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Bolsonaristas e petistas estão juntos quando chamam a Globo de 'lixo'

Embora em lados opostos, lulistas e bolsonaristas participariam de uma mesma manifestação contra a emissora  

PAULO LOPES
jornalista

JB, meu amigo de longa data, participou de passeatas de resistência à ditadura militar, é católico praticante e petista. Às vezes é contundente: no final do ano, por exemplo, ele me disse que a "Globo lixo" deveria fechar.

Perguntei: "Quem ocuparia o lugar da [católica] Globo, a Record, a emissora do bolsonarista Edir Macedo e financiada pela Igreja Universal?"

JB desconversou.

Macedo sempre teve a ambição de destronar a Globo. Ele comprou a Record já pensando nisso. Nunca chegou perto.

Discordo de que a Globo seja lixo. Mas se fosse, a Record seria o quê? Deixo para o JB responder.

Mesmo estando em lados opostos, petistas e bolsonaristas se reuniriam em uma manifestação para chamar a Globo de lixo. Na rede social, eles estão há tempo na mesma gritaria contra a emissora.

Eis aí um exemplo de súditos mais reais que o rei.

Desde a sua posse, o presidente Lula não falou em "regulamentação da imprensa", que, em outras épocas, significava para o PT o controle principalmente da Globo. E Bolsonaro, nos estertores de seu mandato, antes de fugir para a Disneylândia, assinou a renovação de concessão da emissora, embora tivesse prometido que criaria dificuldades para isso.    

Na juventude de JB e na minha, houve uma época em que militantes de esquerda falavam muito em mudança de "correlação de forças". Pois é o que acaba de haver com a posse de Lula.

O presidente petista agora é "amigo" da Globo porque precisa da emissora líder de audiência para divulgar seu governo, pegando leve nas críticas, se possível. E a emissora tem a expectativa de veicular propaganda governamental — uma fonte publicitária que secou nos anos bolsonaristas.

Lula certamente voltará a falar em "regulamentação da imprensa", talvez com outras palavras, mas ele estará se referindo também à emissora do bispo Macedo, que se colocou como oposição ao governo, após uma tentativa fracassada de reatar a "amizade" com o novo presidente.

Duto de recursos para a Rede Record, a Igreja Universal tem um imenso telhado de vidro, que talvez não resistiria a uma investigação profunda da Receita Federal. A tal "regulamentação da imprensa" criaria condições para investigar esse iceberg.  

Tenho a impressão de que quem exagera em dar importância à Rede Globo está acima dos 50 anos, como o JB.  As pessoas dessa geração pegaram o auge da emissora da família Marinho, na época em que o país parava para assistir a uma novela. Era então a pré-história das redes sociais.

O grande poder de influência política hoje está na internet, como mostraram a eleição de Trump em 2016 e a de Bolsonaro em 2018. Sim, a extrema direita aprendeu a manejar a rede social bem antes da esquerda.

A rede social tem muita coisa boa, claro, mas também é por onde escorre um mar de desinformação e fake news, colocando sob risco a democracia, como se viu no Brasil. E é a rede social que tem de ser regulamentada, mas sem restringir a liberdade de expressão.

Companheiro JB, deixa eu falar, é uma questão de ordem: agora a correlação de forças é outra.


Em 2021, Bolsonaro levantou
um cartaz "Globo lixo". Antes 
de fugir do pais, ele assinou a
a renovação de concessão
da emissora sem dar um pio 



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