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‘Vítimas de Abdelmassih interagem entre si na rede’

por Cecília Araújo, da VEJA.com

A advogada Crystiane Cardoso de Souza, uma das vítimas do especialista em fertilidade Roger Abdelmassih, depôs contra o médico em janeiro, mas divulgou seu nome somente em março deste ano, na revista Gloss. Criou coragem quando percebeu que havia inúmeros comentários na web questionando a identidade das "vítimas": "Queria mostrar que tenho um passado, sou uma pessoa real e não preciso me esconder.

internet Foram indagações semelhantes que a incentivaram a permitir que sua foto fosse publicada em reportagem de VEJA, provando que as vítimas de Abdelmassih também têm rosto. "Minha imagem associada ao meu nome me dão ainda mais credibilidade."

Crystiane conta que recebeu na semana passada e-mail de uma amiga que não via há muitos anos, dizendo que, antes de ver a foto na revista, imaginava que a realidade daquelas mulheres estivesse muito distante da dela. "Ela se deu conta de que pode estar muito próxima de um desses absurdos e precisa ficar alerta para defender as filhas e ela mesma."

Crystiane frequenta weblogs como Paulopes e Anjos e Guerreiros, que divulgam e cobram informações do caso Abdelmassih. "Eles serviram para que não me sentisse sozinha, e o apoio dos internautas me passou mais coragem e calma. Agora, com meu depoimento, espero que outras mulheres também tenham coragem."

Em janeiro, 33 vítimas já haviam prestado depoimento no inquérito policial que acusava o médico de abuso sexual de suas pacientes. Cristina Silva, consultora de viagens que participou de reportagem publicada sobre o caso, afirma ter sido uma das primeiras a depor. Ela conta que na época não encontrou websites abertos para discussões, "porque o doutor Roger fez com que saíssem do ar". Depois de saber de casos de outras mulheres, entrou no site do MP para deixar seu nome e telefone.

Hoje, Cristina incentiva vítimas que ainda não se identificaram a fazer suas denúncias. "Acho a internet um meio importante em casos com este, pois as pessoas podem depor anonimamente. Assim, fica mais fácil desabafar e contar o que aconteceu. Com o tempo, se desinibem e divulgam nomes e fotos, como eu. Temos o respaldo do Ministério, não há mais o que temer."

Há aproximadamente dois anos, Abdelmassih foi alvo do que chamou de "campanha sórdida" na internet. Na época, o extinto blog Vítimas de Roger Abdelmassih trouxe à rede, pela primeira vez, inúmeros depoimentos e acusações de assédio sexual contra o dono da mais famosa clínica de reprodução assistida do país. Como as denúncias eram anônimas, o médico conseguiu na Justiça retirar a página do ar. Os seguidores do blog, de acordo com o próprio médico, passaram então a mandar e-mails com as acusações a vários de seus amigos.

O jornalista Paulo Roberto Lopes foi um dos primeiros a divulgar com frequência, a partir janeiro, as novidades que encontrava sobre o assunto em seu weblog Paulopes. "Já divulgava histórias escabrosas, quando me deparei com o caso. O blog acabou centralizando focos de interesse das supostas vítimas", conta. Até entrar no caso, o site contava com 135.654 visitas acumuladas. Hoje esse número passa de um milhão.

Lopes revela que, além de escreverem no blog, os leitores também telefonam e mandam mensagens. "Recebo cerca de 300 e-mails [comentários no blog] por dia, grande parte anônimos. Acredito que muitos podem ter sido escritos por uma mesma pessoa".

Mas também conta que tem sido bastante atacado por pessoas favoráveis ao médico. "Isso é mais uma prova da dimensão que o blog está tomando."

A professora carioca Maria Célia Carrazzoni e a fonoaudióloga paulista Carmen Monari - criadoras do blog Anjos e Guerreiros há um ano - se conheceram virtualmente, em um espaço de comentários do site do jornal O Globo, mobilizadas pelo caso Isabella Nardoni. "Deixávamos nossas indignações, até que um dia resolvemos partir para uma ação efetiva, para combater situações de violência e abuso", conta Carmen. Desde o início, o blog ajudava a divulgar temas relacionados a violações de direitos humanos.

