O presidente da ABL (Academia Brasileira de Letras), Marcos Vinicios Vilaça (foto), perdeu a paciência com a demora de Portugal para ratificar o Acordo Ortográfico da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Recentemente, ele pressionou a ministra portuguesa de Cultura, Isabel Pires, a tomar uma iniciativa para acabar com essa lengalenga. Embora o acordo tenha sido formatado em 1991, portanto há 16 anos, Portugal quer um prazo de mais 10 anos para adotar as novas normas para o idioma.
Vilaça não se conforma com a resistência ao acordo por parte das editoras de Portugal, conforme relata o site da ABL. O acadêmico argumenta que os países de língua espanhola têm há muito tempo um único dicionário. Ele acha que o governo brasileiro deveria cobrar com mais insistência de Portugal a adesão definitiva ao acordo, que já foi aprovado por São Tomé e Príncipe e Cabo Verde, além do Brasil.
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Comentários
Se alguém tem de aprender português, não são os portugueses. Eu nunca irei aderir a tão grande falta de senso.
Vamos a um exemplo?
Actualmente escrevemos:
"O cágado está de facto no jardim" (quer dizer, o cágado está realmente no jardim)
Com o acordo passaremos a escrever:
"O cagado está de fato no jardim".
A confusão é total. Passamos a não saber se quem está no jardim é um cágado (tartaruga) ou um cagado (alguém sujo com excremento) e não sabemos se está realmente lá no jardim ou se está vestido de paletó (assim se diz fato em português).
Os políticos não se apercebem do ridículo que isto representa?
Como há-de um português escrever tais barbaridades? Que aprenda a escrever português quem nunca o soube. Tenho dito!
Vai-me perdoar, mas o argumento do número é falacioso.
Por esse princípio podemos institucionalizar a asneira, bastando que a maioria a escreva, diga ou pratique.
É por isso que não perdoo aos políticos (responsáveis pelo desaparecimento de muitas línguas no mundo) que desvirtuem o pouco que resta da língua portuguesa obrigando uma minoria de 10 milhões que somos, a ter que aprender o português alterado pelos brasileiros.
Caro Paulo, dou-lhes os parabéns pela forma como se expressa em português e agradeço a lisura das suas palavras face ao desabafo que tive, mas que infelizmente continua em mim.
Um abraço,
José Manuel Ruas
Você está equivocado.
Aos portugueses, não será imposto um idioma “alterado pelos brasileiros” e por um motivo óbvio: o acordo ortográfico foi redigido a partir de um consenso entre os países lusófonos, depois de anos de discussão.
Os brasileiros, por exemplo, deixarão de usar o trema, que foi descartado por Portugal há muito tempo, em 1945. Mas nem por isso há queixa de brasileiros de que vão ter de engolir normas paridas por portugueses.
Você deixa subentendido que os brasileiros se afastaram da “forma como o português é escrito”.
Outro equívoco.
No idioma que se fala no Brasil, principalmente em determinadas regiões do nordeste, há ainda muitas expressões e palavras do português do século XVI, da época da colonização. Expressões e palavras que deixaram de ser usadas em Portugal.
Eu poderia dizer que, nesse caso, foi Portugal que se afastou da pureza do idioma, mas tal afirmação não seria correta.
Tanto em Portugal como no Brasil, o português passou e passa por transformações decorrentes de influências culturais, científicas e econômicas, o que, claro, é absolutamente normal. No português do Brasil há muitas influências indígenas e africanas e das imigrações italiana, alemã, espanhola, entre outras.
Você diria, suponho, que essas influências conspurcaram o português, afastando-o de sua “forma”. Mas eu digo que elas enriqueceram o idioma, que não cabe numa “forma” pronta e acabada.
Um idioma, seja qual for, é tanto mais rico quanto mais abarcar diversidades culturais, porque, assim, multiplicam-se as suas possibilidades de expressão.
Quanto à asneira, ela não é monopólio da maioria, porque a minoria também a produz, e freqüentemente em grandes proporções, dependendo do entendimento (sempre subjetivo) do que é ser asno. (Ao menos há uma certeza inquestionável, a de que o asno é teimoso, inflexível.)
No mais, observo que não será a adoção ou não do acordo ortográfico que impedirá que brasileiros e portugueses se comuniquem, a exemplo do que nós estamos fraternalmente demonstrando aqui. Até porque, graças à internet, agora estamos mais próximos do que nunca.
Abraço.
O facto. Eu leio e pronuncio o "C". F A C T O.
