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Dawkins fala em Porto Alegre sobre ciência a 3 mil pessoas

por Caue Fonseca
para Zero Hora

Biólogo britânico disse
que o gene é egoísta,
mas o indivíduo não
Quem esperava polêmica, se decepcionou. Ao menos logo de início. À maior plateia reunida na história do projeto Fronteiras do Pensamento — 3 mil pessoas, a lotação do Auditório Araújo Viana, em Porto Alegre (RS) —, o biólogo britânico Richard Dawkins (foto) realizou uma palestra simples e didática amparada em sua obra mais significativa para a ciência, "O Gene Egoísta", que leva a seleção natural passos além do próprio Charles Darwin.

Em cerca de 40 minutos, Dawkins dissertou sobre o que chama de "Corrida Armamentista" (The Arms Race). Um dos seus exemplos mais ilustrativos foi o de uma floresta. Nela, todas as árvores poderiam receber a mesma quantidade de luz se limitassem sua altura a dois metros. Mas o gene mutante de uma delas faz com que ela cresça além das outras. As demais, logo abaixo, também se obrigam a crescer para receber luz.

A floresta, no fim das contas, ultrapassa os 30 metros. Sobrevivem as árvores mais altas. As mais baixas, definham sem luz. Evoluímos como uma plateia em que uma pessoa fica em pé e as demais são obrigadas a levantar também.

Ao exemplificar com uma competição entre guepardos e gazelas, o biólogo deu a primeira alfinetada no conceito de design inteligente — a defesa de que Deus existe porque somente alguém divino poderia desenvolver indivíduos tão complexos: "Quando vemos os músculos de um e a leveza de outro, pensamos: mas de que lado esse designer está?"

Mas Dawkins só falou diretamente sobre religião quando questionado pela plateia. Sem meias palavras, defendeu que ela deva ser deixada de lado. Sobretudo para quem busca respostas profundas para o sentido da vida na religião.

"O critério para saber se a religião acertou ou não é a ciência. Portanto, não vejo qual é o ponto."

Ainda neste campo, o biólogo respondeu sobre o ensino do criacionismo nas escolas.

"Eu sou favorável que se ensine sobre religião, mas não em uma aula de ciências. Ela é importante para entender a História, a literatura. Mas não se deve ensinar no que a criança deve acreditar. Isso é abuso infantil."

O conviver com o diferente, tema do Fronteiras desse ano, foi defendido por Dawkins por meio de particularidades do ser humano que nada tem a ver com evolução, mas com valores como a empatia e o altruísmo.

"Quando doamos sangue, quando tomamos conta dos animais… O gene é egoísta, o indivíduo não."

Ao final, Dawkins foi questionado sobre "espiritualidade". Depois de ressaltar que nunca sabe exatamente o que esse termo significa, o biólogo contou uma anedota de Stephen Hawking. Certa vez o físico foi questionado longamente em uma palestra por uma pessoa da plateia se via espiritualidade no mundo à sua volta. Foram 10 minutos de tensão até que Hawking formulasse a sua resposta ao computador que a transmitiria na tradicional voz robótica:

"Não."

E a palestra terminou entre gargalhadas e aplausos.





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'Quando saí [do  convento], era como eu  tivesse renascido' Elizabeth Murad (foto), de Fort Pierce (EUA), lembra bem do dia em que saiu do convento há 41 anos. Sua sensação foi de alívio. Ela tocou as folhas de cada árvore pela qual passou. Ouviu os pássaros enquanto seus olhos azuis percorriam o céu, as flores e grama. Naquele dia, tudo lhe parecia mais belo. “Quando saí, era como se eu estivesse renascido”, contou. "Eu estava usando de novo os meus sentidos, querendo tocar em tudo e sentir o cheiro de tudo. Senti o vento soprando em meu cabelo pela primeira vez depois de um longo tempo." Ela ficou 13 anos em um convento franciscano de Nova Jersey. Hoje, aos 73 anos, Elizabeth é militante ateísta. É filiada a uma fundação que denuncia as violações da separação entre o Estado e Igreja. Ela tem lutado contra a intenção de organizações religiosas de serem beneficiadas com dinheiro público. Também participa do grupo Treasure Coast , de humanistas seculares.

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