- Quer chiclete, moço? Três real.
- Não. Quero outra coisa.
Rita, de 9 anos, sabe a que o homem se refere: ele quer sexo oral e umas pegadinhas nas partes íntimas dela. Ele é um safado, como tantos outros. Tem namorada ou mulher e, se nesse caso, provavelmente é pai de um filho ou filha com um pouco mais de idade do que a vendedora de chiclete.
A menina faz rapidamente o que o sacana quer em um canto da rua ou dentro do carro dele. Ela, afinal, precisa levar dinheiro para casa e, se depender só do chiclete, terá de vender três caixas para juntar R$ 30. Não é fácil.
Rita, claro, não se dá conta de que ela própria está se transformando em um chiclete: é usada por R$ 3 reais (ela também aceita vale-transporte). Provavelmente fará carreira como fará carreira como goma de mascar e de cuspir, como prostituta.
Rita mora em Planaltina de Goiás (GO), informa Erika Klingl, do Correio Braziliense. Ela estuda e falta pouco à escola por causa da merenda.
Na sexta feira, depois de um banho bem tomado, ela coloca uma roupinha colorida, pega um ônibus e segue rumo a Brasília, onde passa o final de semana, até a tarde de domingo, trabalhando na venda de balas e de chicletes na Rodoviária do Plano Piloto.
Lá, ela encontra colegas da mesma faixa de idade, também vendedoras de chicletes. Tem a Jaqueline, a Paula, a Lúcia, a Sonia... Algumas são acompanhadas por irmãos que ajudam no trabalho ou pelas mães, que ficam à distância. As meninas disputam a mesma freguesia, mas se dão bem.
À noite, dormem em algum canto da rodoviária, de preferência embaixo de uma marquise, mas, mesmo de madrugada, estão disponíveis para atender a clientela. Serviço 24h. Rita não reclama das noites precárias. Ela só não gosta quando chove e faz frio.
Não muito longe dali, estão as principais autoridades do Brasil: o presidente da República, o Lula, o presidente do Senado, o Garibaldi Alves, o da Câmara... Gente que se propõe a resolver os problemas do país, mas que desconhecia que Rita está se usada como chiclete por safado até a publicação da reportagem.
Houve um senador que, da tribuna, disse que aquilo era absurdo, inadimissível, e exigiu medidas imediatas do governo.
Esse senador é bem intencionado, já foi ministro da Educação, mas pouco ou nada conseguiu fazer. Foi demitido por telefone.
Sugiro que o jornal volte à rodoviária daqui a alguns meses para ao menos saber se Rita aumentou o preço do chiclete.
> Há 1.222 pontos de prostituição infantil nas estradas. (dezembro de 2006)
Comentários
Parabéns!
Porém, triste constataçäo!
Pobres Ritas do Brasil!
Ana...
Parabéns pela matéria!
Abraços
Parabéns pela denúncia. É a mais crua realiadde da expropriação da infância.
abraços
Tereza
Paulo, parabéns pelo seu blog e pela reportagem!
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