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Militares reagem ao ministro falastrão com afrontamento

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, foi inoportuno ao afirmar que, se houvesse reação nas Forças Armadas ao lançamento do livro Direitos à Memória e à Verdade (sobre a ditadura militar), haveria resposta. Foi uma provocação desnecessária.

Pois bem: houve a tal reação e justamente por causa do destempero verbal de Jobim, e agora há um impasse entre o ministro da Defesa e os comandantes militares.

Mas reação militar, pelo que representa, é muito mais grave do que a inconveniência do ministro falastrão.

Na sexta-feira, o Alto Comando reuniu-se extraordinariamente para dar uma resposta a Jobim por intermédio de uma nota que evoca a anistia, conciliação, versões de fatos históricos etc.

Ainda que tenha sido amena, não deveria haver resposta alguma, porque os comandantes militares teriam de engolir a seco o que dissera Jobim, porque este, como ministro da Defesa, é o superior hierárquico deles.

Foi, a rigor, uma insubordinação, algo inaceitável. Jobim deveria punir os comandantes, mas ele não tem tanta força, o que também é incompreensível em um regime democrático.

O livro Direitos à Memória e à Verdade é um documento elaborado pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (ligada ao governo) que relata torturas e a morte de 339 pessoas pelos órgãos de repressão da ditadura militar, no período de 1964 a 1985. É, portanto, um documento oficial, o que irritou os comandantes, porque eles argumentam que o livro só retrata um lado da história, o dos “comunas”, e não a dos militares que combateram (e alguns deles morreram) os subversivos.

Para os militares, a história oficial do que eles chamam de “movimento de 64” deveria contemplar os dois lados, a dos guerrilheiros e a dos combatentes à guerrilha. O que parece sensato, mas os comandantes militares se equivocam ao resistir em admitir que, na época, eles torturam e mataram implacavelmente, colocando o Estado a serviço do terror e do desrespeito aos direitos humanos. Isso é história e tem de ser relatado, queiram eles ou não.

Na nota de resposta ao ministro Jobim, os comandantes afirmam que o Exército de hoje é o Exército de sempre. “Não há Exércitos distintos.”

Em outras palavras: o Exército de hoje, segundo eles, é o mesmo que, na ditadura militar, apadrinhou a barbárie, a tortura, a covardia fardada.

Por isso, a nota dos militares é uma afronta aos valores humanitários e democráticos e tem de ser repudiada por toda sociedade, já que este governo que aí está só tem ministro falastrão, mas não a firmeza para se impor àqueles que cultuam um dos períodos mais vergonhosos da história brasileira.

Jornalista Wladimir Herzog, assassinado em 1975 pela ditadura militar

Comentários

Unknown disse…
Good blog, like kirai's one!

beijo from Spain :)

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