Pular para o conteúdo principal

Quem diz que Darwin afirmou que o homem descende do macaco não sabe o que fala

O homo sapiens sapiens não evoluíram dos macacos, mas compartilham um ancestral comum


Faz 160 anos que o 'A Origem'
foi publicado e ainda há pessoas
que não entenderam a teoria
da evolução de Darwin
ILUSTRAÇÃO: REPRODUÇÃO DA INTERNET




A publicação do livro “A Origem das Espécies”, em que Charles Darwin estabeleceu uma base de teoria da evolução pela seleção natural, completou 160 anos em 24 de novembro de 2019.
Mas o quanto sabemos sobre a história da nossa espécie?

E por que é um erro dizer que “descendemos dos macacos”?

A BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, apresenta cinco questões que podem surpreender sobre a evolução humana.

1. Não descendemos de macacos


Os homens modernos, da espécie Homo sapiens sapiens, não evoluíram dos macacos, mas compartilham um ancestral comum com eles.

“Um erro muito comum é pensar em 'macacos'. Esse erro causa muita gente negar uma teoria da evolução”, afirmou à BBC News Mundo ou paleoantropólogo espanhol José María Bermúdez de Castro.

“Para começar, é melhor declarar que somos mais uma espécie de ordem dos primatas”, diz o coordenador do Programa de Paleobiologia do Centro Nacional de Pesquisa sobre Evolução Humana, em Burgos, na Espanha, e codiretor do projeto de pesquisa e exploração nos locais arqueológicos da Serra de Atapuerca, também na Espanha.

Essa linhagem de primatas “começa sua história evolutiva há cerca de 7 milhões de anos. Naquela época, um ancestral comum com os chimpanzés divergiu em duas linhagens diferentes, provavelmente por razões climáticas”.

“Uma linhagem que deu origem aos chimpanzés, Pan paniscus e Pan trogloditas, permaneceu no oeste da África. Uma linhagem que acabou dando origem à humanidade atual evoluiu no sul e no leste da África.”

A Bermúdez de Castro acrescenta que compartilha aproximadamente 99% dos nossos genes com chimpanzés, mas uma diferença (aproximadamente 1,2%) é importante, uma vez que temos entre 20 e 25 mil genes operacionais.

“Deveríamos refletir sobre nossa relação próxima com esses primatas, nossos primos em primeiro grau”, completo ou científico espanhol.

2. Mais da metade do seu corpo não é humano


Estima-se que cerca de metade do nosso corpo é composto por células humanas, mas o restante é uma mistura de bactérias, vírus e fungos que compõem ou são conhecidos como microbioma.

Esse microbioma, que é tão particular quanto a impressão digital de cada um, tem influência sobre uma ampla variedade de funções, da digestão ao sistema imunológico.

“Você é 43% humano de acordo com as mais recentes, pode contar todas as células”, afirmou à BBC em 2018 o professor Rob Knight, da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos EUA.

Se pensarmos em termos genéticos, os números são ainda mais surpreendentes. Microbiólogos da escola de medicina da Universidade Harvard e do Joslin Diabetes Center, ambos nos EUA, analisaram o DNA de cerca de 3,5 mil toneladas de boca e intestinos.

Os resultados do estudo, publicados em 2019 na revista científica Cell Host & Microbe, apresentaram cerca de 46 milhões de genes bacterianos, sendo 24 milhões no microbioma da boca e 22 milhões no intestino.

3. Estamos repletos de vestígios evolutivos


A evolução é um processo que pode ser muito lento e alguns de seus vestígios podem permanecer por muito tempo depois que deixam de executar uma função.

Um exemplo é o apêndice, que critérios executados uma função útil para digestão de celulose das plantas em nossos ancestrais.

Os dentes do siso, que foram úteis para a maioria dos alimentos fibrosos, são outro exemplo.

O cóccix também é considerado um investimento evolutivo, que não contribuiu anteriormente para manter o equilíbrio. É o vestígio de uma cauda que, no caso de embriões humanos, aparece no final da quarta semana de desenvolvimento embrionário e desaparece no início da oitava semana.

E se você fica arrepiado quando sente frio ou medo, isso significa que suas fibras musculares conhecidas como arrectores pilorum (arrector pili, no singular) estão se contraindo involuntariamente, o que provavelmente causará arrepios.

Se você é um animal selvagem, pode ser útil ter os pelos arrepiados, há que assim podem capturar mais ar para reter o calor. Ou você pode parecer maior do que é, o que poderia desencorajar seus predadores. Mas, no caso dos seres humanos, nossos arrectores pilorum não oferecem nenhum desses benefícios.

4. Nossa espécie surgiu há cerca de 300 mil anos

A história da nossa origem tem mudado constantemente à medida que novos fósseis são descobertos. “Nossa espécie, Homo sapiens, surgiu na África há pouco mais de 200 mil anos.

Alguns pesquisadores acreditam que certos fósseis de um sítio arqueológico no Marrocos (Jebel Irhoud) já pertenciam à nossa espécie. Esses fósseis têm 315 mil anos”, explica Bermúdez de Castro.

