Pular para o conteúdo principal

Vanessa, ex-Testemunha de Jeová: 'Minha mãe me expulsou, jogando minhas coisas na rua'

Fanatismo religioso
 leva mãe a renegar
 a própria filha


por Vanessa Pimentel
ex-Testemunha de Jeová

"Quando eu tinha dois anos, minha mãe começou a frequentar uma religião [Testemunhas de Jeová]. Por causa disso, fui participante ativa desde a infância. Depois de dez anos, fui batizado e passei a assumir mais responsabilidades dentro do grupo. Todos os sábados, precisamos executar o serviço de bater de porta em porta, chamando as pessoas para conversar.

Conforme fui crescendo, fui me irritando com essa obrigação, mas continuando fazendo porque sabia que era importante para minha mãe.

Contudo, minha vida virou um inferno quando comecei a namorar um rapaz, aos 17 anos. Como ele não pertencia à religião, passava a ser tratado de forma diferente pelos demais, pois estava fazendo algo que era contra as regras.

Em casa, também senti uma diferença na convivência. Tudo o que fazia estava errado, tinha algum defeito.

Mesmo assim, continuei com o relacionamento com o meu namorado. Até tivemos relações sexuais, o que não é permitido pela religião antes do casamento.

O sentimento de culpa em mim era muito grande, então contei para minha mãe. Tudo piorou: ela escondeu algumas comidas e disse aos meus irmãos que eu não era merecedora delas, além de delegar como funções domésticas todas para mim.

Um dia procurei os anciãos do grupo e contei o que tinha feito. Fui obrigada a passar por uma espécie de julgamento: em ritual como esse, a pessoa deve dizer o que fez de errado, entrando em detalhes. O resultado é que fui expulsa da religião.

Minha mãe também deixou de falar comigo. Quando o fazia, era para implicar com algo.

Na época, eu trabalhava como empregada doméstica e estudava radiologia. Sentia que estava sendo muito injustiçada, pois não estava fazendo nada de errado.

Um dia, depois de voltar ao trabalho, tivemos uma briga, e ela veio para cima de mim. Meu pai, que não fazia oposição a ela, nos separou.

Não demorou, para que minha mãe jogasse minhas coisas na ruda, dizendo que ali não tinha mais espaço para mim.

Fique tão revoltada que chamei a polícia. Entrei novamente na casa, peguei o restante das minhas coisas e não sabia o que fazer e nem para aonde ir. Acabei ligando para o meu namorado, cuja família é também religiosa, e ele me acolheu.


Por pressão deles, nos casamos. Na época, eu estava com 22 anos. Mas a situação toda começou com que começamos a nos estranhar. Não nos dá mais tão bem. Acabamos nos separando logo em seguida.

Depois disso, acabei voltando a morar na casa da minha mãe. Eu ainda não ganhava o suficiente com as faxinas para pagar um aluguel.

Não demorou e nos desentendemos novamente pela pressão que ela fazia para que eu voltasse a frequentar como reuniões religiosas.

Minha situação melhor quando uma vizinha me ofereceu um quarto para morar por um preço baixo. Então, consegui me reestruturar. Fui trabalhar na área da saúde, conheci um rapaz, me casei e temos dois filhos.

Ainda tenho contato com minha família, mas tudo é difícil. Minha mãe não deseja persuadir e até cantar, tanto eu quanto meus irmãos, para voltar a frequentar as reuniões do grupo.

Por causa disso, passamos longos períodos sem falar. Apesar de ter conseguido organizar minha vida, até hoje tenho sonhos constantes com o momento em que eu vi na rua, sem ter ideia de como seriamente a minha vida dali para frente. "

Vanessa Pimentel, 33, é radiologista. Seu depoimento foi publicado inicialmente no site Universa, com o título "Jogou minhas coisas na rua".



Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Ex-fiel diz por que as Testemunhas de Jeová são uma 'seita destrutiva'

MP da Itália investiga perseguição de Testemunhas de Jeová à ex-fiel

Revista das Testemunhas de Jeová afirma que ex-fiéis são 'doentes mentais'



Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

Canadenses vão à Justiça para que escola distribua livros ateus

Chouinard sugeriu  dois livros à escola,  que não aceitou René (foto) e Anne Chouinard recorreram ao Tribunal de Direitos Humanos do Estado de Ontário, no Canadá, para que a escola de seus três filhos permita a distribuição aos alunos de livros sobre o ateísmo, não só, portanto, a Bíblia. Eles sugeriram os livros “Livre Pensamento para Crianças” e “Perdendo a Fé na Fé: De Pregador a Ateu” (em livre tradução para o português), ambos de Dan Barker. Os pais recorreram à Justiça porque a escola consentiu que a entidade cristã Gideões Internacionais distribuísse exemplares da Bíblia aos estudantes. No mês passado, houve a primeira audiência. O Tribunal não tem prazo para anunciar a sua decisão, mas o recurso da família Chouinard desencadeou no Canadá uma discussão sobre a presença da religião nas escolas. O Canadá tem cerca de 34 milhões de habitantes. Do total da população, 77,1% são cristãos e 16,5% não têm religião. René e Anne são de Niágara, cidade p...

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Existe uma relação óbvia entre ateísmo e instrução

de Rodrigo César Dias   (foto)   a propósito de Arcebispo afirma que ateísmo é fenômeno que ameaça a fé cristã Rodrigo César Dias Acho que a explicação para a decadência da fé é relativamente simples: os dois pilares da religião até hoje, a ignorância e a proteção do Estado, estão sendo paulatinamente solapados. Sem querer dizer que todos os religiosos são estúpidos, o que não é o caso, é possível afirmar que existe uma relação óbvia entre instrução e ateísmo. A quantidade de ateus dentro de uma universidade, especialmente naqueles departamentos que lidam mais de perto com a questão da existência de Deus, como física, biologia, filosofia etc., é muito maior do que entre a população em geral. Talvez não existam mais do que 5% de ateus na população total de um país, mas no departamento daqueles cursos você encontrará uma porcentagem muito maior do que isso. E, como esse mundo de hoje é caracterizado pelo acesso à informação, como há cada vez mais gente escolarizada e dipl...

Pastor Caio diz que Edir Macedo tem 'tarugo do diabo no rabo'

Caio diz que Macedo usa o paganismo Edir Macedo está com medo de morrer porque sabe que terá de prestar contas de suas mentiras a Deus, disse o pastor Caio Fábio D'Araújo (foto), 56, da denominação Caminho da Graça. “Você [Edir] está com o tarugo do diabo no rabo”, afirmou, após acusar o fundador da Igreja Universal de ter se "ajoelhado" diante dos “príncipes deste mundo para receber esses poderes recordianos” (alusão à Rede Record). Em um vídeo de 4 minutos [segue abaixo uma parte]  de seu canal no Youtube, Caio Fábio, ao responder um e-mail de um fiel, disse que conhece muito bem o bispo Edir Macedo porque já foi pastor da Igreja Universal. Falou que hoje Macedo está cheio de dinheiro e que se comporta como um “Nerinho de Satanás” caminhando para morte e “enganando milhares de pessoas”. O pastor disse que, para Macedo, o brasileiro é pagão, motivo pelo qual o fundador da Igreja Universal “usa o paganismo” como recurso de doutrinação. “Só que Jesu...

USP pesquisa como religiosos e ateus agem frente a dificuldades

O Laboratório de Psicologia Social da Religião, do Instituto de Psicologia da USP, está levantando dados para verificar como religiosos e ateus enfrentam dificuldades e quais as diferenças entre si. Também vai apurar o bem-estar psicológico e as características de personalidades de cada um dos grupos. O professor Geraldo José de Paiva tomou a iniciativa de fazer a pesquisa levando em conta as poucas informações sobre tais aspectos, principalmente em relação aos ateus brasileiros, que dificilmente são objetos de estudos. A equipe de Paiva, para essa pesquisa, conta com 12 pessoas, entre doutores e doutorandos não só da USP, como também da PUC e Mackenzie. Ele disse que, quanto aos religiosos, já foi feito na USP um estudo segundo o qual as pessoas religiosas desfrutam de maior bem estar em relação aos ateus. Mas se trata, segundo ele, de um estudo pouco representativo porque se ateve a um pequeno grupo. “Vamos repeti-lo.” Na avaliação de Paiva, os modos seculares e o religioso...

