pastor que exigia 'boa conduta' de fiéis é condenado por estupro

Pastor abusou de crianças na faixa de 4 a 11 anos O pastor Manoel Teoplício de Souza Ribeiro (foto), 52, da Assembleia de Deus, exigia das fiéis “boa conduta”, como não usar calças compridas e maquiagem – coisas do demônio, segundo dizia. Mesmo sendo tão conservador, atraia muitos fiéis para a sua igreja em Samambaia, cidade próxima de Brasília. Ribeiro foi condenado a 50 anos e 10 meses de prisão por ter estuprado crianças na faixa de 4 a 11 anos, filhas de fiéis. A sentença, agora divulgada, tomada há um mês pela Justiça do Distrito Federal. O pastor já se encontrava preso preventivamente desde junho de 2011. Ele alegou à polícia ter conhecimentos de medicina e que, por isso, levava as filhas de fiéis para sua casa de modo a tirar delas “maus fluidos” por intermédio de massagens. Só que  massageava principalmente a genitália das meninas, de acordo com as denúncias. Ele abusava das crianças desde 2005 e as ameaçava para que não contassem nada a ninguém. Uma fiel