Pular para o conteúdo principal

Ex-astróloga adverte que a astrologia pode causar danos


Astrologia é uma das mais
antigas pseudociências

Åsa Dahlström Heuser (na foto abaixo),  ateia de bom-humor, como se define na internet, adverte que a astrologia não é inofensiva como pode parecer, porque, entre outros males, pode criar estigmas, como o de que pessoas de determinados signos “não combinam” com os de outras.

Åsa (pronuncia-se “ôssa”) fala com a experiência de ter sido uma crente da astrologia que fez um percurso radical rumo ao ceticismo. Atualmente, ela é presidente da LiHS (Liga Humanista Secular do Brasil), entidade que se posiciona contra as pseudociências, como a astrologia, e defende o Estado laico.

Ela descende de suecos e nasceu na Finlândia. Casada há 41 anos, tem três filhos e quatro netos. Mora em Guaíba, Rio Grande do Sul.

Ela concedeu a este site uma entrevista por e-mail. Perguntas e respostas foram apresentadas por escrito.

A primeira parte da entrevista é sobre astrologia e segunda, sobre humanismo no Brasil e o Estado laico.


"Astrologia é crença ultrapassada"

Paulopes: Você era astróloga profissional e acabou rumando para o extremo oposto. Como se deu esse percurso? Ocorreu ao longo de um processo de conscientização ou se deu por um lampejo?

Åsa estudou
astrologia
por 20 anos


Åsa: Não sei se dá para dizer que alguma vez fui profissional. Estudei astrologia por um desejo muito grande de autoconhecimento (sempre me interessei muito por psicologia também), o meu objetivo principal era analisar a mim mesma. Com o tempo comecei a fazer mapas astrais de outras pessoas, mas no começo não cobrava nada. Depois comecei a cobrar um valor bastante baixo. Sempre que analisava um mapa a ênfase maior era nos aspectos psicológicos e como a pessoa poderia agir para resolver seus problemas emocionais e melhorar como pessoa. Mas sempre me considerei amadora, até o fim.

O meu processo de desconversão não foi tão longo, mas também não foi repentino. Quando entrei em contato com a STR (Sociedade da Terra Redonda) em 2000 comecei a ler textos sobre pesquisas que mostravam que a astrologia não era válida. Antes disso eu já havia começado a me sentir insegura, percebi que não conseguiria sustentar um argumento a favor da astrologia com uma pessoa cética como meu pai. Ainda assim foi complicado porque foram vinte anos estudando e praticando e na cidade onde morávamos onde eu era já conhecida por isso. Aí quando nos mudamos para outra cidade eu dei todo o meu material, vendi os livros e queimei os mapas astrais que tinha guardados. Me senti ótima.

A astrologia surgiu em uma época em que se acreditava que a Terra era o centro do universo. Como se explica o fato de ainda haver pessoas supostamente bem esclarecidas que acreditam nesse tipo de coisa?

As pessoas têm um anseio muito grande por algo que lhes dê uma explicação e também uma sensação de controle sobre as suas vidas. E os cálculos matemáticos envolvidas na elaboração dos mapas para calcular a posição dos planetas e luminares dão uma falsa sensação de que é algo científico. É o que acontece com quase todas as pseudociências. Também tem o fato de se usar a expressão "energia" que tem um apelo muito forte atualmente.


Há quem diga que a astrologia, se bem não faz, também não tem influência maléfica nas pessoas. Concorda com isso? A ampla divulgação de uma pseudociência pode ter efeito nulo?


Pode parecer que é inofensivo, mas não é. O fato de alguém ser de um determinado signo já faz com que as pessoas criem uma expectativa e apliquem um estereótipo naquela pessoa. Há a ideia de que certos signos "não combinam", ou torna a pessoa não confiável ou não adequada a certas profissões e funções. Recentemente soube que há empresas que usam o critério do signo como fator para aceitar ou rejeitar candidatos a emprego. E ainda tem as previsões, que podem fazer com que as pessoas mudem os seus planos.

Meu marido também é de Escorpião, como eu. Um dia há muitos anos vi nas previsões de um jornal (nunca acreditei nessas previsões mesmo quando praticava a astrologia) e vi a frase "prepare-se para mudar de estado civil". Falei para o meu marido, "acho que vamos ter que nos divorciar", e rimos.

Há muitas perdas e danos decorrentes de crenças em pseudociências, mas muito desse prejuízo — que por vezes inclui até vidas humanas — acaba por não ser documentado. Tim Farley, um engenheiro de software que vive nos EUA, criou um site que documenta algumas dessas perdas: http://whatstheharm.net/astrology.html

Uma pesquisa americana revelou que, entre os “crentes” da astrologia, a maioria é composta por mulheres? O que explica isso? As mulheres seriam mais suscetíveis a pseudociências? Por quê?

Provavelmente tem a ver com o fato de que sempre se atribui à mulher uma maior sensibilidade e intuição. E também se atribui às mulheres menor capacidade para as ciências exatas. Estereótipos que prejudicam bastante.

Em resumo, a astrologia está mais perto da religião ou da psicanálise?


Não sei se dá para comparar com qualquer um dos dois. É uma mistura de coisas, e há várias formas de se fazer astrologia, com vários enfoques diferentes. Se faz uma análise da personalidade e tendências, mas também se faz previsões para de alguma forma controlar o futuro. Existe uma vertente que analisa a que tipo de doenças e problemas a pessoa tem mais propensão, por exemplo.

Muita gente genuinamente acredita na astrologia e a pratica por imaginar que está acessando um conhecimento “oculto” e que pode ajudar as pessoas. Mas no fim das contas, astrologia é uma crença ultrapassada que não deveria mais ter lugar no século XXI. Pode ser até legal como expressão artística, mas não é ciência, nem tecnologia.