“Independentemente deste debate sobre datas, não se sabe de nenhuma mudança importante no ambiente da África na época do Pleistoceno.”

As eras glaciais afetaram o hemisfério norte e tiveram impacto no enfraquecimento da espécie Homo neanderthalensis. “Mas na África subsaariana e no norte da África o clima não sofreu mudanças significativas. Portanto, nos escapa saber que circunstâncias favoreceram o surgimento dos primeiros hominídeos semelhantes a nós na maior parte de sua anatomia.”

“Certos aspectos culturais, como a arte ou o simbolismo, ainda levariam algum tempo para serem consolidados no Homo sapiens. Mas, do ponto de vista da anatomia, os homens africanos de 200 mil anos atrás eram praticamente indistinguíveis de nós.”

Atualmente, há muita discussão sobre a possibilidade de ter havido diferentes rotas de expansão do Homo sapiens para fora da África e por dois lugares diferentes: o Levante e o Estreito de Bab El-Mandeb, no Chifre da África.

“Não seria estranho. Os dados não são contraditórios e não afetam o resultado final: agora somos a única espécie de hominídeo do planeta.”

5. Não paramos de evoluir


Ainda estamos nos adaptando ao mundo ao nosso redor. Um exemplo é o rápido aumento, nas últimas 100 gerações do Reino Unido, do gene de tolerância à lactose, o açúcar do leite. Estima-se que há cerca de 11 mil anos, os homens adultos não eram capazes de digerir a lactose.

À medida que os seres humanos começaram a depender da produção de leite em certas regiões para se alimentar, seus corpos se adaptaram para digerir este alimento, que antes era tolerado apenas por crianças.

Em regiões com uma longa tradição de produção de laticínios, como a Europa, a população é muito mais tolerante à lactose do que na Ásia.

“É claro que não deixamos de evoluir e nunca deixaremos, enquanto continuarmos sendo uma espécie na Terra”, diz Bermúdez de Castro.

“A própria cultura está influenciando de maneira decisiva a nossa evolução. E essa influência será cada vez mais importante, no momento em que a tecnologia nos permitir manipular com segurança o genoma humano.”

“Pode ser que os experimentos de que temos notícia não sejam muito éticos e tenham riscos. Mas, ao longo dos anos, vai ser possível realizar essas manipulações. Se chegarmos a esse ponto, a mudança evolutiva será extremamente rápida”, avalia.

Texto publicado originalmente na edição em espanhol da BBC com o título “Teoria da Evolução: por que é errado dizer que viemos dos macacos e outras 4 questões sobre nossa origem”, em tradução livre para o português.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Silas Malafaia compara homossexual a traficante e a serial killer

'Somos maioria absoluta neste país' O repórter Eliseu Barreira Júnior, da Época, perguntou ao pastor Silas Malafaia (foto), da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, como ele reagiria caso tivesse um filho ou neto gay. O pastor disse que ia “melhorar” a pergunta do repórter, com uma resposta mais ampla, na qual citou criminosos para dizer o que faria. Afirmou: “Se algum filho meu fosse assassino, se algum neto meu fosse traficante, se algum filho meu fosse um serial killer e tivesse esquartejado 50, continuaria o amando da mesma forma, mas reprovando sua conduta. Meu amor por uma pessoa não significa que apoio o que ela faz. Daria o Evangelho para ele, diria que Jesus transforma, que ele não nasceu assim, que é uma opção dele”. Em maio de 2010, em uma audiência pública na Câmara dos Deputados, Malafaia já tinha feito uma comparação desastrada dizendo que, caso fosse aprovada a união estável entre pessoas do mesmo sexo, seria o caso de se permitir tudo, como relação sex

Cai mais uma lei anti-blasfêmia, agora na cidade paulista de Sorocaba

Bento 16 associa união homossexual ao ateísmo

Papa passou a falar em "antropologia de fundo ateu" O papa Bento 16 (na caricatura) voltou, neste sábado (19), a criticar a união entre pessoas do mesmo sexo, e, desta vez, associou-a ao ateísmo. Ele disse que a teoria do gênero é “uma antropologia de fundo ateu”. Por essa teoria, a identidade sexual é uma construção da educação e meio ambiente, não sendo, portanto, determinada por diferenças genéticas. A referência do papa ao ateísmo soa forçada, porque muitos descrentes costumam afirmar que eles apenas não acreditam em divindades, não se podendo a priori se inferir nada mais deles além disso. Durante um encontro com católicos de diversos países, Bento 16 disse que os “cristãos devem dizer ‘não’ à teoria do gênero, e ‘sim’ à aliança entre homens e mulheres no casamento”. Afirmou que a Igreja defende a “dignidade e beleza do casamento” e não aceita “certas filosofias, como a do gênero, uma vez que a reciprocidade entre homens e mulheres é uma expressão da bel

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Brasil já tem pelo menos dez igrejas dedicadas aos gays

