Pular para o conteúdo principal

Desafio às advertências do Corão: aumentam os ateus entre os árabes

Apostasia é uma grande
 afronta para o Islã


por Francesca Paci
para La Stampa

"Eu não sei se Deus existe, mas se existe e a mim cabe curar as doenças à mercê das quais deixa as crianças, deve ser muito ruim". Assim falou Sharif, um oncologista da ala pediátrica de um grande hospital privado egípcio, em uma noite quente do Cairo há algum tempo. 

Como mais de 85% dos seus compatriotas, Sharif nasceu e foi criado como muçulmano numa sociedade que, embora se secularizando nos costumes, considera a fé o paradigma da vida e o ateísmo o mais inviolável dos tabus.

No entanto, Sharif não é o único: a dúvida iluminista à qual até agora parecia imune a umma, a grande família do Islã, começa a insinuar-se também à sombra do Alcorão, o texto não interpretável por excelência e, portanto, indiscutível em seu papel de guia moral e política, como os reformistas bem sabem como Muhammad Taha, o teólogo sudanês inimigo da sharia enforcado em 1985 sob a acusação de apostasia.

De acordo com uma recente pesquisa do Barômetro Árabe em 10 países diferentes no norte da África e no Oriente Médio, os árabes, um quinto do mais de um bilhão e meio de muçulmanos mundo, estão cada vez mais inclinados a questionar o próprio credo.

Estamos falando de números ainda pequenos em comparação com o Ocidente, mas é um fato que a porcentagem daqueles que se dizem "não religiosos" tenha aumentado em média de 8% em 2013 para 13% em 2019. 

Entre as pessoas com menos de 30 anos, o fenômeno é ainda mais significativo: com exceção dos palestinos, povo antigamente menos religiosos do quanto seja hoje (os não crentes passaram de 8% apenas para 9%), um jovem em cada cinco não reconhece a dimensão confessional como fulcro da própria identidade.

Toda sociedade tem sua própria história, é claro. No estudo do Barômetro Árabe, a atitude em relação à religião é medida com a condição feminina, a segurança, a relação com a sexualidade. Portanto, não surpreende que o avanço do secularismo seja maior onde o solo é mais fértil como na Tunísia, com a declaração dos renitentes à fé (de 16% para 35%) surgindo em um país onde, desde a década de 1950, foi banida a poligamia, as mulheres votam e têm acesso a cargos públicos, enquanto o aborto é legal desde 1965, muito antes do que nos Estados Unidos e em vários países europeus. 

Afora a Tunísia, os "objetores" crescem rapidamente: na Líbia (de 11% para 25%), na Argélia (de 8% para 13%), no Marrocos(de 4% para 12%), no Egito (de 12%).

O ponto não é a dimensão espiritual, que o Ocidente secular, aliás, está começando a redescobrir agora. A submissão cega a Deus torna-se o símbolo de uma imobilidade social asfixiante se religião e política se sobrepõem, como em quase todos os lugares do mundo muçulmano. 

É interessante, portanto, que depois de 2011, a promissora temporada das revoltas árabes que muito rapidamente murchou, a questão sobre a vida após a morte tenha aberto seu caminho precisamente entre aqueles que se atreveram a desafiar os poderes e regimes imutáveis.

A colocar preto no branco a mudança de ritmo foi, em 2013, o livro do repórter britânico Brian Whitaker Arabs without God, "Árabes sem Deus", uma série de histórias de não crentes que circularam no início de uma forma quase clandestina, considerando que Riad julga o ateísmo equivalente ao terrorismo, enquanto o Egito de Al Sisi, em parceria com a Universidade de Ahzar e a Igreja ortodoxa, jurou lutar contra "uma moda" que um jornal local de alguns anos atrás estimava já ter infectado 3 milhões de jovens.

Mais laicos, portanto, embora a palavra não seja nem mesmo bem traduzível em árabe. Mas ainda mais dispostos a uma mulher presidente (mais de 50%), embora com exceção do Marrocos, a maioria ainda acredite que o marido tenha prioridade sobre a esposa.

 O preconceito contra a homossexualidade permanece vivo, última fronteira identitária depois de ter afetado um pouco aquela da fé.

Com tradução é de Luisa Rabolini para IHU Online,




Ateísmo crescente preocupa países do Oriente Médio

Tunísia é o 1º país árabe muçulmano a permitir associação de ateus

Fundação de Dawkins traduz ‘Deus, um delírio' para países de muçulmanos

Ateus correm risco de morte em 13 países, constata relatório


Comentários

Novo Satanás disse…
Se Deus não existe, não existe lago de fogo e enxofre, então é melhor se matar, pois com a morte acabam-se todos os tipos de problemas. Mas, se Deus existe, pode-se ser a favor ou contra Deus. Eu sou contra Deus, pois Deus mandou o homem trabalhar no mesmo tempo em que foi feita a Terra, mas não mandou o homem fazer a própria Terra, pois assim como quem jura pelo templo, jura pelo tesouro do templo(Mateus 23), quem fez o serviço de fazer a Terra, teve o tempo de serviço de seis dias.
Savio silva disse…
O islã é uma religião ultrapassada. Acho que o ateísmo entre os islamicos é algo inevitável.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Mulher morre na Irlanda porque médicos se negam a fazer aborto

