Pular para o conteúdo principal

Religião exacerba o conflito entre palestinos e judeus

Pesquisa feita com crianças mostra que as crenças religiosas tendem a separar as pessoas 


MARINO BOEIRA
jornalista, é formado em história pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Pravda.ru

O conflito entre palestinos e judeus é basicamente político. Israel não aceita a existência de um Estado
palestino que englobe as terras que ocupa desde 1967.

Mas o conflito é também exacerbado pelas posições religiosas opostas dos dois lados. Em seu livro "Deus, um Delírio" (The God Delusion), o autor, Richard Dawkins dá um exemplo de como, nesse caso, a religião contribui para ampliar as diferenças entre os dois povos.

Em 2006, o psicólogo israelense Georges Tamarin realizou um teste para saber como as crianças de hoje reagem diante das narrativas bíblicas. Mais de mil crianças israelenses, entre 8 e 14 anos, ouviram o relato da batalha de Jericó, contido no chamado Livro de Josué:

"Disse Josué ao povo: gritai, porque o Senhor vos tem dado a cidade. Porém a cidade será anátema ao Senhor, ela e tudo quanto houver nela. Toda a prata, e o ouro, e os vasos de metal e de ferro são consagrados ao Senhor; irão ao tesouro do Senhor. E tudo quando havia na cidade destruíram totalmente ao fio da espada, desde o homem até à mulher, desde o menino até ao velho, e até ao boi e gado miúdo e ao jumento. Tão somente a prata, e o ouro e os vasos de metal e de ferro deram para o tesouro da casa do Senhor."

Religião está na origem
da carnificina no
Oriente Médio
FOTO: REDE SOCIAL

Tamarin perguntou às crianças se elas achavam que Josué e os israelitas agiram bem ou não. Do total, 66% deram aprovação completa, 26% reprovação total e 8%, aprovação parcial. Entre os que aprovaram a ação, as explicações mais típicas foram:

"Deus prometera esta terra a eles. Se eles não tivessem agido dessa maneira ou não tivessem matado ninguém, haveria o perigo de que os filhos de Israel fossem assimilados pelos Góis"; "Josué agiu certo porque Deus mandou que ele exterminasse o povo para que as tribos de Israel não fossem assimiladas entre eles e aprendessem seus maus hábitos"; "o povo que morava na terra era de uma religião diferente, e quando Josué os matou ele varreu a religião deles da face da terra"

Entre os que reprovaram, houve explicações como estas para a posição que assumiram:

"Acho que foi ruim, já que os árabes são impuros e se alguém entra numa terra impura também fica impuro e amaldiçoado como eles"; "acho que Josué não agiu bem, porque eles podiam ter poupado os animais para eles mesmos"; "acho que ele podia ter deixado os bens de Jericó, porque se eles não fossem destruídos,poderiam ter ficado para os israelitas."

Para um grupo diferente de 168 crianças israelenses, foi contada a mesma história, só mudando os nomes de Josué para um hipotético general chinês chamado Lin e de Israel por um reino chinês de 3 mil anos atrás. Dessa vez, o resultado foi que apenas 7% aprovaram o procedimento do general chinês e 75% o reprovaram.

A pesquisa do psicólogo israelense mostra que os caminhos que possam levar a um entendimento na Palestina são muito difíceis e que o ensino religioso, principalmente aquele fundamentalista, está formando gerações comprometidas com a guerra e não com a paz.

Caso o mesmo teste tivesse sido aplicado às crianças palestinas é bem possível que o resultado fosse parecido, o que mostra até que ponto a religião serve para separar os povos e levá-los muitas vezes à guerra. 

Por trás dos conflitos entre católicos e protestantes na Irlanda, entre xiitas e sunitas nos países árabes e mesmo nos Balcãs, aparece uma questão religiosa, ainda que ela não seja sempre a causa fundamental para que eles existam. 

Nesses casos, ela serve para identificar as partes oponentes, aumentar a carga de ódio entre elas e levantar uma bandeira moral para justificar a matança dos pretensos inimigos.

• Líderes religiosos terão pouca influência na eleição presidencial


Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Ateu usa coador de macarrão como chapéu 'religioso' em foto oficial

Fundamentalismo de Feliciano é ‘opinião pessoal’, diz jornalista

Sheherazade não disse quais seriam as 'opiniões não pessoais' do deputado Rachel Sheherazade (foto), apresentadora do telejornal SBT Brasil, destacou na quarta-feira (20) que as afirmações de Marco Feliciano tidas como homofóbicas e racistas são apenas “opiniões pessoais”, o que pareceu ser, da parte da jornalista,  uma tentativa de atenuar o fundamentalismo cristão do pastor e deputado. Ficou subentendido, no comentário, que Feliciano tem também “opiniões não pessoais”, e seriam essas, e não aquelas, que valem quando o deputado preside a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Se assim for, Sheherazade deveria ter citado algumas das opiniões “não pessoais” do pastor-deputado, porque ninguém as conhece e seria interessante saber o que esse “outro” Feliciano pensa, por exemplo, do casamento gay. Em referência às críticas que Feliciano vem recebendo, ela disse que “não se pode confundir o pastor com o parlamentar”. A jornalista deveria mandar esse recado...