Segundo as criadoras, o blog pretende incentivar as vítimas a procurarem ajuda. "Não temos como ajudar diretamente, mas damos uma força a essas pessoas, facilitando o contato com outras em situação parecida, e aconselhamos a procurar algum especialista ou autoridade", conta Carmen. Ela diz ainda que a declaração de uma vítima "puxa" a de outras. "Algumas mulheres, mesmo mantendo o anonimato, garantem que foram encorajadas a denunciar depois de ler outros depoimentos no blog."

Para Maria Célia e Carmen, a repercussão do blog tem sido surpreendente. "Temos descoberto na internet uma possibilidade de ajudar as pessoas a se manifestarem, pois ela interliga todos. A partir daí, é possível haver uma transformação efetiva na sociedade."

> Caso Roger Abdelmassih.

Comentários

Anônimo disse…
Acho admirável o que está acontecendo com essa interação. Mesmo com uma verdadeira história de terror como essa, é possível fazer alguma coisa.

As redes sociais estão cumprindo um papel inimaginável. Aqui, na maioria dos post, se obtem informações, solidariedade e incentivo.

A vítima solitária enfrenta a solidão do isolamento, mas quando é possível conhecer outras, cresce a força, a coragem e a vontade de fazer algo de útil.

Tirando algumas poucas provocações de baixo nível, na sua maioria, as pessoas estão partilhando seus dramas, preocupações e saídas. É o primeiro passo para a solidariedade necessária. É a única forma que temos para nos defender dos abusos dos poderosos.

Quando isso for feito também na política, esse país muda!
Roberto Santini disse…
A interatividade é louvável, desde que seja exercida com respeito e responsabilidade. Como não há a obrigatoriedade de se identificar , faço uma sugestão, que é a de que coloquem apenas o primeiro nome, sem a necessidade de se identificar pelo sobrenome , se quiserem , claro.
Neste caso específico, "Roger Abdelmassih", devem existir muitas mulheres que convivem com esta "experiência na Clínica deste Médico", que por diversos motivos , não virão a público denunciar. Devemos respeitar esta opção, mas pelas opiniões "anônimas"; vemos o desejo de que a justiça seja feita, até para que elas venham obter a paz interior. O sofrimento psicólógico, a chamada "dor na Alma", é a mais traumática!
Paula disse…
Paulo, você merecia esta matéria. Você foi corajoso e deu a cara para bater, postando tudo que foi divulgado a respeito deste assunto. Ao contrário do que alguns dizem, você sempre foi democrático, postando realmente de tudo e peitando pessoas que "desafinassem" em qualquer dos lados. Seu papel foi fundamental neste caso.
Vanessa Vazques disse…
Paulo meus parabéns! Neste país com a imprensa na folha de pagamento do planalto o seu blog está cumprindo o papel do jornalismo investigativo, corrompido em nosso país, investigando apenas os pobres coitados que não tem qualquer tipo de poder.
Paulo, não podemos esquecer dos outros criminosos,tarados,salafrarios e psicopatas:Edir pata de cramulhão, Ana Paula Oliveira- GOLPISTA DA BARRIGA NO GRINGO OTÁRIO(por onde ela anda mesmo?)Estevinho hernades o teto caiu! Promotor Thales com licença para matar! Além da vasta corja de canalhas esquerdistas que enxovalham o país!Dirceu, mandou Celso Daniel para o inferno!

A verdadeira luta continua, até sempre!
Anônimo disse…
Bem lembrado, onde anda o Promotor Thales Schordi, que matou o jogador de basquete Diego, de 20 anos no balneario em Riviera, o promotor que matou a esposa gravida que até hoje não apareceu, só não entendo porque Abdelmassih, tem que ficar preso até julgamento, se ele não fujiu da justiça. Acho que tem que aguardar em liberdade, ja não vai + medicar, então que fique aguardando em sua casa.
Anônimo disse…
Gostei do comentário da Vanessa Vazques. A verdadeira luta continua, até breve!
carmen disse…
Graças às matérias publicadas por Paulo Lopes, sentimo-nos instigadas a pesquisar mais à respeito e foi surpreendente a repercussão. Os comentários foram surgindo e as mulheres se comunicando e formando uma rede de solidariedade.
Não é o único caso no blog "Anjos e Guerreiros", onde as vítimas encontram-se em sua tragédia; amparam-se e se sentem fortalecidas.
Pouco ou quase nada podemos fazer por elas, mas fica o sentimento de satisfação por ter servido ao menos para o desabafo.
Este é o lado "brilhante" da Internet :solidária,humana,informativa,enriquecedora.

Abraços
Carmen e Maria Célia

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