da BBC Brasil Agonizando, Savita aceitou perder o bebê, disse o marido  Uma mulher morreu em um hospital [católico] da Irlanda após ter seu pedido de aborto recusado pelos médicos. A gravidez de Savita Halappanavar (foto), de 31 anos, tinha passado dos quatro meses e ela pediu várias vezes aos funcionários do Hospital da Universidade de Galway para que o aborto fosse realizado, pois sentia dores fortes nas costas e já apresentava sintomas de um aborto espontâneo, quando a mãe perde a criança de forma natural. Mas, de acordo com declarações do marido de Savita, Praveen Halappanavar, os funcionários do hospital disseram que não poderiam fazer o procedimento justificando "enquanto houvesse batimento cardíaco do feto" o aborto não era possível. O aborto é ilegal na Irlanda a não ser em casos de risco real para a vida da mãe. O procedimento é tradicionalmente um assunto muito delicado no país cuja maioria da população é católica. O que o inquérito aberto pelo gover...

BC muda cédulas do real, mas mantém 'Deus seja Louvado'

Louvação fere o Estado laico determinado pela Constituição  O Banco Central alterou as cédulas de R$ 10 e R$ 20, “limpou” o visual e acrescentou elementos de segurança, mas manteve a expressão inconstitucional “Deus seja Louvado”.  As novas cédulas, que fazem parte da segunda família do real, começaram a entrar em circulação no dia 23. Desde 2011, o Ministério Público Federal em São Paulo está pedindo ao Banco Central a retirada da frase das cédulas, porque ela é inconstitucional. A laicidade determinada pela Constituição de 1988 impede que o Estado abone qualquer tipo de mensagem religiosa. No governo, quanto à responsabilidade pela manutenção da frase, há um empurra-empurra. O Banco Central afirma que a questão é da alçada do CMN (Conselho Monetário Nacional), e este, composto por um colegiado, não se manifesta. Em junho deste ano, o ministro Marco Aurélio, do STF (Supremo Tribunal Federal), disse que a referência a Deus no dinheiro é inconcebível em um Estado mode...

Cinco deuses filhos de virgens morreram e ressuscitam. E nenhum deles é Jesus

Fundamentalismo de Feliciano é ‘opinião pessoal’, diz jornalista

Sheherazade não disse quais seriam as 'opiniões não pessoais' do deputado Rachel Sheherazade (foto), apresentadora do telejornal SBT Brasil, destacou na quarta-feira (20) que as afirmações de Marco Feliciano tidas como homofóbicas e racistas são apenas “opiniões pessoais”, o que pareceu ser, da parte da jornalista,  uma tentativa de atenuar o fundamentalismo cristão do pastor e deputado. Ficou subentendido, no comentário, que Feliciano tem também “opiniões não pessoais”, e seriam essas, e não aquelas, que valem quando o deputado preside a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Se assim for, Sheherazade deveria ter citado algumas das opiniões “não pessoais” do pastor-deputado, porque ninguém as conhece e seria interessante saber o que esse “outro” Feliciano pensa, por exemplo, do casamento gay. Em referência às críticas que Feliciano vem recebendo, ela disse que “não se pode confundir o pastor com o parlamentar”. A jornalista deveria mandar esse recado...

Adventistas vão intensificar divulgação do criacionismo

Consórcio vai investir em pesquisa na área criacionista A Igreja Adventista do Sétimo Dia anunciou o lançamento de um consórcio para intensificar a divulgação do criacionismo no Brasil e em outros países sul-americanos. Na quinta-feira (13), em Brasília, entidades como Sociedade Criacionista Brasileira, Núcleo de Estudos das Origens e Museu de Geociências das Faculdades Adventistas da Bahia assinaram um protocolo para dar mais destaque à pesquisa criacionista e às publicações sobre o tema. Os adventistas informaram que o consórcio vai produzir vídeos para adolescentes e jovens explicando a criação e como ocorreu o dilúvio e um plano piloto de capacitação de professores. O professor Edgard Luz, da Rede de Educação Adventistas para oitos países sul-americanos, disse que o lançamento do consórcio é um “passo muito importante”, porque “o criacionismo está ligado à primeira mensagem angélica da Bíblia”. Com informação do site da Igreja Adventista . Colégio adventista de ...

Livros citados neste site

Arcebispo defende permanência de ‘Deus’ em notas do real

Dom Scherer diz que descrentes não deveriam se importar   Dom Odilo Scherer (foto), arcebispo metropolitano de São Paulo, criticou a ação que o MPF (Ministério Público Federal) enviou à Justiça Federal solicitando a determinação no sentido de que a expressão “Deus seja louvado” deixe de constar nas cédulas do real. Em nota, Scherer disse: "Questiono por que se deveria tirar a referência a Deus nas notas de real. Qual seria o problema se as notas continuassem com essa alusão a Deus?" Argumentou que, “para quem não crê em Deus, ter ou não ter essa referência não deveria fazer diferença. E, para quem crê em Deus, isso significa algo”. O promotor Jefferson Aparecido Dias, autor da ação, defendeu a supressão da expressão porque o Estado brasileiro é laico e, por isso, não pode ter envolvimento com nenhuma religião, mesmo as cristãs, que são professadas pela maioria da população. Scherer, em sua nota, não fez menção ao Estado laico, que está previsto na Constituição. E...

Mais contradições bíblicas: vire a outra face aos seus inimigos e olho por olho e dente por dente

Crânio de 20 milhões de anos registra começo da evolução do cérebro