Além do mais, unificar o Português é fazer perder aquilo que nos torna únicos. Portugal tem o seu Português. O Brasil tem o seu. Por isso nem que o acordo entre em vigor, eu continuarei a escrever como tal eu escrevi até agora.
Portugal não é dono do Português tal como o Brasil também não o é. Então parai com essas ideias mesquinhas e criem o vosso Brasileiro.
Ninguém mandou o Brasil mudar a ortogragfia.
Parece que tenho uma ideia nacionalista. Pois é! Porque como se trata de uma variante de uma língua que caracteriza (mais uma palavra em que pronuncio o C) um país, esta questão nunca estará em cima da mesa.
Se não aderir ao acordo ortográfico, Portugal ficará isolado, porque, além do Brasil, dois países lusófonos já ratificaram a unificação. E um outro poderá fazer o mesmo até o final deste ano.
De qualquer forma, independente da adesão ou não de Portugal ao acordo, os brasileiros, que não são xenófobos, vão continuar a ler --sem tradução para o "brasileiro"-- os bons escritores portugueses, como José Saramago e António Lobo Antunes. Este tem sido merecidamente festejado pela imprensa brasileira.
E azar dos portugueses que não quiserem ler escritores brasileiros em decorrência da “ortografia alterada”, porque também temos bons escritores. Recusar o todo por causa de detalhes é obscurantismo.
Quanto à extinção do encontro de consoantes mudas, como o das palavras “facto”, “director” e “acção”, a resistência parte de uma minoria dos portugueses. E quem diz isso não sou eu, mas o meu amigo de Orkut André Simões, que é português e estudioso da língua portuguesa.
Na comunidade Português, ele escreve o seguinte:
Portugal não fez qualquer problema com os encontros de consoantes, a nível oficial, e eles desaparecem quando não são pronunciados (portanto passaremos a escrever "diretor" e "ação"), mantêm-se nos raríssimos casos em que são pronunciados (quase os mesmos que no Brasil), e são facultativos nos casos em que ninguém normal os pronuncia, mas alguns puristas insistem em pronunciar (facto).
Realmente há resistência popular (não nas elites governantes e académicas) ao desaparecimento das consoantes mudas, baseada em argumentos pouco consistentes. Diz-se que essas consoantes mudas servem "para abrir a vogal precedente", o que é falso e basta pensar um pouco: "pegada" (= marca de pé), "corar", "corado", alcoólico, "pregar" (= predicar), etc. etc. etc. têm vogal átona aberta, sem qualquer consoante muda.
"Actual" e derivados têm consoante muda, e no entanto o "a" átono é fechado.
Também se costuma dizer, já em desespero de causa, que depois fica estranho mudar o radical em derivados, género "Egito" / "Egípcio", esquecendo-se de que isso já acontece com inúmeras palavras, tipo "escultor" e "esculpir".
Os acordos ortográficos são necessários, inevitáveis e acontecem com frequência. O que se defende agora com unhas e dentes foi atacado ferozmente pelos conservadores de outros tempos.
Se os acordos ortográficos realmente fossem perigosos e criminosos, ainda andaríamos todos a escrever com "ph", "th", "y", "ç" antes de "e" e "i", consoantes dobradas no início de palavra, "amavão" em vez de "amavam", "fazêl-o" em vez de "fazê-lo", etc.
Caro Reis, entre os seus poucos e passionais argumentos e os do seu conterrâneo, fico obviamente com os dele. Porque, como se diz no Brasil, Simões entende do riscado.
A riqueza do nosso idioma intercontinental é uma mais-valia muito valiosa para nós todos que usamos o português.
Que se avance com o ACORDO e não se fique paralisado pelo DESACORDO.
(Divulgo os meus blogs: http://questoesportuguesas.blogspot.com/ e http://direitodanacionalidade.blogspot.com/)
Em primeiro lugar, devo dizer-lhe que a expressão "fumar um cigarro entre portas"está muito bem escrita, trata-se muito simplesmente de uma versão simplificada, uma forma informal ou coloquial de escrever "fumar no interior de um edifício".Não vejo porque essa expressão não possa ser aplicada por pessoas com um bom nível cultural.Qualquer pessoa culta pode utilizar expressões de carácter formal ou informal, desde que não cometa erros gramaticais ou aplique as palavras num contexto desajustado.Além disso, informo-o também que o jornal que citou, o "Público" é uma publicação diária muito acreditada em Portugal, ao qual nem todos podem ter acesso, por se dirigir a pessoas com um determinado tipo de interesses culturais.Por estas e outras razões, é que não podemos "matar" as variantes de uma língua, aceitando por isso mesmo, as diferenças culturais, hábitos e costumes que cada língua ou variante de uma língua transporta.
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