Jesus pode ter sofrido de transtorno mental, diz pastora

Eva citou trecho  bíblico sobre o   suposto  desequilíbrio do Messias  A pastora britânica Eva McIntyre (foto) escreveu um sermão admitindo que Jesus pode ter sofrido de algum transtorno mental. Citou um trecho da Bíblia segundo o qual o Messias teria “perdido a cabeça” em uma  determinada circunstância. Ela disse que nem Jesus esteve imune de ter contraído uma doença mental, ou de ser acusado de sofrer desse  mal. Contou que há uma história no Evangelho que fala da tentativa de sua mãe de levá-lo para casa, porque havia o temor de que estivesse sofrendo de insanidade. O sermão de McIntyre é uma proposta para a campanha “Hora de Mudar” do Conselho de Arcebispos da Igreja da Inglaterra com o objetivo de combater o preconceito contra quem sofre de depressão, ansiedade, transtorno bipolar e esquizofrenia. A campanha será lançada em 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental. McIntyre escreveu que outros personagens da cristandade, como...

Quem matou Lennon foi a Santa Trindade, afirma Feliciano

Deus castigou o Beatle por falar ser mais famoso que Jesus, diz o pastor Os internautas descobriram mais um vídeo [ver abaixo] com afirmações polêmicas do pastor-deputado Marco Feliciano (PSC-SP), na foto. Durante um culto em data não identificada, ele disse que os três tiros que mataram John Lennon em 1980 foram dados um pelo Pai, outro pelo Filho e o terceiro pelo Espírito Santo. Feliciano afirmou que esse foi o castigo divino pelo fato de o Lennon ter afirmado que os Beatles eram mais famosos que Jesus Cristo. “Ninguém afronta Deus e sobrevive para debochar”, disse. Em 1966, a declaração de Lennon causou revolta dos cristãos, o que levou o Beatle a pedir desculpas. Feliciano omitiu isso. Em outro vídeo, o pastor disse que a morte dos integrantes da banda Mamonas Assassinas em acidente aéreo foi por vontade divina por causa das letras chulas de suas músicas. "Ao invés de virar pra um lado, o manche tocou pra outro. Um anjo pôs o dedo no manche e Deus fulminou aque...

Eleição de Haddad significará vitória contra religião, diz Chaui

Marilena Chaui criticou o apoio de Malafaia a Serra A seis dias das eleições do segundo turno, a filósofa e professora Marilena Chaui (foto), da USP, disse ontem (23) que a eleição em São Paulo do petista Fernando Haddad representará a vitória da “política contra a religião”. Na pesquisa mais recente do Datafolha sobre intenção de votos, divulgada no dia 19, Haddad estava com 49% contra 32% do tucano José Serra. Ao participar de um encontro de professores pró-Haddad, Chaui afirmou que o poder vem da política, e não da “escolha divina” de governantes. Ela criticou o apoio do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus do Rio, a Serra. Malafaia tem feito campanha para o tucano pelo fato de o Haddad, quando esteve no Ministério da Educação, foi o mentor do frustrado programa escolar de combate à homofobia, o chamado kit gay. Na campanha do primeiro turno, Haddad criticou a intromissão de pastores na política-partidária, mas agora ele tem procurado obter o apoio dos religi...

Papa afirma que casamento gay ameaça o futuro da humanidade

Bento 16 disse que as crianças precisam de "ambiente adequado" O papa Bento 16 (na caricatura) disse que o casamento homossexual ameaça “o futuro da humanidade” porque as crianças precisam viver em "ambientes" adequados”, que são a “família baseada no casamento de um homem com uma mulher". Trata-se da manifestação mais contundente de Bento 16 contra a união homossexual. Ela foi feita ontem (9) durante um pronunciamento de ano novo a diplomatas no Vaticano. "Essa não é uma simples convenção social", disse o papa. "[Porque] as políticas que afetam a família ameaçam a dignidade humana.” O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) ficou indignado com a declaração de Bento 16, que é, segundo ele, suspeito de ser simpático ao nazismo. "Ameaça ao futuro da humanidade são o fascismo, as guerras religiosas, a pedofilia e o abusos sexuais praticados por membros da Igreja e acobertados por ele mesmo", disse. Tweet Com informação...