Universal diz no Facebook que casal se curou de Aids após orações

Ong pediu posicionamento do Ministério Público Federal

A Igreja Universal postou em sua página oficial no Facebook que o casal "Manoel e Rosemeire" se curou de Aids com uma corrente de orações. Há duas fotos, uma do casal e outra, supostamente anterior, do Manoel deitado em um leito hospitalar.

"O casal não aceitou de viver de tratamento", diz um trecho.

"... sabendo que a cura viria através da fé colocada em prática e, com a certeza de que o tempo de milagres não acabou, hoje eles estão curados", diz o post.

No último parágrafo, afirmou que "A UNIVERSAL ALERTA QUE JAMAIS OS TRATAMENTOS MÉDICOS DEVEM SER IGNORADOS, mas a sua fé pode fazer o milagre de acontecer".

A postagem foi feita no dia 15 de fevereiro às 8 h e há indicação de houve uma edição no texto dois dias depois, às 18h58.

No dia 17, site do jornal Globo diz que "a postagem foi apagada das redes sociais da instituição religiosa na tarde desta quinta-feira". Mas na noite deste sábado, 19, o post pode ser lido no Facebook.

Com 14 comentários de usuários da rede expressando "amém", "Glória a Deus" e "eu creio", a Igreja Universal bloqueou o post para outras manifestações. Mas ainda assim é possível denunciar a postagem como informação falsa.

Em nota ao jornal, a igreja negou que tivesse propagado a cura do casal.

O Foaesp (Fórum de ONG/Aids de São Paulo) pediu formalmente ao Ministério Público Federal para verificar se o post pode ser enquadrado como charlatanismo.

Roseli Tardelli, diretora do portal Agência Aids, disse que se trata de "uma irresponsabilidade", "um ato criminoso", "uma afronta à ciência".

"Trabalho com Aids desde 1993, quando meu irmão se infectou, e sempre tratamos do tema com muita responsabilidade. Eles sendo parceiros da morte e não da vida."

Ramon Nunes Mello, ativista de direitos humanos, afirmou que "prometer cura para a Aids através oração, colocando um casal como propaganda, é crime".

"Estamos em 2022 e o estigma da Aids permanece. A Igreja Universal deveria ser responsabilizada pelo Ministério Público por charlatanismo e curanderismo e ser obrigada a fazer palestra em prol de adesão ao tratamento de HIV/Aids, a única forma cientificamente comprovada de combater o vírus."