Título original: Desafiando preconceito, cresce número de igrejas inclusivas no Brasil por Luís Guilherme Barrucho , da BBC Brasil As inclusivas se concentram no eixo São Paulo-Rio Encaradas pelas minorias como um refúgio para a livre prática da fé, as igrejas "inclusivas" - voltadas predominantemente para o público gay - vêm crescendo a um ritmo acelerado no Brasil, à revelia da oposição de alas religiosas mais conservadoras. Estimativas feitas por especialistas a pedido da BBC Brasil indicam que já existem pelo menos dez diferentes congregações de igrejas gay-friendly no Brasil, com mais de 40 missões e delegações espalhadas pelo país. Concentradas, principalmente, no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, elas somam em torno de 10 mil fiéis, ou 0,005% da população brasileira. A maioria dos membros (70%) é composta por homens, incluindo solteiros e casais, de diferentes níveis sociais. O número ainda é baixo se comparado à quantidade de católicos e evangélico

Limpem a boca para falar do Drauzio Varella, cristãos hipócritas!

Varella presta serviço que nenhum médico cristão quer fazer LUÍS CARLOS BALREIRA / opinião Eu meto o pau na Rede Globo desde o começo da década de 1990, quando tinha uma página dominical inteira no "Diário do Amazonas", em Manaus/AM. Sempre me declarei radicalmente a favor da pena de morte para estupradores, assassinos, pedófilos, etc. A maioria dos formadores de opinião covardes da grande mídia não toca na pena de morte, não discutem, nada. Os entrevistados de Sikera Júnior e Augusto Nunes, o povo cristão da rua, também não perdoam o transexual que Drauzio, um ateu, abraçou . Então que tipo de país de maioria cristã, tão propalada por Bolsonaro, é este. Bolsonaro é paradoxal porque fala que Jesus perdoa qualquer crime, base haver arrependimento Drauzio Varella é um médico e é ateu e parece ser muito mais cristão do que aqueles dois hipócritas.  Drauzio passou a vida toda cuidando de monstros. Eu jamais faria isso, porque sou ateu e a favor da pena de mor

Pregação de químico contra evolução preocupa cientistas

O bioquímico evangélico Eberlin diz que  teoria da evolução é falácia Um grupo de cientistas enviou em março uma carta à ABC (Academia Brasileira de Ciência) manifestando “preocupação com a tentativa de popularização de ideias retrógradas que afrontam o método científico”. Trata-se de uma referência ao bioquímico evangélico Marcos Eberlin (foto), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que também é membro da academia. O bioquímico tem se destacado pelas suas pesquisas sobre uma técnica para medir massas e composição de moléculas e pelas palestras onde critica a teoria da evolução, de Charles Darwin (1809-1882), com a afirmação de que a ciência tem produzido cada vez mais dados indicativos de que existe uma mente inteligente por detrás de toda a criação. Eberlin defende a ideia do design inteligente segundo a qual não houve na Terra evolução da vida, que é, no seu entendimento, uma obra de Deus. “'Não aceito a evolução porque as evidências químicas que ten

Sottomaior responde a Gandra: fundamentalismo ateu é ficção

Título original: O fundamentalismo de cada dia por Daniel Sottomaior para Folha em resposta a Integrante da Opus Dei critica o ‘fundamentalismo ateu’ brasileiro Sottomaior é presidente da  Associação Brasileira  dos Ateus e Agnósticos Segundo Ives Gandra, em recente artigo nesta Folha ("Fundamentalismo ateu", 24/11), existe uma coisa chamada "fundamentalismo ateu", que empreende "guerra ateia contra aqueles que vivenciam a fé cristã". Nada disso é verdade, mas fazer os religiosos se sentirem atacados por ateus é uma estratégia eficaz para advogados da cúria romana. Com o medo, impede-se que indivíduos possam se aproximar das linhas do livre-pensamento. É bom saber que os religiosos reconhecem o dano causado pelo fundamentalismo, mas resta deixar bem claro que essa conta não pode ser debitada também ao ateísmo. Os próprios simpatizantes dos fundamentos do cristianismo, que pregam aderência estrita a eles, criaram a palavra "fund

Atirador chegou a frequentar um templo da Testemunhas de Jeová

Menino de pouca fala e grande apego à mãe Rosilane de Oliveira, irmã de criação do atirador Wellington Menezes, disse que a família gostaria que ele fosse da religião Testemunhas de Jeová. Amigos de Oliveira afirmaram que ele tinha se convertido informalmente ao islamismo, mas, antes, tentou seguir o conselho da família, principalmente da mãe, a quem era muito apegado: frequentou um templo da TJs. >  Líder religioso confirma que atirador foi da Testemunhas de Jeová. Já por natureza quieto, o comportamento do rapaz pode ser descrito como o de um típico seguidor da TJs: evitava falar com quem não fosse de sua religião, era pacto, não fumava nem bebia e sempre chegava sem atraso ao trabalho, um  almoxarifado de uma fábrica. Depois que a mãe morreu, há cerca de dois anos, ele teria desistido da TJs. Foi quando se converteu ao islamismo. Passou a se vestir de preto e por alguns tempos usou uma barba longa. Seu pai, Guido Bulgana Cubas de Oliveira, tinha morrido havia c