Vídeo do Porta dos Fundos ridiculariza o mapa astral

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Caso Roger Abdelmassih

Violência contra a mulher Liminar concede transferência a Abelmassih para hospital penitenciário 23 de novembro de 2021  Justiça determina que o ex-médico Roger Abdelmassih retorne ao presídio 29 de julho de 2021 Justiça concede prisão domiciliar ao ex-médico condenado por 49 estupros   5 de maio de 2021 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico Abdelmassih 26 de fevereiro de 2021 Corte de Direitos Humanos vai julgar Brasil por omissão no caso de Abdelmassih 6 de janeiro de 2021 Detento ataca ex-médico Roger Abdelmassih em hospital penitenciário 21 de outubro de 2020 Tribunal determina que Abdelmassih volte a cumprir pena em prisão fechada 29 de agosto de 2020 Abdelmassih obtém prisão domicililar por causa do coronavírus 14 de abril de 2020 Vicente Abdelmassih entra na Justiça para penhorar bens de seu pai 20 de dezembro de 2019 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico estuprador 19 de novembro de 2019 Justiça cancela prisão domi...

Professor obtém imunidade para criticar criacionismo nas aulas

A Corte de Apelação da Califórnia (EUA) decidiu que um professor de uma escola pública de Mission Viejo tem imunidade para depreciar o criacionismo, não podendo, portanto, ser punido por isso. A cidade fica no Condado de Orange e tem cerca de 94 mil habitantes. Durante uma aula, o professor de história James Corbett, da Capistrano Valley High School, afirmou que o criacionismo não pode ser provado cientificamente porque se trata de uma “bobagem supersticiosa”. Um aluno foi à Justiça alegando que Corbett ofendeu a sua religião, desrespeitando, assim, a liberdade de crença garantida pela Primeira Emenda da Constituição. Ele perdeu a causa em primeira instância e recorreu a um tribunal superior. Por unanimidade, os três juízes da Corte de Apelação sentenciaram que a Primeira Emenda não pode ser utilizada para cercear as atividades de um professor dentro da sala de aula, mesmo quando ele hostiliza crenças religiosas. Além disso, eles também argumentaram que o professor não ...

Reação de aluno ateu a bullying acaba com pai-nosso na escola

O estudante já vinha sendo intimidado O estudante Ciel Vieira (foto), 17, de Miraí (MG), não se conformava com a atitude da professora de geografia Lila Jane de Paula de iniciar a aula com um pai-nosso. Um dia, ele se manteve em silêncio, o que levou a professora a dizer: “Jovem que não tem Deus no coração nunca vai ser nada na vida”. Era um recado para ele. Na classe, todos sabem que ele é ateu. A escola se chama Santo  Antônio e é do ensino estadual de Minas. Miraí é uma cidade pequena. Tem cerca de 14 mil habitantes e fica a 300 km de Belo Horizonte. Quando houve outra aula, Ciel disse para a professora que ela estava desrespeitando a Constituição que determina a laicidade do Estado. Lila afirmou não existir nenhuma lei que a impeça de rezar, o que ela faz havia 25 anos e que não ia parar, mesmo se ele levasse um juiz à sala de aula. Na aula seguinte, Ciel chegou atrasado, quando a oração estava começando, e percebeu ele tinha sido incluído no pai-nosso. Aparentemen...

Aluno com guarda-chuva se joga de prédio e vira piada na UERJ

"O campus é depressivo, sombrio, cinza, pesado" Por volta das 10h de ontem (31 de março de 2001), um jovem pulou do 11º andar do prédio de Letra da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e virou motivo de piadinhas de estudantes, no campus Maracanã e na internet, por ter cometido o suicídio com um guarda-chuva. Do Orkut, um exemplo: "Eu vi o presunto, e o mais engraçado é que ele está segurando um guarda-chuva! O que esse imbecil tentou fazer? Usar o guarda-chuva de paraquedas?" Uma estudante de primeiro ano na universidade relatou em seu blog que um colega lhe dissera na sala de aula ter ouvido o som do impacto da queda de alguma coisa. Contou que depois, de uma janela do 3º andar, viu o corpo. E escreveu o que ouviu de um estudante veterano: “Parabéns, você acaba de ver o seu primeiro suicídio na UERJ.” De fato, a morte do jovem é mais uma que ocorre naquele campus. Em um site que deu a notícia do suicido, uma estudante escreveu: “O campus é depressivo, s...

Seleção feminina de vôlei não sabe que Brasil é laico desde 1891

Título original: O Brasil é ouro em intolerância Jogadoras  se excederam com oração diante das câmeras por André Barcinski para Folha Já virou hábito: toda vez que um time ou uma seleção do Brasil ganha um título, os atletas interrompem a comemoração para abrir um círculo e rezar. Sempre diante das câmeras, claro. O mesmo aconteceu sábado passado, quando a seleção feminina de vôlei conquistou espetacularmente o bicampeonato olímpico em cima da seleção norte-americana, que era favorita. O Brasil é oficialmente laico desde 1891 e a Constituição prevê a liberdade de religião. Será mesmo? O que aconteceria se alguma jogadora da seleção de vôlei fosse budista? Ou mórmon? Ou umbandista? Ou agnóstica? Ou islâmica? Alguém perguntou a todas as atletas e aos membros da comissão técnica se gostariam de rezar o “Pai Nosso”? Ou será que alguns se sentiram compelidos a participar para não destoar da festa? Será que essas manifestações públicas e encenadas, em vez de prop...

Ateus são o grupo que menos apoia a pena de morte, apura Datafolha

No noticiário, casos de pastores pedófilos superam os de padres

Cinco deuses filhos de virgens morreram e ressuscitam. E nenhum deles é Jesus