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Imprensa finalmente questiona as empreiteiras


A imprensa demorou para questionar as empreiteiras responsáveis pelas obras da linha 4 do metrô de São Paulo. São elas, mais do que ninguém, que têm de prestar esclarecimento à população, embora até agora estejam arredias, numa atitude que não se admite de empresas que prestam serviço à coletividade. Ontem, quinta, o Elio Gaspari escreveu um artigo na Folha e no Globo que vai ao xis da questão e que dá –espera-se– um novo tom à cobertura do caso.

Transcrevo os primeiros parágrafos do artigo:


O apagão das empreiteiras

"DEPOIS DO apagão das companhias aéreas, veio o apagão das empreiteiras. As cinco maiores construtoras de obras públicas do país desmoronaram às margens do rio Pinheiros, em São Paulo. Como no caso dos aeroportos, desmoronou a capacidade das empresas de falar sério e de manter uma relação respeitosa com a população.

O consórcio da obra do metrô paulista é formado por cinco empresas de engenharia que juntas faturam anualmente US$ 3,5 bilhões. São gente grande: Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e OAS. Demoraram um dia inteiro para falar do desastre e, quando o fizeram, passaram a responsabilidade às chuvas do Padre Eterno.

Ofendendo a inteligência alheia, disseram também o seguinte:

‘O Consórcio Via Amarela lembra que, apesar da qualidade do projeto e dos cuidados na execução da obra, trata-se de atividade classificada no grau de risco 4, o mais alto na escala de risco do Ministério do Trabalho’.

Só um dos mortos no desmoronamento tinha relações trabalhistas com as empreiteiras. Os demais eram transeuntes que, de acordo com qualquer escala de perigo, deveriam correr risco zero ao andar numa rua da cidade. Se um diretor da Odebrecht (líder do consórcio) estivesse a caminho do psiquiatra na rua Capri e terminasse seus dias na cratera da Via Amarela, ele não estaria numa área de grau 4. Assim como não estava a aposentada Abigail Rossi de Azevedo, que ia ao médico.

Íntegra do artigo, reproduzido no Observatório da Imprensa.

A imprensa tem muito o que fazer. Tem de esmiuçar o contrato entre o consórcio das empreiteiras com o metrô, principalmente no quesito segurança. Houve falha de projeto? O consórcio economizou material para ter mais lucros? Os engenheiros do metrô estavam fazendo um acompanhamento eficiente das obras? Onde estão as planilhas desse acompanhamento?

Algumas casas das redondezas das obras apresentaram rachaduras já algum tempo, e os moradores se queixaram ao metrô. Por que esses sinais de que algo de errado estava ocorrendo de nada adiantaram para evitar a tragédia?

Tem sido publicadas muitas opiniões em off de supostos especialistas que não desembocam em nada, só a suposições. Agora é preciso garimpar os fatos.

As empreiteiras têm um poder financeiro e político avassalador, além de serem grandes anunciantes; e eu, por isso, tenho dúvida de que a imprensa apresente uma cobertura consistente. Aguardemos.
xxx

Comentários

Unknown disse…
Em “San Paolo”, cidadezinha da urgência, de gente muito da ansiosa, o povo parece que se acostumou às fatalidades. Qualquer que seja o rombo na conta, o desvio e a desordem, passa-se a borracha por cima, tudo dando lugar a novos desencontros com a vida sofrida. Parece que a rapidez dos fatos os acostumou a esquecer.

Povo político, muito se preocupa em eleger os governantes; não pelos feitos e melhorias para a sociedade, mas para si, de modo muito individualista, o que pensam ser bom e como interiorizam seus falsos sorrisos e promessas. A gente se sente tão miudinha diante das coisas, porque tudo é feito num ar empoleirado, bonito e complicado. Burocracia da carochinha.

Parece que quanto mais se quer isolar o documento, mais o idioma se encerra em ungüento. Pois quanto menos se digere a palavra, mais ela se reserva aos que domam seu significado. Eita povo que se diverte! Montanha-russa é apelido por lá.

A TV muito os entretém também: se não fala babozeiras – com “z” porque o som me agrada mais do que a grafia de fato -, muito enaltece o crime e o caos, deixando todos perplexos em suas casinhas, com medo de tudo fazer, onde quer que seja. Não faz muito tempo, a TV tinha por intuito trazer cultura, qualidade e crítica. Hoje, Cabo é questão de sobrevivência para uma gente que tudo acha chique. Acende uma luzinha no centro, “que lindo!”. Coloca uma árvore aqui, outra lá, “é naquele que vou votar!”.

Dia desses, abriu-se um rombo não sei como no raio dos infernos. Tudo tão de súbito, engoliu carros, ônibus e os moradores que por lá passavam. Disse a TV que era uma obra do metrô; então, os corpos foram encontrados um a um...

Não passou nem dois dias de tumulto, as bordas do buraco começaram a se desprender do solo. À medida que isso ocorria, mais o tal buraco se revelava uma galeria escura, profunda e sem lugar para botar os pés. Crianças que foram brincar por lá, sumiram sem deixar pista.

Mais alguns dias, e o diâmetro do buraco aumentou, engolindo casas, ruas e tudo o mais que estava a seu redor. Pois foi numa única noite que se deu o holocausto: quando todos estavam muito cansados – por seus trabalhos robóticos -, entretidos com o pornô ou, para variar, nem se deram conta da magnitude.

San Paolo foi totalmente tragada para dentro de algo que mais parecia um vórtice. Os helicópteros que sobrevoaram a área puderam ouvir gritos e ruídos de toda espécie, um prenúncio a uma grande mancha negra e vazia. Horas depois, quando tudo silenciou, as câmeras gravaram grunhidos irreconhecíveis aos autos da ciência moderna.

O local foi deixado para trás...

Disseram alguns filósofos que o próprio povo pediu por isso: um buraco para se enfiar de vez.


Marcel Dias Pitelli
www.marcelpitelli.com.br
Paulo Lopes disse…
Caro Marcel: em São Paulo, como em outras metrópoles, tem coisas ruins e boas. É bem verdade que dependendo da classe social, as coisas ruins são predominantes. Mas é assim também em outras grandes capitais. É isso.

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