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Diário de um infartado: ateu deve ficar no 'armário' do hospital?

por Thiago Giardini

Paulo,

Sair ou não do armário,
eis a questão
Recomendo que você "entre no armário" enquanto estiver no hospital. Acredite, é melhor se fazer de desentendido e desinteressado e escutar um monte de abobrinhas quieto do que declarar sua descrença em ambiente hospitalar. Esse é o tipo de local onde a fé das pessoas pode se tornar ainda mais inconveniente. Na doença e na dor, as pessoas se apegam a qualquer coisa. Até quem não era religioso se torna um mala em potencial.

Falo isso porque tenho "experiência" com esse tipo de situação. Sou ateu e há um ano e meio frequento hospital regularmente para cuidar da minha mãe acamada. Desde então, já vi todo tipo de situação bizarra, incluindo pessoas "recebendo o espírito santo" em plena enfermaria, com direito a pulos, gritos, rodopios e aquela glossolalia característica.

Eu me arrependi de todas as vezes em que me atrevi a estender a conversa, quando o assunto vinha à tona. É como cutucar vespeiro com vara curta e não ter para onde correr (afinal você está confinado ali dentro). Pior ainda quando tem mais de uma pessoa internada no mesmo quarto e você tem que conviver com um paciente/acompanhante chato pra caramba.

Quando aparecem os missionários, apenas faço cara de desinteressado e finjo aceitar qualquer convite para culto só pra me livrar deles mais rápido. Ao fim das orações, digo "amém". Se me perguntarem se tenho fé no poder de cura de deus, digo que sim. Se pedem nome da minha mãe para colocar na corrente de orações, eu digo que podem ficar à vontade. Quanto menos tempo permanecerem no quarto, menos chance de ser torturado por uma pregação não requisitada.

Já vi uma paciente literalmente morrendo de dor mas que precisava analgésicos porque acreditava piamente que Jesus iria tirar aquele sofrimento dela. Não teve jeito e ela precisou ceder às medicações, claro. E, apesar da filha ter passado a noite inteira dando falsas esperanças de que ela iria melhorar, a paciente acabou falecendo poucas horas depois.

Apesar de o hospital onde minha mãe fica internada ser público (dos servidores do Estado de MG), também tem capela e símbolos religiosos espalhados. No hall de entrada há um enorme crucifixo e uma estátua de Maria.

Em feriados religiosos, sempre fazem cartazes, faixas ou cenário de papel em volta da imagem pra comemorar a data. Todos os sábados, à 13h, acontece um culto evangélico numa sala improvisada do 4º andar do prédio. Entretanto, nem estando num hospital, os frequentadores economizam na cantoria e nos gritos ou sequer dão ao trabalho de fechar a porta da sala. Pra quem está internado naquele andar, isso é um inferno semanal.

Os missionários da Universal sempre deixam com a gente jornais, encartes e até livros! De longe, é a empresa que investe mais pesado na conquista de clientes fragilizados. Os católicos, como de costume, são mais reservados, e menos intrometidos.

Desejo-lhe melhoras e boa sorte na cirurgia. E para o bem da sua saúde mental, recomendo refletir sobre o meu depoimento acima, hehehe.

Abraço.





Diário de um infartado: que Estado laico é este?
julho de 2013

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