PMs de Cristo combatem violência com oração e jejum

Violência se agrava em SP, e os PMs evangélicos oram Houve um recrudescimento da violência na Grande São Paulo. Os homicídios cresceram e em menos de 24 horas, de anteontem para ontem, ocorreram pelo menos 20 assassinatos (incluindo o de policiais), o triplo da média diária de seis mortes por violência. Um grupo de PMs acredita que pode ajudar a combater a violência pedindo a intercessão divina. A Associação dos Policiais Militares Evangélicos do Estado de São Paulo, que é mais conhecida como PMs de Cristo, iniciou no dia 25 de outubro uma campanha de “52 dias de oração e jejum pela polícia e pela paz na cidade”, conforme diz o site da entidade. “Essa é a nossa nobre e divina missão. Vamos avante!” Um representante do comando da corporação participou do lançamento da campanha. Com o objetivo de dar assistência espiritual aos policiais, a associação PMs de Cristo foi fundada em 1992 sob a inspiração de Neemias, o personagem bíblico que teria sido o responsável por uma mobili...

Wyllys vai processar Feliciano por difamação em vídeo

Wyllys afirmou que pastor faz 'campanha nojenta' contra ele O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), na foto, vai dar entrada na Justiça a uma representação criminal contra o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) por causa de um vídeo com ataques aos defensores dos homossexuais.  O vídeo “Marco Feliciano Renuncia” de oito minutos (ver abaixo) foi postado na segunda-feira (18) por um assessor de Feliciano e rapidamente se espalhou pela rede social por dar a entender que o deputado tinha saído da presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, da Câmara. Mas a “renúncia” do pastor, no caso, diz o vídeo em referência aos protestos contra o deputado, é à “privacidade” e às “noites de paz e sono tranquilo”, para cuidar dos direitos humanos. O vídeo termina com o pastor com cara de choro, colocando-se como vítima. Feliciano admitiu que o responsável pelo vídeo é um assessor seu, mas acrescentou que desconhecia o conteúdo. Wyllys afirmou que o vídeo faz parte de uma...

Embrião tem alma, dizem antiabortistas. Mas existe alma?

por Hélio Schwartsman para Folha  Se a alma existe, ela se instala  logo após a fecundação? Depois do festival de hipocrisia que foi a última campanha presidencial, com os principais candidatos se esforçando para posar de coroinhas, é quase um bálsamo ver uma autoridade pública assumindo claramente posição pró-aborto, como o fez a nova ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci. E, como ela própria defende que a questão seja debatida, dou hoje minha modesta contribuição. O argumento central dos antiabortistas é o de que a vida tem início na concepção e deve desde então ser protegida. Para essa posição tornar-se coerente, é necessário introduzir um dogma de fé: o homem é composto de corpo e alma. E a Igreja Católica inclina-se a afirmar que esta é instilada no novo ser no momento da concepção. Sem isso, a vida humana não seria diferente da de um animal e o instante da fusão dos gametas não teria nada de especial. O problema é que ninguém jamais demonstrou que ...

Defensores do Estado laico são ‘intolerantes’, diz apresentadora

Evangélico quebrou centro espírita para desafiar o diabo

"Peguei aquelas imagens e comei a quebrar" O evangélico Afonso Henrique Alves , 25, da Igreja Geração Jesus Cristo, postou vídeo [ver abaixo] no Youtube no qual diz que depredou um centro espírita em junho do ano passado para desafiar o diabo. “Eu peguei todas aquelas imagens e comecei a quebrar...” [foto acima] Na sexta (19), ele foi preso por intolerância religiosa e por apologia do ódio. “Ele é um criminoso que usa a internet para obter discípulos”, disse a delegada Helen Sardenberg, depois de prendê-lo ao término de um culto no Morro do Pinto, na Zona Portuária do Rio. Também foi preso o pastor Tupirani da Hora Lores, 43. Foi a primeira prisão no país por causa de intolerância religiosa, segundo a delegada. Como 'discípulo da verdade', Alves afirma no vídeo coisas como: centro espírito é lugar de invocação do diabo, todo pai de santo é homossexual, a imprensa e a polícia estão a serviço do demônio, na Rede Globo existe um monte de macumbeiros, etc. A...

Físico afirma que cientistas só podem pensar na existência de Deus como hipótese

Apoio de âncora a Feliciano constrange jornalistas do SBT

Opiniões da jornalista são rejeitadas pelos seus colegas O apoio velado que a âncora Rachel Sheherazade (foto) manifestou ao pastor-deputado Marco Feliciano (PSC-SP)  deixou jornalistas e funcionários do "SBT Brasil" constrangidos. O clima na redação do telejornal é de “indignação”, segundo a Folha de S.Paulo. Na semana passada, Sheherazade minimizou a importância das afirmações tidas como homofóbicas e racistas de Feliciano, embora ele seja o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, dizendo tratar-se apenas de “opinião pessoal”. A Folha informou que os funcionários do telejornal estariam elaborando um abaixo assinado intitulado “Rachel não nos representa” para ser encaminhado à direção da emissora. Marcelo Parada, diretor de jornalismo do SBT, afirmou não saber nada sobre o abaixo assinado e acrescentou que os âncoras têm liberdade para manifestar sua opinião. Apesar da rejeição de seus colegas, Sheherazade se sente segura no cargo porque ela cont...