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Templos evangélicos se multiplicam; e acelera-se o fim da hegemonia da Igreja Católica

Em 2021, havia 14,3 mil templos católicos, 23 mil dos evangélicos tradicionais, 64,5 mil dos evangélicos pentecostais e neopentecostais; somente a Assembleia de Deus tinha 17,3 mil


José Eustáquio Diniz Alves
doutor em demografia

EcoDebate
informação, artigos e notícias
sobre temas socioambientais

Em termos da configuração religiosa, o século XXI será completamente diferente dos 500 anos anteriores, como mostrei em diversos artigos publicados nos últimos 20 anos. Segundo os dados dos censos demográficos do IBGE, os católicos representavam 99,7% da população brasileira em 1872 e cerca de 98% em 1900. Portanto, os católicos tinham o monopólio da fé nos primeiros 400 anos da história brasileira. Mas a liderança católica entrou em declínio no século XX e a percentagem de católicos caiu para 73,9%.

Já no ano 2000. Os evangélicos passaram de cerca de 1% em 1900 para 15,4% no ano 2000. As pessoas que se autodeclaram sem religião chegaram a 6,4% e as demais religiões ficaram com 4,3% no ano 2000.

A redução do percentual de católicos brasileiros se acelerou bastante nas últimas décadas. O número de católicos era de 121,8 milhões (83%) em 1991, 124,9 milhões (73,6%) em 2000 e 123,3 milhões em 2010. 

Percebe-se que o número absoluto de católicos atingiu o valor máximo no ano 2000 e, pela primeira vez na história brasileira, o número absoluto de católicos caiu na década inaugural do século XXI. Além disto, o decrescimento relativo que estava em 1% por década, passou a cair 1% ao ano.

Concomitantemente, entre 1991 e 2010, os evangélicos passaram a crescer 0,63% ao ano, as outras religiões cresceram 0,38% ao ano e os sem religião cresceram 0,43% ao ano. Portanto, o Brasil está ficando mais diversificado em termos religiosos e o monopólio católico está sendo substituído, pelo menos por enquanto, por uma maior pluralidade.

1920 – 2019 A expansão dos templos evangélicos por denominação


A queda das filiações católicas é um fato histórico sem precedentes entre os grandes países e a rapidez da queda surpreende muitos estudiosos. É certo que a Igreja Católica tem uma tremenda dívida com diversos setores da sociedade brasileira, particularmente com os indígenas, os negros e as mulheres que sempre foram excluídas das estruturas misóginas da hierarquia eclesiástica. 

As práticas, os rituais e os ensinamentos do catolicismo tinham boa receptividade junto à população quando o Brasil era um país pobre, rural, tradicional, com baixas taxas de escolaridade e com restrita mobilidade social e espacial.

O declínio católico ocorreu concomitantemente à aceleração de três mudanças estruturais que transformaram a sociedade brasileira. A primeira está relacionada com as alterações no âmbito econômico. 

O Brasil deixou para trás a estrutura primário-exportadora, com um grande setor de subsistência e com o predomínio de relações informais de trabalho, baixa monetarização da economia e reduzida integração regional. 

A segunda grande mudança na configuração da sociedade brasileira aconteceu com a transição urbana, pois a maioria da população que estava atada aos condicionantes da vida agrária e rural se deslocou progressivamente para o meio urbano e para as grandes cidades. 

A terceira grande mudança no comportamento de massa no Brasil está relacionada com o aprofundamento da transição demográfica (redução das taxas de mortalidade e natalidade), além de mudanças na configuração das famílias (como mostra a teoria da Segunda Transição Demográfica).

É quase certo que o Brasil vai apresentar uma configuração religiosa mais plural, já na primeira metade do século XXI, do que aquela que prevaleceu nos 500 anos do país ou nos 200 anos da Independência, como mostrei no livro “Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI” (Alves, 2022). Os últimos dados divulgados pelo IBGE são do censo 2010 e as informações do censo 2022 ainda não foram disponibilizados.

Porém, a transição religiosa no Brasil em vez de ser avaliada pela ótica das filiações religiosas, pode também ser avaliada pela expansão dos templos. Segundo estudo realizado pelo pesquisador Victor Augusto Araújo Silva, do Centro de Estudos da Metrópole (CEM/Cepid) e da Universidade de São Paulo (USP) houve uma multiplicação de templos evangélicos de 1920 a 2019, conforme mostra o gráfico abaixo. De 17.033 templos evangélicos, em 1990, o Brasil passou a contar com 109.560, em 2019. Um aumento de 543%. Apenas em 2019, último ano do levantamento do estudo, 6.356 templos evangélicos foram abertos no Brasil — uma média de 17 por dia.

Dos 124,5 mil estabelecimentos religiosos em 2021, havia 14,3 mil católicos, 23 mil dos evangélicos tradicionais, 64,5 mil dos evangélicos pentecostais e neopentecostais e somente a Assembleia de Deus possuía 17,3 mil templos, mostrando uma capilaridade muito maior do que a igreja católica.

O fato é que os estabelecimentos religiosos dos evangélicos se multiplicam com muito mais rapidez do que os estabelecimentos católicos. Este é um indicador evidente da transição religiosa no Brasil, pois os templos são locais fundamentais para a fidelização das pessoas que seguem uma determinada religião. 

Como mostrei no livro sobre os 200 anos da Independência (Alves, 2022) os evangélicos devem ultrapassar os católicos em número de fiéis por volta de 2032. Vamos poder atualizar esta projeção assim que forem divulgados os dados do censo demográfico de 2022.

Não restam dúvidas de que o Brasil está passando por quatro movimentos da transição religiosa: declínio absoluto e relativo das filiações católicas; aumento acelerado das filiações evangélicas; crescimento do percentual das religiões não cristãs; aumento absoluto e relativo das pessoas que se declaram sem religião. Os números mais exatos saberemos em breve.

Comentários

Paulo Lopes disse…
No meu bairro, parece que toda a semana abre um templo evangélico. O mais recente, da Assembleia de Deus, alugou um galpão industrial.
Robert Saint disse…
A razão da elevação dos templos evangélicos deve ser por conta do crescimento da demanda. Tem cada vez mais interessados em comprar um lugar melhor na fila. Ou seja, pagar por uma graça, mesmo que não mereça. O catolicismo exige que se mereça, mas isso custa muito sacrifício. Mais fácil comprar uma melhoria financeira.
Isso me faz pensar em quem é pior: quem vende ou quem compra graças.

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